O Desenvolvimento Cognitivo E A Educação Para O Trânsito [622066]
Chadia Hamze
Fatima Rassul
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
E A EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO
Instruindo e Educando para um Trânsito melhor
i"Aprender é a única coisa que a mente nunca se cansa, nunca tem medo
e nunca se arrepende."
Leonardo da Vinci
Se você me contar… eu vou esquecer
Se você me mostrar… eu vou lembrar
Se você me envolver… eu vou entender
Confúcio
ii
iiiDedicatória
Este livro é dedicado a todos aqueles que se empenham para diminuir a
violência e os acidentes de trânsito através do trabalho informativo e
educacional que colaboram para a segurança de todos os usuários do
sistema viário.
iv
vAgradecimento
Agradeço a Deus pela inspiração para que este livro se tornasse
realidade e a minha família pelo apoio e incentivo, sempre presente nos
momentos difíceis.
Eterna gratidão ao casal de amigos Dr. FRANCISCO MENESES DE
MORAIS, Médico Neurologista, e a sua esposa JOANA LUCIA TREFF
MENESES, psicóloga Especialista em Trânsito, pela paciência,
entusiasmo e interesse na revisão deste trabalho, que com seus
conhecimentos acrescentaram muito para melhorar e tornar o conteúdo
mais claro e objetivo.
Não poderia deixar de mencionar a grande amiga e incentivadora
ESTER ROZENBURSZT, Psicóloga Especialista em Trânsito que
também colaborou com seus conhecimentos e experiência revisando a
parte psicológica deste trabalho.
Ao mestre e amigo Dr. JOÃO ROBERTO BARBOSA Especialista em
Medicina de Trânsito, agradeço o estímulo e a paciência de ler e reler o
material e colaborar com seus preciosos ensinamentos.
Reconhecimento à Dra. ANGELA COELHO MONIZ por ter prefaciado
este livro e manifestado sua preciosa colaboração e comentários.
Não podemos deixar de mencionar o nome de ROMEU NICOLOSI
JUNIOR que sem sua assessoria técnica em informática o livro não
poderia ter sido escrito.
vi
viiSumário
Dedicatória…………………………………………………………………………………iii
Agradecimento…………………………………………………………………………… v
Prefácio ……………………………………………………………………………………. 1
1. Apresentação………………………………………………………………………… 5
2. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva
psicológica na busca de um trânsito melhor………………………………….. 11
3. Definição de Trânsito ……………………………………………………………. 17
3.1. O deslocamento existe em todos os lugares e todos nós
compartilhamos dele……………………………………………………………… 18
3.1.a. Quais os papéis que desempenhamos dentro do sistema
Trânsito? Podemos ser: Motorista – Passageiro – Pedestre …….. 19
3.1.b. Quem são as pessoas e os profissionais que formam e
participam do trânsito?……………………………………………………….. 19
3.2. A Violência no Trânsito ……………………………………………………. 20
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito ……… 25
4.1. A Didática e o Ensino………………………………………………………. 27
4.1.a. A Importância de John Locke para Psicologia ……………….. 29
4.1.b. Fase 1: Sensório-motor ( 0 A 2 anos)…………………………… 33
4.1.c. Fase 2: Pré-Operatório ( 2 A 7 anos)……………………………. 34
4.1.d. Fase 3: Raciocínio Operatório Concreto (7 a 11 anos)……. 35
4.1.e. Fase 4: Raciocínio Operatório Formal (12 anos em diante) 36
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem 41
5.1. O Estruturalismo …………………………………………………………….. 43
5.2. O Funcionalismo …………………………………………………………….. 43
5.3. O Associacionismo………………………………………………………….. 44
5.4. Behaviorismo …………………………………………………………………. 48
5.5. Gestalt ………………………………………………………………………….. 49
5.5.a. Organização Perceptual – Assimilação e Contraste: Figura e
Fundo………………………………………………………………………………. 51
5.6. Psicanálise…………………………………………………………………….. 53
viii5.6.a. Estrutura da Personalidade………………………………………….54
6. Resolução do CONTRAN……………………………………………………….59
7. Conteúdo Programático do Currículo Escolar …………………………….63
8. Aprendizagem ………………………………………………………………………69
8.1. Definição ………………………………………………………………………..69
9. O Cérebro e a Aprendizagem………………………………………………….75
9.1. O Sistema Nervoso Central ……………………………………………….76
10. Fases e Processos Envolvidos na Aprendizagem …………………….83
11. Motivação…………………………………………………………………………..87
11.1. Definição de Motivação……………………………………………………87
11.2. Tipos de Motivação…………………………………………………………89
11.2.a. Motivação Intrínseca e Motivação Extrínseca ……………….89
11.3. Implicações da Motivação na Aprendizagem………………………90
11.3.a. Comportamentos fisiológicos ……………………………………..92
11.3.b. Comportamentos Sensoriais………………………………………93
11.3.c. Comportamentos de Atividade Física…………………………..94
11.3.d. Comportamentos Relacionados à Atividade Mental ……….94
11.3.e. Comportamentos Sociais …………………………………………..95
12. Percepção e Atenção …………………………………………………………..99
12.1. O estudo da percepção………………………………………………….100
13. Fatores que podem influenciar a percepção…………………………..103
13.1. Fatores Externos que Agem e Interferem na Percepção……..103
13.2. Fatores Internos que Atuam e Interferem na Percepção……..104
14. Tipos de Percepção……………………………………………………………107
14.1. Percepção visual ………………………………………………………….107
14.2. Percepção Auditiva……………………………………………………….108
14.3. Percepção Olfativa ……………………………………………………….110
14.4. Percepção Gustativa …………………………………………………….110
14.5. Percepção Tátil…………………………………………………………….111
14.6. Percepção Temporal …………………………………………………….111
14.7. Percepção Espacial ………………………………………………………112
ix15. A Atenção ……………………………………………………………………….. 115
15.1. Atenção Distribuída ou Difusa ……………………………………….. 125
15.2. Atenção Concentrada…………………………………………………… 126
15.3. Atenção Discriminativa…………………………………………………. 126
16. Processo da Aprendizagem ……………………………………………….. 129
16.1. Definição de Aprendizagem ………………………………………….. 129
16.2. Características da Aprendizagem…………………………………… 130
16.3. Princípios da Aprendizagem………………………………………….. 130
16.3.a. Habilidade Psicomotora………………………………………….. 131
16.3.b. Habilidade Afetiva …………………………………………………. 132
16.3.c. Habilidade Cognitiva………………………………………………. 133
17. O Homem Aprende Experimentando …………………………………… 137
17.1. Criação de Esquemas: Automatização……………………………. 139
18. Aquisição e Interpretação…………………………………………………… 141
19. Retenção e Memória (Evocação)………………………………………… 143
19.1. Tipos de Memória ……………………………………………………….. 145
19.2. Módulos da Memória Humana ………………………………………. 147
20. Generalização e Transferência …………………………………………… 149
20.1. Aprendizagem e Transferência ……………………………………… 150
21. Desempenho e Resposta…………………………………………………… 153
22. Retroação e Reforço…………………………………………………………. 155
22.1. Retroação ………………………………………………………………….. 155
22.2. Reforço ……………………………………………………………………… 156
22.3. Tipos de Reforço…………………………………………………………. 156
23. Considerações Finais………………………………………………………… 159
Bibliografia…………………………………………………………………………….. 163
1Prefácio
A violência no trânsito tem sido o centro da atenção dos estudiosos das
mais variadas áreas da saúde, envolvendo tanto o homem como a
sociedade em que vivemos.
As autoras do livro “O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E A
EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO” propõem que a educação quando
relacionada ao desenvolvimento físico e psicológico do indivíduo pode
nos ajudar a mudar a situação e minorar a violência que se instalou na
sociedade atingindo o sistema viário. Assim, Fátima Rassul e Chadia
Hamze analisam e refletem de forma sistematizada sobre o tema
agressividade e violência, focando sua atenção no grupo social que
compõe o sistema viário e refletindo sobre a crescente desordem que
se instituiu no mundo contemporâneo.
Com vasta experiência em estudos sobre o trânsito as autoras
utilizaram o resultado de pesquisas cientificas, onde destaco o trabalho
realizado em 2002, por Rassul e Meneses, sobre motoristas envolvidos
em acidentes de trânsito incluídos no artigo 160 do CTB e que foi
publicada pela revista Abramet ano XX – Nș 40 São Paulo/SP sob o
título “Características de Personalidade do Motorista Acidentógeno”.
Aparecem ainda contribuições emergentes da participação da Fátima
Rassul no “Núcleo de Reabilitação e Treinamento de Motorista
Acidentógeno” desenvolvido pelo DETRAN de São Paulo, coordenado
pela Psicóloga Zulnara Port Brasil, no período de 2000 a 2006.
Sendo ambas autoras especialistas em Psicologia do Trânsito e
ademais, Rassul atuando como professora de pós graduação em
Cursos de Especialização em Trânsito, a experiência de Hamze na
área de Educação e Eventos Culturais para Crianças e Jovens, isso
permitiu apresentar o texto com clareza e didática que tornam a leitura
agradável. Acrescenta-se a capacidade de análise decorrente da
vivência que as mesmas têm na seleção de candidatos à obtenção ou
renovação da CNH, atividade desenvolvida pelas mesmas desde 1989
e os trabalhos publicados dentre os quais me permito destacar como de
extrema importância, o artigo “A memória e o automatismo na direção
veicular: uma reflexão psicológica.” publicado pela Revista Abramet, 20,
n. 40, 2002. p. 30-34, e o trabalho “O Desenvolvimento Cognitivo e a
Educação para o Trânsito” apresentado no VI Congresso Brasileiro de
Psicologia do Trânsito (2004)
Prefácio
2Com base na prática clínica e em sua atuação em pesquisa as autoras
fazem um paralelo entre o desenvolvimento cognitivo e a educação no
trânsito, enfocando o sistema em seus diversos aspectos, conjugados à
natureza humana no que tange o aspecto afetivo e o aspecto cognitivo,
o que abre espaço para a análise da violência no trânsito.
A leitura nos permite refletir como a desagregação da família, dos
valores morais, éticos, religiosos e sociais, levaram os indivíduos ao
desajustamento social e pessoal, tornando o homem cada vez mais
agressivo e violento em seu comportamento e relacionamento
interpessoal de forma sistêmica e generalizada, trazendo consigo a
desintegração das relações humanas o que no trânsito pode ser
percebido através da direção insegura e perigosa dos motoristas
considerados propensos a acidentes.
Algumas escolas de Psicologia são citadas assim como alguns
psicólogos, com especial atenção ao trabalho de Jean Piaget que
estruturou a ideia da cognição.
No capítulo Conteúdo Programático do Currículo Escolar, é apresentada
uma descrição detalhada de como se pode incluir no currículo escolar
as noções de trânsito e de cidadania para direcionar o aluno (futuro
condutor) a comportar-se de forma mais humana e integrada com seus
semelhantes.
O livro sugere que a desintegração pessoal e social podem estar
relacionadas ao bloqueio emocional que trava e limita a capacidade de
raciocínio e abstração na análise e na avaliação das situações de
conflito ou de perigo, vivenciados pelo indivíduo, o que acaba
bloqueando a manifestação de respostas assertivas na solução dos
problemas enfrentados. Os sentimentos de impotência, de insegurança
e de agressividade se manifestam como defesa numa tentativa de suprir
os desfalques emocionais e pessoais, que podem ter sido causados de
forma violenta e prejudicial durante seu crescimento e desenvolvimento,
surgindo na expressão do seu comportamento onde não respeita seus
próprios limites e nem os limites dos outros, o que se refletiria na
conduta dos usuários do sistema trânsito.
A presente obra contribui de forma expressiva para o entendimento das
causas dos acidentes, assumindo o desafio de correlacionar a
educação e o desenvolvimento cognitivo como forma de
conscientização dos futuros motoristas diante de situações adversas.
Este livro veio ao encontro da necessidade de ampliar a bibliografia
referente ao tema e ao mesmo tempo colaborar para maiores estudos
no campo da psicologia do trânsito, oferecendo subsidio aos trabalhos
educativos na área, assim como elementos e recursos a serem
3utilizados na capacitação dos peritos examinadores que desenvolverão
um trabalho cada vez mais eficiente, auxiliando na detecção de
processos preventivos que conscientizem o indivíduo para que este
evite se envolver em acidentes.
A presente obra vem colaborar para a ampliação da literatura
relacionada ao trânsito com o intuito de promover, incentivar e instigar
novos estudos e novas publicações.
Angela Coelho Moniz
51. Apresentação
O tema que trata sobre a violência no trânsito tem sido o centro da
atenção dos estudiosos das mais variadas áreas da saúde, envolvendo
tanto o homem como a sociedade em que vivemos.
A experiência tem mostrado que a educação quando relacionada ao
desenvolvimento físico e psicológico do indivíduo pode nos ajudar a
mudar a situação e minorar a violência que se instalou na sociedade
atingindo o sistema viário de um modo geral.
A presente obra que foi desenvolvida a partir da observação das
constantes dificuldades e dos acidentes diários que ocorrem no trânsito
não se propõe a oferecer uma receita pronta e padronizada para a
solução, mas sim, instigar a reflexão sobre o problema na busca de
alternativas que possam diminuir ou ajudar a organizar o caos que o
trânsito representa nos dias atuais.
As autoras ao analisarem a crescente desordem que se instituiu no
mundo contemporâneo e de modo global, pareceu-lhes importante um
estudo e uma reflexão mais sistematizada sobre o tema agressividade e
violência, canalizando seu foco de atenção para o grupo social que
compõe o sistema viário como um todo.
Essa observação permitiu-lhes intuir que, com a desagregação da
família, dos valores morais, éticos, religiosos e sociais, surgiu uma
gama de motivos que levaram os indivíduos ao desajustamento social e
pessoal, tornando o homem cada vez mais agressivo e violento em seu
comportamento e relacionamento interpessoal de forma sistêmica e
generalizada, trazendo consigo a desintegração das relações humanas
o que no trânsito pode ser percebido através da direção insegura e
perigosa dos motoristas considerados acidentógenos*.
Essa lenta fragmentação da vida em comunidade e a necessidade de
autoafirmação que acontecem em um momento histórico-social e
político-econômico considerados críticos, exigem um senso de
cooperação e um envolvimento maior entre os indivíduos para que se
possa encontrar um equilíbrio satisfatório e harmônico no processo da
convivência social e no desenvolvimento humano, dando um impulso
maior para a integração do homem consigo mesmo e com o meio em
que vive em uma tentativa de atenuar o caos que se estabeleceu na
sociedade e, por conseguinte, no trânsito também.
*
acidentógeno – motoristas com traços de personalidade que são propensos a provocar ou envolver-se
em acidentes.
1. Apresentação
6A priori, essa atmosfera indicadora do mal estar social, pode ser o
início, a sinalização de um crescente “ desconforto emocional ”, onde o
problema existencial pode estar contido em perguntas simples tais
como: Para onde o homem pretende ir e como ele está se percebendo?
A forma como está conduzindo sua máquina é adequada? Seu
relacionamento interpessoal está sendo produtivo?
O contexto da obra mostra que a sabedoria dessas respostas pode
consistir na unicidade com o outro, onde a transformação interior tem
dois caminhos a serem escolhidos; ou a pessoa cai em um Círculo
Vicioso onde só consegue ver os seus defeitos e os dos outros, não
conseguindo melhorar a percepção de si mesmo e do mundo; ou então
escolhe o caminho do Círculo Virtuoso onde o indivíduo se aceita como
é e percebe o aspecto bom do seu caráter e do outro também.
Ninguém pode roubar a riqueza interior, a autoestima e o potencial de
alguém. São aspectos e características inerentes a cada indivíduo.
Partindo da experiência de consultório clínico, essa comprovação veio
com a experiência das autoras na área da psicologia do trânsito durante
o processo da avaliação psicológica de candidatos a motoristas, onde
as pessoas passam por uma entrevista e uma bateria de testes para a
avaliação dos traços de sua personalidade, mensuração dos vários
tipos de atenção e de memória, além da sua capacidade de raciocínio.
Só aí as autoras puderam, através dos resultados obtidos, perceber e
ponderar o quanto a população “ está doente ”.
Diante dos resultados da avaliação, várias questões foram levantadas,
entre as quais: como essa pessoa consegue sobreviver diante de tanta
dificuldade e tanta pressão emocional? Como ela consegue continuar
trabalhando? E na família, como vivem e convivem uns com os outros?
Como se relacionam? Como conseguem lidar e conviver com esses
conflitos? Que tipo de motoristas são ou serão?
No desenrolar da entrevista, foi observada a extrema carência afetiva
que envolve as pessoas e a grande necessidade que as mesmas
apresentam em encontrar alguém que as ouça, que lhes dê atenção e
valorize o que elas “ têm para falar ”.
Durante o processo da avaliação psicológica, por meio dos resultados
conseguidos, observou-se que um número significativo de candidatos
apresentou certo grau de dificuldades cognitivo e/ou emocional
vivenciados no seu dia a dia, e constatou-se que a maioria das pessoas
não consegue lidar com as suas emoções simplesmente porque não as
conhece, ou porque não consegue identificar os seus próprios
sentimentos. Não alcançam o significado dos seus afetos.
Assim, concluiu-se que: se a pessoa não conhece e não consegue
identificar as suas emoções, automaticamente não pode manter o
controle sobre algo que lhe é desconhecido. Essa dificuldade pode estar
sendo refletida diretamente no trânsito, que funciona como uma válvula
7de escape onde o indivíduo extravasa suas dificuldades e suas
frustrações, o que nos permite entender a grande perplexidade e
incidência dos acidentes.
Psicologicamente, entende-se que na vida os afetos e os sentimentos
assumem várias dimensões e várias características que precisam ser
distinguidas, identificadas, nomeadas e reconhecidas, para que o
indivíduo possa lidar com os mesmos, caso contrário trata-se de uma
luta fadada à frustração.
Como exemplo, podemos citar os sentimentos que estão classificados e
divididos em duas categorias com seus aspectos diferenciados:
1. os sentimentos subjetivos:
a. raiva
b. amor
c. depressão, etc.;
2. os aspectos objetivos dos sentimentos:
a. sorriso
b. lágrima
c. gritos, etc,
(de acordo com os estudos Cowan de 1981)
De acordo com o trabalho de pesquisa denominado “ Núcleo de
Reabilitação e Treinamento de Motorista Acidentógeno ” desenvolvido
no DETRAN de São Paulo no período de 2000 a 2006, os resultados
comprovaram a tese do envolvimento cognitivo e/ou emocional do
motorista acidentógeno que se envolve ou provoca acidentes,
permitindo verificar-se que a dificuldade dos indivíduos aparece
abarcando os dois aspectos fundamentais para a adaptação ao meio:
1. os aspectos afetivos (sentimentos e emoções), por serem
intrínsecos e subjetivos, a grande maioria dos indivíduos não
sabe e não consegue reconhecê-los e nomeá-los; e
2. no aspecto cognitivo (raciocínio, memória e atenção), mesmo
quando a emoção ou o sentimento se manifestam de modo
objetivo e concreto através da expressão facial e/ou corporal,
existe um bloqueio, uma dificuldade na compreensão do seu
significado, e na decodificação da manifestação do tipo de
sentimento que o indivíduo experimenta.
Essas dificuldades podem incapacitar o condutor na sua tomada de
decisão (cognição) e na emissão de uma resposta adequada (emoção)
1. Apresentação
8diante de uma situação perigosa no trânsito e na vida de um modo
geral.
Por meio da experiência na avaliação psicológica dos condutores, e
com os resultados obtidos através dos estudos realizados com os
motoristas, compreendemos que a violência psicológica que é
vivenciada pelo indivíduo pode ter como um dos fatores
desencadeantes da violência, a falta de flexibilidade e da integração
consigo mesmo.
Essa falta de consistência pode acabar afetando os sujeitos com maior
intensidade, e consequentemente pode aumentar a incidência dos
desajustes emocionais e sociais, elevando os índices de condutas
agressivas, que são representadas, por exemplo, pelas transgressões
às normas e às leis, o que tem aumentado sensivelmente os
indicadores da criminalidade, inclusive no trânsito.
Acreditamos que, em meio a esse processo de insegurança pessoal,
sem afeto e sem objetivos, inconscientemente o indivíduo perde o
controle de todas as coordenadas de sua vida, passando a agir de sem
afetividade de forma impulsiva, e irracional.
Esse processo de desintegração pessoal e social pode estar
relacionado ao bloqueio emocional que trava e limita a capacidade de
raciocínio e abstração na análise e na avaliação das situações de
conflito ou de perigo, vivenciados pelo indivíduo, o que acaba travando
a manifestação de respostas assertivas na solução dos problemas
enfrentados.
Os sentimentos de impotência, de insegurança e de agressividade se
manifestam como defesa em uma tentativa de suprir os desfalques
emocionais e pessoais, que podem ter sido causados de forma violenta
e prejudicial durante seu crescimento e desenvolvimento, surgindo na
expressão do seu comportamento onde não respeita seus próprios
limites e nem os limites dos outros.
A violência mostra-se também quando o desejo de realização social e
pessoal não pode ser atingido, e acaba desencadeando o menosprezo
por si mesmo, ativando o sentimento de raiva pelo outro, gerando o
desejo de ataque e destruição, que no trânsito se manifesta através da
direção perigosa.
Essa falta de capacidade para suportar a frustração está relacionada à
imaturidade emocional que caracteriza o imediatismo, o comportamento
impulsivo onde o indivíduo sente-se incapaz de se impor uma frustração
em curto prazo para poder obter uma compensação em longo prazo, o
que dificulta a sua adaptação ao meio.
A impulsividade é uma das características de personalidade observadas
com muita frequência nos motoristas acidentógenos, segundo pesquisa
realizada no DETRAN de SP em 2002, intitulada “ Características de
Personalidade do Motorista Acidentógeno ”.
9Para entendermos melhor o homem e seu comportamento recorremos
às Escolas de Psicologia, cada uma com sua peculiaridade e que nos
ajudaram a perceber as particularidades relativas ao indivíduo como um
todo, além de oferecer diretrizes sobre o que pode ser feito para
colaborar em seu processo de reequilíbrio e readaptação.
No Capítulo 4 do livro, que trata sobre o desenvolvimento Cognitivo e
Emocional poderemos ter uma visão ampla do desenvolvimento
humano e como se processa a sua integração social e a sua
aprendizagem tanto cognitiva como emocional.
Em termos do sistema trânsito, esse trabalho em seu Capítulo 7, tem a
pretensão, por meio das instituições de ensino e da utilização de
técnicas e conteúdos programáticos específicos e planejados, devolver
aos jovens os seus referencias pessoais, morais e éticos, e ao mesmo
tempo capacitá-los no reconhecimento e na identificação de suas
emoções, habilitando-os para o domínio sobre as mesmas,
proporcionando condições de futuramente poderem conduzir tranquila e
firmemente seu veículo sem envolver-se ou provocar acidentes.
O desenvolvimento tanto físico como mental é uma constante e o
ensino não pode ser estanque. É preciso solidificar a educação para
que comecemos uma nova era da edificação humana.
A proposição da disciplina em nossas vidas é estabelecer uma ordem,
uma organização e um planejamento das nossas atitudes e
comportamentos, possibilitando que a pessoa sinta-se feliz pelo que
pode fazer e não seja frustrada pelo que não pode realizar melhorando
o seu autoconceito e elevando a percepção de si mesma e do outro.
É imprescindível que o trânsito seja reavaliado bem como a capacitação
dos motoristas, e simultaneamente percebamos que vivemos um
momento singular para mudarmos a educação.
112. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva
psicológica na busca de um trânsito melhor
Um dos pontos mais compassivos sobre a violência pode ser atribuído
ao crescente individualismo e ao isolamento social das pessoas, onde o
indivíduo sente-se abatido e desamparado. Nos dias atuais, talvez
possamos equiparar a violência a uma doença social.
A falta de confiança em si mesmo e a alta competitividade objetivando
unicamente o sucesso material e não o crescimento pessoal tornou o
homem cada vez mais insensível à vida em sociedade e ao mesmo
tempo alheio aos seus próprios sentimentos, e que na maioria dos
casos acaba valendo-se do trânsito como bode expiatório para aliviar
todos os seus conflitos e insucessos. Essa tese ajuda a compreender e
a explicar a descrição dos vários tipos de motoristas envolvidos no
trânsito: o Guerreiro , oRei, oPiloto , oPrisioneiro e oSalvador .
Esses tipos de motoristas podem ser definidos da seguinte forma:
GUERREIRO: usa o veículo como armadura ou mesmo um tanque de
guerra; conduz o veículo como se estivesse em um campo de
batalha, em um campo de guerra, onde o outro é sempre
percebido como inimigo a ser vencido ( agressivos )
REI: o veículo é o seu trono, o mundo e todas as pessoas lhe devem
favores. As normas e as leis devem privilegiá-lo. O rei tem
domínio absoluto sobre tudo e sobre todos que o cercam e ele
pode tudo. ( onipotente )
PILOTO: o veículo faz parte do seu próprio ser, é uma extensão do seu
corpo e de sua vida. Utiliza o veículo como instrumento para
provar sua audácia e coragem, já que não consegue mostrar de
outras maneiras sua segurança, pois no fundo trata-se de um ser
inseguro e medroso. Tenta conquistar seu espaço no mundo dos
adultos. ( adolescente- por idade ou de mentalidade )
PRISIONEIRO: como o motorista profissional, o veículo é o seu cárcere
permanente. Sente-se enjaulado e com sua vontade e sentidos
tolhidos, presos pela situação de seu trabalho – horários,
percurso, paradas em cada ponto, passageiro nervoso,
campainha, luzes piscando, congestionamentos constantes,
pagamento por viagem……Mal ajustado, usa o veículo,
aproveitando-se do tamanho do mesmo e da velocidade, para
2. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva psicológica na busca
de um trânsito melhor
12satisfazer sua necessidade de auto afirmação e superar suas
frustrações, desprezando por completo a convivência humana e
social, como compensação por sua impotência e desprestigio
(motoristas profissionais ).
SALVADOR: aquele que sempre deixa os outros passarem na frente;
pensa sempre em auxiliar os que estão com problemas e sempre
dá passagem aos pedestres.
Várias áreas das ciências humanas colaboraram com seus estudos
para ajudar a entender as tribulações manifestadas pelos indivíduos na
expressão do seu comportamento.
O desenvolvimento da neurobiologia nos forneceu os subsídios que
permitem observar o funcionamento do cérebro e como são
estabelecidas as conexões neurais da cognição (inteligência – atenção)
e das emoções (raiva – amor).
Por outro lado, a psicologia, estudada de uma maneira ampla, nos ajuda
a entender e a aprimorar os conhecimentos sobre as dificuldades
cognitivas, emocionais e afetivas que assolam a humanidade
desencadeando nos indivíduos a apatia afetiva, tornando a pessoa cada
vez mais insegura culminando com o sentimento de baixa autoestima e
de frustração contínua, gerando a instabilidade e a inadequação
comportamental, que observamos no trânsito através da direção
arriscada e da violência entre os usuários.
O interesse psicológico está em estudar e entender a separação que se
estabeleceu entre a inteligência, as emoções e o comportamento final
do indivíduo, que está sendo prejudicado na apreensão do Ser como
um todo. Esse processo de distanciamento nos parece ter
impossibilitado a pessoa na sua capacidade de compreensão e
avaliação da situação que está enfrentando.
Parece-nos que a falta de objetivos e de referências faz com que o
jovem sinta-se “ solto no ar ”, sem nenhum compromisso com a vida,
consigo mesmo, com a família e nem com a sociedade.
Vive em um mundo efêmero, sem ética e sem valores, onde não
existem regras nem leis que rejam o comportamento e o relacionamento
humano estabelecendo os limites de cada um, e este é um dos fatores
que pode esclarecer a violência que atualmente sentimos e vivemos no
nosso dia a dia. Leis e regras que tem a finalidade de garantir a ordem e
o progresso pessoal e social, são desprezadas por completo, é como se
não existissem.
Sem objetivos e sem realização a pessoa sente-se cada vez mais
incapacitada e fracassada, isolando-se de si mesma, dos seus afetos e
sentimentos, reagindo de forma agressiva e violenta em seu convívio
com os outros, e o grupo social trânsito acaba funcionando como alvo,
13como um meio propício para extravasar todas estas dificuldades. Afinal
ele possui uma arma potente em suas mãos: o veículo automotor, que
funciona como uma armadura de proteção aos seus ataques.
Uma das questões mais frequentes entre os estudiosos do psiquismo
humano é: “ porque algumas pessoas que tem um QI considerado alto
não conseguem progredir na vida, enquanto que, outras consideradas
com QI baixo se dão bem? ” [1].
Essa aptidão foi denominada por Daniel Goleman como sendo a
Inteligência Emocional, responsável pelo autocontrole, pelo cuidado,
pela persistência e pela automotivação. Portanto podemos pensar que o
problema não está na capacidade cognitiva, mas sim na adequação da
emoção para a situação.
Toda emoção em sua essência é impulsiva; somente no homem, com o
desenvolvimento do intelecto, é que passou a existir um controle
racional do sentimento, o que podemos chamar de reflexão sobre a
ação. Quando o aspecto intelectual, por algum motivo, é bloqueado, a
violência sentida internamente pelo indivíduo, é transferida para o
mundo externo de forma impulsiva e agressiva, onde o outro passa a
ser visto como culpado pelo seu fracasso pessoal. É onde o indivíduo
age e se comporta de forma combativa e violenta, sem nenhuma
reflexão sobre o seu sentimento, sobre a sua emoção e sobre o seu
comportamento.
No trânsito podemos perceber a manifestação desses sentimentos
violentos por meio da alta velocidade, ultrapassagem perigosa, avanço
de sinal, falta de respeito com a faixa de pedestre, buzina constante,
entre outros comportamentos inadequados.
Esse tipo de situação faz-nos pensar que as pessoas não são
emocionalmente perturbadas, mas são deficientes em seu movimento
social, em suas metas, em sua forma de integração social, porque
formou conceitos errados de si mesma, dos outros e do mundo.
Esse trabalho de educação tem como objetivo devolver ao jovem a sua
idoneidade, de modo que o mesmo consiga situar-se dentro do tempo e
do espaço em que vive assumindo o seu existir. Esse argumento
possibilita o desenvolvimento adequado da percepção de si mesmo e
do outro e pode restaurar o sentimento da autoestima, permitindo a
descoberta do seu potencial, devolvendo-lhe a segurança pessoal e a
capacidade de ponderação para uma vida equilibrada e segura.
Esses sentimentos positivos poderão vir a se refletir também na
condução do veículo, através de uma direção defensiva e hábil,
promovendo no sistema trânsito um ambiente agradável, amigável e
cooperativo.
Se durante o processo educacional existir normas, que terão a função
de facilitar a adaptação do indivíduo ao grupo social de sua convivência,
e as regras que estabeleçam os limites a serem obedecidos, garantindo
2. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva psicológica na busca
de um trânsito melhor
14o seu direito e o direito do próximo, isso trará as fronteiras e o bem estar
para o jovem e o ajudará na disciplina para a vida como um todo,
incluindo o trânsito.
A disciplina é uma fonte de energia propulsora para a esperança e a
elevação dos padrões de comportamento de uma sociedade, na medida
em que ajuda a determinar os objetivos e as metas para serem
atingidos, estabelecendo uma ordem, uma organização e um
planejamento do que queremos, do que podemos e do que devemos
fazer. Podemos dizer que seria uma hierarquização dos interesses e
dos valores pessoais e sociais.
Quando estabelecemos objetivos e conseguimos selecionar e
estabelecer metas para a vida, estaremos definindo se o que queremos
é um desejo real ou simplesmente um capricho.
Para isso a disciplina dá o entusiasmo e a motivação para alcançarmos
os nossos alvos, as nossas metas além de colaborar para a realização
dos nossos sonhos. Significa uma melhora constante e incessante na
vida das pessoas, enquanto que a rotina de um comportamento implica
em uma estagnação, na ausência de movimento, onde há uma perda do
entusiasmo pela própria vida.
É como se fosse à morte da alma, pois o comportamento mecânico e
sem intenção pré-estabelecidas não necessita de emoção e nem de
raciocínio, e acaba anulando totalmente a intervenção do indivíduo
como um ser vivente e com vontade própria.
O corpo pode ser considerado como sendo o veículo da alma, e é
através dele e do nosso comportamento que expressamos o que
sentimos e o que pensamos. Quando existe alguma dificuldade nas
esferas afetiva e/ou emocional, para o motorista o veículo passa a ser a
sua alma uma continuação do seu próprio corpo, é quando os valores
se misturam e se invertem e a máquina passa a ser o meio de solução
para os seus conflitos.
Com a implantação deste Projeto de Educação, temos a ambição de
através das dinâmicas de grupo e dos jogos propostos com os objetivos
determinados, alargar e devolver a capacidade cognitiva e afetiva do
indivíduo. O alvo principal é facilitar o contato com as próprias emoções
e promover a tomada de decisão diante das situações de conflito,
procurando assumir posturas assertivas na solução dos mesmos.
O conflito de escolha por si só, provoca um sentimento de satisfação
quando é compensatório, e de frustração quando a escolha não foi
satisfatória podendo, como vimos ocasionar o desajuste emocional e
comportamental.
Do ponto de vista psicológico, acreditamos que com a promoção do
autoconhecimento e da autopercepção, as pessoas poderão criar um
ambiente interno deleitoso, onde poderão sentir-se vivas, criativas e
autênticas consigo mesmas e com os outros em suas relações,
15facilitando o reconhecimento dos seus afetos e emoções, e a partir daí
alcançar um bom controle sobre o seu comportamento e a sua
adequação ao meio em que vive. Este equilíbrio e tranquilidade interna
permitem ao indivíduo uma forma de condução veicular mais
cooperativa, amigável e cautelosa.
O comportamento é um sistema de crenças formado por referências,
informações, e conhecimentos que vem antes da disciplina. É a história
de vida do indivíduo construída sobre as suas experiências com o
mundo e com as pessoas.
Quando quebramos essas referências e/ou mudamos nosso sistema de
crenças, estabelecemos novos padrões de comportamento, às vezes,
inadequados.
O mundo está em constante mudança, tanto no aspecto tecnológico
como no aspecto do relacionamento humano. A todo o momento somos
bombardeados por uma gama infinita de informações que temos que
absorver e acomodar no nosso cotidiano.
Assim como existem concepções e definições do que é uma estrada
segura e um veículo apropriado para circulação, a definição do condutor
ou motorista adequado deve acompanhar a crescente complexidade do
trânsito e as alterações que acontecem.
Atualmente, o motorista não é mais aquela pessoa que simplesmente
manobra o veículo, ou que simplesmente conduz uma máquina. Ele é
um elemento ativo e seu comportamento é imediatamente refletido no
trânsito.
O número de veículos nas ruas aumenta constantemente, e as
máquinas estão cada vez mais diversificadas e sofisticadas, mais
potentes exigindo cada vez mais habilidade dos seus condutores.
As estradas, as rodovias e as ruas por onde estas máquinas circulam,
também estão constantemente sofrendo mudanças em suas tecnologias
e logísticas ordenando novas soluções e sinalizações, exigindo uma
atualização constante do motorista.
Essas mudanças são perseverantes e acontecem em um ritmo muito
acelerado desencadeando uma estimulação cada vez maior, tanto em
relação à sinalização como aos elementos humanos concernentes ao
trânsito demandando uma capacitação cada vez maior dos condutores
na apreensão dos estímulos e na elaboração das respostas para
conduzir sua máquina de forma segura sem envolver-se ou provocar os
acidentes. É preciso um bom controle sobre as emoções e uma
capacidade de raciocínio rápido de modo que o motorista possa
encontrar uma solução para a situação em que se encontra, sem
desarmonizar o sistema como um todo.
A relação que o homem estabelece com sua máquina seguem dois
cursos: ou ama e idolatra seu veículo como sendo uma extensão de seu
2. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva psicológica na busca
de um trânsito melhor
16próprio corpo, ou simplesmente o percebe como uma ferramenta a ser
utilizada em seu transporte.
Outro aspecto na relação do homem com seu veículo é o seu uso como
status social como meio de autoafirmação e aceitação em seu meio.
Este tipo de sentimento faz com que as pessoas passem a valorizar
mais o bem material do que o emocional, o que pode comprometer sua
relação com o outro e com o próprio grupo do sistema trânsito.
Pessoas seguras, equilibradas emocionalmente, disciplinadas, são
capazes de entender que, primeiro é preciso SER, isto é, apropriar-se
de si mesmo, de sua própria vida, para depois TER, sendo capazes de
canalizar a sua criatividade e a sua energia para o desenvolvimento de
uma sociedade onde os limites são respeitados e os valores
preservados.
173. Definição de Trânsito
CODIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
LEI Nș 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997.
Institui o Código de Trânsito Brasileiro.
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1ș – O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território
nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código.
§ 1ș – Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos
e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de
circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.
São vários os significados encontrados para definir o que é trânsito.
No dicionário da língua portuguesa, a palavra trânsito significa:
passagem; trajeto; movimento de pedestres, animais e veículos que
transitam nas cidades ou nas estradas, acesso fácil.
Em tempos primitivos, os pés constituíam o único meio de locomoção; e
o próprio Ser humano era o principal meio de transporte que formava o
trânsito.
Todo indivíduo, a pé ou em um veículo de qualquer tipo, movimentando-
se nas ruas, nas estradas, ou mesmo dentro de casa está formando o
que conhecemos como trânsito.
Há os que transitam como pedestres, motoristas ou passageiros, além
dos que administram todo o sistema, como por exemplo, o policial ou o
agente de trânsito.
Rozestraten (1988) definiu o trânsito como “ um conjunto de
deslocamentos nas vias públicas, dentro de um sistema convencional
de normas ” [2].
Segundo Vasconcelos (1985), outro estudioso do tema, a definição de
trânsito seria: ” o conjunto de todos os deslocamentos diários pelas
calçadas e vias da cidade de pedestres e veículos ” [3].
Mais um conceito encontrado para definir o trânsito é: movimento ou
circulação de veículos e de pessoas, envolvendo a máquina, as vias
públicas, o meio ambiente e o homem que é considerado como sendo o
agente central de todo movimento do trânsito, vivendo ao mesmo tempo
dentro de dois ambientes distintos:
1. seu próprio corpo (aspecto objetivo) – stress, dores de cabeça, mal
estar, etc. e
2. seu psiquismo (aspecto abstrato) – mesmo que esteja vivendo
algum conflito, seu “EU” tem que estar no trânsito e atento a tudo
que ocorre a sua volta.
3. Definição de Trânsito
18Sendo assim, podemos dizer que transitar é caminhar de um lado para
outro, o que significa que trânsito não se refere somente a veículos
motorizados, mas também a pedestres, ciclistas, motociclistas, etc., que
também circulam pela cidade, ou seja, indo e vir de um lado para outro.
Alguns autores sugerem ainda mais, que trânsito é também diálogo,
quer dizer que para se locomover de um lugar para outro, as pessoas
necessitam comunicar-se entre si e com o meio: como por exemplo,
enviar, receber e compreender as mensagens emitidas pelos motoristas
para sinalizar suas manobras é uma forma de comunicações que
orienta o trânsito sendo um aspecto fundamental para evitar os
acidentes [4, p. 41] .
A linguagem do trânsito é específica e a falta de compreensão da
mesma pode levar a imprevistos [4].
3.1. O deslocamento existe em todos os lugares e todos nós
compartilhamos dele
A circulação de um modo geral pode ser feita por meio de várias formas
diferentes entre si: pelo ar (avião), pela água (barcos), pelo solo (a pé,
trem, ônibus, carro, moto, bicicleta) e pelo subsolo (metrô).
Todo veículo, homem ou animal, ao se movimentar em qualquer lugar
do nosso planeta está fazendo parte do trânsito. Assim, por exemplo,
quando saímos de nossas casas e nos dirigimos ao mercado ou a
escola, já estamos formando e participando do trânsito.
O movimento de circulação está tanto nas ruas, nas rodovias, nos
passeios, como nas escolas, nas nossas casas, nos locais de trabalho.
Sempre que nos locomovemos de um lugar a outro, dizemos que
estamos em trânsito.
Para que o trânsito flua bem e sem problemas, todos nós devemos
circular de forma cooperativa sem dificultar ou atrapalhar o
deslocamento dos outros. Agindo dessa forma valorizamos o
sentimento de cidadania, o que significa comportarmo-nos como bom
cidadão respeitando o nosso espaço e o espaço do outro.
Quando as regras, as normas ou as leis que regem o trânsito não são
obedecidas, em qualquer das situações citadas, acontece uma
desordem que dificulta a circulação das pessoas e dos veículos,
provocando os engarrafamentos, congestionamentos e podendo
culminar com os acidentes.
Então, para compreender o caos que se instalou no trânsito, não é
suficiente analisar os problemas relacionados aos imprevistos ou às
adversidades; precisamos entender como as pessoas participam desse
trânsito, como estão circulando e colaborando para um trânsito seguro,
19quais são suas necessidades, seus interesses e como essas mesmas
pessoas colaboram para o desenvolvimento e a ordem do mesmo.
De acordo com o Novo Código de Trânsito Brasileiro Lei n. 9.503, de
Setembro de 1997 – arts. 1ș e 2ș; o trânsito, em condições seguras, é
um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do
Sistema Nacional de Trânsito, a este cabendo, no âmbito das
respectivas competências, adotarem medidas destinadas a assegurar
esse direito.
3.1.a. Quais os papéis que desempenhamos dentro do sistema
Trânsito? Podemos ser: Motorista – Passageiro – Pedestre
Durante o dia, a todo o momento, nos é solicitado a exercermos um
determinado papel dentro do sistema trânsito, e no decorrer do dia,
dependendo da situação em que estamos envolvidos, representamos
quase todos os papéis inevitavelmente.
Quem estiver se deslocando em um tipo qualquer de veículo e estiver
conduzindo a máquina, este é o motorista. Quando o indivíduo não for o
condutor, ele é o passageiro, e quando nossa movimentação é feita a
pé, somos os pedestres.
Todas as pessoas dependendo do momento e da situação podem ser
motoristas, passageiros, ou pedestres porque a maioria das pessoas
está sempre transitando de um lugar para o outro.
Alguns locais por onde transitamos estabelecem as normas de
circulação, como por exemplo, dentro de estabelecimentos comerciais
ou dentro das nossas casas só podemos ser pedestres.
É importante lembrar que, como motoristas, passageiros ou pedestres,
precisamos estar sempre atentos à nossa segurança e à segurança dos
outros também, pois é disso que depende o nosso bem mais precioso: a
nossa vida e a vida do nosso próximo.
3.1.b. Quem são as pessoas e os profissionais que formam e
participam do trânsito?
Para formar o trânsito é necessário que várias pessoas e/ou vários
veículos estejam envolvidos na situação, e que cada um represente um
papel específico que os define. São vários os profissionais que
colaboram para a existência do trânsito, como por exemplo:
CAMINHONEIRO: é o indivíduo que dirige qualquer tipo de caminhão.
CICLISTA: qualquer pessoa que anda de bicicleta
MOTOCICLISTA: quando o indivíduo é o piloto de uma motocicleta,
independente da cilindrada.
MOTORISTA: condutor de qualquer tipo de veículo automotor, como
carro, ônibus, caminhonete.
3. Definição de Trânsito
20PEDESTRE: indivíduo que circula a pé.
TAXISTA: quando o sujeito dirige e trabalha com um táxi.
POLICIAL DE TRÂNSITO: guarda ou agente de trânsito que fiscaliza e
orienta o trânsito.
PATRULHEIRO RODOVIÁRIO: policial de trânsito responsável pela
circulação dos veículos nas estradas
AGENTE de TRÂNSITO: indivíduo responsável pela fiscalização do
cumprimento das normas e leis que regem o trânsito
Cada uma dessas pessoas tem um papel específico dentro do trânsito
com o objetivo de garantir a segurança do usuário.
3.2. A Violência no Trânsito
Ultimamente a violência tem sido o foco da atenção e da preocupação
na sociedade do mundo inteiro e de um modo globalizado.
Segundo Goleman “ nos países modernos, a tendência é para um
individualismo exacerbado, o que acarreta, consequentemente, uma
competitividade cada vez maior […]essa visão de mundo traz consigo o
isolamento e a deterioração das relações sociais e pessoais ” [1, p. 10].
A lenta desintegração da vida em comunidade e a necessidade de
autoafirmação estão acontecendo paradoxalmente em um momento em
que as pressões econômico-sociais estão exigindo uma maior
cooperatividade e envolvimento ético entre os indivíduos.
Esta atmosfera de mal estar social representada pelo alto índice de
hostilidade, violência e criminalidade, é indicadora de um crescente
desconforto emocional, e uma sensação de incapacidade, que podem
estar gerando os desajustes sociais, tornando difícil o convívio do
homem com os seus semelhantes.
No grupo social trânsito não é diferente; essas dificuldades se
manifestam por meio da alta competitividade e pela falta de cooperação
entre os motoristas tornando o trânsito cada vez mais perigoso e
violento.
Ultrapassagens perigosas, buzinar pressionando o condutor que está à
sua frente, não dar passagem, xingamentos, fechadas, etc., são formas
de manifestar a violência no trânsito.
Observando esses tipos de comportamentos tão inadequados,
começamos a nos perguntar: quando age de forma violenta, agredindo
o outro ou a si mesmo, o que a pessoa espera da sociedade? A quem
ela deseja realmente atingir? Aos outros, a sociedade, as regras morais,
as leis ou a si mesma? Enfim qual é o alvo real do ataque da pessoa
que não se integra à comunidade e que não se ajusta às regras e às
normas estabelecidas?
21No mundo atual, visto sob o ângulo psicológico, entendemos que o
respeito humano está sendo banido dos relacionamentos e das
convivências sociais, mediante a inversão dos valores éticos, morais,
religiosos e sociais que se instituiu no mundo.
Vemos que há uma grande preocupação dos profissionais de todas as
áreas das ciências humanas e da saúde, para reencontrar o ponto de
equilíbrio e amenizar a convivência dos homens entre si estabilizando
seu contato com a sociedade de modo geral, inclusive no trânsito.
Podemos considerar que os disparates que ocorrem no sistema viário é
o reflexo do que vivemos atualmente.
Somado ao aspecto educacional, a mazela da crise econômica, que nos
parece ser eterna, o problema da falta de cooperação, de solidariedade
e de respeito com o outro aparece também nas vias e rodovias, onde a
violência pode se manifestar com todo o seu vigor, pois o motorista está
legalmente autorizado através da CNH, a portar uma arma (o veículo),
que quando mau manejada acaba por ocasionar mortes ou ferimentos,
que em sua maioria são graves, deixando o indivíduo com sequelas que
na grande parte das vezes, pode torná-lo limitado ou incapacitado por
toda a vida. O que temos hoje é uma gama de motoristas mal
informados, e mal formados.
Para entendermos o comportamento humano geral, precisamos
considerar os fatores internos e externos relacionados ao ambiente em
que o indivíduo vive e que irão determinar a sua resposta ao mesmo,
resposta que se manifestará em comportamentos e ações.
Partimos da premissa que o homem é um ser multifatorial, e que na
formação da sua personalidade, o processo de educação e as
informações recebidas exercem um papel fundamental para o seu
ajustamento pessoal e social.
A psicologia compreende o homem como um ser determinado pelas
condições histórico-sociais que o cercam. Como ciência, tem buscado
sobremaneira entender a transformação que ocorre no seu íntimo, e de
que forma essa modificação age sobre seu comportamento social. Para
isso tentaremos definir o termo agressão, para chegarmos ao
desencadeamento do comportamento violento.
Existem dois tipos de agressividade definidos por Sigmund Freud : as
agressividades positivas, ligadas ao instinto de vida (Eros), e a
agressividade negativa ligada ao instinto de morte (Tânatos) [5, p. 433].
Segundo Laplanche e Pontalis [6, p. 20, 37] agressividade é a tendência
ou o conjunto de tendências que se atualizam em comportamentos reais
ou fantasísticos que visam prejudicar o outro, destruí-lo, constrangê-lo,
humilhá-lo, etc.
De modo sucinto, podem ser feitas as seguintes formulações:
3. Definição de Trânsito
221 agressividade normal =impulso agressivo construtivo,
integrante do equipamento
instintivo do homem
2agressividade normal +
desejo de vingança= ódio
3 agressão + ódio = agressividade anormal
4agressividade + ódio +
prazer= crueldade
5agressividade anormal +
força física intensa= violência
A violência é definida como o uso desejado da agressividade com fins
destrutivos, e pode ser de caráter:
a. Voluntário – intencional
b. Racional – premeditado
c. Consciente – o objeto é adequado à agressão
d. Involuntário ou Irracional – a agressão destina-se a um objeto
substituto [6].
Nos tempos modernos, a violência invadiu todos os setores das nossas
vidas, e também todas as áreas de nossas relações, sendo causadora
da desunião e destituição humana, como patologia ou doença social
que contamina toda a sociedade, podendo ser a responsável pelo
grande número de acidentes e mortes no trânsito.
Em meio a esta instabilidade as pessoas acabaram perdendo as
coordenadas dos seus objetivos e da própria vida. Dentro desse
contexto caótico, definimos o aparecimento e a evolução de três tipos
de violência:
1. Violência Primária – manifestada pela expressão facial ou
corporal (sinais obscenos, etc.)
2. Violência Secundária – manifestada pela expressão verbal
(ofensas, menosprezo, etc.)
3. Violência Terciária – manifestada através da expressão física
(agressão propriamente dita, culminando com o homicídio).
(Rassul e Colacique, 2002) [7].
Por outro lado, analisando o homem como sendo o agente central que
motiva e movimenta todo o trânsito, é importante perceber e avaliar não
como o motorista pode dirigir, mas sim como está dirigindo, pois
entendemos que a forma como dirige é o reflexo de sua própria vida, é
a manifestação do seu verdadeiro EU.
23Os indivíduos mal ajustados, agressivos ou violentos, usam o veículo de
forma inadequada, como uma arma para satisfazer sua necessidade de
autoafirmação, desprezando por completo a convivência humana e
social.
O sistema trânsito, percebido e compreendido como um grupo social é
formado por uma tríade de partes coordenadas entre si que compõem
todo o conjunto de locomoção, e é representado pelo diagrama como
segue:
onde, o Homem é o fator ressaltante no organograma, pois interage ao
mesmo tempo com a máquina, com o meio ambiente, com os outros e
consigo mesmo.
A psicologia do trânsito é um ramo da ciência que estuda o
comportamento do homem em seu deslocamento – motorizado ou
não – mediante um conjunto de normas e leis que pretendem assegurar
a integridade física e moral dos componentes do sistema viário.
Os acidentes de trânsito podem ter suas causas em fatores objetivos e
concretos tais como:
1. Fator Natural (considerado como sendo o ambiente);
2. Fator Técnico (veículo, vias públicas ou despreparo do
condutor);
3. Fator Físico, orgânico, fisiológico (condutor); ou em fatores
subjetivos (relacionados com os aspectos emocionais e a
personalidade do condutor).
Considerando ainda que o condutor é o elemento central e atuante
principal do sistema viário e do acidente, não devemos nos esquecer
dos comportamentos que caracterizam a imprudência, a negligência e a
imperícia. Esses comportamentos podem ser definidos como:
a. Imprudência: atitude de irresponsabilidade ao volante (ex:
transitar em alta velocidade);
b. Negligência: senso de desleixo ao conduzir o veículo (má
condição de conservação);MÁQUINA
EquipamentoHOMEM
MEIO -AMBIENTE
Socioeconômico
3. Definição de Trânsito
24c. Imperícia: quando não possui qualificação para dirigir um
veículo.
Enfatizamos que um dos caminhos que temos para tentarmos organizar
esse caos que se estabeleceu no trânsito, e que tem gerado a grande
violência que hoje estamos vivendo, é através da educação e da boa
aprendizagem.
Essas questões nos remetem aos princípios psicológicos do
desenvolvimento e da didática de ensino como pontos de partida para
uma prática mais eficiente, dinâmica e com resultados mais decisivos e
satisfatórios.
254. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
Na maioria das vezes o trabalho escolar não tem considerado a
dimensão holística do educando, abandonando o aspecto emocional
onde a nova tecnologia de ensino acaba gerando pessoas
intelectualmente adultas, porém sentimentalmente infantis, irreais e até
mesmo aguerridas.
Segundo os autores Hoffman e Filho [8] uma das formas de prevenção
contra o acidente de trânsito seria a educação para o trânsito, que
colaboraria para comportamentos sociais mais adequados e
significativos. Apesar do foco deste trabalho ser o trânsito, o mesmo
estudo é adequado para as instituições de ensino de modo geral.
A educação para esses autores é compreendida como: “ Educação
ético-social englobando a Educação para o Trânsito e ambas estão
inseridas na educação social, de onde obtém fundamentos teóricos e
metodológicos ” [9], [8, p. 195]. (Hoffman e Filho, 2003, p. 195).
O ensino moderno tem sonegado as situações limites da vida, onde a
apreensão dos fatos da realidade é equivocada; cada indivíduo tem a
sua própria verdade esquecendo que o mundo real é dinâmico e ao
mesmo tempo contraditório, jamais estático e estratificável em conceitos
individuais e verdades definitivas.
A apreensão do real deve emanar sempre de um processo coletivo
(Círculo Virtuoso) e não estar e nem ser baseada em uma postulação
newtoniano-positivista de um conhecimento individual objetivo e
inquestionável (Círculo Vicioso).
A questão epistemológica remonta aos gregos, do século VI A.C.. O
substantivo grego episteme deriva do verbo ep-istastai, que significa
“saber, estar próximo, conhecer ”.
Com base nos princípios da didática do ensino, distingue-se e
considera-se que a instrução compreende o conhecimento teórico-
científico; enquanto que a educação abrange os conteúdos morais e
éticos.
Partindo desse pressuposto, podemos entender que a Instrução envolve
a esfera cognitiva; ao passo que a Educação abrange a esfera
emocional, onde a integração desses dois aspectos do indivíduo
permite o processo da aprendizagem como um todo e que se externa
em adaptação social e comportamentos adequados.
Quando falamos em instrução estamos nos referindo ao indivíduo como
o centro de suas realizações pessoais, aonde seu conhecimento vai
sendo construído passo a passo; enquanto que na educação o enfoque
é para o desenvolvimento da personalidade relacionado às
individualidades psíquicas, aproveitando ao máximo o seu potencial
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
26emocional, com o objetivo de atingir e desenvolver os conteúdos éticos
e morais.
Considerando que o homem, sobretudo é um ser social que promove e
ao mesmo tempo sofre mudanças relacionadas ao meio, através do seu
estilo de interação e de conexão que estabelece com o mundo e com o
outro, então perguntamos: o que estará errado, ou estará faltando para
que a experiência de dirigir torne-se integral, na medida em que envolve
os planos cognitivo e emocional do indivíduo enquanto pessoa e ao
mesmo tempo como membro de uma sociedade? Porque será que o
trânsito é tão violento? Será que sentimos a falta da educação no
trânsito?
De acordo com uma pesquisa sobre estratégias que poderiam ser
adotadas para redução de acidentes de trânsito, realizada por Lemes
em 2003, com base em sugestões da Comunidade, o resultado em
ordem decrescente foi o seguinte:
31,0% ………..Educação para o trânsito (inclusão no currículo de
ensino)
21,3% ………..Fiscalização (punição de condutas inadequadas)
14,2% ………..Impunidade (atividade comunitária de recuperação
dos acidentados)
10,4% ………..Engenharia (melhoria da malha viária)
6,7% ………..CNH (seriedade no curso de formação do condutor)
5,6% ………..Governo
4,7% ………..Corrupção [10].
Infelizmente a área de trânsito é muito carente de pesquisas mais
atualizadas.
Delors [11]revela que a educação do século XXI deve transmitir
SABERES (Instrução) e SABER FAZER (Educação) evolutivo, de modo
que cada indivíduo possa ser capaz de selecionar, filtrar, decodificar,
codificar e gerenciar o excesso de inovações e informações que são
recebidas diariamente.
A adaptação do homem a um mundo e a um trânsito em constantes
mudanças, já não é possível nem adequada somente com o acúmulo de
conhecimentos teóricos e comportamentos automáticos.
É importante atualizar, aprofundar e reorganizar o que foi apreendido e
aprendido anteriormente para que possamos adequar nosso
comportamento e as nossas ações às novas situações que se
apresentam na vida e no trânsito, de maneira equilibrada e produtiva,
permitindo dessa forma a manifestação de comportamentos mais
conscientes e afirmativos.
27É por isso que o Ensino deve estar articulado com a Educação, visando
favorecer o avanço das ciências através de uma eficaz coordenação do
concreto (meio ambiente) com o abstrato (psique).
A aprendizagem deve evoluir de simples transmissão de prática
rotineira para uma preocupação na melhoria da segurança e na
qualidade de vida, desenvolvendo, alavancando, e aprimorando o
sentimento de cidadania, o respeito às regras, sendo capaz de
promover a produção de valores mais humanos.
Segundo John Dewey “dizer que se vendeu quando ninguém comprou é
tão exato como declarar que se ensinou quando ninguém aprendeu ”
[12, p. 26].
Hoje o caminho da Educação deve levar o sujeito à consciência da
interdependência inata e saudável entre os homens, fornecendo
destaque à capacidade de saber ouvir, aumentando a empatia, a
propagação do hábito da utilização do diálogo e da argumentação, na
busca da construção de uma personalidade autônoma, discernidora e
responsável.
Esse caminho contempla todas as potencialidades individuais: memória,
raciocínio, sentidos éticos e estéticos, capacidades cognitivas e
psicomotoras além da adaptabilidade emocional.
Além de englobar os fatores físicos relativos ao amadurecimento
neurológico que são primordiais para a recepção e para o seguimento
da informação, o processo da aprendizagem engloba fatores psíquicos
que dizem respeito à prontidão emocional para perceber, decodificar e
assimilar novos dados, permitindo que indivíduo seja capaz de
dimensionar as consequências de suas atitudes frente ao mundo e às
pessoas.
A Psicologia enquanto ciência do comportamento ajudou muito na
compreensão dos afetos e das emoções humana, e colaborou para a
compreensão do processo da aprendizagem. Vários psicólogos
pesquisadores forneceram dados reveladores sobre os aspectos
cognitivo e emocional do homem. A título de informação, citaremos mais
adiante, alguns dos estudiosos que tiveram um destaque maior para o
nosso trabalho.
4.1. A Didática e o Ensino
A didática tem como meta desenvolver formas e recursos para facilitar a
transmissão de conhecimentos específicos, devendo para isso preparar
o público a quem se destina, selecionando e ordenando seus conteúdos
e os recursos que utilizará para passar as informações, em um plano de
curso pré-estabelecido respeitando a capacidade cognitiva e emocional
de quem vai receber as informações. Para isso desenvolveu os
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
28seguintes passos a fins de despertar o interesse e a motivação dos
alunos:
a. dados gerais ou identificação da disciplinar: nome da disciplina,
período letivo, carga horária, nome do instrutor ;
b. justificativa: explicação do porque da matéria. Qual sua
importância?
c. objetivo específico: ensinar o aluno e ele aprender;
d. seleção de temas: conteúdos, programas;
e. metodologia, estratégia de ação;
f. recursos: filmes, cartazes, banners;
g. atividades: trabalho e procedimento;
h. avaliação e replanejamento:
h.1. Contínua ………………… perguntando durante a aula
h.2. Somativa………………… final de cada unidade
h.3. Diagnóstico…………….. pré e pós-teste
A atitude do professor em relação à matéria é orientar, controlar e medir
o aproveitamento dos alunos. A avaliação do processo de
aprendizagem deve ser contínua e dinâmica; de ação e reação diante
dos conteúdos apresentados, com uma proposta de modificar os
comportamentos e/ou as percepções e deduções inadequadas.
O professor ou instrutor deve ter como objetivo as mudanças que
deverão ocorrer no comportamento do aprendiz com a aquisição das
novas informações.
Uma das formas de construir a aprendizagem é fazer com que o aluno
pense e desenvolva hipóteses a respeito dos problemas que lhes são
apresentados, de modo que consiga chegar a uma solução satisfatória,
potencializando a capacidade de observar e entender a sua reação, e o
porquê do seu comportamento para chegar a uma conclusão final.
As respostas assertivas estão baseadas em uma linha de raciocínio
lógico-dedutivo, objetivando a compreensão da relação existente entre a
ação e a reação, o que permite ao sujeito o desenvolvimento da sua
capacidade de controle sobre a impulsividade, manifestando
comportamentos mais adequados e conscientes.
Esta percepção e compreensão de que toda ação gera uma reação é
muito importante para o trânsito, pois permite uma reflexão maior sobre
as atitudes que serão adotadas.
A didática preocupa-se com a metodologia e os recursos materiais para
cumprir sua proposta de ensino, enquanto que a psicologia preocupa-se
em entender o funcionamento cognitivo/emocional do indivíduo na
recepção das informações, em uma tentativa de adequar os métodos de
ensino e facilitar o processo da aprendizagem e do autoconhecimento.
29Ambas as ciências são importantes e caminham paralelamente tendo
em vista o pressuposto de que o ser humano é uma unidade indivisível.
Na psicologia, surgiram várias linhas (escolas) de pensamento com a
finalidade de atingir e compreender o psiquismo humano. Muitas teorias
foram desenvolvidas para explanar sobre o comportamento humano e
suas variações, até o momento em que a psicologia se firmou como
ciência.
Como informação e para facilitar a compreensão do trabalho, faremos
uma breve apresentação sobre o desenvolvimento da psicologia citando
alguns autores e suas escolas bem como as características de cada
uma para o processo da aprendizagem.
4.1.a. A Importância de John Locke para Psicologia
No século XVII o filósofo britânico John Locke (1632 – 1704) revolucionou
o mundo acadêmico com sua teoria onde declarava que a mente do
recém-nascido era como uma “ pedra lisa ” (tábula rasa) e dessa forma
nenhum conhecimento e nenhuma informação estaria em nossa mente
ao nascermos.
A expressão Tábula Rasa deu origem e sentido à
corrente filosófica denominada de empirismo onde
John Locke é considerado o seu principal
representante.
O filósofo partia da suposição de que todas as
pessoas quando nascem não sabem e não
conhecem absolutamente nada, todos nascemos
sem nenhuma impressão. Tomando como
referencia esse princípio Locke deduziu que todo
o processo do conhecimento e do comportamento
seria aprendido durante a vida e adquirido pela
experiência do indivíduo com o mundo através da
tentativa e erro.
Locke considerava que todo aprendizado e
conhecimento alcançados seriam gravados na
tábula por meio das nossas experiências com o mundo externo, isto é,
por meio das informações que foram captadas através dos nossos
órgãos dos sentidos: visão, audição, olfação, gustação e tato.
Atualmente a teoria da tábula rasa é considerada ultrapassada pelas
evidências científicas da influência genética no comportamento humano,
onde os pesquisadores passaram a reconhecer a importância e a
influencia do meio ambiente sem, no entanto desprezar a carga
genética do indivíduo.
Na metodologia e no processo da educação, as funções atribuídas ao
professor são a coordenação e a direção da apreensão dos estímulos,John Locke
* Wrington, Inglaterra,
29/08/1632
† Oates, Inglaterra,
28/10/1704
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
30para planejar a aprendizagem espontânea que se manifesta no
desenvolvimento e nas atividades da criança, estimulando e
favorecendo o interesse e a iniciativa do aprendiz. Isto significa adequar
os materiais à capacidade de compreensão do indivíduo.
No desenvolvimento cognitivo e emocional, há uma sequência lógica e
ordenada que está subordinada à maturação do organismo e a sua
interação com o meio onde vive.
Já o filósofo Aristóteles se ocupou com as associações da combinação
de duas ou mais representações ou vivências parciais, o que levou
David Hume (1711 – 1776) a retomar e aperfeiçoar a teoria aristotélica
das associações comprovando sua extraordinária importância para a
Psicologia que conhecemos atualmente.
Hume argumentou que as reproduções captadas eram figuras de
impressões sensoriais e se encontravam ligadas umas às outras tendo
como base leis mecanicamente funcionais. Dando continuidade ao
pensamento Aristotélico, Hume formulou as leis da associação da
relação espaço-tempo, da semelhança, do contraste e da casualidade.
Vários psicólogos como Piaget, Kohlberg, Freud e Erikson acreditavam
que existiam etapas separadas quantitativa e qualitativamente
diferentes no processo do crescimento, e que posteriormente foram
denominadas por Jean Piaget como sendo os estágios do
desenvolvimento.
Na ciência psicológica, esses estágios apontam que:
a. existe um tópico predominante em um determinado estágio que
organiza o comportamento;
b. os comportamentos de cada estágio são qualitativamente
distintos;
c. todas as crianças passam pelos mesmos estágios de
desenvolvimento e na mesma ordem, sendo esta invariável.
As transformações que acontecem nos aspectos físico e intelectual
durante o processo de desenvolvimento da criança foram bem
demarcadas e definidas pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980) ,
reconhecido como um dos pensadores mais influentes do século XX.
Piaget passou a maior parte de sua carreira profissional interagindo com
crianças; observando e estudando sua técnica de raciocínio.
Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da
Psicologia e da Pedagogia.
A necessidade de definir os períodos relativos ao desenvolvimento da
inteligência residia no fato de que, em cada uma das fases, a criança
adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de
compreensão e interpretação da realidade. O estudo e a compreensão
destes processos são fundamentais para que os professores possam
31também compreender a capacidade da criança na fase em que se
encontra, podendo aproveitar melhor o seu potencial.
Piaget foi um biólogo suíço com enorme produção nas áreas da
Psicologia, Epistemologia e Educação. Lecionou psicologia na
Universidade de Genebra nos anos de 1929 a 1954, sendo conhecido
principalmente por organizar e descrever o desenvolvimento cognitivo
em uma série de estágios.
Seu conhecimento sobre Biologia ajudou-o a entender o
desenvolvimento cognitivo das crianças como sendo uma evolução
gradativa e sequencial.
A adaptação era definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento
da inteligência, que ocorreria através dos processos que ele denominou
de assimilação e acomodação.
Segundo ele, os esquemas de assimilação vão sendo modificados de
acordo com as necessidades para configurar os estágios de
desenvolvimento.
Piaget considerava, ainda, que o processo do desenvolvimento era
influenciado por outros fatores como:
1. maturação (crescimento biológico dos órgãos),
2. exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que
implicam na formação dos hábitos),
3. aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes
e padrões culturais e sociais) e
4. equilibração (processo de auto regulação interna do organismo
que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio –
homeostase – após cada desequilíbrio sofrido).
5. Esse processo pode ser entendido através do paradigma que
segue:
Piaget estudou e desenvolveu diversos campos científicos, como por
exemplo, a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que
veio a ser chamado de epistemologia genética.
A profundeza do trabalho de Piaget tinha como escopo ensinar que ao
observarmos cuidadosamente a maneira como a informação é
alcançada pelas crianças, poderíamos entender melhor o caráter do
conhecimento humano.ambiente desequilíbrio adaptação equilibração aumentada
assimilação acomodação
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
32Suas pesquisas sobre a psicologia do desenvolvimento e a
epistemologia genética tinham a finalidade de buscar entender como
ocorria a evolução da inteligência.
Piaget formulou a teoria de que o conhecimento
sofre transformações progressivas, influenciadas
pelas estruturas de raciocínio que vão sendo
substituídas umas às outras através dos
estágios. Isto significa que a lógica e as formas
de pensar de uma criança são completamente
diferentes da lógica dos adultos. Esse aspecto é
de suma importância para a distribuição do
conteúdo programático que aborda o tema
trânsito.
Segundo Piaget, enquanto a criança experimenta
o mundo, ela “ constrói ” teorias a cerca de como o
mundo funciona, às quais, denominou de
“esquemas ”.
Ao enfrentar uma situação nova, a criança tenta
compreendê-la em termos dos esquemas já existentes anteriormente.
Se o esquema antigo não for capaz de acomodar uma nova informação,
então há necessidade de modificar a teoria do que já foi assimilado para
que a nova informação possa ser processada. A essa técnica reflexiva
Piaget chamou de Assimilação.
Então podemos entender que a assimilação consiste em uma tentativa
do indivíduo em solucionar os problemas que surgem, aproveitando a
estrutura cognitiva que ele já possui até aquele momento específico da
sua existência, anexando às mesmas as informações relacionadas à
nova situação, para encontrar uma solução adequada. Esse processo é
ininterrupto uma vez que o indivíduo está em constante atividade para
interpretar a realidade que o rodeia e poder adaptar-se a ela.
Como o processo de assimilação representa sempre uma tentativa de
integração entre os aspectos das experiências vivenciadas e dos
esquemas previamente estruturados, ao entrar em contato com os
novos elementos da informação o indivíduo tende a retirar dele somente
os conhecimentos que lhe interessam deixando de lado os detalhes que
não são importantes ou significativos, propondo-se sempre ao
restabelecimento da homeostase.
A acomodação, por sua vez, consiste na capacidade da transformação
de uma estrutura mental antiga em fornecer condições ao indivíduo para
que ele domine um novo aspecto do objeto de conhecimento. Isto é, a
acomodação representa a atuação do objeto sobre o sujeito, (Freitas,
op. cit.:65) surgindo como o elemento complementar das interações
entre o sujeito e o elemento.Jean Piaget
⃰ Neuchâtel, Suíça,
09/08/1896
† Genebra, Suíça,
16/09/1980
33Em resumo, todo conhecimento é assimilado em uma estrutura de
ideias já existentes (esquemas) podendo provocar uma transformação,
suscitando um processo de acomodação.
Em seu trabalho, Piaget identificou e descreveu os quatro estágios da
evolução mental na criança. Cada estágio é um período onde o
pensamento e o comportamento infantil é caracterizado por uma forma
específica de conhecimento e raciocínio.
Esses quatro estágios são:
1. sensório-motor,
2. pré-operatório,
3. operatório concreto e
4. operatório formal.
Faremos uma breve explanação sobre cada um desses estágios com
suas características:
4.1.b. Fase 1: Sensório-motor ( 0 A 2 anos)
Na fase do estágio sensório-motor, que vai desde o nascimento até
aproximadamente o segundo ano de vida, a criança busca alcançar o
seu controle motor e ao mesmo tempo desvendar e conhecer o mundo
físico que a cerca.
Esse estágio é chamado de sensório-motor, porque nele a criança
adquire o conhecimento por meio do seu corpo e das suas próprias
ações que são controladas pelas informações sensoriais imediatas e
concretas.
Segundo a tese piagetiana, “ a criança nasce em um universo que para
ela é caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam
uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço
subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao poder das ações,
em uma forma de onipotência ” [13].
Para explicar o seu estudo sobre a construção do real, Piaget propõe e
ilustra a sua ideia utilizando-se da expressão “ a passagem do caos ao
cosmo ”, concluindo que no recém-nascido as funções mentais estariam
vinculadas e restringidas ao treino dos aparelhos reflexos inatos.
Sendo assim, Piaget sugere que o universo que rodeia a criança vai
sendo conquistado pela percepção e pelos movimentos (como a
sucção, o movimento das mãos, dos olhos). A ausência da função
semiótica, isto é, do funcionamento e recepção dos diferentes sistemas
de signos de comunicação entre indivíduos ou coletividades seria a
principal característica deste período.
Nessa fase a inteligência funciona utilizando-se das percepções
(simbólico) e das ações (motricidade) através dos deslocamentos do
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
34próprio corpo. É uma inteligência eminentemente prática e concreta, o
mundo precisa ser tocado e sentido para ser conhecido e apreendido.
O desenvolvimento da linguagem vai desde a ecolalia (que é a
repetição de sílabas) até a palavra-frase (" água " para dizer que quer
beber água), uma vez que não consegue representar mentalmente o
objeto e as ações. Neste período, seu comportamento social é de
isolamento e indiferenciação (o mundo é a própria criança).
Progressivamente, a criança vai aprimorando os seus movimentos
reflexos e adquirindo novas habilidades, chegando ao final do período
sensório-motor se concebendo dentro de um cosmo, como sendo um
corpo diferenciado e independente dos demais (noção do esquema
corporal). Nessa fase, a criança já consegue perceber que nesse
espaço existem tempo e espaço; e que entre eles existe uma relação de
causalidade, objetivados e solidários, entre os quais situa a si mesma
como um objeto específico, agente e paciente dos eventos que nele
ocorrem, provocando e sofrendo as influências dos mesmos.
No Período Simbólico, que vai aproximadamente dos 2 aos 4 anos de
idade, surge a função semiótica que permite o aparecimento da
linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, habilitando a
criança para a criação de imagens mentais na ausência do objeto ou da
ação; é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico.
Com a descoberta dessa nova capacidade a criança pode formar
imagens mentais e transformar qualquer objeto em uma fonte de
satisfação do seu prazer (por exemplo, uma caixa de sapatos pode se
transformar em um carrinho). É também o período em que a criança “ dá
alma ” (animismo) aos objetos (" o carro do papai foi 'dormir 'na
garagem ").
A linguagem passa a existir, porém, na forma de monólogo coletivo, ou
seja, todos falam ao mesmo tempo sem que ninguém responda as
argumentações uns dos outros. Duas crianças “ conversando ”
verbalizam frases que não têm nenhuma relação com a frase que o
outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, contudo
dentro do coletivo. Não existe liderança e os pares são constantemente
trocados sem que isso traga qualquer prejuízo.
Existem ainda outras características do pensamento simbólico, como o
nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), a
superdeterminação (“ teimosia ”), egocentrismo (tudo é “ meu”), e tantas
outras que não mencionaremos aqui, uma vez que a proposta básica é
de compendiar e sintetizar as ideias de Jean Piaget.
4.1.c. Fase 2: Pré-Operatório ( 2 A 7 anos)
No estágio pré-operatório, que se estende aproximadamente dos 2 aos
7 anos de idade, a criança procura adquirir e desenvolver a habilidade
35verbal. Nesse estágio, ela já consegue nomear corretamente os objetos
e raciocinar intuitivamente, mas ainda não é capaz de coordenar as
operações fundamentais. A fase pré-operacional distinguiu-se das
anteriores pelo desenvolvimento da linguagem, que como resultado
proporciona para a vida mental possibilidade de adaptação
favorecendo:
1. a socialização da ação, com troca compreensível entre os
indivíduos, e
2. o desenvolvimento e elaboração do raciocínio a partir do
pensamento verbal: finalismo (causas finais), animismo (dar vida
a objetos inanimados) e artificialismo
Neste período já existe um desejo de explicação e compreensão dos
fenômenos. É a “ idade dos porquês ”, pois o indivíduo pergunta o tempo
todo.
Nessa fase a criança já é capaz de distinguir a fantasia da realidade,
podendo dramatizar a fantasia sem que necessariamente acredite nela.
O tipo de pensamento continua centralizado em seu próprio ponto de
vista, consegue organizar coleções e conjuntos sem, no entanto, ser
capaz de compreender e incluir os conjuntos menores em conjuntos
maiores (cavalo no conjunto de quadrúpedes, por exemplo).
Quanto à linguagem não consegue manter uma conversação longa,
mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro e
estabelecer um diálogo compreensível. Os Períodos Simbólico e
Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-
Operatório.
4.1.d. Fase 3: Raciocínio Operatório Concreto (7 a 11 anos)
No estágio operatório concreto, que se prolonga dos 7 aos 11/12 anos
de idade, a criança começa a ter contato e a trabalhar com os conceitos
abstratos como por exemplo, os números e os relacionamentos. Esse
estágio é caracterizado por uma lógica interna sólida e pela destreza em
solucionar problemas de ordem concreta.
É o período onde o indivíduo solidifica as conservações de substância,
volume e peso. Torna-se capaz de ordenar os elementos considerando
seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando o mundo que
a cerca de uma forma mais lógica ou operatória.
Agora a sua organização social é a de bando, conseguindo participar de
grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já são capazes de
compreender regras, sendo fiéis a elas, e mostram condições de firmar
e cumprir compromissos.
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
36O diálogo torna-se possível, haja vista, que já desenvolveram e
possuem uma linguagem socializada, no entanto podem discutir
diferentes pontos de vista sem que cheguem a uma conclusão
satisfatória e comum.
De forma sintetizada as características da fase das operações
concretas são:
1. o desenvolvimento do pensamento lógico sobre coisas concretas
2. a compreensão das relações entre os objetos e capacidade para
classificá-los
3. a superação do egocentrismo do comportamento e da linguagem
4. as noções de conservação de substância, peso e volume
4.1.e. Fase 4: Raciocínio Operatório Formal (12 anos em diante)
No estágio operatório formal – que se desenvolve entre os 12 e 15 anos
de idade – o pré-adolescente já começa a raciocinar de uma forma
lógica e sistemática. Esse estágio é definido pela habilidade de dedicar-
se ao raciocínio abstrato. As deduções lógicas podem ser feitas de
forma abstrata sem necessidade da presença dos objetos concretos.
Essa última é considerada a fase das operações formais, sendo o ápice
do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de
pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático, onde o indivíduo
é capaz de mostrar sua aptidão e competência para construir e
entender sistemas e teorias abstratas.
Considera-se que nessa etapa o jovem está apto para conjecturar sobre
as probabilidades, estabelecendo uma relação direta entre causa e
efeito, libertando-se do concreto imediatista em proveito de interesses
orientados para o futuro. É finalmente, a “ abertura para todos os
possíveis ”.
A partir desta estrutura de pensamento a dialética torna-se possível, o
que permite que a fala se processe em nível de discussão, objetivando
chegar a uma conclusão comum. Sua organização grupal tem por base
estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.
A obra de Jean Piaget é muito importante para a educação, não
somente por oferecer aos educadores uma didática específica sobre
como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança, mas por nos
mostrar e ensinar que cada fase do desenvolvimento apresenta
características e possibilidades específicas de crescimento e maturação
além da aquisição de novas informações.
O conhecimento das particularidades destas possibilidades faz com que
os professores possam eleger e oferecer estímulos mais apropriados
37para cada fase e assim poder proporcionar um maior e melhor
aproveitamento pelo aluno.
Os papéis da experiência ativa (assimilação e acomodação) e da
equilibração são agentes determinantes no processo de
desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e da sua interação e
relação com o meio ambiente.
Entende-se por experiência ativa a ação da criança sobre o meio
externo, onde cada tipo de conhecimento construído – físico, lógico-
matemático e social – demanda sua interação com o meio ambiente ou
com as pessoas que a cercam.
As ações efetuadas podem ser de dois tipos: manipulação física ou
manipulação mental, resultando em transformações cognitivas, isto é,
mudanças nas estruturas ou nos esquemas de raciocínio que já estão
construídos.
A equilibração e o arranjo dos outros fatores são entendidos como a
regulação do desenvolvimento global da criança, sendo o ponto de
equilíbrio, o mediano que permite que novas experiências, novos
conhecimentos sejam incorporados aos esquemas pré-existentes.
No desenvolvimento deste projeto de educação, reconhecemos a
importância de cada um dos estágios do desenvolvimento, porém
interessa-nos especialmente dois: o Estágio das Operações Concretas
e o Estágio das Operações Formais.
No momento do ingresso da criança na 1ă Série do Ensino
Fundamental, supõe-se que a mesma esteja madura neurologicamente
e emocionalmente, apta a iniciar o processo de alfabetização,
considerando-se um processo de desenvolvimento normal.
Nessa etapa, a criança se encontra no estágio das Operações
Concretas, durante o qual é capaz de pensar sobre objetos e eventos
de modo lógico, percebendo suas diversas características e também já
consegue ordená-los em série, de acordo com um de seus aspectos
concretos. Apesar de utilizar termos abstratos, a criança assim procede
com relação ao objeto concreto, sobre o qual tem acesso sensorial
direto.
Nesta fase, ela começa a descobrir que algumas regras são
convenções sociais: seu senso moral muda, pois passa a ponderar os
aspectos subjetivos que causam a resposta a uma determinada
situação. Consegue estabelecer a relação causa e efeito, ação e
reação.
Até então, a criança era voltada para si mesma, acreditando ser o
centro do mundo, onde os fatos ocorriam ou deveriam acontecer ou
serem alterados de acordo com sua vontade. Em vez das condutas
impulsivas da primeira infância, a criança nesse período já pensa antes
de agir, o que demonstra que está a caminho da conquista do processo
de reflexão.
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
38Em termos de inteligência, o fato marca o início da capacidade do
raciocínio lógico, ou da construção lógica [11, p. 45].
No estágio das Operações Formais, o indivíduo já consegue pensar
logicamente sobre as proposições abstratas e testar hipóteses de
maneira sistemática.
Seu posicionamento frente ao mundo e as pessoas se transformam.
Começa aqui, sua preocupação com os problemas futuros e
ideológicos. Passa a considerar todas as possibilidades, a mostrar
interesse em criar regras pensadas sob um raciocínio de conteúdo
moral, e a abordar a sociedade como um todo (altruísmo) em vez de
estar voltado unicamente a situações pessoais e individuais (egoísmo).
O jovem consegue atingir o pensamento hipotético-dedutivo, que lhe
permite raciocinar partindo de premissas inexistentes e desvinculadas
da realidade. É a época em que o adolescente constrói sistemas e
teorias, e reflete sobre o “ possível ”.
No processo do desenvolvimento, a ciência psicológica estuda o ser
humano como um todo que interage com um mundo interno e com o
mundo externo, em todos os seus aspectos:
a. físico-motor,
b. intelectual, afetivo-emocional e
c. social, desde seu nascimento até a idade adulta, fase em
que todos estes aspectos atingirão seu mais completo grau
de maturidade e estabilidade
Existem várias teorias do desenvolvimento humano, que foram
construídas a partir de observações e pesquisas com grupos de
pessoas de várias etnias e de diferentes faixas etárias.
Como já foi ponderado anteriormente, dentre as várias teorias, destaca-
se a do psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896 –1980)
principalmente pelas suas implicações teóricas e práticas no campo da
educação.
O progresso humano refere-se à ampliação mental e ao crescimento
bio-orgânico do ser, onde o desenvolvimento intelectual é um continuum
que caracteriza o surgimento gradativo de estruturas mentais que
organizam as atividades cognitivas e vão se aperfeiçoando e se
solidificando até o pleno desenvolvimento de todas elas.
Quando plenamente desenvolvidas caracterizam um estado de
equilíbrio superior quanto ao aspecto da inteligência, da vida afetiva e
das relações sociais; aspectos fundamentais para um trânsito solidário e
uma direção mais segura.
Algumas das estruturas mentais permanecem ao longo da vida do
indivíduo e garantem o seguimento da evolução do indivíduo enquanto
que outras estruturas mentais vão sendo substituída a cada nova fase
39da vida, à medida que a criança age espontaneamente sobre o meio
assimilando e acomodando os estímulos do mundo que a cerca.
Além das fases do crescimento, Piaget considerou o desenvolvimento
cognitivo como tendo três componentes:
a. Conteúdo é o que a criança conhece e refere-se aos
comportamentos observáveis – sensório motor e conceitual –
que refletem a atividade mental.
b. Função relativa à característica da atividade mental
intelectual: assimilação e acomodação. Pela assimilação à
criança incorpora o mundo exterior às estruturas que já tem;
e pela acomodação reajusta essas estruturas ou cria novas
estruturas, de acordo com as exigências do mundo exterior.
c. Estrutura é a propriedade organizacional inferida (esquemas)
que explicam a ocorrência de determinados
comportamentos.
“O desenvolvimento é concebido como um fluxo contínuo de modo
cumulativo aonde cada nova etapa vai sendo construída sobre as
etapas anteriores integrando-se a elas ” [14, p. 18].
Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o desenvolvimento afetivo.
A afetividade refere-se “ a capacidade da pessoa de se deixar afetar
pelas situações da vida, perdendo diante delas, em maior ou menor
grau, a objetividade ” [14, p. 115].
Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e
emoções em geral.
“Piaget entendeu que há vários aspectos do afeto que se desenvolvem
durante a vida do indivíduo” [14, p. 22].
O afeto exibe várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos
(amor, raiva, depressão) como os aspectos expressivos (sorrisos,
lágrimas, gritos) segundo pesquisa de Cowan 1981.
Os afetos e os sentimentos estão ligados diretamente à motivação e a
seleção das atividades intelectuais e/ou emocionais, ou seja, aos
acontecimentos que interessam e que de alguma forma são
significativos para a pessoa, formando uma unidade no funcionamento
intelectual, onde todo comportamento deveria ter ambos os elementos.
“Eles são os dois lados de uma mesma moeda ” [14, p. 23].
A esfera afetiva tem uma grande importância e profunda influência no
desenvolvimento intelectual, podendo acelerar ou diminuir o ritmo da
4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito
40evolução do indivíduo. Segundo Piaget, o afeto se desenvolve no
mesmo sentido que a cognição, ou seja, a medida que a criança
desenvolve os aspectos cognitivos, há um desenvolvimento paralelo da
afetividade.
Os mecanismos de construção são os mesmos; as crianças assimilam
as experiências vividas e o resultado é o conhecimento.
Nesse estudo, após um breve histórico sobre o desenvolvimento
humano, procuramos relevar e respeitar as características de cada fase
do desenvolvimento adaptando o conteúdo programático, de acordo
com a capacidade intelectual do aprendiz, com o objetivo de facilitar e
solidificar a aquisição dos novos conhecimentos sobre o trânsito e
incentivar ao máximo o aproveitamento do potencial da mesma, de
modo que ela se interesse e participe da técnica apresentada.
Considerando a importância da afetividade para o desenvolvimento
pessoal, intelectual e social, as escolas de psicologia, cada uma com
sua peculiaridade, tiveram grande participação para a nossa
compreensão desses processos.
415. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
Os principais movimentos e as Principais Escolas (Teorias) da
Psicologia, representadas por seus fundadores são:
1. Estruturalismo: Wilhelm Wundt
2. Funcionalismo: William James
3. Behaviorismo: John Watson
4. Psicologia da Gestalt: Max Wertheimer
5. Teoria Psicanalítica: Sigmund Freud
Uma das definições atribuídas à Psicologia é: a ciência que estuda o
comportamento e seus processos mentais, baseada na motivação da
ação do ser humano, ou seja, o que sustenta o comportamento e o que
o finaliza, ponderando os seus processos mentais, que passam pela
sensação, pela emoção, pela percepção, pela aprendizagem, pela
inteligência, e todas as outras esferas que compõe o homem como um
todo.
Nesse trabalho especificamente, por tratar-se de um projeto de ensino
de educação para o trânsito, consideramos importante estudar e
entender as teorias psicológicas e como cada uma delas contribuiu para
a evolução do processo da aprendizagem.
A história da Psicologia, cuja etimologia deriva da palavra Psique (alma)
+ Logos (razão ou conhecimento), se confundiu com a Filosofia até
meados do século XIX. Sócrates, Platão e Aristóteles deram o pontapé
inicial na instigante investigação da alma humana.
Abreviadamente, para Sócrates (469 –399 a. C.) a principal
característica do ser humano era a razão – aspecto que permitiria ao
homem deixar de ser um animal irracional para diferenciar-se das
demais espécies.
Platão (427 –347 a. C.) – discípulo de Sócrates – concluiu que o lugar
da razão no corpo humano era a cabeça, representando fisicamente a
psique, e a medula teria como função a ligação entre a mente e o corpo.
Aristóteles (387 –322 a. C.) – foi um dos discípulos de Platão – ele
entendia o corpo e a mente de forma integrada, e concebia a psique
como o princípio ativo da vida.
Durante a “ era cristã ” quando todo conhecimento era produzido e
mantido a sete chaves pela Igreja, Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino partiram dos posicionamentos de Platão e Aristóteles
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
42respectivamente para criar suas teorias sobre o homem, seu
comportamento e sua aprendizagem.
Em1649, René Descartes, um filósofo francês publicou o livro Paixões da
Alma , onde reafirmava a separação entre o corpo e a mente.
Pensamento que dominou o cenário científico até o século XX.
Alguns pesquisadores alegavam que essa hipótese assumida por
Descartes foi um subterfúgio encontrado para continuar suas pesquisas,
desenvolvidas a partir da dissecação de cadáveres, com o apoio da
Igreja e protegido contra a Inquisição.
Foi em meados do século XIX que a Psicologia passou a ser tema de
interesse e investigação pela Fisiologia e pela Neurofisiologia, levando à
formulação de novas teorias sobre o sistema nervoso central,
demonstrando que para conhecer o psiquismo humano (pensamento,
percepção e sentimentos), era preciso compreender o funcionamento
do cérebro, considerado a máquina, motora e propulsora, de toda ação
humana. Assim, a Psicologia passou a trilhar os caminhos da Fisiologia,
da Neuroanatomia e da Neurofisiologia.
Em 1846, a Neurologia descobriu que a doença mental era o resultado
da ação direta ou indireta de vários fatores sobre as células cerebrais.
A Neuroanatomia desvendou o mistério do funcionamento cerebral
relatando que a atividade motora nem sempre estava ligada diretamente
à consciência, por não estar ligada ao centro nervoso superior (córtex
cerebral), como é o exemplo dos comportamentos reflexos.
Por outro lado a Psicofísica se preocupou em estudar os aspectos
físicos (órgãos dos sentidos) relacionados aos aspectos psicológicos
(percepção dos fatos) na tomada de consciência.
A realidade é que no final do século XIX, os acadêmicos da época
resolveram distanciar a Psicologia da Filosofia e da Fisiologia, dando
origem ao que se chamou de Psicologia Moderna.
As condutas que são observáveis tornaram-se uma parte muito
importante para a investigação científica nos laboratórios com o objetivo
de controlar o comportamento humano.
Nesse sentido, os teóricos canalizaram suas ações na tentativa de
construir um corpo teórico consistente, buscando o reconhecimento da
Psicologia como ciência.
É neste cenário investigativo que surgiram as três correntes teóricas: o
Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo.
Surgem, então, as novas abordagens sobre a Psicologia como ciência,
com o desenvolvimento do Estruturalismo de Wilhelm Wundt (1832 –
1920), e Edward Titchener (1867 –1927), o Funcionalismo, de William
James (1842 –1910), o Associacionismo, de Edward L.
Thorndike (1874 –1949), o Behaviorismo de John B. Watson (1878 –
431958), o da Gestalt, de Max Wertheimer (1880 – 1943) e da Psicanálise
de Sigmund Freud (1856 – 1939).
5.1. O Estruturalismo
O estruturalismo entendia a psicologia como
sendo a ciência da consciência que era composta
pelos processos cognitivos, tendo como foco
desvendar quais eram os elementos mentais,
seus conteúdos e como se estruturavam.
O lugar de primazia que Wilhelm Wundt ocupa
entre os psicólogos e a sua influência
internacional tem fundamento na criação do
primeiro laboratório destinado à investigação
experimental dos fenômenos da consciência, em
1879, na cidade de Leipzig, Alemanha, fato que
muitos consideraram o início da Psicologia como
ciência independente. Além disso, Wundt
abordou os mais variados temas relacionados à
nova ciência, passando pela Psicologia
Experimental Fisiológica até à Psicologia dos
Povos.
Os pioneiros da psicologia científica – Wundt, William James e Edward
B. Titchener – se incluem na escola estruturalista, para a qual o
importante era determinar os dados imediatos da consciência: as
características principais e específicas dos processos de consciência e
seus elementos fundamentais. Somente no final do século XIX, a
psicologia se tornou uma ciência independente, graças a Wundt.
A partir deste acontecimento é que foram desenvolvidas de forma
sistemática as investigações em psicologia, através de vários autores
que a ela se dedicaram, construindo múltiplas teorias.
No Estruturalismo de Edward Titchener (1867 – 1927) também houve
preocupação com a consciência, porém relevando os seus aspectos
estruturais, uma vez que considerava a consciência, em seus estados
elementares, como estruturas do Sistema Nervoso Central, cujo objeto
de estudo era a estrutura consciente da mente.
Titchener levou a ideia da Psicologia para os Estados Unidos da
América, modificando-a em alguns pontos, mas não foi bem aceita
sendo extinta em meados do século XX.
5.2. O Funcionalismo
O Funcionalismo foi criado por William James (1842 –1910) que teve o
estudo da consciência como sua grande preocupação. Queria entenderWilhelm Wundt
(1832 – 1920)
médico, filósofo e
psicólogo. Criador do
Instituto Experimental
de Psicologia, sendo
considerado o pai da
psicologia moderna.
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
44como funcionava e como o homem a utilizava para aprender e adaptar-
se ao meio.
O funcionalismo nasceu de uma crítica ao
estruturalismo, buscando em Charles Darwin e
Francis Galton as teorias da evolução, e das
diferenças individuais, respectivamente.
Seu precursor foi Willian James, que não gostava
do título, e ainda é considerado como um dos
fundadores da Psicologia na América. Os
conceitos e as ideias de Willian James foram
estudados e ampliados por John Dewey, que se
dedicou especialmente ao trabalho prático na
educação tendo sido posteriormente aclamado
como fundador desta escola de pensamento.
As correntes funcionalistas, à qual pertenciam os
americanos John Dewey, Robert S. Woodworth,
Harvey A. Carr e James R. Angell, privilegiava o
estudo das funções mentais, em detrimento de sua morfologia e
estrutura.
Em vez de investigar somente " o que é ", o psicólogo passou a estudar
"para que serve " e "como se efetua " o processo psíquico.
Entre a Europa e os Estados Unidos, William James teve a sua
formação aberta a diversas influências. Interessado em várias
disciplinas, escreveu sobre todos os aspectos da psicologia humana, do
funcionamento cerebral às experiências religiosas. Ensinou psicologia e
filosofia na Universidade de Harvard e é considerado o pai do
pragmatismo.
A preocupação da escola funcionalista era responder “ o que fazem os
homens e porque o fazem ”.
Para isso, William James (1842 – 1910) se opôs ao movimento
estruturalista uma vez que o julgava artificial, e elegeu a consciência
como centro da compreensão do comportamento humano, na medida
em que o homem a usa para adaptar-se ao meio, sendo um processo
único e pessoal estando em contínua mudança, evoluindo com o tempo
e selecionando os estímulos do meio.
O interesse maior da escola funcionalista estava voltado para o sistema
nervoso e para os processos mentais, especialmente pelo modo como
funcionavam, sendo um aliado do outro para proteger e ajudar o homem
na garantia da sua sobrevivência.
5.3. O Associacionismo
Seu principal representante foi Edward L. Thorndike , e a sua maior
importância na psicologia está em ter sido o formulador da primeiraWilliam James
(1842-1910),
Nova York, EUA,
Psicólogo e filósofo.
45teoria sobre a aprendizagem. O termo associacionismo refere-se ao
processo de associação das ideias, da mais simples a mais complexa.
Thorndike formulou também a Lei do Efeito, onde
toda ação, todo comportamento de um organismo
vivo tende a se repetir se for recompensado, e
tende a não ocorrer (a ser extinto) se for
castigado.
A psicologia científica foi constituída de três
escolas principais: o Behaviorismo ou Teoria S-R
de John B. Watson, a Gestalt de Max Wertheimer
e a Psicanálise de Sigmund Freud.
Wilhelm Maximilian Wundt (1832 – 1920) que era
médico de formação também demonstrou grande
interesse pelos processos mentais.
Na época a psicologia não tinha um campo de
domínio próprio sendo ainda definida como um
ramo da filosofia.
Wundt avaliava o consciente a partir da sensação (conteúdo objetivo da
experiência imediata através dos órgãos dos sentidos), e dos
sentimentos ou afetos.
A teoria associacionista antecedeu a teoria do comportamentalismo ou
behaviorismo. O objetivo de Wundt era constituir uma identidade
específica para a psicologia, e entendeu que seria importante estudar
particularmente os processos mentais, tais como: atenção, intenções e
metas; e acabou tornando-se o líder do movimento conhecido como
Estruturalismo, que sustentava as seguintes teses:
1. os psicólogos deveriam estudar a consciência humana,
especialmente as experiências sensoriais.
2. deveriam servir-se de trabalhos e estudos introspectivos
analíticos de laboratório; e
3. deveriam analisar os processos mentais em seus elementos,
com a finalidade de descobrir as suas combinações e conexões
e a partir daí localizar no cérebro as estruturas a eles
relacionadas, [15, p. 11] estabelecendo uma analogia de
associação entre a ação e a estrutura do SNC.
Com isto, vinculado às duas escolas, Wundt demonstrou grande
preocupação com o comportamento em seus aspectos estruturais e
funcionais, isto é, o estado de consciência como estrutura do SNC e a
associação das estruturas, e o seu funcionamento relacionados ao
comportamento final.Edward L. Thorndike
(1874-1949)
psicologo americano
criador da primeira
teoria da aprendiza-
gem e da Lei do
Efeito.
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
46A escola foi inaugurada por Wundt, mas foi Edward Titchner, psicólogo
britânico e aluno de Wundt, que usou pela primeira vez o termo
Estruturalismo, para diferenciá-la do Funcionalismo, e passou a estudar
a consciência em seu aspecto estrutural, isto é, através da ação da
percepção, determinar na estrutura do sistema nervoso central as
regiões responsáveis pela ação das emoções, das percepções, e do
raciocínio.
Com o desenrolar de seus estudos e pesquisas, percebeu que o
cérebro humano conforme foi evoluindo passou a ter três componentes
que foram aparecendo e se sobrepondo, sendo que a parte mais antiga
do cérebro situava-se na parte inferior posterior (arquipálio), a parte
seguinte ocupava uma posição intermediária (paleopálio) e a mais
recente localizava-se na parte anterior do cérebro e sobreposta às
outras partes (neopálio).
A função dessas estruturas, de acordo com vários estudos realizados,
permitiu observar e questionar se a relação existente entre a emoção e
a resposta imediata (impulso), que é uma característica do nosso
cérebro primitivo (arquipálio), seria a responsável e explicaria o nosso
instinto animal.
O arquipálio, ou cérebro primitivo corresponde ao cérebro dos répteis
sendo formado pelas estruturas do tronco cerebral (bulbo, cerebelo,
ponte e mesencéfalo), pelo mais antigo núcleo da base (globo pálido) e
pelos bulbos olfatórios, caracterizados pelos comportamentos reflexos e
instintivos involuntários.
O paleopálio refere-se ao cérebro dos mamíferos inferiores, e o
neopálio é o cérebro dos mamíferos superiores, dos primatas, dos seres
racionais.
O sistema límbico cria e modula as funções que permitem aos seres
diferenciar as situações que lhe dão prazer (homeostase, equilíbrio) e o
que lhe desagrada (gera conflito, desequilíbrio), administrando e
permitindo o desenvolvimento das funções afetivas.
Neopálio
Páliopálio
Arquipálio
47É somente no homem civilizado e evoluído que podemos notar a cisão
entre o impulso e o comportamento, que ocorre através da utilização do
raciocínio e da reflexão. A ideia fundamental era poder, através do
estudo da estrutura nervosa compreender o funcionamento global do
homem e sua adaptação ao meio.
Wilhelm Wundt, juntamente com o seu discípulo Titchener, iniciaram o
caminho que iria levar a Psicologia a atingir o status de
ciência. Começaram por definir como objeto da psicologia o estudo da
mente associando a emoção ao raciocínio e ao comportamento.
O estudo da mente (ou consciência) é efetivado por meio da
observação do consciente do homem e pela análise dos seus
elementos simples, sendo semelhante a uma divisão em átomos da
realidade.
Wundt buscou decompor a mente, a consciência (objetivo), nos seus
elementos mais simples, que são as sensações.
Ele defendia a ideia de que os processos mentais, não são mais do que
uma organização das sensações elementares que se associam, e
procurou localizá-las e relacioná-las com as estruturas do sistema
nervoso central, tendo como finalidade o estudo e a compreensão da
mente, dos processos racionais e da experiência consciente do homem.
No laboratório buscou conhecer os elementos que compunham a
consciência, a forma como se relacionavam e como se associavam
(associacionismo).
A análise era realizada através da introspecção; onde os sujeitos
experimentais descreviam o que sentiam, relatavam os seus estados
subjetivos, resultantes de estímulos visuais, auditivos e tácteis.
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
48Dessa forma Wundt com outros colegas utilizou um metrônomo para
descrever as sensações antes (tensão), durante (excitação) e após os
estímulos (sensação).
A psicologia teria como objetivo a prática humana, estudada na
perspectiva das experiências pessoais através da auto-observação,
visando conhecer os seus elementos constituintes: ou seja, as
sensações humanas.
5.4. Behaviorismo
Palavra de origem inglesa behaviour (RU) ou
behavior (EUA ) significa comportamento,
conduta.
Behaviorismo é um termo genérico que foi
utilizado para incorporar ao mesmo tempo
diversas e contraditórias correntes de
pensamento na Psicologia que tinham como
unidade conceitual o comportamento, mesmo
que com diferentes entendimentos sobre o que
significava a ação do sujeito.
Contrariamente aos outros estudiosos, o
primeiro behaviorista declarado foi John B.
Watson , que passou a ser considerado o pai do
behaviorismo metodológico, ao publicar, em
1913, seu artigo "Psicologia vista por um
Behaviorista ”, onde professava que a psicologia
era um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais, e
que tinha como finalidade estudar, predizer e controlar o
comportamento de toda e qualquer pessoa.
Os behavioristas de orientação positivista defendiam e acreditavam na
ideia de que o comportamento dos indivíduos pode ser observável,
mensurável e controlável, tal qual os fatos e acontecimentos das
ciências naturais e exatas.
Watson era um defensor da importância e da influência que o meio
ambiente representava na formação e no desenvolvimento do indivíduo.
Os seus estudos tiveram como base o condicionamento clássico
desenvolvido pelo fisiologista russo Ivan Pavlov (1849 – 1936) , que foi
premiado com o Premio Nobel de Medicina pelo seu trabalho sobre o
funcionamento digestivo dos cães.
Em sua clássica experiência com cachorro, Pavlov demonstrou e
comprovou que os cães não salivavam apenas quando viam a comida,
mas que o mesmo comportamento de salivação surgia quando os cães
associavam a " chegada da comida " a algum outro tipo de estímulo,
como por exemplo, algum gesto, alguma imagem ou som.John Broadus Watson
(1878 -1958)
Watson foi considerado
o fundador do compor-
tamentalismo.
49O acontecimento da associação foi denominado
por Pavlov de condicionamento clássico. Depois
dessas descobertas, o interesse pela investigação
empírica sobre a relação existente entre o
organismo e o meio foi definitivamente
estabelecido.
O fato de ter definindo o comportamento como o
objeto central de estudo da psicologia, por tratar-
se de um fenômeno observável, mensurável e
passível de ser reproduzido em laboratório com
sujeitos em condições diferentes, deu à psicologia
a consistência e o status de ciência, que vinha
buscando. Ele não estava propondo uma nova
ciência, mas afirmando que a Psicologia deveria
ser redefinida como o estudo do comportamento.
5.5. Gestalt
A palavra Gestalt (plural Gestalten) é um termo
intraduzível do idioma alemão para o português.
ODicionário Eletrônico Michaelis apresenta
como possibilidades de tradução as palavras:
figura, forma, feição, aparência, porte, estatura,
conformação, vulto, às quais ainda se pode
acrescentar estrutura e configuração.
Gestalt é um termo utilizado para abranger de
modo global a teoria da percepção visual
fundamentada na psicologia da forma.
Foi a partir de 1870 aproximadamente que
alguns pesquisadores alemães começaram a se
interessar e a estudar os fenômenos perceptuais
humanos, especialmente os relacionados à
visão.
Seus estudos buscavam entender como se
produziam os fenômenos perceptuais, tendo
para isso se utilizado de obras de arte, em
grande parte deles, uma vez que deram ênfase maior à capacidade
visual.
Esperavam com isso perceber e entender o que acontecia para que
uma determinada pintura ou quadro resultasse em percepções e efeitos
diferentes quando vistos por pessoas diferentes.
Por utilizar-se de obras de arte estes estudos foram denominados de
Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa Forma.Max Wertheimer
(1880 —1943)
psicólogo checo, foi um
dos fundadores da
Teoria Gestaltica, junta-
mente com Kurt Koffka
eWolfgang Köhler .
Ivan Petrovich
Pavlov
(1849 – 1936)
entrou para a história
com a pesquisa so-
bre o condicionamen-
to no comportamento.
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
50Com base em suas observações, a Teoria da Gestalt assevera que não
podemos obter conhecimento do todo através das partes, e sim das
partes através do todo; que os conjuntos possuem leis próprias e estas
regem seus elementos, as denominadas Leis da Gestalt (e não o
contrário, como se pensava antes); e que só através da percepção da
totalidade é que o cérebro pode de fato perceber, decodificar e assimilar
uma imagem ou um conceito.
Seus expoentes mais conhecidos foram Wolfgang Köhler, Kurt Koffka e
Max Wertheimer. Estes pesquisadores criaram as Leis da Gestalt
concernentes à percepção humana, e que até os dias atuais se mantêm
válidas e fidedignas.
Partindo da investigação das percepções, os gestaltistas formularam um
princípio segundo o qual o conjunto dos fenômenos psíquicos apresenta
características que não podem ser inferidos considerando as partes
isoladamente. Os pesquisadores iniciaram seus trabalhos de estudo
analisando a percepção e a sensação do movimento.
Os Gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os fatores
e os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando um
estímulo físico é percebido pelo sujeito com uma forma diferente do que
ele é e tem na realidade. São as formas ambíguas, como os exemplos
clássicos da Gestalt:
Wertheimer começou a raciocinar sobre essas conclusões e desse
modo com suas experiências pôde demonstrar claramente que as
relações existentes entre os objetos visuais deliberam quais os que se
tornam componentes do grupo e quais os que não se tornam, decidindo
dessa maneira o ponto onde um grupo se separa de outro.
Todo esse interesse apenas pela percepção deve-se simplesmente ao
fato de que em nenhum outro campo da Psicologia, os eventos são tão
acessíveis e palpáveis à observação.
Esperava-se com isso que os outros princípios funcionais que também
são importantes para a percepção pudessem vir à luz nessa área da
Psicologia, e que se mostrariam relevantes para outras características
51cognitivas, tais como a memória, a aprendizagem, o pensamento e a
motivação.
Foi justamente partindo desse princípio que os primeiros estudos sobre
os processos intelectuais tiveram início.
Com o passar do tempo, Kurt Lewin aprimorou suas investigações
sobre a motivação que, em parte, seguiu as mesmas linhas e
acrescentou também o conceito de Gestaltung (ou organização) à
memória, à aprendizagem e à retenção da informação, aspectos
básicos para o processo da aprendizagem.
A Gestalt aparece como uma forma de organização dos processos
mentais, onde o princípio fundamental era a concepção de um modelo
configurado e de um todo organizado, em contraries com uma reunião
de partes isoladas.
Wertheimer preocupava-se em entender essa estrutura da mente,
analisando através do método da introspecção, o pensamento
consciente em suas unidades fundamentais, como a sensação, a
imagem, e a ideia.
O fenômeno da percepção, segundo a teoria da Gestalt é orientado pela
procura do fechamento, da harmonia e da regularidade entre os pontos
que compõe a figura buscando a boa-forma, que moldará a relação
figura-fundo, que é a base da psicologia dessa escola.
A maneira como percebemos e interpretamos o estímulo determina o
nosso comportamento, como nos relacionamos com as pessoas e com
o mundo.
Na avaliação psicológica de motoristas, esses dados permitem um
prognóstico de como será seu comportamento dentro do sistema
trânsito.
Para os defensores desta teoria, como Köhler, Koffka e Hartmann, no
processo da aprendizagem, a experiência e a percepção são mais
importantes porque englobam a totalidade do comportamento e não as
respostas isoladas e específicas dadas a determinados estímulos
separadamente.
Quando vai iniciar o processo da aquisição de conhecimentos, o
indivíduo já dispõe de uma série de atitudes, de habilidades e de
expectativas que vão facilitar a introjeção das novas informações. Assim
o aprendiz é capaz de selecionar e organizar os estímulos de acordo
com sua própria experiência, e responder a eles de uma forma mais
significativa.
5.5.a. Organização Perceptual – Assimilação e Contraste: Figura e
Fundo
Um aspecto importante a ser ressaltado no processo da organização
perceptual é a distinção e a demarcação do campo visual. A maneira
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
52com que a forma é apresentada pode, por exemplo, estimular
fenômenos como a associação e o contraste.
Um dos princípios da Gestalt diz respeito à equivalência das partes que
compõe a forma quando não há fronteiras entre elas, ou quando essas
delimitações não são percebidas. Os contornos são importantes uma
vez que tendemos a tornar cada parte da figura, homogênea para a
percepção do todo.
A assimilação pode ocorrer quando há circunvizinhança, notadamente
quando estas áreas próximas não estão abalizadas.
Já o contraste consiste na percepção de uma diferença entre as partes,
maior do que realmente é, e sobrevém quando existe uma separação
entre essas partes, quase de maneira contrária à assimilação.
É importante lembrar que, tanto a assimilação como o contraste, são
conduzidos pela organização perceptual total, podendo, existir a
ocorrência dos dois fenômenos em um mesmo objeto, dependendo do
tipo de fundo em que a figura está sendo percebida.
Os conceitos figura e fundo são ao mesmo tempo os mais simples e os
mais complexos na forma da organização perceptual. Quando
observamos um objeto ou um fato, uma das partes sempre parece se
sobressair em relação às demais. Esta parte que nos chama mais a
atenção recebe o nome de figura, e todo o resto que compõe a figura é
considerado com sendo fundo.
Comumente o que for mais homogêneo, ou até mesmo mais conhecido
para quem observa, passará a ser visto como sendo figura, e aí entra o
tema da subjetividade na percepção.
A Teoria da Gestalt desvendou algumas leis sobre a percepção humana
das formas, e sobre o comportamento natural do cérebro, quando e
como age no procedimento da percepção. Os gestaltistas ressaltaram
que os elementos constitutivos do objeto são agrupados considerando
as características que possuem entre si, tais como a semelhança e a
proximidade entre outras particularidades.
O indivíduo percebe uma “ forma ”, uma “ estrutura ”, uma “ organização ”, e
a partir daí ocorre o insight que é a compreensão repentina do todo.
A aprendizagem mecânica por associação e condicionamento deve-se a
Kurt Koffka (1886 – 1941) em sua proposição de que as leis que regem a
organização da percepção podem ser aplicadas à área da
aprendizagem. Segundo Koffka essas regularidades são tão previsíveis
que é possível testá-las em laboratório e foram denominadas de
“princípios ou leis que regem a percepção ”, determinando o que na
situação será tido como figura e o que será fundo. Os princípios da
relação figura-fundo são determinados pelos objetivos, pelas
necessidades, pelos interesses e metas do sujeito que observa.
Dentro de todos os contextos que envolvem o ser humano, tudo o que
for significativo, tudo que tiver um valor emocional para o indivíduo, será
53percebido como figura, e todos os demais elementos da situação serão
tidos como fundo.
No processo de habilitação do condutor e no processo da
aprendizagem, as experiências e os ensinamentos devem estar
relacionados com os interesses, com os objetivos e com as
necessidades pessoais de quem vai aprender. Este é um dos motivos
que torna importante o conhecimento das características de cada fase
do desenvolvimento humano.
O professor deve planejar a estratégia de ensino e os recursos didáticos
visando aumentar a probabilidade para que os aspectos do conteúdo
sejam sempre figuras, atribuindo significado ao que se aprende,
mantendo a atenção do aluno voltada para a aula, o que não deixa de
ser uma maneira de organizar e disciplinar todos os que estão
envolvidos no momento, mantendo a ordem da situação de sala de
aula, por conseguinte no trânsito.
No entanto não podemos esquecer que cada pessoa tem a sua forma
particular de organizar uma configuração, de acordo com suas
características de personalidade, sua história e suas experiências
vividas, sendo, portanto, um processo individual a forma de perceber,
sentir e relacionar-se com o mundo.
5.6. Psicanálise
A Psicanálise é definida como a ciência do
inconsciente e foi fundada por Sigmund
Freud (1856 – 1939).
Trata-se de um método de investigação, que
consiste essencialmente em evidenciar o
significado camuflado das palavras, das ações,
das produções imaginárias (sonhos, fantasias,
delírios) de uma pessoa.
Este método baseia-se principalmente nas
associações livres de ideias, que são a garantia
da validade da interpretação do comportamento.
Como teoria, a psicanálise caracteriza-se por um
conjunto de conhecimentos sistematizados que
tem por objetivo compreender os processos
inconsciente e consciente para a investigação do
funcionamento da vida psíquica das pessoas.
Em sua essência a Psicanálise pode ser entendida como uma teoria
que explica a formação e o funcionamento da personalidadeSigmund Freud
(1856 —1939).
Médico neurologista e
fundador da Psicanálise
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
545.6.a. Estrutura da Personalidade
Entre 1920 e 1923, Freud introduziu os conceitos de Id, Ego e Superego
referindo-se as três instâncias da personalidade, que comporiam o
aparelho psíquico e que estão continuamente interagindo entre si de
forma dinâmica [16].
Essas instâncias, com sua significação teriam um papel importante no
processo da socialização e da inter-relação entre os seres.
As observações e os estudos realizados por ele revelaram uma série
infindável de conflitos e de acordos psíquicos.
O Id foi definido por Freud como sendo a sede dos impulsos, uma
instância psicobiológica por excelência, cuja origem encontrava-se no
corpo biológico e de onde nasceria a energia dos instintos e das
pulsões. O Id é o núcleo primitivo da personalidade sendo dominado
pelos impulsos. Freud denominava o Id como sendo “ um caos, um
caldeirão de excitamento fervente ” [15, p. 521].
Os instintos seriam basicamente dois: instinto de vida (Eros) e instinto
de morte ou instinto agressivo (Tânatos). Dependendo de qual dos
instintos predomina, desenvolve-se uma personalidade mais
cooperadora, amorosa, construtiva, ou uma personalidade com
característica mais destrutiva, agressiva e possessiva.
Freud associou as funções físicas com partes da mente onde
considerava o Id como sendo regido pelo " princípio do prazer ", tendo a
função de descarregar as tensões biológicas e psicológicas.
Corresponderia à alma carnal sob o ponto de vista da filosofia platônica,
sendo a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem
biológica voltada para a preservação e propagação da vida.
O Ego é a instância que lida com a estimulação proveniente tanto da
própria mente como do mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas
é governado pelo " princípio da realidade ". É o aspecto racional da alma,
conforme o esboço platônico, onde a esfera perceptiva e a inteligência
precisam, considerando-se um adulto normal, dirigir todo o
comportamento e atender simultaneamente as requisições do Id e do
Superego através de convenções estabelecidas entre essas duas
instâncias, sem que a pessoa se incline demasiadamente para os
prazeres esquecendo-se de suas responsabilidades e ao mesmo tempo
sem se impor obstáculos exagerados prejudicando sua espontaneidade
e seu deleite pela vida através do contato com o mundo externo.
Diferentemente do Id que é caracterizado por sua volúpia e
impulsividade, o Ego é mais controlado, realístico e lógico vivenciando o
real e criando estratégias para atender as solicitações do Id, porém de
modo racional, aferindo se o impulso manifesto pode ou não ser
satisfeito. O Ego funciona como o mediador entre o Id e o Superego.
55O Ego vive um conflito incessante sendo constantemente pressionado
pelos desejos insaciáveis do Id, e ao mesmo tempo submetido à
austeridade repressiva do Superego e aos contratempos do mundo
exterior.
De acordo com o próprio Freud o “ coitado " do Ego tem que servir a três
ditadores duros e implacáveis, o Id o Superego e a Realidade, e precisa
desdobrar-se para conseguir fazer o melhor que pode para conciliar as
exigências dos três.
A terceira instância da personalidade o Superego é considerado o
agente moral, formado pelos valores e conceitos sociais, impondo
condições e deveres.
O Superego consiste em normas e em padrões sociais transmitidos pela
cultura e pela educação e posteriormente internalizados pelo indivíduo
durante a vida.
A autoestima e a autoconfiança são formadas e internalizadas,
dependendo diretamente da acomodação constante entre as
necessidades do Id e as exigências do Superego, para garantir o
equilíbrio do Ego propiciando uma adaptação satisfatória ao meio em
que o indivíduo vive, sendo esses fatores fundamentais para o
ajustamento individual e social permitindo que a adaptação e a
aprendizagem se processem.
O principal objeto de estudo da psicologia é o homem e seu
comportamento relacionado ao meio em que vive.
Para poder entender os vários aspectos que interferem no desempenho
dos indivíduos, vimos que foram criadas várias escolas de psicologia e
outras tantas teorias, e que no princípio cada uma dessas escolas
preocupou-se com um único aspecto do desenvolvimento.
Aos poucos os pesquisadores e estudiosos do comportamento
perceberam que todas as teorias e descobertas se entrelaçavam e se
completavam formando um todo único e indivisível: o homem.
O homem é um ser único, é a soma de todos os aspectos que
englobam o desenvolvimento, tanto físico como emocional e ambiental.
Partindo desse pressuposto, então podemos perguntar: Qual a
importância dessas teorias e como elas estão relacionadas ao trânsito?
Se partirmos do princípio de que o homem é um ser único e indivisível,
é importante que para estar inteirado e integrado dentro do seu grupo
social, durante seu processo de desenvolvimento, o indivíduo tenha
uma boa formação de sua estrutura nervosa (Estruturalismo), que essa
estrutura funcione adequadamente (Funcionalismo) permitindo que
consiga estabelecer conexões entre as informações que são recebidas
(Associacionismo) emitindo respostas assertivas aos estímulos que são
provenientes tanto do meio interno como do meio externo
(Behaviorismo).
5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem
56Desenvolvidas todas estas potencialidades, fica mais fácil para o
indivíduo estabelecer uma filtração hierarquizada dos estímulos que o
rodeiam, dando prevalência aos aspectos mais significativos (Gestalt)
prestando mais atenção aos acontecimentos que o circundam, por
exemplo, no caso do trânsito, observar os outros motoristas, a
sinalização, o pedestre, etc., podendo dessa forma, evitar possíveis
acidentes.
O equilíbrio e o controle emocional (Psicanálise) estão vinculados
diretamente à história de vida do indivíduo e de suas experiências
pessoais, que serão refletidas em seu comportamento, nas reações
emocionais e em sua capacidade de raciocínio.
A partir dessa compreensão e percepção, o homem passa a ser visto
como um ser global, que vive em sociedade onde as normas e as
regras são fundamentais para a sua organização, estruturação e
sobrevivência.
O trânsito é um grupo social, e todos nós, direta ou indiretamente,
fazemos parte dele. Como todo grupo social, para poder garantir sua
organização, o trânsito também tem suas normas e suas leis.
Para que o homem possa sentir-se adequadamente adaptado ao seu
meio, é preciso que saiba lidar com seus impulsos e emoções,
garantindo um bom controle sobre os mesmos, obedecendo e
adaptando-se a essas regras.
A integração, em seu repertório de comportamento das normas e das
leis de funcionamento do trânsito, vai depender da aprendizagem que
teve para a formação de hábitos adequados.
Para que a aprendizagem se processe de forma consistente e eficiente
precisamos associar os aspectos cognitivo-emocionais aos métodos
didáticos de modo que a transmissão das informações possa ser
assimilada e introjetada pelo aprendiz, culminando com a mudança de
seu comportamento.
Ponderando que o homem é quem conduz a máquina e que, com o
passar do tempo, o comportamento de dirigir tornar-se-á automático, é
vital que a introjeção das informações por ele recebidas sejam
adequadas e completas, com o propósito de que o futuro motorista se
comporte de forma coerente, ajustada e adequada, sendo o
protagonista de situações que revelem uma boa interação entre o
homem, a máquina e o meio ambiente, garantindo através de uma
direção segura a sua sobrevivência, tanto quanto a sobrevivência do
outro.
Uma sociedade onde os motoristas respeitam as normas e as leis de
trânsito, a prevenção de acidentes torna-se mais fácil.
Através da educação, o motorista adquire instrumentos que o
capacitarão, intelectual e emocionalmente, a avaliar e controlar seu
57comportamento, preparando-o a vivenciar o trânsito de forma mais
segura, consciente e responsável.
A ação educativa pressupõe a inter-relação entre o interesse, o ânimo e
a energia, alimentando a motivação e o interesse para o processo da
aprendizagem, sendo que esses aspectos envolvem também outros
princípios, como segue:
a. a aprendizagem deve realizar-se através da própria atividade
do educando;
b. o trabalho educativo deve adequar-se aos níveis de
desenvolvimento do aluno;
c. a educação não é uma mera preparação para uma vida
futura, mas é a própria vida.
d. é preciso considerar não somente o valor prático de nossos
atos, mas a sua eficácia na vida social.
A educação é o caminho principal para um trânsito e uma sociedade
sadia e equilibrada.
Para isso, o novo Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu
determinações sobre este tema de acordo com suas resoluções, como
veremos a seguir.
596. Resolução do CONTRAN
Com a implantação do novo Código de Trânsito Brasileiro, lei 9503 de
23 de setembro de 1997, em seu capítulo VI “DA EDUCAÇÃO PARA O
TRÂNSITO, em seus artigos 74 e 76 estabelecem que”:
Art.74. A educação para o trânsito é direito de todos e constitui dever
prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito
1ș) É obrigatória a existência de coordenação educacional em cada
órgão ou entidade componente do Sistema Nacional de Trânsito
2ș) Os órgãos ou entidades executivos de trânsito deverão promover,
dentro de sua estrutura organizacional ou mediante convênio, o
funcionamento de Escolas Públicas de Trânsito, nos moldes e padrões
estabelecidos pelo CONTRAN
Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas
escolas de 1ș, 2ș e 3ș graus, por meio de planejamento e ações
coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de
Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.
Parágrafo Único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Ministério da
Educação e do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do
Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, diretamente ou
mediante convênio, promoverá:
I – a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo
interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito;
II – a adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas
escolas de formação para o magistério e o treinamento de professores e
multiplicadores;
III – a criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e
análise dos dados estatísticos relativos ao trânsito;
IV – a elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto
aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à
integração universidades-sociedade na área de trânsito [17].
6. Resolução do CONTRAN
60No trânsito, a preservação da vida e a educação tornam-se uma coisa
só. Por isso a ação de educar deve estar intimamente relacionada com
as atividades da vida real no ato da condução de um veículo automotor,
ou na simples travessia de uma rua.
Nós agimos no meio social fazendo parte de vários grupos, dos quais
somos membros ativos. Por isso, é preciso aprender a cooperar e a agir
eticamente em comunidade, somando esforços e tendo em vista o bem
comum. Este é um dos princípios, a nosso ver, da eficácia social.
“A concepção educativa que fundamenta o método de projetos ressalta
a importância das relações humanas e determina que um dos objetivos
do trabalho escolar seja o desenvolvimento dessas relações ” [18, p.
213].
O desenvolvimento de um projeto é construído a partir de um problema
concreto e realiza-se na tentativa de encontrar soluções para o mesmo.
No caso, esse trabalho de educação foi elaborado e desenvolvido
considerando-se o alto índice da violência social de modo geral, em
meio ao qual temos vivido e principalmente na violência que se instalou
no trânsito. Esse é o problema detectado, e consideramos que a
solução está na educação para o trânsito.
O projeto preocupou-se em respeitar as fases de desenvolvimento da
criança, para que a mesma seja capaz de captar, apreender e aprender
o conteúdo do programa, que engloba todas as matérias exigidas pela
lei para a boa formação do pedestre, do motociclista e do condutor,
buscando solucionar, através da tomada de consciência, o problema da
violência no trânsito, atendendo a Resolução nș 120, de 14 de Fevereiro
de 2001 que tem o seguinte texto “ Dispõe sobre o Projeto Educação ” e
Segurança no Trânsito – escolas de ensino médio – que trata da inclusão
de conteúdos específicos sobre Trânsito no Ensino Médio, em
consonância com o disposto na Resolução 050/98 – CONTRAN e define
procedimentos para a implantação nas escolas interessadas.
O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN , usando da competência
que lhe confere o art. 12, inciso I, da Lei nș 9.503 de 23 de setembro de
1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – CTB, e conforme
Decreto nș 2.327, de 23 de setembro de 1997, que dispõe sobre a
Coordenação do Sistema Nacional de Trânsito, e
Considerando a necessidade de medidas complementares para o
cumprimento no disposto no Código de Trânsito Brasileiro, Capítulo VI –
artigos 74 e 76 inciso I, II;
Considerando a necessidade do desenvolvimento de uma Política
Nacional de Educação e Segurança no Trânsito, voltada, sobretudo,
para o grupo considerado de risco, constituído pela população
61adolescente que se insere nas escolas de ensino médio em todo
território nacional;
Considerando a importância de desenvolver valores, integrando o jovem
no sistema de trânsito nos seus diferentes papéis;
Considerando ainda a necessidade premente da melhoria do processo
de formação de condutores e o fato de ser a unidade escolar de ensino
médio célula composta por docentes devidamente qualificados, resolve:
Art. 1ș Instituir o Projeto de Educação e Segurança no Trânsito –
Escolas de Ensino Médio, com conteúdos específicos voltados para a
formação e desenvolvimento de comportamentos seguros no trânsito,
de conformidade com o disposto na matriz conceitual no Anexo desta
Resolução.
Art. 2ș O Projeto, uma vez desenvolvido de conformidade com todos os
requisitos constantes desta Resolução e seus Anexos, será reconhecido
pelo Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, como a
formação teórico-técnico necessária para que o aluno integrante deste
Projeto possa submeter-se ao exame teórico a que se refere o Artigo 3ș
e seu parágrafo único da Resolução 050/98 do CONTRAN.
Art. 3ș As escolas interessadas no desenvolvimento do Projeto em tela
deverão ser credenciadas pelo DENATRAN, devendo, para isto, cumprir
os seguintes procedimentos utilizando os instrumentais específicos:
a. solicitar inscrição no Projeto citado;
b. apresentar o Coordenador responsável pelo
desenvolvimento do referido Projeto na respectiva unidade
escolar, bem como a Equipe Docente;
c. apresentar Planejamento do desenvolvimento dos
conteúdos.
Art. 4ș O credenciamento será homologado pelo Departamento Nacional
de Trânsito DENATRAN após o cumprimento do disposto no art. 3ș
desta Resolução.
Art. 5ș Uma vez cumprido o desenvolvimento do Projeto, a escola
remeterá ao DENATRAN, a relação nominal dos alunos aprovados.
Art. 6ș Aos alunos cuja avaliação for considerada satisfatória pela
Equipe Docente será expedido pela Escola um certificado de
participação do Projeto.
6. Resolução do CONTRAN
62Art. 7ș De posse do Certificado referido no artigo anterior, o aluno
interessado na Permissão para Dirigir desde que preencha os requisitos
exigidos no Art. 140 da Lei 9.503, de setembro de 1997, deverá
encaminhar-se ao DETRAN, onde se dará o início do processo de
habilitação.
Art. 8ș Cabe ao DENATRAN regulamentar esta Resolução, definindo
critérios, instrumentais específicos e etapas de implantação do projeto.
Art. 9ș Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
(Cidadania. Transitar é Conviver – Resoluções do Conselho Nacional de
Trânsito/ Ministério da Justiça/ Brasília 2002, p.395, 396, 397).
Na tentativa de atender a todas estas exigências do DENATRAN e do
CONTRAN, que constam no Novo Código de Trânsito Brasileiro , fizemos
todo um estudo sobre o psiquismo humano, como foi visto
anteriormente, para que se tornasse plausível apresentar o trânsito às
crianças, de forma que as mesmas, dentro do seu limite de
amadurecimento cognitivo e emocional, possa compreender captar e
assimilar as informações que lhes serão transmitidas.
Para isso selecionamos e distribuímos as matérias referentes à
cidadania, defesa do meio ambiente, legislação, mecânica e primeiros
socorros, obedecendo a cada fase do desenvolvimento, como seguem
na apresentação do novo tópico desse livro.
637. Conteúdo Programático do Currículo Escolar
Entendemos que o Sistema Trânsito é composto por uma tríade que
envolve o homem, o veículo e as vias públicas, e que essa tríade pode
ser pautada dentro do ensino sobre o trânsito, com as matérias exigidas
pelo Código de Trânsito Brasileiro, da seguinte forma:
Ao homem por ser o agente pensante, atuante e que está no centro
de todo o movimento do trânsito são relacionados diretamente os
conteúdos sobre a cidadania, a legislação, os primeiros socorros,
porque ele é o elemento que estabelece a ponte de relacionamento
entre os demais integrantes do sistema trânsito, ou seja, o veículo e as
vias públicas.
O veículo é importante, pois é através do mesmo que nos
transportamos de um ponto a outro, sendo importante obtermos
informações sobre mecânica e a manutenção e, além disso, sobre como
o homem deve conduzir adequadamente essa máquina desenvolvendo
uma direção defensiva e segura.
O terceiro item deixa clara a necessidade de proteger e cuidar das vias
públicas por ser o local onde todos (pessoas, animais e veículos)
circulam e é somente através da defesa do meio ambiente que todos
teremos uma qualidade de vida melhor.
Os estudos de Jean Piaget foram muito importantes para a educação de
um modo geral, pois possibilitaram oferecer aos educadores não
somente uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência
do aluno, mas também por nos esclarecer e ensinar que cada fase do
desenvolvimento tem suas peculiaridades e possibilidades específicas
de crescimento e maturação para a aquisição de novas informações.
Com base nas várias escolas de Psicologia e em suas teorias sobre o
desenvolvimento cognitivo e emocional, e com respaldo na Ética, nos
princípios e nas técnicas de ensino da Didática, formulamos a gradeVIAS PÚBLICAS
defesa do meio ambienteVEÍCULO
direção defensiva e mecânicaHOMEM
relacionado aos primeiros socorros,
cidadania e a legislação
7. Conteúdo Programático do Currículo Escolar
64curricular, obedecendo a cada uma das fases do desenvolvimento da
criança.
O conteúdo programático estará calcado na exigência, estabelecida
pelo DENATRAN e pelo CONTRAN, que determina o ensino das
seguintes matérias:
Cidadania – definida como o exercício de direitos e deveres políticos,
civis e sociais.
Defesa do Meio Ambiente – refere-se à preservação de todos os reinos
que compõe o Planeta Terra (Reino Animal, Vegetal e
Mineral) que afetam os ecossistemas e a vida dos seres
humanos.
Legislação – é composta por um conjunto de normas jurídicas instituídas
por atos normativos e estabelecidas pelas autoridades
competentes para garantir a ordem social.
Primeiros Socorros – cuidado imediato a uma pessoa ferida até à
chegada de ajuda profissional.
Mecânica – trata da manutenção e conservação dos automóveis.
A aplicação do projeto que vai desde a pré-escola até o ensino médio
visa que toda a informação contida nestas matérias seja específica e
relacionada ao trânsito, sendo ao mesmo tempo um meio que possa
corroborar para a boa formação do aluno, como cidadão e como futuro
motorista.
Buscamos nos fundamentos na Psicologia, que é uma ciência do
comportamento, as bases para utilizar todos estes conteúdos, de modo
que, ao mesmo tempo, possamos estar informando e formando os
alunos para crescerem com uma consciência, a mais plena possível, de
seus compromissos consigo mesmos, com os outros e com o mundo
que os cerca.
A matéria sobre Cidadania poderá nos fornecer toda base para o
conhecimento sobre os valores éticos, valores morais, valores sociais e
valores humanos.
O teor contido no capítulo sobre Defesa do Meio Ambiente pode ajudar
a fortalecer na pessoa o contato do conhecimento sobre suas emoções,
sua sensibilidade e seus afetos; estimulando o cuidado consigo mesmo,
com o outro e com o meio ambiente. Ao observar a natureza, a pessoa
estará preservando a vida de um modo geral.
Os princípios que compõe a Legislação sobre o trânsito dará a noção de
regras e leis que regem a conduta, o entendimento dos direitos e
deveres da pessoa, para um bom convívio em sociedade.
São essas diretrizes que determinam os limites que nos ajudarão a
entender até onde podemos e devemos ir, e quando precisamos parar.
Essa noção nos esclarece sobre os nossos próprios limites, bem como
65os limites do outro, favorecendo a ética e o respeito para um convívio
salutar.
Nos Primeiros Socorros, teremos os preceitos e as informações sobre o
funcionamento do nosso organismo e como protegê-lo para garantir a
nossa integridade física. Caso venhamos a sofrer algum acidente os
Primeiros Socorros nos dão a base do que poderemos fazer para evitar
o agravamento da situação ou o que poderemos fazer para auxiliar a
amenizar a situação no momento do fato.
Mecânica é uma matéria fundamental que nos ajudará a detectar
problemas no veículo auxiliando em possíveis soluções, dando-nos as
diretrizes para a manutenção do nosso veículo, garantindo uma direção
segura, preservando a nossa vida e a do próximo.
Todas estas informações estarão sempre atreladas à pessoa como um
ser individual e que ao mesmo tempo é um ser integrante do grupo
social ao qual chamamos trânsito.
Para entendermos melhor essa distribuição dos conteúdos, faremos
uma breve explanação associando o tipo de raciocínio característico de
cada fase do desenvolvimento, com a matéria a ser ministrada,
distribuindo as matérias da seguinte forma:
Ensino Fundamental
1ă à 5ă séries abrangendo as fases do desenvolvimento: 1 Sensório
Motora e 2 Pré-Operátoria
Após a experiência do contato tátil para conhecer o mundo através do
manuseio dos objetos, a criança com o desenvolvimento da linguagem,
consegue nomear os elementos que a cercam e consegue raciocinar
intuitivamente, porém não é capaz de realizar as operações
fundamentais. A criança já consegue distinguir o que é real e o que é
fantasia.
Respeitando essa potencialidade do desenvolvimento podemos
introduzir a história do surgimento da roda e sua importância para o
desenvolvimento da humanidade; a história do trânsito e do
desenvolvimento dos meios de transporte inventados pelo homem até o
presente momento, uma vez que o tipo de raciocínio permite a
compreensão e o acompanhamento dessas informações. Além do
conteúdo verbal a criança terá a oportunidade de realizar tarefas
concretas (pintar, desenhar, colar) para uma fixação melhor do que lhe
é transmitido.
Segue sugestões de conteúdos a serem apresentados e discutidos em
sala de aula.
7. Conteúdo Programático do Currículo Escolar
661ă à 5ă séries
Noções Básicas de Sinalização – história do desenvolvimento urbano
e do trânsito:
semáforo
faixa de pedestre
ciclo via
passarela
rua, rodovia
estrada, etc.
Noções Básicas de Meio Ambiente – lixo no lixo
sala de aula limpa
ruas limpas
lixo na rua, boca de lobo e enchentes
importância das plantas para o ar
proteção do verde, etc.
Noções Básicas de Cidadania – seus direitos e seus deveres
conhecer e reconhecer limites
necessidade de obedecer normas e leis
importância da disciplina, etc.
6ă à 9ă séries – Raciocínio Operatório Concreto
No estágio operatório a criança começa a ter contato e a lidar melhor
com os conceitos abstratos, e desenvolve uma lógica interna sólida que
lhe permite solucionar problemas desde que sejam concretos.
Nesse tipo de raciocínio e inteligência, a criança é capaz de
compreender os temas com seus conteúdos:
Defesa do Meio Ambiente – queimadas
chuva ácida
produção agrícola
reserva de água do planeta
pichação
vandalismo, etc..
Cidadania – respeito às normas sociais
suas obrigações consigo mesmo e com o outro
respeito ao seu limite e ao limite do próximo
reconhecer e respeitar seus direitos e os direitos do outro
importância das leis para ordem social, etc..
67Noções Básicas de 1ș Socorros – conceito de acidentes
conceito de trânsito
importância de isolar a área do acidente
sinalizar o local para evitar novos
acidentes,etc.
ficando à critério do professor ampliar o conteúdo da matéria.
Ensino Médio – Raciocínio Operatório Formal
Nesse estágio o pré-adolescente já começa a raciocinar de uma forma
lógica e sistemática marcado pela habilidade do raciocínio abstrato. As
deduções lógicas podem ser feitas de forma abstrata sem nenhuma
necessidade da presença dos objetos concretos.
O indivíduo é capaz de conjeturar sobre as probabilidades e estabelecer
uma relação direta entre a causa e o efeito.
A partir desta estrutura de pensamento o indivíduo já consegue pensar
logicamente sobre as proposições abstratas e testar hipóteses de
maneira sistemática.
Passa a considerar todas as possibilidades, a mostrar interesse em criar
regras pensadas sob um raciocínio de conteúdo moral, e a abordar a
sociedade como um todo (altruísmo) em vez de estar voltado
unicamente a situações pessoais e individuais (egoísmo).
As matérias ministradas nessa etapa exigem a capacidade de raciocínio
abstrato e capacidade de deduzir mediante hipóteses formuladas.
Como exemplo, citamos alguns conteúdos que poderão ser
apresentados aos alunos, sendo o professor livre para abordar novos
conteúdos para enriquecer a grade do currículo escolar.
Primeiros Socorros
conceito de acidente
procedimentos quando há feridos no acidente, etc.
Leis e Normas de Trânsito
reconhecimento de placas de sinalização e regulamentação
significado das placas e dos sinais de trânsito
infração às normas e leis de trânsito e suas consequências
legais, éticas e morais.
Mecânica
veículo: partes principais
manutenção do veículo
identificação de danos na máquina,etc.
7. Conteúdo Programático do Currículo Escolar
68Direção Defensiva
conceito de Direção Defensiva
fatores que diminuem a capacidade do motorista
importância dos equipamentos de segurança,etc.
Esperamos com isso, que quando o aluno terminar o Ensino Médio,
com os conhecimentos adquiridos possa dirigir-se ao DETRAN e
realizar a prova teórica para a obtenção da CNH atendendo à resolução
publicada pelo CONTRAN/DENATRAN.
Um dos objetivos da Educação é a transformação das pessoas em bons
cidadãos.
A partir das informações e atividades que serão desenvolvidas em salas
de aula e com base no Programa de Educação para o Trânsito
apresentado acima, esperamos que o aprendiz melhore seu
autoconhecimento e sua autoestima, reconhecendo seus limites sendo
capaz de sair do Pensamento Egocêntrico e passar a desenvolver um
Pensamento Sociocêntrico, [19, p. 49] colaborando dessa forma para
um convívio harmônico entre os homens e para um trânsito mais
humano e seguro.
A criança e o jovem funcionam como agentes transformadores dentro
do seu ambiente familiar, levando sempre novas informações e novas
concepções sobre os fatos, ampliando o universo de informação do seu
grupo.
Assim acreditamos que a partir do momento em que a criança começar
a receber as informações sobre um trânsito mais humano e seguro,
esses subsídios poderão ser repassados para os outros componentes
da família, podendo ajudar em uma transformação de valores e de
atitudes no sistema viário.
698. Aprendizagem
8.1. Definição
A aprendizagem vem sendo pesquisada e metodizada desde os povos
da antiguidade. No Egito, na China e na Índia a finalidade era transmitir
as tradições, os costumes familiares e os hábitos culturais e morais;
enquanto que na Grécia e Roma, a aprendizagem passou a seguir duas
linhas opostas, porém complementares:
1. A pedagogia da personalidade que visava a formação
individual, e
2. A pedagogia humanista cujo objetivo era desenvolver os
indivíduos em uma linha onde o sistema de ensino e o
sistema educacional seria representativo da realidade social
dando uma ênfase maior à aprendizagem universal.
Desde os tempos mais remotos, o ser humano procura compreender e
explicar o mundo em que vive, em uma tentativa de atrair recursos e
meios para poder enfrentar situações ameaçadoras e perante as
mesmas conseguir sobreviver.
Entretanto, conforme o conhecimento humano foi avançando, as
explicações para os fenômenos do Universo também foram sofrendo
mudanças.
Os povos da Antiguidade achavam que as tempestades aconteciam em
consequência da fúria dos deuses, sendo uma forma de demonstrar seu
descontentamento com os homens. Hoje com o avanço das Ciências
sabemos que as tempestades ocorrem por diferenças da pressão
atmosférica, da temperatura e da umidade entre as massas de ar.
Tentar enxergar além das aparências e duvidar de tudo que
supostamente é certo faz com que as Ciências avancem e se
desenvolvam cada vez mais, pois tal postura obriga o ser humano a
pesquisar melhor sobre todos os temas que envolvem a humanidade.
O conhecimento é um fenômeno do dia a dia que ocorre desde o início
da vida e que não acontece sem passar pela unidade do ser.
Reserva-se o termo aprendizagem às mudanças provenientes de algum
tipo de treinamento, ou seja, dos processos de repetição, dos exercícios
e das práticas de determinadas tarefas, ou mesmo pela simples
observação atenta de alguém que está executando um determinado tipo
de atividade (aprendizagem por observação).
Segundo alguns estudiosos, a aprendizagem é o processo de alteração
de comportamento de um indivíduo, seja por condicionamento operante,
experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente permanente. As
8. Aprendizagem
70informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino ou até
pela simples aquisição de hábitos.
A conduta não se refere unicamente ao comportamento exteriorizado,
mas também a toda atividade mental cognitiva ou afetiva que determina
uma nova forma de resposta ou um novo hábito incorporado ao
repertório do indivíduo.
O ato ou a vontade de aprender é uma característica essencial do
psiquismo humano, pois somente o homem possui o caráter intencional,
ou seja, o querer aprender, sendo que o processo da aprendizagem é
dinâmico , por estar sempre em mutação e procurar novas informações
para enriquecer a informação; é criador , por buscar novos métodos
visando a melhora da própria aprendizagem.
Outra linha de estudo define a aprendizagem como sendo uma
mudança relativamente durável do comportamento, de uma forma mais
ou menos sistemática, ou não, adquirida pela experiência, pela
observação e pela prática motivada.
A motivação tem um papel fundamental na aprendizagem. Ninguém
aprende se não estiver motivado, se não desejar aprender.
Na verdade o ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender,
necessitando de estímulos externos e internos (motivação,
necessidade) para que o processo seja processado e a aprendizagem
ocorra.
Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de
aprender a falar, a andar, necessitando apenas que a criança passe
pelo processo de maturação física, psicológica e social, e que receba os
estímulos suficientes para que o comportamento seja adquirido e
posteriormente aperfeiçoado.
Mas a maioria das aprendizagens se dá no meio social e temporal onde
o indivíduo vive e convive; sua conduta muda, normalmente, por esses
fatores, e naturalmente, pela herança genética dos seus antepassados.
Aprender significa realizar uma pequena mudança na estrutura do
Sistema Nervoso Central (SNC). Os sinais encontram os seus caminhos
através da rede de neurônios no cérebro e sinais repetidos tendem a
tomar sempre o mesmo caminho, passando de um neurônio para outro
através das sinapses.
Se vamos começar uma nova atividade, como, por exemplo, aprender a
tocar violão, os sinais deverão ser transmitidos através de caminhos já
existentes a fim de dar as instruções apropriadas para que os dedos
toquem as cordas de uma determinada maneira para produzir o som
desejado.
Como no início temos poucos caminhos para escolher, os movimentos
dos nossos dedos são bastante desajeitados. Com os exercícios
repetitivos, a mesma mensagem é passada mais e mais
frequentemente, e então os caminhos começam a mudar.
71Mais sinapses se desenvolvem para levar as instruções para os
músculos dos dedos. Quando esses novos caminhos evoluem, torna-se
mais fácil mover os dedos exatamente como desejamos, e, finalmente,
podemos tocar a música desejada, sem mesmo olhar o que estamos
fazendo.
O cérebro de um bebê tem menos conexões entre seus neurônios do
que o de um adulto. Essas conexões aumentam muito rapidamente à
medida que o bebê aprende sobre o mundo ao seu redor. Por isso é
muito importante falar com os bebês e dar-lhes grande quantidade de
brinquedos para captar seu interesse enquanto seu cérebro se
desenvolve mais completamente.
Aprender significa “ adquirir nova forma de conduta ou modificar uma
forma de conduta anterior ” [12, p. 20].
A ciência da Psicologia também não crê que alguém aprende
simplesmente porque o outro ensina, ou apenas porque deseja
aprender. Por que surgiu essa duvida?
Observou-se que muitas pessoas a quem se ensina, não querem
aprender, e por este motivo, não aprendem; outras mesmo querendo
aprender não o conseguem se alguém não ensiná-las; e outras ainda,
mesmo querendo aprender e tendo quem as ensine, também não
conseguem captar as informações.
O problema da aprendizagem pode ser associado à dificuldade na
manutenção da atenção seletiva, que pode ter sido causada por algum
tipo de atraso ou ineficiência no desenvolvimento da criança em relação
a esta capacidade.
A aprendizagem é um processo universal e pessoal, dependendo do
envolvimento e do desenvolvimento de cada um, do seu esforço e da
capacidade integrativa, que ocorre durante toda a vida da pessoa.
Porém não é tão simples como parece à primeira vista. Uma das
definições encontrada nos dicionários enuncia que: “ a aprendizagem é a
aquisição de conhecimento ou especialização em determinadas
tarefas ”, mas não explica e nem determina a amplitude do significado do
que é aprender.
O suporte da aprendizagem está na dúvida, caracterizada por uma
síntese mental abstrata: é algo que penetra a mente, demandado de um
processo abstrato e não ostensivo.
“Aprendizagem é a mudança progressiva do comportamento e que está
ligada, de um lado, a sucessivas apresentações de uma situação, e de
outro, a repetidos esforços dos indivíduos para enfrentá-la de maneira
eficiente ” [20, p. 32].
Devemos a Edward L. Thorndike (1874 – 1949) a formulação da primeira
teoria sobre a Aprendizagem, sob a visão da Psicologia.
8. Aprendizagem
72O termo teve origem na concepção de que a aprendizagem se dá por
um processo de associação de ideias, desde a mais simples a mais
complexa, e simplificou o termo aprendizagem da seguinte forma;
“aprendizagem é a formação de conexões do tipo S –R, em que S
significa situação ou estímulo, e R, resposta ou reação ”.
A aprendizagem exige a retenção de hábitos ou de novas informações,
e a solução dos problemas tem sua origem justamente na retenção
dessas cadeias de ideias.
É por meio das soluções dos problemas que se apresentam no dia a dia
que o indivíduo se adapta e se ajusta ao seu meio ambiente.
“Normalmente, consideram-se como aprendidas as mudanças de
comportamento relativamente permanentes, que não podem ser
atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo,
mas que resultam da experiência” [20, p. 32].
A adaptação refere-se à capacidade do organismo em responder a
situações que se modificam, conseguindo manter um nível de
organização; portanto trata-se de um processo de desenvolvimento
onde o organismo ajusta-se rapidamente aos efeitos provocados pelas
condições externas ou internas, mantendo sua homeostase.
É preciso examinar o comportamento de um indivíduo ainda quando
necessita de especialização e/ou de conhecimento, para somente após
ter recebido a informação demandada, registrar a modificação positiva
ou negativa que ocorreu nesse mesmo comportamento.
Adota-se este procedimento porque a aprendizagem não pode ser
observada enquanto se processa, mas apenas depois que se realiza.
Assim, podemos concluir que a aprendizagem não é um
comportamento, mas sim uma mudança de comportamento
relativamente duradoura, e que é perceptível.
Na aprendizagem, os conteúdos devem estar relacionados aos
interesses, aos objetivos e às necessidades pessoais do aprendiz.
É mister que o educando, segundo os parâmetros da Didática, seja
capaz de selecionar e estabelecer as bases dos conhecimentos
anteriores, de forma que a educação se organize em torno dos quatro
saberes:
1.Aprender a conhecer: desenvolver a capacidade de
compreensão de modo a aprender a entender o mundo que o
cerca, proporcionando-lhe uma vida digna, ampliando sua
capacidade profissional e a capacidade de construir o real.
2.Aprender a fazer: o aprender a fazer é inseparável do aprender a
conhecer. O saber fazer refere-se à capacidade do homem em
73transformar os conhecimentos, em renovar as novas tecnologias
em fonte de novos empregos ou de novos trabalhos não mais do
tipo “ mecânico ”, autômatos. A aprendizagem deve evoluir
sempre em direção aos objetivos do aprimoramento do homem
enquanto pessoa e melhorar sua qualidade de vida na
sociedade, seja como cidadão – pelo respeito às regras e as
normas sociais – seja como SER, alcançando sua verdadeira
independência.
3.Aprender a viver junto, a viver com os outros: a competição
desenfreada e o desejo de sucesso individual têm impactado e
dividido as sociedades e as nações do mundo. O caminho
apontado pela Educação procura evitar os confrontos e os
comportamentos de incompreensão, a quebra dos preconceitos
e da intolerância, buscando a paz, e a amizade, e a harmonia
entre as pessoas.
4.Aprender a Ser: valorizar a construção de uma personalidade
com capacidade de autonomia, discernimento e
responsabilidade pessoal [11].
A Psicologia da Aprendizagem baseia-se nos estudos da
Psicopedagogia – termo que evidencia a junção da Psicologia com a
ciência Pedagógica – que tem como objeto de estudo a pessoa a ser
educada e o método de ensino a ser utilizado, levando em consideração
todo o processo de desenvolvimento do indivíduo e as suas alterações,
na busca de uma solução para os problemas que surgirem durante o
processo da aquisição do conhecimento.
Preconiza-se que é função do pedagogo:
1. estimular seu próprio potencial afetivo para ser um incentivador
da aprendizagem dos indivíduos.
2. facilitar a aprendizagem através da motivação, respeitando o
ritmo e a fase de desenvolvimento da criança;
3. mobilização global do indivíduo bem como da abordagem do
processo educativo em toda sua potencialidade e totalidade, por
uma equipe multidisciplinar.
Segundo Santo Tomás de Aquino, o principal agente do processo da
aprendizagem é a atividade daquele que aprende, onde a
aprendizagem corresponde aos princípios estruturais e inter-relacionais
8. Aprendizagem
74transmissores do conhecimento, das atitudes e das habilidades que a
sociedade considera importante para sua sobrevivência.
A aprendizagem classifica-se em dois grandes grupos:
1. Teorias associacionistas – onde a dinâmica da aprendizagem se dá
por uma associação de ideias e de processos mentais ou em um
encadeamento de reações nervosas formando duas correntes
distintas:
a. teorias subjetivas – considera que a aprendizagem se processa
por uma associação interna de sensações e de imagens
(Titchener Teoria Estruturalista); e
b. teorias objetivas – considera que a aprendizagem é uma
associação de processos de estados nervosos corticais de
reflexos e de reações orgânicas (Teoria Funcional de Thorndike,
Teoria Behaviorista de Watson e Teoria Dinâmica de
Woodworth); e
2. Teorias não associacionistas que explicam a aprendizagem como
uma integração de reações espontâneas na atividade instintiva.
759. O Cérebro e a Aprendizagem
O cérebro está ligado diretamente ao comportamento sendo o
responsável por estabelecer os padrões de ação, de comunicação, e de
fornecer também os limites da quantidade de informações que podem
ser assimiladas e processadas, aspectos considerados importantes
para a cognição e para o comportamento do homem.
As pessoas são na verdade, um complexo composto dos aspectos:
cognitivo-afetivo-motor, e qualquer impacto ou mudança em um desses
fatores afeta os demais. Daí considerarmos a aprendizagem como um
processo global.
Muitos estudos têm sido realizados para explicar a relação entre as
funções cerebrais e como a aprendizagem ocorre no homem.
O cérebro é dividido em duas partes, o hemisfério esquerdo e o
hemisfério direito e sua morfologia lembra o miolo de uma noz.
Para a Psicologia e para a Fisiologia, a função cerebral é entendida
como uma atividade complexa e adaptativa do organismo, dirigida à
realização de uma tarefa que possui um papel fisiológico ou psicológico
específico para a atividade vital do homem.
As funções cerebrais são frutos da interação entre os processos
genéticos e do desenvolvimento por um lado, e da aprendizagem, do
outro, o que pode alterar a estrutura e o funcionamento das células
neurais e as suas conexões.
Na verdade somos do jeito que somos, devido em grande parte, ao que
aprendemos e lembramos graças ao que chamamos de memória, o que
9. O Cérebro e a Aprendizagem
76nos possibilita a transmissão dos conhecimentos, garantindo a
manutenção da cultura social, de geração em geração.
As funções psicológicas foram correlacionadas à estrutura do Sistema
Nervoso Central (SNC), onde o tecido cerebral é uma rede contínua de
impulsos nervosos (captação de estímulos tanto do meio externo como
do meio interno) e o cérebro uma massa homogenia funcionando como
um todo.
9.1. O Sistema Nervoso Central
A função do SNC (Sistema Nervoso Central) é receber, analisar e
integrar todas as informações provenientes tanto do meio interno como
do meio externo. É onde acontecem as tomadas de decisões e o envio
das ordens, que se transformam em comportamento.
O SNC é formado pelas seguintes estruturas:
1. Hemisférios cerebrais
2. Cerebelo
3. Ponte
4. Bulbo
5. Medula Espinhal,
Sendo subdividido em Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso
Periférico
77O SNP (Sistema Nervoso Periférico) transmite as informações dos
órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso
central para os órgãos efetores (músculos e glândulas) gerando a ação.
O Sistema Nervoso Periférico é composto por duas divisões: a somática
e a automática.
A somática é a camada responsável pelo controle da musculatura
esquelética e pela transferência da informação dos órgãos sensoriais
abarcando vários nervos ramificados do SNC sendo sensoriais ou
aferentes e os motores ou eferentes.
O Sistema Nervoso Autônomo é composto por outras duas divisões que
estimulam vários órgãos e várias glândulas, sendo elas: a divisão
simpática e a divisão parassimpática.
O funcionamento harmonioso do SNC é de suma importância para o
motorista.Sistema Nervoso CentralSistema Nervoso
Sistema Nervoso Periférico
Nervos Cranianos
Nervos Raquidianos
Vias Aferentes
(Sensitivas)Vias Eferentes
(Motoras)
Eferentes
SomáticasEferentes
Autônomas
Parassimpático SimpáticoEncéfalo
Medula Espinhal
9. O Cérebro e a Aprendizagem
78Vimos que o cérebro humano é dividido em hemisférios, com lobos que
são separados por sulcos, sendo cada área (lobo) responsável por uma
função específica, como segue:
1. Lobo frontal: área motora
2. Lobo temporal: área auditiva
3. Lobo parietal: área sensorial
4. Lobo occipital: área visual
Sistema Nervoso Periférico
Sistema Nervoso Somático Sistema Nervoso Autônomo
Nervos Sensoriais
Nervos Motores
Nervos de Conexão
ou AssociaçãoDivisão Simpática
Divisão
Parassimpática
79Lobo Frontal – o lobo da inteligência, como também é o lobo occipital,
nas áreas circunvizinhas onde são interpretadas as
imagens visuais; no lobo frontal estaria localizada a
capacidade de raciocínio lógico e de síntese
fenomenológica, o lobo frontal é o lobo do futuro, da
prospecção. Elabora o pensamento, e o planejamento
das ações.
Lobo Temporal – região da memória, do “ arquivo morto ” – relaciona-se
com o sentido da audição, reconhecendo a intensidade
e o tipo de determinados tons e sons.
Lobo Parietal – é a região do cérebro onde são computadas as
informações de uso imediato: o lobo do presente. No
lobo parietal encontramos as circunvoluções prega-
curva e supramarginais onde se localizam o esquema
corporal e as relações têmporo-espaciais. Responsável
pela sensação de dor, pelo tato, pelo paladar, pela
temperatura e pela pressão.
Lobo Occipital – responsável pelo processamento dos estímulos visuais,
pela percepção.
Fala, Escrita, Raciocínio, Imaginação,
Memória, Decisão, Personalidade,
Julgamento, MovimentosLocalização Espacial
Cinestesia, sensorial,
Leitura
Função Motora e
Cognitiva,
Personalidade
Compreensão da Fala,
Memória, EmoçõesPercepção Visual
e Processamento
9. O Cérebro e a Aprendizagem
80Para a execução de um comportamento, é requerida uma série de
excitações e conexões simultâneas e sucessivas, onde a perda de um
elo do sistema acaba afetando o resultado final da tarefa ou da ação.
Entendemos então que o SNC é uma rede de sinapses com estímulos
aferentes e eferentes e que o mesmo estímulo desencadeia uma série
de circuitos para a obtenção da resposta correta. O cérebro é o órgão
responsável pelo processamento das informações recebidas e pela
tomada de decisão. Recebe as informações através dos receptores,
integra as informações com as experiências passadas, avalia todos os
dados e planeja uma ação.
À título de informação, o Homúnculo de Penfield é a representação da
sensibilidade e da motricidade das diversas partes do corpo humano a
nível do córtex.
No Lobo Frontal, a área do Giro Pré-Central (Área Motora Primária)
corresponde à motricidade, enquanto que no Lobo Parietal, a área doHomúnculo de Penfield
Córtex Frontal
Área Motora Primária
81Giro Pós-Central (Área Somestésica Primária) se refere à sensibilidade
do corpo.
Esta figura nos apresenta um corpo humano "deformado", pois a
proporcionalidade que existe entre o tamanho dos diversos segmentos
e áreas corporais entre si, não é a mesma a nível cortical. Isso é
explicado pelas diferentes concentrações de fibras nervosas que
chegam ou que saem de cada segmento e região do corpo.
Assim, observamos que na face (lábios e língua) e na mão (incluindo os
dedos), existe uma representação destacadamente maior quando
comparada às outras partes do corpo, visto que nestas regiões os
movimentos são mais precisos e a sensibilidade mais acurada.
Observe as figuras:
Porém, na maioria das vezes, nas nossas atividades cotidianas há
predominância de um dos aspectos do nosso cérebro: por exemplo, no
comportamento de andar a função motora é essencial, enquanto que noHomúnculo de Penfield
Córtex Parietal
Área Somestésica Primária
9. O Cérebro e a Aprendizagem
82comportamento de interação pessoal, a função predominante é a
afetiva; e na aprendizagem a função mais importante é a cognitiva.
No caso deste último – a aprendizagem – destacam-se os sistemas
cerebrais que podem funcionar de modo semiautônomo com relação
aos outros, de modo suplementar com outro sistema, ou mesmo de
modo inter-relacionado. Para o ato de dirigir, são necessárias todas as
funções simultaneamente.
Dentro das possibilidades de inter-relação cerebral, é possível haver
três modos de aprendizagem:
a. Intra neuro sensória – modo de aprendizagem que está
predominantemente vinculado a um sistema do cérebro.
b. inter neuro sensória – quando utiliza mais de um sistema
cerebral;
c. integrativo – modo que utiliza todos os sistemas
simultaneamente, como no caso da alfabetização, da escrita e
da linguagem, e também da condução de veículos.
Para que a aprendizagem se processe, há o envolvimento de todo o
complexo cerebral. Por não se tratar de um produto único, tem no
mínimo duas formas principais de ocorrência:
a. as formas implícitas que são caracterizadas pela reflexão, não
exigindo a atenção consciente;
b. as formas explícitas, que é a ação direta sobre o meio ambiente
e exige a atenção consciente.
8310. Fases e Processos Envolvidos na Aprendizagem
Da mesma forma que o desenvolvimento cognitivo se processa em
fases ou etapas, é preciso que exista uma sequência lógica dessas
fases para que ocorra a aprendizagem. A promoção da aprendizagem
deriva de processos concomitantes entre o estímulo e a resposta a este
estímulo.
Os eventos do dia a dia – a estimulação sensorial, a privação e o
aprendizado – afetam as conexões sinápticas onde os fatores sociais
modulam a estrutura biológica do cérebro, uma vez que é a atividade
cerebral que estará sendo modificada.
Embora existam ligações entre o que ocorre no cérebro e no
desenvolvimento intelectual, ainda não está claro nem definido o queEstímulo
Receptor
Gera o Impulso Elétrico
Reflexos
Sensibilidade
InconscienteSensação
Sensibilidade
ConscienteFibras Sensitivas
Conduz o Impulso Elétrico
SNC
Integração da
Mensagem Nervosa
Percepção
Experiência
Memória
PersonalidadeFisiologiaSensorialSubjetivaFisiologiaSensorialObjetiva
10. Fases e Processos Envolvidos na Aprendizagem
84essas ligações representam, ou quais conclusões educacionais podem
ser extraídos dessas uniões.
Os recursos mentais, como a aquisição da fala, a atenção seletiva, a
formação de conceitos, a aprendizagem de normas, enfim todos esses
processos cognitivos são fundamentais para a aquisição do
conhecimento.
Por essa razão, para que a criança compreenda, apreenda e aprenda
as informações que lhe são transmitidas, é necessário que ela esteja
apta a esse entendimento, comprovando um determinado grau de
maturação neurológica, fisiológica e psicológica.
Apesar da maturação e da aprendizagem serem processos diferentes,
ambos dependem da estimulação ambiental para que o SNC seja
ativado.
Enquanto na maturação o estímulo atualiza uma potencialidade própria
da espécie, a aprendizagem refere-se a um enriquecimento das
potencialidades e das características da espécie através do treino e das
condições de estimulação do meio em que o indivíduo vive.
A condição de aprendizagem está diretamente vinculada à fase de
desenvolvimento da criança. Não podemos exigir o que ela não pode
nos oferecer. Por isso é importante que todo conteúdo programático
seja feito respeitando a fase do desenvolvimento em que a criança se
encontra. Só assim poderemos aproveitar todo potencial que é inerente
ao ser humano.
A existência de diferenças individuais é fato incontestável: o tempo
interno de cada pessoa é único e é uma característica intrínseca a cada
indivíduo.
O cérebro, o comportamento e a cognição estão intimamente
relacionados uma vez que a estimulação de um desses elementos
impacta no outro provocando reação.
85Porém, em termos biológicos e psicológicos, existe um padrão que
aponta e define o desenvolvimento normal do ser humano.
A estrutura do organismo e seu funcionamento apresentam diferenças e
transformações em função do sexo, do tempo e da idade da criança,
fatores que interferem na aprendizagem.
Tanto no aspecto físico como no psicológico existe um padrão de
desenvolvimento.
Fisicamente espera-se que uma criança do sexo masculino com 7 anos
de idade, tenha uma estatura aproximada de 122,50cm, e que tenha
uma massa corpórea de 24,40kg.Sistema Nervoso
PeriféricoEsquema do Sistema NervosoO Cérebro, o Comportamento e a Cognição
Estímulos Externos Estímulos Internos
Células Receptoras em:
Pares Cranianos, Pele,
Sensibilidade ProfundaCélulas Receptoras em:
Glândulas e
Órgãos Internos
Sistema Nervoso
SomáticoSistema Nervoso
Autônomo
Sistema Nervoso
Central
(Encéfalo e Medula Espinhal)
Efetores:
Músculos EstriadosEfetores:
Glândulas e
Órgãos InternosSistema Nervoso
PeriféricoSistema Nervoso
SomáticoSistema Nervoso
Autônomo
10. Fases e Processos Envolvidos na Aprendizagem
86Sob o aspecto psicológico, espera-se que essa mesma criança tenha
movimentos fundamentais, consiga desenvolver atividades em grupo,
tenha capacidade em manter um diálogo e tenha uma independência
relativa; e que no aspecto mental, essa mesma criança seja dotada de
inteligência lógica e consiga realizar operações concretas, e
psicologicamente seja capaz de realizar operações que exijam
raciocínio lógico.
A aprendizagem não é uma situação singular, mas uma série de
situações consecutivas onde o repertório de resposta da criança
progride de respostas gerais para respostas específicas, que devem se
manifestar na solução de problemas e mudança de comportamento,
para que possamos concluir que o fenômeno da aprendizagem ocorreu.
O segmento da aprendizagem exige a retenção de hábitos ou de novas
informações, e como vimos anteriormente, a solução de problemas
baseia-se na fixação de cadeias de ideias. Segundo Ross [21, p. 36],
Gagné define que o ato da aprendizagem pode ser decomposto em fases
e processos distintos cada um com sua peculiaridade:
FASES ……………………………………………PROCESSOS
Motivação………………………………………..Expectativa
Percepção……………………………………….Atenção apreensão
Aquisição…………………………………………Interpretação seletiva
armazenagem
Retenção…………………………………………Memória de armazenagem
Evocação ………………………………………..Recuperação
Generalização ………………………………….Transferência
Desempenho……………………………………Resposta
Retração………………………………………….Reforço [21]
Cada fase corresponde a um processo e todos estão inter-relacionados:
forma-se um ciclo completo quando ocorre a aprendizagem, ou seja, a
mudança do comportamento.
Para entendermos a aprendizagem, descreveremos, a seguir, o
significado de cada fase associada ao processo que a desencadeia, e
ao grau de importância de cada uma delas para que o novo
comportamento seja instalado.
8711. Motivação
11.1. Definição de Motivação
A motivação é um dos temas que mais atrai as pessoas no estudo da
Psicologia. Existe uma necessidade de se entender o modo como o ser
humano se comporta, o que motiva as suas atitudes e ações e as
mantém.
Entende-se por motivação “ um esforço vitalizado, por oposição ao
esforço sem interesse ” [12, p. 63].
“Muitos especialistas resumem toda motivação humana em
autoconservação e autoexpansão. A síntese do que o homem busca
durante a vida é satisfazer-se dentro de um quadro referencial imediato
e ao mesmo tempo projetar-se em busca de um futuro melhor; ou seja,
manter-se e expandir-se ” [22, p. 61].
“Motivar significa predispor o indivíduo para certo comportamento
desejável naquele momento ” [20, p. 64].
Tudo que o homem realiza, pensa e sente tem sua origem nos motivos
básicos. A motivação está sempre presente como desencadeadora da
ação, seja por necessidade fisiológica, necessidade afetiva, social ou
intelectual.
Considerando as características inatas de cada indivíduo, a educação
que recebe no seio familiar, o modo como interage com o mundo que a
cerca, e como se relaciona consigo mesmo, encontramos a
diferenciação dos motivos básicos de autoconservação e autoexpansão,
uma vez que a determinação de objetivos que atendam às
necessidades do ser humano e a escolha do caminho para atingi-los
são individuais e pessoais. O homem sente-se bem quando está em
equilíbrio consigo mesmo e com o meio em que vive.
Segundo Mouly (op. Cit.p. 258-9) os motivos têm três funções
importantes:
1. Os motivos que acionam o organismo como um todo – na
tentativa de satisfazer uma necessidade (fome, sede, sono,
sexo, etc.) mantendo o organismo em atividade até que a
necessidade seja satisfeita e a tensão gerada desapareça.
2. Os motivos dirigem o comportamento para um objetivo
específico – os motivos dirigem o comportamento do indivíduo
para o objetivo mais adequado para satisfazer sua necessidade.
11. Motivação
88Então, não basta o organismo estar ativo, é fundamental que
sua ação seja dirigida para um objetivo determinado e
adequado.
3. Os motivos selecionam e acentuam as respostas corretas – as
respostas que satisfazem a necessidade serão aprendidas, e
repetidas em situações semelhantes.
O equilíbrio geralmente traz uma sensação de prazer, de satisfação,
enquanto que o desequilíbrio provoca tensão, ansiedade e angústia que
quando constantes, podem, inclusive, acabar levando a pessoa à
reação depressiva.
Todo comportamento humano pode ser entendido como uma busca
para atingir o equilíbrio. No entanto, no homem quando o equilíbrio
permanece em um mesmo estágio gera insatisfação, pois a
potencialidade humana exige concretização.
“O normal não é o repouso, mas a ação ” [22, p. 62].
O equilíbrio que o homem busca é sempre dinâmico, sendo que a todo
o momento está sendo rompido; o que acaba gerando um estado de
tensão que obriga o indivíduo a buscar uma nova solução para
readquirir a homeostase.
“Motivo refere-se, então, a um estado de tensão, uma impulsão interna,
que inicia, dirige e mantém o comportamento voltado para um objetivo.
Este objetivo é, muitas vezes, chamado de incentivo ” [22, p. 62].
No caso da aprendizagem, se o aluno não se sentir motivado não vai
aprender. Quando o aprendiz sente-se determinado, o comportamento
será sempre intencional, isto é, permanecerá sempre voltado para a
satisfação de sua necessidade.
No processo educativo é importante que os interesses e as
necessidades do professor coincidam com as do aluno, daí a
importância de falar-se a mesma língua. Para isso devemos adaptar o
material, o método de apresentação da matéria a ser ensinada, à fase
de desenvolvimento e ao nível da capacidade de compreensão do
aprendiz, para mantê-lo motivado e interessado.
Na situação de trânsito o motorista precisa sentir-se motivado a
obedecer às leis e as regras que garantem sua integridade física. Essedesequilíbrio tensão/impulso comportamento objetivo
(incentivo)
89processo de compreensão está diretamente vinculado ao processo da
aprendizagem. Quanto mais eficaz a educação maior o senso de
responsabilidade.
11.2. Tipos de Motivação
O termo motivação vem do Latim e significa mover. Em psicologia o
termo refere-se a força do organismo que influencia e orienta uma ação,
podendo ser de origem intrínseca ou extrínseca.
11.2.a. Motivação Intrínseca e Motivação Extrínseca
A motivação que liga a pessoa ao que ela realiza pode ser de ordem
intrínseca, quando o interesse reside na atividade em si; ou de ordem
extrínseca quando a atividade é vista como meio para atingir um
objetivo pré-determinado. Alguém pode cantar porque gosta, ou pode
fazer disso um meio de subsistência.
Essa separação, essa diferenciação é de grande importância para o
campo da educação, pois para que a aprendizagem se processe de
forma solidificada, a criança ou o jovem precisa gostar do que faz, ou
seja: estudar, aprender.
Se a participação nas atividades for prazerosa pode ativar e estimular o
próprio aluno a tornar-se o agente de sua própria educação. Para tanto,
insistimos, não podemos esquecer a idade do aluno e a fase do
desenvolvimento físico e mental em que se encontra de modo a
adequar a didática utilizada as suas necessidades e capacidades,
proporcionando a formação de hábitos, de atitudes e de habilidades
adequadas para a vida em sociedade, respeitando e obedecendo as
normas que o grupo impõe aos seus integrantes. Isso vale também para
o trânsito
A vivacidade torna-se cada vez mais complexa, à medida que tentamos
compatibilizar os diferentes interesses da pessoa, com os motivos
sociais. A vida social exige que o comportamento se molde a
determinadas normas, que estabelecem os limites.
Viver como se o outro não existisse, é no mínimo, irracional. Por outro
lado, sacrificar as necessidades em nome do grupo, é acumular
frustrações que acabarão por atingir à própria relação social.
No trânsito, pode surgir a situação de um motorista “ forçar ” a
ultrapassagem; permitir ou não que o outro siga seu caminho vai
depender do estilo da personalidade e de comportamento do condutor
que está sendo pressionado.
Como conseguir conciliar tudo? Vai depender da atitude do motorista
em questão, do seu grau de amadurecimento emocional, dos seus
interesses e da percepção que ele tem do mundo e do outro.
11. Motivação
90As normas e as regras existem para estabilizar essa dinâmica e não
para criar situações de conflito e desordem.
Quando uma necessidade não é satisfeita através dos recursos
disponíveis tanto de ordem interna como de ordem externa, o indivíduo
poderá sentir-se eternamente frustrado, e isso acaba gerando
ansiedade e consequentemente poderá levar à manifestação do
comportamento agressivo, recorrente da frustração sentida.
Segundo Sigmund Freud, sempre que um objetivo é frustrado, a
resposta é agressiva, no sentido de destruir o obstáculo. Muitas vezes
haverá conflito entre o motivo e o objetivo. A satisfação ou realização do
indivíduo em relação a sua meta dependerá muito da resposta que vai
emitir, ou seja, um comportamento que atenda a atinja o seu alvo no
momento de sua necessidade e que alcance a sua realização
posteriormente.
Por exemplo, a criança pode ter interesse em determinada aula e em
determinada matéria; e por ter interesse prestar mais atenção e
consequentemente aprende mais. O professor tem que estar atento se
ao seguir a exposição da aula, o aluno vai satisfazer as suas
necessidades, os seus motivos de atividade mental e social (aprovação
por parte do professor), para que seu interesse seja mantido.
11.3. Implicações da Motivação na Aprendizagem
Todo comportamento tem, como alvo, o equilíbrio, a homeostase.
A aprendizagem e a educação modificam e harmonizam os impulsos
naturais com a intervenção da razão e das regras sociais, promovendo
este ajuste de modo prazeroso.
Porém, o equilíbrio não implica e nem faz da aprendizagem um
processo estático e imutável; ao contrário, ele é dinâmico. A todo o
momento estamos expostos à estimulação tanto do meio externo como
do meio interno, e isto significa que estamos constantemente em uma
luta firme pelo nosso equilíbrio.
No processo de desenvolvimento, percebemos que o homem não fica
satisfeito com situações estáticas, que não apresentam mudanças ou
desafios. Sua capacidade e potencialidade exigem ação, concretização.
A todo o momento, nosso equilíbrio está sendo rompido, e isso gera
certo grau de tensão, uma reação episódica, uma neurose provocada
pela luta entre estes estímulos de cunho externo e interno.
Este desequilíbrio é o impulso, o incentivo, enfim, a mola propulsora
para pelejarmos na busca de atingirmos os nossos objetivos. Após
alcançarmos nossas metas, a tendência da tensão é desaparecer e em
seu lugar surgir o reestabelecimento do equilíbrio, a homeostase, que
resumindo seria a probabilidade da própria vida que se mantém e se
propaga.
91Ponderando que o desenvolvimento humano é uma sucessão de
diversos aspectos (biológico/psicológico/social) temos que considerar o
desdobramento dos motivos básicos entre uma série de outros.
Para Maslow, [21]as necessidades dos seres humanos obedecem a
uma hierarquia, uma escala de valores a serem transpostos
diariamente.
Assim, a cada necessidade satisfeita, surgirá outra em seu lugar,
mantendo o homem em constante e incessante ação. Maslow
apresentou uma teoria da motivação segundo a qual as necessidades
humanas estão organizadas e dispostas de acordo com uma hierarquia
de importância e de influência, em cujo apoio se encontra as
necessidades mais básicas (fisiológicas) e no topo, as mais elevadas
(relativas à auto realização)
Necessidades de Auto-Realização: autoatualização, moralidade,
criatividade, espontaneidade, aceitação, finalidade da
experiência, propósito, desenvolver seus conhecimentos e seus
valores.
Necessidades de Auto-Estima: confiança, empreendimento,
respeito dos outros e de si mesmo, prestígio, independência,
necessidade de ser um indivíduo único, sentimento de ser útil e
de ter valor, conservar sua identidade.
Necessidades Sociais: amizade, família, intimidade, ser amado,
ouvido e compreendido, ser estimado, fazer parte de um grupo,
ter um status.
Necessidades de Segurança: saúde, trabalho, propriedade,
família e estabilidade social, sentir-se seguro, confiar.
11. Motivação
92Necessidades Fisiológicas: fome, sede, sobreviver, sexualidade,
respirar, água, alimento, eliminação, moradia, roupas, repouso,
sono.
Abraham Maslow atraiu, para a psicologia que havia fundado, outros
autores e estudiosos da motivação humana, agregando, ainda seus
estudos sobre a pirâmide das necessidades humanas.
Para ele, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que
se satisfaçam as necessidades de segurança.
Estas, se satisfeitas, abrem campo para as necessidades sociais, que
quando resolvidas, abrem espaço para as necessidades de autoestima.
Se uma destas necessidades não está extinta, gera a incongruência
que leva ao conflito.
Quando todas as necessidades estiverem de acordo, abre-se espaço
para a autorrealização, que é um dos aspectos do sentimento de
felicidade do indivíduo. Esta é hoje a terceira grande força dentro da
psicologia.
Pensando no homem, vamos analisar algumas dessas necessidades e
suas consequências em termos comportamentais, correlacionando sua
influencia sobre a ação do motorista:
11.3.a. Comportamentos fisiológicos
Os comportamentos fisiológicos, como o próprio nome diz, referem-se
ao funcionamento do organismo de modo geral. A sensação de sono,
por exemplo, gera um estado de tensão, que é representado por
sintomas como o cansaço, alteração da capacidade sensório
perceptual, além de afetar a atividade motora voluntária. A temperatura
corporal sofre mudanças, comprometendo o funcionamento geral do
organismo, produzindo uma sensação desagradável, além de diminuir
sensivelmente os reflexos do condutor.
Essa sensação de desconforto impulsiona o motorista ao
comportamento de buscar uma solução para esse problema, como
encontrar um local para repousar, locomovendo-se para satisfazer sua
necessidade.
No caso do motorista essa sensação desagradável pode causar
irritabilidade e desatenção no trânsito, tornando sua direção perigosa. O
foco de sua concentração é desviado do meio externo (tráfego) para o
meio interno (sono).
O corpo humano tem características e limitações de ordem puramente
fisiológica como a força muscular, resistência ao stress e a doenças de
um modo geral, necessidade de tempo de sono, tempo de trabalho e de
descanso, etc. Cada pessoa tem seu limite e conhece seu corpo. Todos
93esses fatores podem comprometer seriamente o tempo de reação do
indivíduo.
Para o trânsito o tempo de reação ou o reflexo é importante para
prevenção de acidentes. Por exemplo, quando um motorista avista uma
situação de perigo precisa reagir com precisão e rapidez para evitar o
acidente (desviar, frear, ou realizar qualquer outra manobra). Em
condições de stress elevado, esse tempo pode aumentar e muito
tornando os reflexos mais lentos e mesmo a acuidade visual pode ser
afetada e diminuída.
Segundo os estudos, mais de 90% de todas as nossas ações são
controladas pela visão. Para que nosso organismo funcione
adequadamente, precisamos estar atentos à sua necessidade e
solicitação de satisfação, ou seja, observar com atenção o motivo de
desequilíbrio temporário do nosso organismo.
Os motivos ativam o organismo e levam o indivíduo a uma atitude, na
tentativa de satisfazer suas necessidades. Qualquer necessidade gera
tensão e desequilíbrio.
“Os motivos mantêm o organismo ativo até que a necessidade seja
satisfeita e a tensão desapareça ” [23, p. 64].
Como foram citados anteriormente, os comportamentos fisiológicos
podem ser afetados pela fadiga, pelo uso de drogas, como o álcool e o
fumo, por doenças e pelas condições ambientais como: temperatura,
muitas horas de trabalho consecutivo, ruído, etc. Todos esses fatores
podem afetar a condição psicológica do indivíduo tornando-o um
motorista perigoso e acidentógeno.
11.3.b. Comportamentos Sensoriais
De um modo geral estes comportamentos estão ligados ao
funcionamento dos sentidos.
“É a soma dos fatores que estimulam os órgãos dos sentidos da pessoa
que aprende ” [20, p. 33].
Segundo a classificação de Jordan , os comportamentos sensoriais
podem ser respostas a estímulos orgânicos (procura de alimento), ou
respostas aos objetos do ambiente: vocalização, placas de sinalização
e/ou respostas a nossos semelhantes (rivalidade, combate,
cordialidade).
O excesso de luminosidade, o barulho das avenidas e rodovias, a
temperatura, são fatores que interferem no comportamento geral do
indivíduo e também no ato de dirigir. Vários estudos realizados já
11. Motivação
94comprovaram que a lassidão e a monotonia, podem levar o motorista a
envolver-se ou provocar acidentes. A tensão, gerada nessa
circunstância de uniformidade pode ser provocada pela ausência de
fatores estimulantes, podendo tornar a atividade em trânsito invariável.
No caso do motorista, uma estrada longa e reta, pode levar ao tédio
afetando sua capacidade de atenção e concentração, diminuindo os
reflexos. A esta situação os estudiosos do trânsito denominaram de
“Hipnose Rodoviária ”, onde o motorista dirige como se fosse um robô.
Está com os olhos abertos, mas alheio a tudo.
11.3.c. Comportamentos de Atividade Física
Caspersen em 1985 definiu a atividade física como sendo: " qualquer
movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que
resulte em gasto energético maior que os níveis de repouso " [24], ou
comportamento que gere um estado de relaxamento. Dirigir por horas
consecutivas, sem parada e sem descanso, exige um esforço físico
gigantesco.
Ficar sentado na mesma posição, executando os mesmos movimentos
por longo espaço de tempo, além de exigir um gasto energético maior,
estressa e afeta o bom funcionamento do sistema musculoesquelético,
podendo causar câimbras. Por isso recomenda-se que a cada 3 ou 4
horas o motorista pare o veículo, desça e dê uma “ boa espreguiçada ”
para relaxar e estender a musculatura.
Essa simples atividade física faz com que o motorista extravase a
energia contida e acumulada no organismo, provocando uma sensação
de bem estar.
Ao liberar a tensão, o motorista torna-se menos tenso, menos ansioso,
garantindo a manutenção da saúde e ao mesmo tempo melhorando a
mobilidade além de promover o conforto físico e psicológico.
11.3.d. Comportamentos Relacionados à Atividade Mental
O pensamento é fruto da nossa atividade mental. A atividade mental
está relacionada diretamente a operosidade e ao funcionamento da
inteligência. Ao pensar o homem concretiza uma atividade. O ato de
pensar consente que o homem transforme as situações que vivencia, e
lide com as mesmas de um modo mais efetivo atendendo às suas
necessidades e aos seus desejos.
Segundo Piaget, para o processo de aprendizagem, a capacidade de
pensar é fundamental; sendo o alicerce do conhecimento. Sem o
pensamento não nos conscientizamos dos fatos e das situações que
nos envolvem. O pensar nos permite perceber e ao mesmo tempo
imaginar como poderemos agir dentro da realidade dos acontecimentos.
É uma forma de mantermo-nos presos à realidade.
95Em uma análise mais abrangente podemos considerar que o
pensamento tem a função de ser o crítico avaliador da realidade.
A memorável frase de Descartes é válida até os dias atuais: “ Penso,
logo existo ”.
Quando as questões ou os problemas não são resolvidos geram tensão,
e impulsionam o indivíduo a perguntar, a prestar mais atenção e a
refletir. O homem só se satisfaz quando consegue resolver um
problema, entender uma questão, constatar a lógica de uma situação.
A direção veicular abarca uma série de estímulos cognitivos, sendo uma
atividade complexa exigindo do condutor uma capacidade para analisar,
sintetizar e resolver uma situação adversa, de modo que seu
comportamento e sua atitude sejam eficientes e traga um bom resultado
efetuando rápida precisamente a manobra adequada.
11.3.e. Comportamentos Sociais
O comportamento social pode ser definido como sendo a ação
orientada com o objetivo de estabelecer uma interação com outros
membros que pertencem a mesma espécie.
O comportamento social engloba um significado dentro de um contexto
social provocando reações de outras pessoas, sendo uma forma de
comunicação entre os seres.
Os comportamentos sociais referem-se às implicações da vida gregária
do homem aludindo à necessidade do convívio em grupo, e à
necessidade da socialização.
A aceitação social é um dos objetivos mais caros ao indivíduo [22, p.
63].
O homem nasceu para viver em grupo e não isoladamente, sendo que
esse processo pode ser explicado pelos três aspectos que definem essa
necessidade, como segue:
Motivos Comportamento Objetivos
Auto-conservaçãofisiológicos comida, bebida, alívio do
desconforto
sensoriais objetos coloridos,manipulação
Auto-expansãoatividade física brincadeiras, jogos
atividade mental entendimento de uma questão
sociais aprovação, atenção, afeto [25]
Pelo relato anterior, podemos observar que, Maslow descreveu muito
bem o comportamento motivacional com base nas necessidades
11. Motivação
96humanas. Os estímulos podem ser de origem interna ou externa, agindo
com força sobre o indivíduo e levando-o à ação.
Esta teoria denota que a motivação tem um ciclo que foi denominado de
“Ciclo Motivacional ”, ou seja, quando o ciclo não se realiza ou não se
completa, surge a frustração, que pode levar o homem a se manifestar
das seguintes formas:
1. comportamento ilógico ou fora da normalidade;
2. agressividade por não poder dar vazão à insatisfação contida;
3. nervosismo, insônia, distúrbios circulatórios / digestivos;
4. falta de interesse pelas tarefas ou objetivos;
5. passividade, moral baixo, má vontade, pessimismo, resistência à
modificação, insegurança, falta de colaboração, etc..
De acordo com o que vimos sobre a Escola Behaviorista, acredita-se
que a aprendizagem se realiza quando mediante uma resposta
manifestada ocorre a apresentação de um estímulo, que tem a função
de recompensa.
Portanto, às respostas adequadas será dado um reforço positivo, com a
intenção de garantir a manutenção daquele comportamento até que ele
se torne um hábito incorporado ao repertório comportamental do
indivíduo; e para as respostas Inadequadas será dado um reforço
negativo, – “ punição ” – com o intuito de que aquela resposta seja
minimizada ou mesmo extinta e não faça parte do comportamento do
indivíduo.
Dessa forma, ocorre uma associação entre o estímulo e a emissão da
resposta que visa a recompensa. Toda vez que a criança emitir um
comportamento adequado haverá a expectativa da sucessão de algum
evento desejável. Essa expectativa motivará o aprendiz na
manifestação de respostas e comportamentos adequados, ou seja,
comportamentos assertivos.
Conforme a criança vai se desenvolvendo, o tipo de reforço também
deve ser adaptado a fase evolutiva, visando a manutenção da
motivação do indivíduo.
Em um primeiro momento, o reforço deve ser concreto, de modo que a
criança possa vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, senti-lo (doces, toque físico,
abraço, beijo, aplauso, etc.).
É desse modo que ela conquista gradualmente a sua capacidade de
abstrair, passando a dar uma importância maior ao reforço verbal e ao
reconhecimento social, devido à mudança concomitante de seus valores
internos no decorrer da sua evolução.
O homem por natureza é um ser sociável, não nasceu para viver
isolado. Desde que nasce, o indivíduo já está inserido em um grupo: a
97família, e por toda sua vida sempre estará participando, interagindo
dentro de grupos sociais, como, por exemplo, escola, trabalho, amigos.
O trânsito também é um grupo social, pois quando estamos no tráfego,
estamos interagindo com os demais usuários do sistema. A forma como
nos comunicamos com os integrantes desse grupo em especial, denota
quais são as nossas necessidades e como é a nossa personalidade.
9912. Percepção e Atenção
Na língua portuguesa, define-se a palavra “ perceber ” como adquirir
conhecimento por meio dos sentidos ou da inteligência. (Silveira
Bueno).
A percepção do meio depende de como o SNC e os nossos órgãos dos
sentidos detectam o estímulo e como o nosso cérebro interpreta e
arquiva essas informações para uso posterior, o que exige atenção,
organização, discriminação e seleção.
Sentidos Inteligência Arquivo
Órgãos dos sentidos Interpretação Memória
Percepção é a função cerebral que atribui significado aos estímulos
sensoriais, a partir do histórico das vivências passadas.
Através dela, o indivíduo organiza e interpreta as suas impressões
sensoriais para atribuir um significado ao seu meio.
A percepção consiste na aquisição, interpretação, seleção e
organização das informações obtidas pelos sentidos, podendo ser
estudada do ponto de vista estritamente biológico ou fisiológico,
envolvendo estímulos elétricos evocados pelos estímulos nos órgãos
dos sentidos. Do ponto de vista psicológico ou cognitivo, a percepção
envolve também os processos afetivos, mentais, a memória e outros
aspectos que podem influenciar na interpretação dos objetos
percebidos.
Os órgãos receptores são os músculos, a pele e as articulações que
percebem uma mudança física ou química no organismo e transformam
a percepção em impulsos que percorrem o neurônio sensorial.
O neurônio sensorial transmite os impulsos recebidos até o sistema
nervoso central, que ativa o órgão executor para que o comportamento
seja manifesto.
A apreensão refere-se à percepção da imagem como um todo.
“A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a
discriminação, mas também a capacidade de distinguir entre sons e
imagens, bem como a capacidade de organizar e arranjar a sensação
captada em um todo significativo, desenvolvendo a capacidade de
estruturar a informação que está sendo recebidas ” [26, p. 46].
12. Percepção e Atenção
10012.1. O estudo da percepção
A percepção é um dos campos mais antigos dentro da pesquisa
psicológica, pois abrange tanto a esfera cognitiva como a fisiológica e a
emocional.
Por se tratar de uma característica individual abrangente, foram
desenvolvidas várias teorias quantitativas e qualitativas para sua
mensuração, onde os pioneiros nesse estudo foram Hermann Von
Helmholtz, Gustav Theodor Fechner e Ernst Heinrich Weber.
A Lei de Weber-Fechner é uma das teorias mais remotas da psicologia
experimental e institui as relações existentes quantitativamente entre a
magnitude do estímulo físico mensurável por instrumentos específicos e
a conexão do efeito percebido pelo sujeito por meio de sua narração.
A percepção foi objeto de estudo da filosofia do conhecimento e da
epistemologia em uma tentativa de procurar entender o seu efeito sobre
a gnose e a aquisição de informações do mundo interno e externo.
De modo geral o sentido visual é o mais importante para o ser humano
e em consequência disso a percepção foi a base para a criação de
várias teorias científicas e filosóficas haja vista que a fenomenologia e o
existencialismo basearam toda a sua teoria na forma como o indivíduo
percebe o mundo.
Um exemplo clássico da deturpação da percepção são as figuras
ambíguas, onde cada sujeito percebe formas diferentes, atribuindo
sentido diferente para o mesmo desenho, como mostram as tradicionais
figuras gestálticas que seguem:
Algumas ilusões de óptica tem como base esse tipo de percepção
ambígua. As imagens equívocas são exemplos de percepção mutável
ao permitir que se vejam objetos diferentes de acordo com nosso
estado de ânimo e da interpretação que fazemos da figura ou objeto.Autoconservação
Imagem ambígua. O animal da
figura pode ser um coelho ou um
pato
101Na apresentação de uma "imagem mutável", não é o estímulo visual
que muda, mas sim a interpretação que se faz do estímulo proposto.
Da mesma forma que um mesmo objeto pode dar margem a múltiplas
percepções, também pode acontecer que um objeto não gere nenhuma
percepção. Se o objeto percebido não tiver um significado na realidade
da pessoa, expressamente falando, ela pode não percebê-lo,
simplesmente o ignora.
Esse dado sobre a deturpação na percepção é importante, pois indica
como o indivíduo se relaciona com a realidade, como ele percebe e
transforma o mundo em que vive.
Na psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância uma
vez que o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que
fazem da realidade segundo seus critérios de percepção, e não da
realidade em si.
Por este motivo, entendemos que a percepção do mundo torna-se
diferente entre os indivíduos, pois cada pessoa percebe um objeto ou
uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância
ou são mais significativos para si próprios.
Muitos psicólogos cognitivos e filósofos de diversas escolas sustentam
a tese de que, ao transitar pelo mundo, as pessoas criam um modelo
mental de como o mundo funciona criando paradigmas para entender e
tentar se adaptar a ele. Ou seja, elas sentem o mundo real, mas o mapa
sensorial que isso provoca na mente é provisório, da mesma forma que
uma hipótese científica é provisória até ser comprovada ou refutada ou
ainda até que novas informações sejam acrescentadas ao modelo
estabelecido. À medida que adquirimos novas informações, nossa
percepção vai sofrendo alterações.
Vários experimentos com a percepção visual demonstraram que é
possível compreender a mudança na percepção quando o indivíduo
adquire novas informações. Esse detalhe pode ser claramente
observado na teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo
e suas respectivas fases.
No trânsito, cada nova informação, cada novo aprendizado deve levar o
condutor a ter um comportamento mais adequado e assertivo, no
sentido de tornar o trânsito mais seguro.
A maneira como percebe e sente o mundo será refletida na condução
do veículo; se sente o mundo como uma ameaça sua maneira de dirigir
o veículo será agressiva em uma tentativa de defender-se da
intimidação que sente.
Quando o objeto ou a informação não faz parte da realidade daquele
indivíduo, simplesmente ele não é capaz de diferenciar esses estímulos
dos demais, sendo diluídos no meio sem que isso possa ser
interpretado como um dado a ser considerado.
12. Percepção e Atenção
102No processo da formação do condutor as sinalizações de trânsito
devem ser apresentadas de modo que tenham um significado e passem
a fazer parte do cotidiano do motorista, para que quando o sinal se
apresentar ele seja capaz de percebê-lo e interpretá-lo, obedecendo às
normas e as leis de trânsito.
Nas ruas, avenidas e rodovias os condutores esperam encontrar as
placas e as sinalizações de trânsito, e por essa razão elas se tornam
prontamente visíveis, mesmo que sejam apenas alguns pontos no
horizonte. Em situação contrária é fácil imaginar o caos que se instalará
caso as normas, as leis e as regras não sejam significativas para o
condutor.
Tem-se considerado cada vez mais a importância da condição física e
emocional do indivíduo que observa durante o ato da percepção, de
modo que o mesmo interprete as informações dentro da realidade.
A presença e a condição do observador podem modificar o fenômeno
uma vez que as percepções são consideradas normais quando
correspondem realmente àquilo que o observando vê, ouve e sente.
Contudo, se o indivíduo estiver com algum problema em qualquer uma
das esferas, a percepção pode ser ineficaz e produzir ilusões dos
sentidos deturpando o sentido real da situação.
10313. Fatores que podem influenciar a percepção
O processo perceptivo é iniciado pela atenção que nada mais é do que
uma observação seletiva realizada pelo indivíduo. Esta seleção faz com
que apenas alguns elementos sejam percebidos em detrimento de
outros.
Os fatores que influenciam a atenção são vários e estão agrupados em
duas categorias distintas:
1. dos fatores externos (próprios do meio ambiente) e
2. dos fatores internos (próprios do organismo: os órgãos dos
sentidos).
Cada um dos cinco órgãos dos sentidos tem uma relação direta com
uma parte específica do cérebro. O funcionamento mental forma um
conjunto de funções que torna viável nosso relacionamento com o meio,
tanto interno como externo. É por meio dos sentidos que percebemos
tudo o que está ao nosso redor e dentro de nós, e de acordo com as
nossas sensações atribuímos um significado que assegura a nossa
sobrevivência e integração com o ambiente.
No processo de avaliação psicológica do condutor é necessário
verificar-se através da utilização dos instrumentos adequados, se esses
sentidos estão funcionando adequada e harmoniosamente para que o
futuro motorista possa perceber e interpretar as informações de maneira
realística para integrar-se satisfatoriamente ao sistema trânsito,
garantindo uma atitude colaborativa e adequada para sua segurança e
do sistema como um todo.
13.1. Fatores Externos que Agem e Interferem na Percepção
Um dos fatores externos mais importantes para a atenção é a
intensidade da incitação, uma vez que para despertar nossa atenção é
preciso que os estímulos se apresentem com um limiar de intensidade
suficiente para estimular o nosso sentido.
Esses estímulos no trânsito podem ser de origem térmica, visual,
auditiva, e eventualmente olfativa.
Isso pode justificar o fato das sirenes das ambulâncias terem um som
insistente e alto, quando pedem passagem. Outros estímulos, como
carros buzinando incessantemente, motoristas gritando, freadas
bruscas, são fatores externos que também direcionam nossa atenção.
13. Fatores que podem influenciar a percepção
104Outro fator importante é o contraste existente na figura, ou seja, nossa
atenção será muito mais aguçada quanto maior for a diferença existente
entre as estimulações, como acontece, por exemplo, com os sinais de
trânsito que são pintados com cores vivas e contrastantes.
O movimento também constitui um elemento importante para despertar
a vigilância, por exemplo, nossa atenção é estimulada mais facilmente
quando os objetos visualizados estão em movimento do que aqueles
que são estanques. É mais fácil percebermos alguém que está andando
na rua tentando atravessar, do que alguém parado em um ponto de
ônibus, por exemplo.
Outro aspecto importante para a atenção é a incongruência, ou seja, às
coisas absurdas e bizarras despertam muito mais a atenção do que
aquelas tidas como normais, por exemplo, na rua prestamos mais
atenção a uma pessoa empurrando um veículo do que no condutor que
transita normalmente, ou em um outdoor de propaganda onde aparece
uma mulher de bigode, por exemplo.
13.2. Fatores Internos que Atuam e Interferem na Percepção
Os fatores internos considerados importantes para despertar a atenção
são:
1. motivação, uma vez que nossa tendência maior é canalizarmos
mais intensamente nossa atenção a tudo que consideramos
mais significativo e que nos dá prazer, do que às coisas que não
nos interessam;
2. a experiência anterior, ou em outras palavras, a força do hábito
faz com que prestemos mais atenção ao que já conhecemos e
entendemos do que a fatores novos que vão exigir uma nova
avaliação e uma nova significação. É a lei do menor esforço. O
hábito pode levar ao comodismo, ao automatismo, e nesse
aspecto a introjeção adequada das leis e das normas de trânsito
são fundamentais para garantir uma direção tranquila; e
3. por último o fenômeno grupal que explica a nossa natureza
social, fazendo com que pessoas de contextos sociais diferentes
não tenham a mesma atenção aos mesmos objetos, por
exemplo, Indivíduos que possuem a carteira de habilitação,
estão mais interessados em observar às normas e as regras de
trânsito mesmo que estejam conversando ao volante, se
comparados àqueles que ainda não são habilitados. A
importância que atribuímos ao objeto pode ser explicada pela
Gestalt em seu exemplo costumeiro da representação de figura
e fundo.
105No que se refere à percepção de profundidade, sabe-se que ela incide
graças à interação da acomodação do cristalino que é uma espécie de
lente natural para focarmos adequadamente os objetos e a
convergência da visão, isto é, a posição perceptiva sofre alteração
sempre que olhamos para objetos que estão situados em distâncias
diferentes.
Os fatores ambientais mais característicos do meio ambiente e que
interferem na percepção são o princípio do contraste luz-sombra, onde
as partes mais iluminadas dos objetos tornam-se mais relevantes do
que as que recebem pouca luz, e também a observância da grandeza
relativa dos objetos, ou seja, a profundidade é representada pela
variação do tamanho e da distância entre os objetos. Quanto mais
distantes os objetos estiverem menores nos parecerão do que aqueles
que estão mais próximos.
Para o trânsito esse a percepção de profundidade é fundamental para
evitar e/ou envolver-se em acidentes, pois ajuda o motorista a situar-se
melhor dentro do tempo e do espaço.
Princípio da Percepção
Princípio da figura e fundo. Percebe-
mos um vaso ou duas faces se entre-
olhando, dependendo da escolha do
que é figura (o que nos interessa e
motiva) e o que é fundo (o que não
tem significado para nós).
10714. Tipos de Percepção
O estudo da atenção proporcionou a distinção entre alguns tipos
principais de percepção. Sabemos que nos seres humanos, as formas
de percepção mais desenvolvidas são a percepção visual e a auditiva,
visto que durante muito tempo foram fundamentais para a sobrevivência
da espécie, tendo em vista que os homens utilizavam esses sentidos
para serem bem sucedidos na caça e na sua proteção contra outros
predadores.
Devido ao acentuado desenvolvimento da visão e da audição as artes
plásticas e a música foram as primeiras a serem desenvolvidas por
todas as civilizações, antecedendo até mesmo a invenção da escrita.
As outras formas de percepção, como a olfativa, gustativa e tátil,
embora não estejam diretamente associadas à sobrevivência, têm um
papel importante na afetividade e na reprodução humana.
Além do incremento da percepção vinculada aos cinco sentidos, os
homens possuem também a capacidade de percepção temporal e
espacial, fatores importantes para a locomoção e deslocamento dos
indivíduos principalmente no trânsito de um modo geral.
Por exemplo, um condutor ao planejar uma ultrapassagem precisa ter
uma boa orientação têmporo-espacial para poder calcular a distância a
ser percorrida e a velocidade que será dada ao veículo calculando o
tempo que terá para concluir a ultrapassagem de forma segura para
evitar acidentes.
Vejamos os tipos de percepção que podemos ter e quais são suas
características.
14.1. Percepção visual
Os olhos são os órgãos responsáveis pela nossa visão, sendo um dos
sentidos principais que nos permite conhecer e perceber o mundo.
14. Tipos de Percepção
108O Sistema Óptico é formado por um complexo esquema fisiológico
composto pelos globos oculares (olhos), nervos ópticos, corpos
geniculares laterais e as áreas de visões, que nos permitem decifrar não
somente a impressão da cor, como também a noção de profundidade, a
textura do objeto, o tamanho, seu movimento.
Os globos oculares são responsáveis pela captação dos raios
luminosos e sua transformação em impulsos que serão interpretados
pelo cérebro, denominados de receptores das imagens, formados pela
córnea, íris, retina, dando forma à imagem.
É na retina, uma membrana ocular interna, que estão situadas as
células nervosas, os bastonetes e os cones que recebem os estímulos
luminosos, onde se projetam as imagens produzidas pelo sistema
óptico.
Uma boa visão é essencial para uma direção segura.
14.2. Percepção Auditiva
A percepção auditiva envolve vários aspectos do nosso organismo para
a recepção e a interpretação dos estímulos sonoros aos quais somos
submetidos. Esses estímulos são enviados para nosso SNC e
processados formando uma imagem mental sobre o sinal acústico que
recebemos. Esse sinal deve ter uma vibração e uma amplitude mínima
suficiente para excitar nosso órgão sensorial.
Neste tipo de percepção podemos identificar algumas habilidades
importantes para a audição como, por exemplo, a identificação do som,
a diferenciação, o posicionamento, o reconhecimento, a compreensão,
além da atenção e da memória.
109Todos esses elementos fazem parte do processamento auditivo
envolvendo a verificação do sinal acústico recebido, dando suporte para
a integração e a informação que são transformados em modelos.
Diferentemente da visão, a audição não tolera estímulos desagradáveis.
Caso o ouvido seja exposto a intervalos repetitivos com longa duração
de sons desagradáveis pode causar desconforto e irritabilidade ao
ouvinte.
A audição refere-se à percepção dos ruídos e dos sons. A psicologia, a
acústica e a psicoacústica estudaram a forma como os seres percebem
e reagem aos fenômenos sonoros e constataram que a música tem um
papel importante sendo aplicada com sucesso, nos tratamentos através
da musicoterapia.
A percepção auditiva é importante para o trânsito, pois permite ao
motorista reconhecer e localizar a procedência do som, como por
exemplo, a sirene de uma viatura policial (procedência externa) ou
eventualmente algum tipo de problema mecânico (proveniente do
veículo). Ao ouvir a sirene, identifica que tipo de veículo é; a distância
que se encontra do seu veículo e de que lado virá para ultrapassar.
14. Tipos de Percepção
11014.3. Percepção Olfativa
O olfato é a percepção dos odores sendo um dos sentidos
moderadamente fugaz nos humanos, mas trata-se de um sentido
importante para a alimentação, pois colabora para distinguirmos os
sabores que estão em nossa boca.
A memória olfativa também tem uma grande importância para a
afetividade.
Nos seres humanos e nos demais animais superiores, o órgão olfativo
se forma a partir de um espessamento epidérmico situado na região
etmoidiana do crânio. A neurorrecepção somente será ativada após as
moléculas das substâncias odoríferas serem dissolvidas no muco que
recobre a membrana pituitária (epitélio olfativo).
Em alguns animais, como por exemplo, nos cães, a percepção olfativa é
muito mais exacerbada e tem uma capacidade de discriminação e
alcance muito maior do que nos seres humanos.
Esse tipo de percepção tem uma importância significativa para o trânsito
uma vez que ajuda a detectar possíveis vazamentos de combustível,
desgaste das pastilhas de freio, e assim por diante.
14.4. Percepção Gustativa
O paladar é a percepção aguçada dos sabores e é realizada pela língua
sendo muito importante para o processo da alimentação.
Assim como o olfato, o paladar geralmente está associado ao prazer e
aos aspectos nutritivos dos alimentos. O principal fator desta
111modalidade de percepção é a discriminação entre os sabores, as
texturas e as temperaturas dos alimentos.
Os pontos receptores que fazem parte desse sentido são as células
chamadas de papilas gustativas que se espalham por toda a língua
formando concentrações diferentes.
Esse tipo de percepção também não tem nenhum significado para o ato
de dirigir.
14.5. Percepção Tátil
O tato é sentido pela pele em toda sua extensão e permite reconhecer a
presença, a forma e o tamanho, a textura dos objetos em contato com o
corpo além de fornecer também sua temperatura.
Além disso, o tato é um sentido importante para o posicionamento do
corpo dentro do espaço e do tempo auxiliando na proteção e na
integridade física.
O tato não é um sentido distribuído uniformemente pelo nosso corpo.
Os dedos das mãos têm uma capacidade discriminativa muito maior
que as demais partes do corpo, enquanto outras partes são mais
sensíveis ao calor. O tato tem um papel muito importante para a
afetividade e para o sexo.
Para o trânsito esse tipo de percepção não é significativo.
14.6. Percepção Temporal
Desde o século XIX até os dias atuais, a percepção temporal despertou
grande interesse e tem sido objeto de vários estudos filosóficos,
cognitivos e físicos, como também tem instigado os pesquisadores para
descobrir e explicar o funcionamento do cérebro.
14. Tipos de Percepção
112Não existe nenhum órgão físico específico para a percepção e
mensuração do tempo, no entanto sabemos que todas as pessoas são
capazes de perceber e sentir sua passagem.
Segundo o psicólogo Paul Fraisse , um estudioso francês, é imperioso
que os homens sejam capazes de discernir a duração relativa do tempo,
percebendo e discriminando a diferença do espaço entre um tempo de
curta duração (alguns segundos) e um tempo de longa duração
(algumas horas).
Para o trânsito, esta é uma das capacidades mais definitivas para se
conseguir evitar acidentes, tanto para motoristas, como para
motoqueiros, ciclistas e para pedestres.
No que se refere aos motoristas a noção do tempo é fundamental para
a programação de uma manobra perigosa, por exemplo. Quando
observa o buraco à sua frente o condutor tem que calcular quanto
tempo e a distância a ser percorrida, qual a velocidade que deverá
imprimir ao seu veículo, para poder desviar com segurança. A mesma
regra se aplica ao motoqueiro e ao pedestre que pretende atravessar
uma rua ou avenida.
O transeunte deve ser capaz de observar o veículo que está vindo,
pressupor a velocidade que está desenvolvendo e calcular a distância a
ser percorrida; computar a rapidez que deverá caminhar para atravessar
a rua. Essa capacidade perceptiva pode ser a diferença entre ser
atropelado ou não.
14.7. Percepção Espacial
Assim como a percepção temporal, nosso cérebro não possui um órgão
específico para a percepção espacial, porém as distâncias entre os
objetos podem ser efetivamente aquilatadas. Esse processo envolve a
percepção da distância e do tamanho referente aos objetos observados.
O pretexto para distinguir a percepção espacial dos outros tipos de
percepção baseia-se no fato de que aparentemente a percepção
espacial é compartilhada pelas outras modalidades utilizando elementos
das percepções: auditiva, visual e temporal.
Assim, por exemplo, na percepção espacial podemos distinguir se um
som está se aproximando ou se afastando de nós.
A percepção temporal e espacial está vinculada diretamente à formação
do esquema corporal, pois é através da percepção do nosso próprio
corpo que nos situamos dentro do tempo e do espaço.
A mesma importância que atribuímos à noção da percepção do tempo,
atribuímos também à noção da percepção do espaço para que o
motorista possa ser capaz de evitar acidentes e conduzir com
velocidade e distancia segura em relação ao veículo da frente se
113precisar desviar ou frear repentinamente sem provocar ou envolver-se
em acidentes ou colisões.
Para os pedestres a noção de espaço e tempo é a sua segurança na
hora de atravessar uma rua ou avenida. Ao observar o movimento do
veículo e a largura da rua que ira atravessar, o pedestre tem que ser
capaz de calcular o ritmo que terá que imprimir aos seus passos ou se
deve correr para atingir o outro lado da pista sem ser atropelado.
11515. A Atenção
Uma boa capacidade de atenção é um dos aspectos cognitivos
fundamentais para o ato de conduzir um veículo automotor com
segurança.
O homem possui a capacidade de eleger e selecionar os fatos que o
interessam, aplicando uma energia específica aos mesmos, com maior
ou menor intensidade. A esta capacidade chamamos de atenção, porém
é preciso esclarecer que não se trata de uma função especial e sim,
segundo A. M. Aguayo , uma maneira geral de exercício da vida
psicológica.
A atenção é um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e
seleciona os estímulos provenientes tanto do meio externo como do
meio interno, estabelecendo uma relação significativa entre eles.
A todo instante recebemos uma gama de estímulos, que são
provenientes das mais diversas fontes, porém só atendemos a alguns
deles, pois não seria possível e nem necessário responder a todos.
No trânsito isso não é diferente, uma vez que as avenidas estão
repletas de placas de sinalização e outdoors promovendo algum
produto, sem considerar a circulação de outros veículos, pedestres,
motociclistas. São inúmeros os estímulos competindo pela atenção do
motorista.
É sabido que prestar atenção a uma determinada coisa ou situação
requer do indivíduo certo interesse e esforço, pois é difícil sustentá-la se
não estivermos motivados.
Podemos nos colocar em um estado de atenção, porém mais cedo ou
mais tarde nos dispersamos. Toda essa atividade de atrair a atenção
faz com que o indivíduo assuma um papel passivo, quando reage a algo
que vem do mundo externo. Tal tipo de atenção é involuntário. O que
nos interessa de fato é a atenção voluntária, na qual somos nós
mesmos que queremos e tomamos a iniciativa de estarmos atentos.
Para a segurança do trânsito isso é fundamental.
Como já foi citada anteriormente, a atenção é um processo cognitivo de
extrema importância em determinadas áreas, como no trânsito e na
educação, já que se exige, por exemplo, que o indivíduo concentre sua
atenção às matérias lecionadas pelo professor e para as informações
que chegam, ignorando outros estímulos visuais, sonoros, ou de
qualquer outra natureza, como por exemplo, prestar atenção no
professor e não estar atento ao que está se passando fora da sala de
aulas (estando a atenção, neste caso, relacionada também com o
problema da disciplina).
15. A Atenção
116A atenção dedicada aos objetos externos recebe o nome de
observação ;se a atenção for dirigida a objetos internos, isto é, fatos da
consciência recebe o nome de meditação.
A atenção através dos órgãos dos sentidos para o mundo exterior é a
atenção sensorial, enquanto que a atenção aplicada aos fatos da vida
psíquica é a atenção intelectual.
No caso do condutor as duas categorias de atenção são importantes na
condução do veículo, tendo que conciliar de maneira satisfatória os
eventos externos com as sensações internas.
“A percepção nunca é o registro objetivo da realidade, mas sim,
constitui um processo ativo-seletivo, com características subjetivas,
baseada em uma série de condições fisiológicas, psicológicas e sociais
do sujeito ” [27, p. 29].
O pericampo social, no processo da avaliação, permite ponderar como a
pessoa percebe o que está à sua volta, e nesta forma de perceber o
mundo devemos considerar as características e o modo de reação
próprio, individual e inerente a cada pessoa.
Na avaliação psicológica é possível fazer um prognóstico do
comportamento do indivíduo no trânsito, ao mensurarmos sua
impulsividade e agressividade, e sua capacidade de autocontrole.
A motivação e o estado emocional influenciam decisivamente na
percepção e na capacidade de atenção e interpretação dos fatos da
realidade.
Os processos mentais e emocionais orientam as percepções, os
conhecimentos, as crenças e as expectativas de cada ser humano.
O ambiente é repleto de estímulos potenciais que são captados pelos
órgãos dos sentidos (sons, imagens, cheiros, etc.), e por um conjunto
de sensações que provêm do interior do próprio corpo (palpitação
cardíaca, vazio no estômago e outras).
Wertheimer, Koffka e Köhler consideram que a percepção humana
funciona seguindo um determinado padrão, funcionando de uma forma
organizada e estruturada, de tal modo que podemos verificar a
existência de certas regularidades na maneira de um indivíduo perceber
a realidade física e social de modo que essas regularidades são tão
previsíveis sendo possível testá-las em laboratório. A essa forma
regular de percepção denominou-se de princípios ou leis que regem a
percepção (ver, ouvir, degustar).
O empirismo e o racionalismo são duas formas de estudar e interpretar
a maneira como o homem percebe o mundo isto é, como ele o
apreende e aprende.
117O empirismo preocupou-se em enfatizar o funcionamento dos órgãos
dos sentidos, enquanto que o racionalismo canalizou seu interesse e
aplicação para o trabalho da mente.
Perceber significa compreender o fato e/ou a situação em que estamos
envolvidos, e a essa potencialidade de análise temos que vincular a
nossa capacidade de atenção.
Para que a atenção se processe depende de três fatores considerados
fundamentais:
1. Fator fisiológico;
2. Fator motivacional; e
3. Capacidade de concentração
Assim como na aprendizagem, a atenção também tem a prerrogativa de
ser um processo oculto que só pode ser mensurado pelas alterações no
desempenho e no comportamento do indivíduo.
A atenção não é um fenômeno único e fechado em si mesmo. Trata-se
de uma das ferramentas da consciência que permite a existência das
diversas formas de atenção. Dependendo do nível de consciência em
que a pessoa se encontra no momento da percepção, poderá apreender
aspectos qualitativos e quantitativamente diferentes da realidade
concreta, agindo de acordo com sua emoção, o que pode levar a
inadequação do comportamento.
Berlyne em seus estudos identificou os aspectos intensivos da atenção,
e concluiu que a atenção seletiva ajuda-nos a limitar o número de
estímulos captados tanto do mundo externo como do mundo interno,
favorecendo e auxiliando-nos na emissão de respostas mais assertivas.
A atenção seletiva é uma variável decisiva para o processo da
aprendizagem, tanto na memorização quanto no desempenho, sendo
muito importante na condução de veículos automotores.
“A atenção se baseia, por conseguinte, em um conjunto de interesses
vitais, em função do qual orientamos nossa atividade, dando preferência
a certos objetos e valores, em detrimento de outros ” [12, p. 78].
O curso do desenvolvimento da atenção seletiva inicia-se na infância,
quando os hábitos da atenção são considerados hiperexclusivos, e em
seguida, ocorre o aumento da capacidade de atenção simultânea a uma
grande variedade de estímulos, hábito designado como atenção
hiperinclusiva.
Por atenção hiperexclusiva, ou superseletiva entende-se a recepção de
um estímulo onde o indivíduo atende a essa percepção excluindo todos
os aspectos do objeto ou da situação e observa um único elemento do
estímulo, em prejuízo de todos os demais. Por exemplo: ao mostrarmos
15. A Atenção
118um cubo azul com bolinhas coloridas para o indivíduo, sua atenção fica
detida somente na cor, desprezando e não observando a forma e o
contorno da figura, o tamanho, os detalhes. Percebe que é um objeto
azul, mas não percebe que se trata de um cubo com bolinhas coloridas.
Esse tipo de atenção é muito característico nos autistas, uma vez que:
“Quando se defronta com estímulo composto de muitas dimensões, a
criança autista parece que responde a apenas uma dessas dimensões,
não revelando nenhuma aprendizagem incidental, segundo os trabalhos
realizados por Lovaas, Schreibman, Koegel & Rehm em 1971 ” [21, p.
92].
Em contra partida na atenção hiperinclusiva o indivíduo atende a muitos
estímulos que são irrelevantes e por isso não consegue distinguir os
aspectos realmente importantes na situação. Por exemplo: ao
mostrarmos o mesmo cubo azul com bolinhas coloridas para o
indivíduo, ele observa tudo; a cor, o tamanho, as bolinhas coloridas, os
ângulos, só não percebe que se trata de um cubo, porque inclui todos
os estímulos; só não consegue selecionar o que realmente interessa: a
forma do objeto que lhe atribui um significado.
Quando estamos em estado de alerta (acordados), uma enorme
quantidade de estímulos competem por nossa atenção. Sofremos um
bombardeio constante tanto do meio externo como do meio interno e
quando estamos em trânsito isso não é diferente.
Imagine se o motorista prestasse atenção em um único detalhe do
trânsito, como, por exemplo, observar somente o veículo que vai à sua
frente desprezando por completo todos os outros que estão envolvidos
na situação de tráfego, assim como os pedestres, e a sinalização.
Certamente esse tipo de atenção hiperexclusiva dedicada ao trânsito
acabará em acidente.
Na atenção hiperinclusiva a pessoa atende a muitos estímulos
irrelevantes e não consegue distinguir os aspectos que são realmente
importantes na situação
Para a situação de trânsito, este tipo de atenção também é totalmente
desaconselhável, pois se o motorista é absorvido por todos os detalhes
que as ruas oferecem, não conseguirá estar atento às manobras dos
outros veículos, à sinalização, aos pedestres, o que também acabará
em acidente.
Gradativamente conforme vai se desenvolvendo, o indivíduo vai
aumentando sua capacidade de concentração em um número maior de
estímulos, conforme cada situação impõe, até que consiga atingir os
níveis de maturação considerados ótimos, o que ocorre na
adolescência, e ao qual se denomina de capacidade de “ atenção
seletiva ”.
119Atenção seletiva é a capacidade do indivíduo em atender de forma
apurada à característica relevante e decisiva dentro de um complexo de
estímulos; isto é, o sujeito percebe todos os aspectos do estímulo, e
filtra as informações selecionando o que realmente é significativo dentro
do todo, atribuindo um sentido lógico à situação ou ao objeto.
A atenção também pode significar:
“Focalização consciente e deliberada de energia mental em um objeto
ou em um componente de uma experiência complexa e, ao mesmo
tempo, excluindo outros conteúdos emocionais ou intelectuais; o ato de
tomar cuidado, notar, observar ou concentrar-se em algo ” [28, p. 59].
“Comumente, os seres humanos e outros animais escolhem um filão de
impressões para atender. Os estímulos que ficam na periferia (limite) de
nossa atenção formam um pano de fundo. Essa abertura seletiva para
uma pequena porção de fenômenos sensoriais chama-se atenção ” [15,
p. 215].
Então qual seria a natureza da atenção? Alguns estudos psicológicos
veem a atenção como sendo um filtro que tem como função peneirar as
informações que são recebidas pelos diferentes pontos envolvidos nos
nossos processos perceptivos.
Outros autores consideram que o indivíduo focaliza meramente o que
deseja perceber, porém sem excluir os demais eventos ou elementos
que estão envolvidos na situação como um todo. A preocupação dos
psicólogos e estudiosos desse procedimento é identificar os pontos do
processo perceptivo onde a atenção opera.
As pesquisas e os estudos desenvolvidos lembram que a atenção pode
ser ativada em várias situações: inicialmente quando recebe um input
de um órgão sensorial, e mais tarde, ao decidir se reage a ele,
preparando uma ação.
Kenneth Nakdimen instituiu uma diferenciação entre dois tipos de
atenção: a atenção aloplástica e a atenção autoplástica.
Na primeira sugere que se trata de uma função do hemisfério cerebral
esquerdo: é a atenção analítica e abstrativa; caracterizando-se pela
manutenção da fronteira do ego o que comumente é chamado de
reflexão, enquanto que a atenção autoplástica seria uma função do
hemisfério cerebral direito onde o desempenho estaria voltado para as
imagens gestálticas e para a concretização, portanto sinestésica e
alteradora do eu incluindo a forma de atenção chamada de imaginação.
Por se tratar de um acontecimento de ordem intrínseca que não pode
ser observado e nem controlado objetiva e diretamente, como já foi
citado anteriormente, a atenção tem a mesma regalia do processo da
aprendizagem, que só acontece caso um determinado fato motive uma
15. A Atenção
120resposta, dependendo do estado em que se encontra a pessoa:
acordada ou adormecida; alerta ou indiferente; vigilante ou absorta.
Essa ressalva desencadeou vários dilemas, entre os quais a
interrogação: “ quando sabemos se uma pessoa está realmente
prestando atenção em algo? ou quando estará alheia à situação? ”.
Os estudiosos deduziram que assim como sucede com o processo da
aprendizagem, a atenção também só pode ser avaliada e mensurada
através das alterações do comportamento observável.
“Se ambos são mensurados pela mudança de comportamento, é
impossível apurar se a falta de alteração no desempenho é devida à
uma atenção imperfeita, à aprendizagens imperfeitas ou a ambas. Este
problema de circularidade lógica foi debatido por Mostofsky (1970) ” [21,
p. 69].
Pelo fato do homem ser o agente central do trânsito, o estudo da
atenção nos interessa em especial, pela sua implicação direta para uma
direção segura, promovendo condições favoráveis, quando possível,
para o condutor evitar ou conseguir safar-se de acidentes.
O nosso estilo perceptivo é de grande valor para garantir a nossa
sobrevivência.
Em consequência de sua “ construção ”, os homens tendem a focalizar
mais o mundo externo, e não o interno. O ambiente externo humano é
repleto de estímulos potenciais e de uma grande quantidade de outros
que emanam do interior do próprio corpo, sendo que nos homens há
uma maior ênfase aos estímulos visuais.
O sentido visual facilita a colocação do indivíduo dentro do espaço,
promovendo sua adaptação ao mesmo.
“Ajuda-nos a responder a perigos súbitos, localizar e manipular objetos
no espaço e a movimentar-nos sem colisões ” [15, p. 216].
A atenção é um dos aspectos importantes envolvidos na capacidade de
percepção, e tem por base o funcionamento do Sistema Nervoso
Central. O processo de percepção é muito complexo e depende tanto
dos órgãos sensoriais como do nosso cérebro.
A percepção do mundo está vinculada ao funcionamento dos nossos
órgãos dos sentidos e como estes detectam o estímulo, bem como o
nosso cérebro interpreta e arquiva essas informações para uso
posterior, o que exige atenção, organização, discriminação e seleção.
É uma cadeia onde os elos estão interligados e a ruptura em qualquer
um deles pode gerar percepção e interpretação erradas levando à
consequências desagradáveis.
121Os órgãos receptores ao perceberem uma mudança física ou química
no organismo transformam essa percepção em impulsos que percorrem
o neurônio sensorial. O neurônio sensorial transmite os impulsos
recebidos até o sistema nervoso central (SNC), que ativa o órgão
executor para que o comportamento seja manifesto.
O cérebro desempenha o papel mais importante no processo da
percepção sensorial.
A apreensão refere-se à percepção da imagem como um todo.
“A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a
discriminação, mas também a capacidade de distinguir entre sons e
imagens, bem como a capacidade de organizar e arranjar a sensação
captada em um todo significativo, desenvolvendo a capacidade de
estruturar, organizar e arquivar a informação que está sendo recebida ”
[26, p. 46].
Dentro desse conceito, a percepção tem por base quatro operações
fundamentais:
1. detecção do estímulo,
2. tradução (conversão da energia de uma forma para outra),
3. transmissão e
4. processamento da informação.
O organismo humano está equipado com sistemas especiais de
captação de informações, que são denominados sentidos ou sistemas
sensoriais.
Os cientistas conseguiram catalogar onze sentidos humanos bastante
distintos. O olfato, a audição, o paladar e a visão são os mais
conhecidos.
“O que antigamente chamava-se tato revelou-se composto de cinco
sistemas dérmicos (de pele) separados (ou somato-sensoriais): contato
físico, pressão profunda, calor, frio e dor ” [15, p. 217].
Nos seres humanos tem mais dois sentidos que detectam os atos do
próprio organismo: o sentido cinestésico e o sentido vestibular.
O sentido cinestésico depende dos receptores dos músculos, tendões e
articulações; e o sistema vestibular nos dá a noção de orientação e
equilíbrio.
A nossa percepção e a nossa consciência do meio ambiente dependem
de comparações entre o passado e o presente: analogamente, os
nossos sentidos detectam os estímulos e o nosso cérebro interpreta
essas informações atribuindo-lhes um sentido.
15. A Atenção
122Por isto, podemos dizer que a interpretação e a compreensão dos fatos
denotam uma avaliação cognitiva e afetiva da situação em que estamos
envolvidos.
Existe grande quantidade de estudos que se preocupam em decifrar o
que motiva e direciona a atenção da pessoa. Necessidades, interesses
e valores têm sido citados como influências importantes sobre a
atenção.
Os psicólogos associacionistas definem a percepção como um conjunto
de sensações que, por meio de analogias, forma um todo homogêneo,
sobre o qual a atenção confere nitidez e clareza aos fatos.
A nossa integração social depende da percepção que temos do meio e
das pessoas com quem interagimos.
A percepção vai depender das condições físicas, psicológicas e sociais
do indivíduo.
Nesse aspecto a avaliação psicológica do condutor é muito importante,
pois nos fornecerá um perfil do seu estado emocional ajudando-nos a
compreender como suas emoções estão interferindo na sua maneira de
perceber o mundo permitindo um prognóstico do comportamento que
poderá ter no trânsito.
Cremos que a atenção não pode ser avaliada como uma instância
autônoma do nosso psiquismo uma vez que se encontra vinculada à
consciência. Isto significa que se um indivíduo encontra-se em estado
de obnubilação*comumente apresenta alterações na capacidade de
prestar atenção se mostrando hipervigil. Entretanto uma pessoa que se
encontra em estado de torpor se encontra hipovigil. Desprovida da
atenção a prontidão psíquica tornaria a existência do indivíduo como um
sonho impreciso, longo e contínuo.
Os processos mentais orientam as percepções, os conhecimentos, as
crenças e as expectativas de cada ser humano.
Berlyne em seus estudos identificou os aspectos intensivos da atenção.
Concluiu que a atenção seletiva ajuda-nos a limitar o número de
estímulos captados, auxiliando-nos na emissão de respostas mais
assertivas.
A todo o momento recebemos uma gama enorme de estímulos que são
captados através dos nossos órgãos receptores, vindos de várias fontes
como foi considerado anteriormente.
As fibras nervosas visuais, táteis, auditivas, sinestésicas e
proprioceptivas estão constantemente conduzindo impulsos para o
nosso cérebro e que às vezes requerem respostas conflitivas e
incompatíveis, que acabam gerando um conflito. Se o indivíduo não for
*obnubilação – alteração (obscurecimento) do estado de consciência e diminuição do estado de
vigília resultante de uma perturbação, doença ou traumatismo.
123capaz de filtrar e selecionar os estímulos, para atender a um número
limitado dos mesmos, ocorrerá o caos no comportamento.
“A atenção seletiva é, portanto, fonte de capacidade altamente
adaptável, e um defeito na utilização dessa capacidade podem ser
prontamente considerados como uma séria desvantagem ” [21, p. 71].
Por conseguinte, a atenção seletiva é uma variável decisiva no
processo da aprendizagem do futuro condutor, tanto na memorização
quanto no seu desempenho no trânsito, provendo um dos meios para a
pessoa lidar com seus conflitos.
A atenção seletiva denota uma maturação na capacidade de
concentração e avaliação do indivíduo para conseguir atender as
características relevantes e decisivas dentro de um complexo de
estímulos; o sujeito percebe todos os aspectos do estímulo, e filtra a
informação selecionando o que realmente é significativo considerando o
todo.
Dentro desse conceito de atenção Berlyne (1960, 1970) considerou três
outros aspectos:
1. Atenção na aprendizagem – que se refere a seleção do estímulo
para estabelecer uma associação entre R–S (estímulo e
resposta);
2. Atenção na rememoração – correspondendo a que tipo de
estímulo a pessoa estará apta a rememorar em situações
futuras, portanto parece que pouquíssima diferença existe entre
a atenção na aprendizagem e atenção na rememoração uma
vez que o relembrar implica diretamente em algo aprendido; e
finalmente a
3. Atenção no desempenho – “ Berlyne (1960) usou o termo conflito
para indicar a situação em que respostas mutuamente
incompatível estão sendo induzidas ao mesmo tempo, e a
atenção no desempenho é um dos meios pelo qual o indivíduo
enfrenta esse conflito. Ela dirige sua atenção direta
seletivamente a um estímulo ou a um limitado número de
estímulos e emite a resposta que aprendeu ” [21, p. 73].
Pressupondo que o ato de dirigir um veículo automotor depende do
processo de aprendizagem, a atenção é então uma capacidade
indispensável conjuntamente com os processos perceptivos, onde o
processamento das informações, a tomada de decisão e a
externalização desta, mediante ação psicomotora voluntária,
principalmente de braços, das mãos, pernas e pés devem ser
15. A Atenção
124orquestradas de forma coordenada e adequada para evitar-se
acidentes.
Sabemos que alguns tipos de ações podem integrar produtos
específicos da aprendizagem, que são os chamados comportamentos
automáticos constituídos pelo hábito e pela habilidade.
Um hábito consiste no uso repetido de um determinado comportamento
em uma situação definida.
Os hábitos podem ser de várias origens, tais como:
1. hábito de valor educativo e valor mental – ler, observar, refletir;
2. hábito de valor moral – dizer a verdade, praticar a honestidade;
ter caráter.
Por outro lado a habilidade consiste no domínio de uma técnica
determinada para realizar uma tarefa, como por exemplo: ler e escrever,
usar o dicionário, o ato de dirigir um veículo automotor.
O hábito corresponde ao fazer muitas vezes e a habilidade é o como se
faz, isto é saber como se conduzir dentro de determinada situação,
onde a habilidade é um importante meio para aquisição de novas
informações e conhecimentos, pois sabendo aproveitar todos os
recursos disponíveis a pessoa estará preparada para enriquecer sua
bagagem cognitiva, cada vez mais.
O psicólogo Fitts descreveu três fases importantes na aprendizagem de
automatismos:
1. Fase cognitiva – estar atento e preparado para captar e
compreender a situação;
2. Fase organizadora – a ênfase desloca-se do aspecto intelectivo
para o motor, onde as indicações do ambiente se tornam cada
vez mais significativas e as ações do sujeito mais coordenadas.
3. Fase do aperfeiçoamento – a prática conduzindo ao
automatismo.
Diante dessas informações pensamos na aprendizagem como um
processo global, já que a compreensão, o sentimento e a ação ocorrem
ao mesmo tempo e na mesma pessoa que busca uma coerência em
sua personalidade, entendendo a situação (cognição), sentindo gosto
pela execução (apreciação) e sendo hábil na realização do
comportamento (automação).
Para que todas essas fases ocorram com sucesso, é preciso que a
pessoa seja capaz de manter sua vigilância concentrada e sustentar a
sua capacidade de percepção voltada para a situação que está
envolvida possibilitando uma boa atenção para uma boa aprendizagem.
125Por exemplo, um indivíduo que se mostra apático, desanimado,
astênico, por estar com conflitos de ordem interna, terá sua capacidade
de atenção e percepção alteradas. Não vai conseguir captar de forma
adequada os estímulos provenientes do mundo externo, pois está
voltado para si mesmo não sendo capaz de perceber e observar as
mudanças que ocorrem ao seu redor.
Por exemplo, se no trânsito o indivíduo estiver mais introspectivo pode
não perceber a mudança da cor no semáforo, o que prejudica no ato de
dirigir, sendo este motorista um sério candidato a envolver-se em
acidentes.
“Um determinado nível de alerta é fundamental para que haja condição
de se pensar em atenção. Este nível, também considerado vigília plena,
é o que mantém o cérebro em constante preparo para desempenhar
suas funções, recrutando para seu funcionamento uma complexa
orquestração de subsistemas que vão desde o tronco cerebral até o
córtex basicamente chamado de sistema reticular ascendente ” [29, p.
36].
A todo o momento uma gama de excitações é enviada para nosso
córtex cerebral, e dependendo da nossa motivação e do nosso
interesse, apenas alguns se tornarão foco de nossa atenção (atenção
seletiva).
Para conduzir um veículo com segurança, o motorista deve ser capaz
de utilizar-se dos vários tipos de atenção de forma organizada e
sincronizada, sem perder o controle da situação. Os vários tipos de
atenção envolvidos no ato de dirigir são:
Atenção Difusa
Atenção Concentrada
Atenção Discriminativa
15.1. Atenção Distribuída ou Difusa
É a capacidade para disseminar a atenção a vários estímulos,
simultaneamente, sem perder a visão de conjunto.
Consiste na primeira fase de treinamento da atenção. Ela visa levar o
praticante a desenvolver a capacidade de estar consciente de si mesmo
observando os eventos ao redor, sem priorizar ou julgar nenhum deles.
Essa neutralidade é capital, pois retira o indivíduo da prisão das
emoções negativas que irrompem constantemente na consciência
latente do dia a dia e que finaliza substituindo sua capacidade
perceptiva por um diálogo interno emocional pouco conscientizado.
15. A Atenção
126O exercício dessa neutralidade representa em si mesmo, um poderoso
treinamento. Geralmente, essa fase é associada com a " visão difusa ",
um adestramento cognitivo-emocional que envolve o ato de visualizar a
situação e utilizar a " auto-observação " para entender e atribuir
significado ao que realmente é importante dentro daquele contexto e
naquele momento.
No trânsito a atenção difusa ajuda o motorista a focalizar os vários
estímulos que estão disseminados no meio ambiente, capturando de
forma rápida essas informações que lhe darão uma visão geral e um
direcionamento dentro do contexto.
Por exemplo: o motorista deve ser capaz de observar as placas de
trânsito, ouvir o rádio ou consultar seu painel sem perder o controle da
direção e da condução do veículo. Nesse tipo de atenção múltiplos
estímulos estão sendo processados simultaneamente sem que o
motorista perca o foco de sua atenção: o trânsito.
15.2. Atenção Concentrada
É a capacidade de focar e manter integralmente a atenção em uma
tarefa de precisão. Nesse tipo de atenção a concentração e o foco de
interesse e de atenção são dirigidos a um determinado estímulo, ou um
grupo de incitações com as mesmas características para obter um
melhor aproveitamento do seu desempenho.
No caso do condutor, um dos impulsos mais contínuos e que exigem a
concentração da atenção refere-se às placas e a sinalização de trânsito
que orientam o motorista para garantir uma boa fluidez e estabilidade na
direção.
De acordo com Alonso Fernández , ao concentrarmos nossa atenção,
estamos escolhendo um objeto ou uma situação que será enviada para
nosso campo de consciência dando prioridade ao que estamos
percebendo no momento mantendo o foco sem deixar-nos desviar, até
a ocasião onde outro estímulo se fizer mais importante. Nosso interesse
não é vedado podendo ser modificado quando a situação assim o exigir.
A motivação e o pensamento conduzem nossa atenção, de modo que a
energia empregada revela o nosso grau de concentração alcançado.
15.3. Atenção Discriminativa
Esse tipo de atenção focaliza vários estímulos ao mesmo tempo e
realiza uma separação do que é mais importante para que o sujeito
possa emitir uma resposta específica e afirmativa.
Por exemplo, o condutor pode estar conversando com o passageiro,
mas nem por isso deixará de prestar atenção para onde está indo bem
como não deixará de observar o trânsito como um todo.
127É importante uma reflexão sobre a temática trânsito avaliando-se não
“como o motorista pode dirigir, mas como está dirigindo ”. A sua ação ao
volante, além de ser um reflexo do seu estilo de vida, reflete também
como foi o seu aprendizado.
Sendo a percepção a propiciadora da captação de toda a informação
recebida, é imprescindível que essa apreensão seja concisa e exata
para que o condutor possa ter condições de elaborar e definir uma ação
mais assertiva e segura.
Então podemos finalizar dizendo que a atenção em suas várias formas
constitui-se em uma função primordial para a vida como um todo e
principalmente no ato de dirigir, devendo o bom motorista manter seu
estado de vigília e atenção de modo constante para sua segurança e a
segurança do próximo.
As modificações do estado normal da atenção compromete o bom
desempenho do motorista, uma vez que as mesmas podem ser
derivadas de perturbações de outros sistemas ou funções das quais
depende a ação normal da atenção.
Algumas das anormalidades com suas características que podem afetar
a capacidade de concentração da atenção são as seguintes:
Hipoprosexia: ocorre a diminuição global da atenção;
Aprosexia: a capacidade de atenção é totalmente eliminada,
independentemente da intensidade e das características do
estímulo;
Hiperprosexia: a atenção dedicada ao objeto é exagerada
denotando certa tendência;
Distração: dedicação de uma superconcentração ativa da
atenção sobre determinadas características do objeto;
Distraibilidade: instabilidade e dificuldade para fixar a atenção;
incapacidade de concentração.
12916. Processo da Aprendizagem
Aprendizagem é uma das funções mentais presentes nos seres
humanos e nos animais. Entende-se por aprendizagem o processo pelo
qual as capacidades, as aptidões, os conhecimentos, os
comportamentos ou os valores morais, sociais e éticos são adquiridos
e/ou transformados, como resultado de estudo, experiência, formação,
raciocínio e observação do indivíduo em relação ao mundo e a si
mesmo.
O processo da aprendizagem pode ser analisado a partir das diferentes
perspectivas e das diferentes teorias que abordam o tema.
A aprendizagem humana está relacionada à educação e ao
desenvolvimento pessoal. Deve ser devidamente orientada sendo mais
favorecida quando o indivíduo está motivado. O estudo sobre o tema
utiliza os conhecimentos e as teorias da neuropsicologia, da psicologia,
da educação e da pedagogia.
A tomada de conhecimento como um meio para estabelecer novas
relações entre o ser e o ambiente, tem sido objeto de vários estudos
empíricos em animais e em seres humanos.
O processo da aprendizagem pode ser medido através das curvas de
conhecimentos, que mostram a importância da repetição de certas
predisposições fisiológicas, de " tentativa e erro " e de períodos de
descanso, após o qual se pode acelerar o processo. Esses estudos
também mostram o relacionamento da aprendizagem com os reflexos
condicionados.
Algumas pesquisas começam a revelar que os sonhos têm um papel
muito importante na aprendizagem e na formação de memória. Por
exemplo, alguns cientistas observaram que durante o sono, o cérebro
recorda de coisas que aprendeu recentemente. Em seguida, no sono
REM – onde os sonhos acontecem – o cérebro trabalha para guardar
essas memórias por um longo prazo.
16.1. Definição de Aprendizagem
Definir a aprendizagem é uma tarefa no mínimo difícil de ser realizada
para não confundi-la com outros conceitos, uma vez que aprendizagem
refere-se a um conceito natural e não um conceito criado artificialmente.
Uma definição muito utilizada e que tem sua base no paradigma
comportamentalista é: a A prendizagem é um processo através do qual
uma atividade tem início ou pode ser modificada pela reação a uma
situação encontrada, desde que essas características não possam ser
explicadas por tendências inatas, ou pelo processo de maturação ou
16. Processo da Aprendizagem
130ainda pelos estados temporários do organismo (por exemplo, sono,
fome, fadiga, drogas).
A princípio, essa definição serve para que possamos fazer algumas
diferenciações importantes entre as atividades de aprendizagem e
outras ações que são inatas ou inerentes ao ser.
Os processos de maturação do organismo envolvem mudanças o que
torna imprescindível saber quais dessas mudanças são ocasionadas
pelo crescimento natural propriamente dito, e quais são provocadas
pela aprendizagem.
16.2. Características da Aprendizagem
O homem nasce com capacidade para aprender, carecendo unicamente
dos estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para que o
processo possa ser concretizado.
Existem aprendizados que são considerados natos como, por exemplo,
o ato de aprender a falar, a andar, precisando somente que o indivíduo
passe pelo processo de maturação física, psicológica e social.
Para evoluir o ser humano precisa aprender. É através desse processo
que adquire e transforma as informações provenientes do mundo e do
seu contato com o outro, aprimorando cada vez mais seu potencial e
sua capacidade de adaptação ao meio.
A aprendizagem potencializa as capacidades congênitas e as que são
adquiridas pelo indivíduo durante o seu processo de desenvolvimento.
Pozo (2002) em seus estudos sugere três características que considera
importantes para uma boa aprendizagem. São elas:
a. a aprendizagem produz mudanças duradouras no
comportamento
b. a aprendizagem deve ser passível de ser transferida para outras
situações
c. a aprendizagem é resultado direto da técnica realizada
O crescimento global do indivíduo é a soma das suas potencialidades
genéticas, do seu contato com o meio e, especialmente, das habilidades
desenvolvidas durante as várias etapas da vida estando inteiramente
vinculada a capacidade cognitiva.
16.3. Princípios da Aprendizagem
O homem funciona como um todo organizado e indivisível. Para que a
aprendizagem ocorra é necessário mobilizar-se a esfera cognitiva, a
afetiva e a esfera motora, onde cada uma delas tem função específica,
porém atuando conjunta e simultaneamente.
131Na ciência psicológica consideram-se três grandes domínios
relacionados aos princípios do processo da aprendizagem:
1. Habilidade Psicomotora,
2. Habilidade Afetiva,
3. Habilidade Cognitiva.
16.3.a. Habilidade Psicomotora
A aprendizagem motora tem mecanismos específicos relacionados a
armazenagem das experiências anteriores que são chamados de
memória associativa e referem-se a aquisição e ao desenvolvimento de
habilidades motoras através da repetição de gestos promovendo a
mecanização do movimento. Como, por exemplo, ao dirigir um carro o
movimento de usar a embreagem, de acelerar ou frear, com a
experiência passa a ser automático, não necessitando de reflexão para
sua execução. Uma vez que o movimento foi instalado, se durante um
período, mesmo que longo, a sua prática for extinta, ao readquiri-lo o
processo é mais rápido do que na aquisição inicial.
A memória motora é essencial não somente para, posteriormente,
executar a mesma atividade com maior facilidade; como também, no
aprendizado de novos comportamentos motores mais sofisticados,
como é o movimento da escrita, que requer movimentos finos
(epicríticos).
Quando realizamos ou tentamos imitar um ato motor, os nossos
programas mentais se mobilizam e recorrem à memória associativa
para a execução do ato maquinal, permitindo a instalação de novos
movimentos, aumentando o repertório comportamental, que pode ser
observado e avaliado através da melhora do desempenho. O motorista
hábil é capaz de mudar a marcha ou consultar o painel sem perder o
controle da direção do veículo.
O desenvolvimento motor necessita de treinamento repetitivo e,
normalmente, é duradouro, de forma que a reprodução consiga
aprimorar o movimento até que se torne harmonioso e mecânico .
Ao adquirirmos maior domínio sobre um determinado gesto motor como,
por exemplo, dirigir um carro, somos capazes de realizar uma curva ou
desviar rapidamente de um buraco, sendo que a ação necessária para
execução do movimento realizado demanda pouco esforço, e ocorre de
forma automática, sem que seja necessário intenso raciocínio ou
programação, pois já houve uma automação prévia de possíveis
reações, a qual foi gerada, a princípio, pelo treinamento repetitivo; por
isso somos capazes de executar alguns afazeres com nosso
pensamento direcionado para outra questão.
16. Processo da Aprendizagem
13216.3.b. Habilidade Afetiva
O termo habilidade se refere ao grau de conhecimento de uma pessoa
na solução de um determinado problema. É a maneira como utilizamos
o que foi aprendido.
A afetividade trata da capacidade do homem em experimentar e
vivenciar sentimentos e emoções considerando seu estado de ânimo
e/ou de humor.
Em psicologia, o termo tem sido empregado para indicar a fragilidade
que o ser humano experimenta diante de determinadas alterações que
ocorrem tanto no mundo externo como no mundo interno.
A afetividade e as emoções tem sido tema de estudo e de intenso
interesse tanto na civilização Ocidental como na Oriental, desde épocas
como o VI século antes de Cristo, nos estudos de Lao-Tzu (oriental) e
nos estudos de Sócrates, nos anos de 470 a 399 a. C. até a
contemporaneidade, onde se destacam alguns nomes como Sigmund
Freud, Magda Arnold, Jacques-Marie Lacan, Francisco Varela,
Humberto Maturana entre muitos outros.
Todavia, para muitos pesquisadores, o início da investigação científica
moderna (racionalista) sobre a natureza das emoções é atribuído a
Charles Darwin graças ao seu livro que trata sobre as expressões
emocionais em animais e em humanos, publicado no ano de 1872.
Podemos tentar definir a afetividade como sendo todo e qualquer
domínio exercido sobre as emoções propriamente ditas, ou seja,
domínio sobre os sentimentos das emoções.
Spinoza , um dos grandes racionalistas do século XVII afirmava que
existe exclusivamente dois tipos de afetos, os que compõem a vida, e
os que decompõem a vida, ou que desestimulam a viver.
O estudo da afetividade é importante porque determina a atitude geral
da pessoa diante da vida e do mundo, requerendo impulsos
motivadores ou inibidores frente a cada situação experimentada.
Os sentimentos e os afetos fazem com que a pessoa perceba de
maneira agradável ou desagradável os eventos ocorridos, atribuindo-
lhes um valor que oscila ente a indiferença e o entusiasmo
determinando os sentimentos entre dois polos: a depressão e a euforia.
Direta ou indiretamente a habilidade afetiva é que determina a forma
como o homem vai se relacionar com o mundo e com os outros por
meio da manifestação de seus sentimentos e emoções.
Nossos comportamentos e atitudes devem ser compreendidos e
avaliados levando em consideração os afetos que os desencadearam.
O meio físico e social com o qual nos relacionamos fornece estímulos
que são captados pelos órgãos dos sentidos e processados
internamente para receber um significado através da importância que
representam.
133Nossa vida afetiva como já foi citado por Spinoza é organizada com
base em dois tipos de afetos: o amor (construtivo) e ódio (destrutivo).
Ambos estão presentes em nosso comportamento e em nossas ações,
que representam a prática desses sentimentos.
As emoções podem ser entendidas como expressões afetivas seguidas
de reações intensas e breves do organismo, como as respostas a uma
situação extraordinária. Uma brecada súbita pode causar alterações
tanto físicas como emocionais.
Quando falamos em habilidade afetiva estamos nos referindo a
capacidade da pessoa em lidar com situações problemáticas, de conflito
ou de perigo, sem perder o equilíbrio e a capacidade de concentração
na atividade que está realizando.
Resumindo, o termo afeto é empregado para aludir à aptidão na
subjetivação e na expressão de uma resposta emocional, ou seja, é a
qualidade e o tônus emocional aos quais segue uma ideia, uma
representação mental ou o comportamento manifesto. A compreensão
desse tipo de afeto permite ao psicólogo fazer uma predição de como o
motorista se comportará e reagirá no trânsito.
16.3.c. Habilidade Cognitiva
Atualmente existe uma tendência em analisar os termos cognição e
inteligência como tendo o mesmo significado e a partir daí identificá-los
com sendo o funcionamento mental pertinente ao raciocínio.
A capacidade de processar as informações é denominada de cognição.
Em relação ao homem, consideramos tratar-se da capacidade de
adaptação a situações absolutamente diferentes que se manifestam em
um curto intervalo de tempo.
No entanto, vale explicar que a adaptação humana, em seus aspectos
cognitivos, difere da adaptação biológica que alude a um nicho
significativo e imprescindível para garantir a sua sobrevivência no
ambiente.
Devemos ressaltar que ao longo de sua evolução, os homens não
desenvolveram somente a capacidade de adaptar-se a determinadas
condições, mas também que dentro de certos limites, são capazes de
modificá-las para sobreviver. Por exemplo, os homens são capazes de
desenvolver meios de sobrevivência se ficarem perdidos em uma
floresta ou em uma ilha deserta. Essa potencialidade de adaptação
humana recebe o nome de cognição, ou inteligência.
Antigamente conceituava-se o funcionamento mental do homem,
ponderando três aspectos julgados básicos para essa compreensão.
São eles:
16. Processo da Aprendizagem
1341. a cognição – a que abrangia a linguagem, a memória e, o
raciocínio lógico;
2. a motivação – que se correlacionava com nossas necessidades
mais básicas como: sono, sexo, fome, sede; e
3. o afeto – que está ligado à importância que atribuímos a
sensação de prazer ou desprazer, no aspecto emocional da
vida.
Atualmente, essa classificação estanque está ultrapassada. Há razões
neurobiológicas, psicológicas e filosóficas que justificam a superação
dessa segmentação. Do ponto de vista psicológico, não se pode, por
exemplo, falar em memória sem se falar em emoção e cognição.
Talvez, por essa razão o conceito de percepção abrange toda a
capacidade de processar as informações, e de reação ao que
apreendemos sobre o mundo e sobre nós mesmos.
O processo da aprendizagem engloba, principalmente, dois aspectos do
indivíduo: o neurológico (órgãos dos sentidos e o aparelho locomotor), e
o psicológico (emoção e cognição).
A tese de Goldstein de que o cérebro não funciona em partes
separadas, mas sim como um todo complexo, corresponde à teoria da
escola Gestáltica de Max Wertheimer (1880 –1941), Wolfgang
Köhler (1887 –1967) e Kurt Koffka (1886 –1967), onde segundo esses
autores o todo é formado pelas partes, em um processo constante de
sobreposição de figura e fundo.
Por outro lado, na teoria neurológica consideram-se duas grandes
tendências:
1. a localizacionista, onde as funções mentais ocupam uma área
delimitada no cérebro;
2. a holística, onde as funções do cérebro são resultantes de uma
atividade indivisível, e o SNC funciona como um todo
organizado, garantindo a integridade do organismo.
Dessa forma pode-se concluir que o método introspectivo está ligado ao
SNC, onde o comportamento verbal ou o comportamento motor realiza-
se por meio de uma cadeia de processos simples que estimulam as
conexões cerebrais, indo buscar o seu significado em uma sede
mecânica denominada memória.
Todos os sistemas de memória, inclusive os de computadores,
dependem de uma área de armazenamento. E a memória humana
segue a mesma tradição.
A percepção e a consciência na maior parte das vezes dependem da
comparação que estabelecemos entre o passado e o presente, isto é, a
135evocação das experiências vivenciadas e significativas, bem como das
informações arquivadas. O processo da memorização inclui:
a. Codificação – colocar na memória
b. Armazenamento – manter na memória
c. Recuperação – recuperar da memória
As informações que impressionam os nossos órgãos dos sentidos
parecem ficar retidas momentaneamente em um sistema de
armazenamento denominado memória sensorial (MS) e posteriormente
essas informações são transferidas para um segundo sistema, a MCP
(memória de curto prazo: lobo parietal).
Para que a informação seja retida na MLP (memória de longo prazo –
lobo temporal), existem dois processos que são básicos:
1. reprodução ou imitação; e
2. vivenciar um processo profundo onde é utilizada a estratégia da
repetição elaborativa, isto é, prestamos muita atenção sobre o
fato ou sobre o objeto, pensamos sobre o seu significado, e
relacionamos com os dados de outras informações já colocadas
na MCP.
A MCP e a MLP estabelecem uma comunicação entre si continuamente.
Quando a informação é inserida na MLP passa a fazer parte do
repertório comportamental da pessoa sem necessidade de elaboração
cognitiva; a ação passa a ser inconsciente, ou seja, automatizada.
Podemos ilustrar esse processo por meio do paradigma:
AUTOMAÇÃO EXPERIMENTAÇÃO CONSCIENTIZAÇÃO
falta de vontade própria
comportamento máquinavivenciar o trânsito,
malicia da direçãoavaliação da situação para
movimento uma direção segura
A habilidade cognitiva ajuda o motorista a tomar decisões rápidas frente
a alguma adversidade que exige tomada de decisão imediata para
evitar um acidente. Os motoristas considerados acidentógenos,
normalmente tem essa capacidade comprometida.
13717. O Homem Aprende Experimentando
A prática e a experiência de um comportamento são fundamentais no
processo de aprendizagem, tanto que é explicitamente citada em sua
definição.
De acordo com Magill (1989) , a aprendizagem refere-se a uma mudança
na capacidade do indivíduo em executar uma tarefa. A mudança surge
em função da prática e do ensaio que aos poucos vai habilitando,
melhorando e tornando o comportamento aperfeiçoado e permanente.
Estamos caracterizando a prática como uma atividade organizada que
consiste da repetição de uma mesma tarefa ou ação motora cujo
objetivo é a melhora na “ performance ” da ação.
Podemos estudar e entender o desempenho final do indivíduo,
considerando três etapas sequentes para que o processo da
aprendizagem possa ser totalmente concretizado. São elas:
1. Candidato à Habilitação (Principiante)
2. Condutor Recém Habilitado
3. Condutor Experiente
Candidato à Habilitação (Principiante) – Nesta primeira etapa o
indivíduo sente-se inapto e despreparado, manifestando um número
exagerado de comportamentos que poderiam ser dispensáveis, não
apresentando nenhuma coerência ou espontaneidade entre eles,
podendo revelar uma infinidade de atitudes motoras desconexas
entre si em uma tentativa desesperada de encontrar a melhor
solução para a tarefa a ser realizada.
Pela inexperiência, nas primeiras tentativas para conseguir atingir o
seu objetivo, o sujeito não consegue desvendar e conhecer melhor
qual é o trabalho que deverá executar, como um ser puramente
cinestésico, emite várias ações sem conseguir atingir o objetivo.
Diante dessa dificuldade, em uma tentativa de amenizar a sua
insegurança, o indivíduo, para sentir-se melhor, vai verbalizando em
voz alta a sequência de seus movimentos, como se estivesse se auto
instruindo, e acaba não prestando atenção aos detalhes significativos
que poderiam facilitar e auxiliar na solução do problema.
É esperado que, nessa condição, o indivíduo esteja exposto a uma
grande quantidade de erros sendo que no final o sucesso da ação vai
parecer casual e o sujeito não saberá como e com que
comportamento chegou à solução do problema. É como se a solução
fosse obtida ao acaso. Se o sujeito em questão não conseguir
vincular a ação à solução do problema, não ocorreu a aprendizagem.
17. O Homem Aprende Experimentando
138Se o aprendiz de motorista não conseguir associar suas atitudes e
ações ao seu bom desempenho no volante, não saberá como
comportar-se adequadamente no trânsito. É preciso estabelecer a
conexão entre a ação e a solução do problema.
Condutor Recém Habilitado – nessa etapa, durante as tentativas de
acerto, o sujeito vai percebendo e eliminando os movimentos que
considera desnecessários, e com isso descobre algo novo: que pode
economizar energia e tempo na realização da sua tarefa.
Para que isso ocorra é necessário que o indivíduo permita que o seu
controle visual sobre a ação vá cedendo lugar ao controle cinestésico
e com isso, ele vai ajustando a frequência do padrão motor, de modo
que, ao mesmo tempo em que a quantidade dos erros emitidos vai
sendo diminuída, aumenta a certeza do comportamento correto e a
compreensão de como a tarefa deve ser realizada para obter
sucesso.
Isso pode ser percebido nitidamente quando, por exemplo, no
processo de habilitação, o candidato a motorista precisa aprender
como e quando deve trocar a marcha do veículo.
A sequência das ações gradualmente vai ganhando fluidez e
harmonia, ao mesmo tempo em que sua atenção é concentrada e
direcionada aos aspectos que são relevantes, permitindo a
percepção dos detalhes que antes passaram despercebidos.
Para ilustrarmos melhor o processo do desenvolvimento das
habilidades, podemos estabelecer a diferença entre as habilidades
motoras abertas e as habilidades motoras fechadas, relacionando-as
à invariabilidade do ambiente, no nosso caso o trânsito.
A constância e o equilíbrio do ambiente (tráfego dos veículos)
durante a execução das habilidades motoras fechadas (dirigir o
carro) induz o sujeito da ação, a buscar e manter uma consistência e
uma coerência maior para realizar a tarefa adequadamente.
Quando acontecer alguma alteração no ambiente (trânsito) onde a
ação está sendo executada, o motorista movimenta suas habilidades
e tenta adaptar o seu padrão motor a estas alterações ambientais.
Condutor Experiente (“ expert” )– nessa fase a fluidez e a habilidade
permitem a adaptação espontânea do motorista às mudanças que
acontecem no ambiente da ação.
O sujeito tem certeza do que deve fazer para atingir a meta da ação,
com um menor esforço, desprendendo um mínimo de tempo e
energia.
Equilíbrio e eficácia do comportamento estão presentes neste estágio
onde o sujeito necessita de um ínfimo de vigilância para conseguir
realizar a tarefa (comportamento automatizado), podendo dirigir a
139maior parte da sua concentração e atenção para as informações que
não são tão relevantes ao controle da mesma.
O padrão de comportamento motor é relativamente previsível e
estável sendo que qualquer mudança que venha a ocorrer no mesmo
vai implicar em uma volta ao estágio intermediário para conseguir-se
uma nova adaptação.
17.1. Criação de Esquemas: Automatização
Indivíduos treinados são capazes de desempenhar concomitantemente
tarefas complexas que supostamente se utilizam dos mesmos recursos
de processamento, com pouca ou nenhuma interferência na
performance.
Esse tipo de resultado sugere que o treinamento repetitivo alivia a carga
de atenção supostamente necessária em decorrência da
automatização.
Assim, o desempenho lento, sequencial e mediado verbalmente (que
demanda grande quantidade de recursos), usualmente observado nos
estágios iniciais da conquista de uma habilidade, vai sendo
gradativamente trocado pelo desempenho rápido, equivalente e que
requer pouco esforço ou controle voluntário (demandando relativamente
poucos recursos), como é o ato de dirigir, andar, correr.
Dessa forma, torna-se possível que esse processo de automatização,
permita a identificação de determinados estímulos ambientais que são
significativos para o indivíduo, corroborando para a aquisição de
processos independentes de atenção controlada e voluntária.
A automatização do comportamento pode ser definida também como
um conjunto de técnicas que podem ser utilizadas em uma determinada
situação objetivando tornar a ação mais eficiente, ou seja, elevar ao
máximo a eficácia da solução do problema sem erros e com um mínimo
de gasto de energia e tempo, obtendo melhores condições de
segurança.
14118. Aquisição e Interpretação
A aquisição compõe o âmago do processo da aprendizagem, onde a
informação apresentada necessita ser introduzida no sistema cognitivo
do sujeito para armazenagem em forma de memória de modo que
possa ser evocada quando necessário. Essa ocorrência é um processo
totalmente interno e só podemos ter inferência sobre ele através da
mudança do comportamento.
Uma das melhores fontes utilizadas na aquisição de novas formas de
comportamento ou modificação dos comportamentos adquiridos
anteriormente são os hábitos, ou seja, a repetição de um determinado
comportamento até que o sujeito consiga deter o domínio sobre uma
situação específica, através de sua habilidade, como por exemplo, o ato
de conduzir um veículo.
Piaget não utiliza muito o termo aprendizagem, preferindo à expressão
“aquisição de conhecimento ”. A base da teoria Piagetiana pode ser
resumida em poucas palavras: “ O ser vivo ou se adapta ou morre ”.
Por ser dotado de inteligência, o homem adquiriu grandes
conhecimentos da realidade e, consequentemente, alto nível na
capacidade de adaptação.
Cada novo conhecimento adquirido transforma a pessoa, alterando a
própria estrutura mental, pois novas condutas, novos hábitos e novas
habilidades são inseridos em seu repertório comportamental.
No processo de aprendizagem do motorista, as informações sobre as
leis e as normas de trânsito, sobre as placas de sinalização e seus
significados, e mesmo o ato de conduzir o veículo são elementos novos
que serão solidificados conforme o interesse e a prática do aprendiz.
A adaptação refere-se à capacidade que o organismo possui em
responder a situações que se modificam, mantendo um nível de
organização interna, que leva o indivíduo a ajustar-se rapidamente aos
efeitos provocados pelas novas informações e que lhe permitem emitir
respostas adequadas: estas são características do processo do
desenvolvimento e do conhecimento humano. A resposta à
aprendizagem será mais positiva dependendo do grau de motivação do
sujeito.
Neste ponto, atingimos o cerne da aprendizagem, quando o saber que é
passado ao “ aluno ” precisa embrenhar-se em seu sistema cognitivo
para ser por ele interpretado e armazenado e, mediante solicitação, o
mesmo aluno deve ser capaz de apresentar um novo padrão de
resposta, que demanda uma ação criativa com implicações profundas
relativas à esfera afetiva e cognitiva.
18. Aquisição e Interpretação
142Quando está sendo submetido às aulas práticas de direção, o
principiante deve prestar atenção e obedecer à sinalização para que
isso se torne um hábito.
A aquisição de conhecimentos – por ser um processo pessoal – é
gradual, cumulativo e integrativo, pois sempre que uma aquisição
recente é adicionada ao repertório anteriormente adquirido, os conceitos
são atualizados e as ações reformuladas, dando origem a novos
comportamentos.
A interpretação das informações recebidas é um ato da inteligência e
pressupõe a abstração que se fundamenta em nossos estados afetivos,
fazendo com que acreditemos em tudo que corresponde aos nossos
desejos, propósitos e preferências. Podemos entender que a
interpretação dos fatos, das mensagens auferidas, seria a nossa
linguagem interna que é sinônimo da linguagem receptiva e expressiva.
Aprender significa a forma como transformamos em símbolos
significativos o que vivemos e experimentamos. Interpretar uma placa
de trânsito, entender e respeitar a mensagem contida pode ser a
diferença entre envolver-se e/ou provocar um acidente, ou sair ileso da
situação.
Os psicólogos associacionistas definiram a percepção como um
conjunto de sensações que, por meio de analogias, forma um todo
homogêneo, sobre o qual a atenção confere nitidez e clareza aos fatos,
atribuindo-lhe um significado.
Tanto as percepções como a consciência do meio ambiente e do
trânsito dependem de comparações entre o passado e o presente:
analogamente, os nossos sentidos detectam os estímulos e o nosso
cérebro interpreta essas informações.
Por isto, podemos dizer que a interpretação e a compreensão dos fatos
denotam uma avaliação cognitivo/afetiva da situação em que estamos
envolvidos. A nossa integração social dentro do sistema trânsito
depende da percepção que temos do meio e das pessoas com quem
interagimos.
14319. Retenção e Memória (Evocação)
O termo memória tem sua origem etimológica no latim e significa a
faculdade de reter e ou readquirir ideias, imagens, expressões e
conhecimentos armazenados anteriormente reportando-se às
lembranças e às reminiscências de nossas experiências.
A aprendizagem e a memória são semelhantes, e ambas,
provavelmente, dependem das mesmas alterações que ocorrem no
cérebro.
A memória ainda não está bem definida e compreendida, uma vez que
ela também pode depender de mudanças nas sinapses que os sinais
produzidos pelos neurônios realizam no cérebro.
De acordo com seu conteúdo, classificamos as memórias, em dois
grandes grupos:
1. as memórias declarativas (aquelas que são empregadas para
fatos ou eventos, ou qualquer informação que possa ser
expressa conscientemente) e
2. as memórias procedurais, que envolvem basicamente as
habilidades motoras e/ou sensoriais, também chamadas de
hábitos.
Essas duas categorias de memória são muito importantes para a
atividade de conduzir um veículo. A primeira relaciona-se à cognição,
retenção das informações teóricas recebidas durante a aprendizagem;
enquanto que a segunda está diretamente ligada ao desenvolvimento
motor, prática veicular, não menos importante para o ato de dirigir.
As memórias declarativas são influenciadas pelo estresse, pela
labilidade de humor e pela motivação. Esses sentimentos quando estão
19. Retenção e Memória (Evocação)
144descompensados podem justificar e explicar o envolvimento em
acidentes.
As memórias procedurais ou implícitas vão se formando gradativamente
e são evocadas inconscientemente, chamando e trazendo à tona as
habilidades motoras que realizam a ação.
A nossa memória é ativada automaticamente para ser utilizada em
atividades relacionadas às habilidades motoras e intelectivas que
adquirimos, como o ato de dirigir.
O acesso às lembranças se faz sem a necessidade de uma atenção
direcionada ou sob um controle voluntário.
O arquivamento das habilidades motoras se faz por meio de uma
aprendizagem de reprodução de comportamento, ou seja, pela
repetição sistemática de uma atividade complexa, até que o nosso SNC
atenda à solicitação atuando como um todo uniforme.
Para exemplificar melhor: as memórias procedurais são as nossas
habilidades de montar quebra-cabeças, andar de bicicleta, nadar ou
interpretar o significado de uma placa de sinalização, sofrendo pouca
influência do nosso estado emocional ou pelo nosso estado de ânimo.
Na estrutura cerebral humana não existe uma ação isolada, a memória
é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de
sistemas cerebrais que funcionam conjuntamente. Como o ato de dirigir
é basicamente motor, mas sofre influencia do nosso estado emocional,
os dois aspectos devem caminhar paralelamente para garantir uma
direção segura.
O lobo temporal é uma região no cérebro que apresenta um significativo
envolvimento com o processamento da memória. Ele está localizado
logo abaixo do osso temporal (acima das orelhas), e é assim chamado
porque os cabelos desta região são os primeiros a se tornarem brancos
com o tempo.
Vários estudos realizados sugerem que esta região é particularmente
importante para a armazenagem dos eventos passados, sendo avaliada
como o nosso “ arquivo morto ”.
Alguns cientistas acreditam que existem algumas substâncias químicas
especiais que podem estar envolvidas no processo de armazenamento
de informações na memória.
Há várias modalidades de memória. Uma é muito curta e consiste em
uma rápida análise de todo o material recebido pelos órgãos sensoriais.
Quase tudo é rapidamente esquecido. Como exemplo, quando
aprendemos a dirigir, entramos em contato com um grande número de
placas de sinalização do trânsito, que, depois de habilitados, por falta de
visualização das mesmas, acabamos esquecendo seu significado.
Sabemos enquanto estamos aprendendo (Memória de Curto Prazo),
mas depois com o desuso das mesmas abolimos de nossa memória a
imagem e o significado das mesmas.
145Às vezes surge alguma sinalização que nos interessa mais e então
pensamos nela por um instante. Isso também desaparecerá em poucos
segundos, a menos que nós a repitamos várias vezes para nós
mesmos, a decoremos e a mesma seja uma constante nas ruas e
avenidas. Isso parece fazer a informação " aderir " na mente. É o que
temos que fazer para decorar uma senha, por exemplo.
Depois de repetirmos a senha várias vezes ou a usarmos com
frequência, ela se tornará permanente em nossa memória, integrando o
nosso repertório de comportamento e conhecimento. Quando alguma
coisa é gravada em nossa memória de longo prazo, permanece para
sempre.
Nós, algumas vezes, " esquecemos " alguma coisa, mas o que acontece
realmente é que esquecemos como achá-la no enorme sistema de
armazenagem do nosso cérebro.
Provavelmente o caminho usual não é o mais efetivo, porque não tem
sido usado o suficiente. A informação que procuramos permanece
arquivada até que possamos alcançá-la por outro caminho através do
cérebro. Essa informação só estará realmente perdida se, em idade
avançada, um número suficiente de células cerebrais morrerem, e a
área de armazenamento não funcionar mais.
A retenção refere-se ao acúmulo de informação; e evocação é a ação
de lembrar, de recordar, trazer à consciência o que já foi aprendido.
Quando a pessoa adquire uma informação, é necessário que ela seja
capaz de retê-la e armazená-la, e possa ser capaz de evocá-la em
situações apropriadas.
A esta capacidade chamamos de habilidade, que é o domínio de
determinada técnica, e que corresponde ao como fazer .Esta é a tarefa
da memória.
A memória é uma das funções cognitivas da mente e está relacionada,
basicamente, aos sistemas atentivos, à consciência e aos circuitos
emocionais. O funcionamento adequado dessas estruturas é
fundamental para quem pretende conduzir de forma segura um veículo
automotor.
19.1. Tipos de Memória
Atualmente, existem aproximadamente cinquenta modelos de memória
em estudo. Interessa-nos dois tipos, que são definidos como Memória
de Curto Prazo (MCP) e a Memória de Longo Prazo (MLP). O que
significa isso?
Significa que as informações que impressionam nossos órgãos dos
sentidos parecem ficar momentaneamente retidas em um sistema de
armazenagem denominado Memória Sensorial (MS); em um segundo
19. Retenção e Memória (Evocação)
146momento, estas informações são transferidas para a Memória de Curto
Prazo, que consegue abrigar um número limitado de informações.
Para que a informação seja transferida para Memória de Longo Prazo, é
necessário que ela passe por um processo que utiliza a prática da
repetição elaborativa, no qual a pessoa pensa sobre o significado
daquela informação e relaciona esses dados a outras informações já
armazenadas.
A evocação da informação se dá através da associação dos fatos.
A memória de longa duração implica em um acúmulo lento de
informações que são obtidas pelas repetições e pelo aprimoramento
das atividades desenvolvidas, de forma participativa e consciente.
(Kandel).INFORMAÇÃO MS MCP MLP
estímulo órgãos dos sentidos atenção seletiva elaboração cognitiva
147A semelhança entre os dados da informação ou da situação favorece a
retenção, bem como as revisões periódicas que não permitem o
esfriamento da informação, fatores importantes para a aprendizagem.
19.2. Módulos da Memória Humana
O interesse científico pelos processos que envolvem a memória vem se
beneficiando do conceito da articulação das funções, isto é, da noção
de que a memória compreende um conjunto de habilidades mediadas
por diferentes módulos do sistema nervoso, que funcionam de forma
independente, porém de maneira cooperativa e harmônica.
O processamento das informações por esses módulos acontece de
forma paralela e distribuída, permitindo que essas unidades de
processamentos influenciem outras a qualquer momento, ao mesmo
tempo em que outra grande quantidade de informações sãoMemória de Longa Duração
Memória Declarativa
(Explícita)Memória Não Declarativa
(Implícita )
Episódica Semântica
Condicionamento
ClássicoAprendizagem
Não associativaPré-ativação
Resposta
emocionalResposta
muscularLobo Temporal Medial
(hipocampo, amídala)
Estriado Neocórtex Amídala Cerebelo Vias ReflexasProcedural
19. Retenção e Memória (Evocação)
148processadas concomitantemente. A retenção, ou o arquivamento das
informações, abrange dois processos:
1. a contemplação; e o
2. reviver o já visto.
Para que ocorra a memorização, é necessário decodificar a informação,
prepará-la servindo-se dos conhecimentos anteriores transformando a
informação em um símbolo (codificação), o que facilitará sua evocação
posterior.
As etapas para que a memorização ocorra são os seguintes:
1. apreensão (órgãos dos sentidos);
2. retenção (localização no cérebro em área específica);
3. evocação (recordar através de associação); e
4. esquecimento (interesse desviado para outro foco).
Apreensão Retenção Evocação Esquecimento
órgão sensorial área cerebral lembrança desinteresse
A memória é estuda em várias modalidades como:
a. Memória Declarativa – é a capacidade de relatar um fato;
b. Memória de Curto Prazo – acontecimentos recentes que logo
são esquecidos.
c. Memória de Longo Prazo – lembrança de acontecimentos da
vida passada
d. Memória de Procedimento – mais estáveis e difíceis de serem
perdidas
14920. Generalização e Transferência
Entende-se por generalização a “ conclusão geral que se tira da
observação de casos particulares de uma mesma espécie ”(Silveira
Bueno) .
“Uma vez adquirida determinada parcela de informação, o aprendiz
precisa ser capaz de utilizá-la em várias circunstancias e situações
diferentes ” [21, p. 39], para podermos considerar que houve
aprendizagem.
A teoria da generalização foi apresentada por Judd em 1908 , e esse
estudioso acreditava que não bastava somente à existência de
semelhança entre os elementos para que a prática ocorresse.
Podemos entender a generalização como o processo pelo qual
tendemos a reunir os aspectos comuns em uma classe de indivíduos ou
objetos, e abstrair uma única conclusão.
No estudo sobre o trânsito, ao aprender a dirigir um carro, essa
aprendizagem pode ser generalizada e transferida para a condução de
qualquer tipo de veículo automotor (exceção de motocicletas),
dependendo da habilidade do motorista, permitindo que ele execute as
manobras com excelência.
É necessário que o motorista aprendiz perceba a base comum dos
diversos veículos e generalize esses seus conhecimentos nas mais
variadas situações.
Por outro lado, a transferência refere-se precisamente à capacidade de
deslocamento do conhecimento adquirido para contextos diferentes em
momentos diferentes, mediante elementos comuns entre ambos.
“Quanto mais parecido o ambiente, tanto mais provável a transferência
e a generalização ” [15, p. 187].
Para Claparède , a transferência mais importante e acentuada que se
conseguirá na educação será quando a escola além de preparar o aluno
para vida conseguir fazer com que o mesmo sinta a escola como um
aspecto de sua própria existência.
O processo de transferência das informações recebidas é decisivo para
que a experiência da aprendizagem seja efetivada.
Segundo Aguayo , transferência é “ o progresso ou ganho que o exercício
de um poder, órgão ou capacidade produz noutro poder, capacidade ou
órgão não exercitado anteriormente ” [12, p. 101].
20. Generalização e Transferência
150Conduzir o veículo por vias diferentes, com fluxo de veículo distinto com
várias faixas de sinalização ajuda o motorista a consolidar sua destreza.
O foco principal da educação é desenvolver a habilidade dos indivíduos
para facilitar sua adaptação ao meio, exigindo que o indivíduo
generalize e transfira os conhecimentos adquiridos para outras
situações permitindo que possa executar a tarefa com o máximo de
precisão possível.
20.1. Aprendizagem e Transferência
Quando os conhecimentos são transferidos para as questões e para os
movimentos a serem aprendidos em um momento diferente, as
informações adquiridas e armazenadas tendem a facilitar o novo
aprendizado.
Quando surge o problema ou a tarefa, é necessário que a pessoa seja
capaz de selecionar e organizar os estímulos conhecidos, de acordo
com suas experiências anteriores, para poder perceber a situação como
um todo e reagir aos aspectos mais significativos para resolver o
problema, colocando em prática os conhecimentos arquivados.
Parar e sair com o veículo, em um teste de ladeira vai depender da
habilidade do futuro condutor bem como do que aprendeu e foi
armazenado em sua memória. Quando consegue sucesso na ação,
podemos considerar que a aprendizagem está solidificada.
A transferência não se limita aos conhecimentos adquiridos, mas
abrange também os hábitos e as atitudes internalizadas. Dewey ( Piletti
[20]) postulou que o mais importante é desenvolver no iniciante o gosto
e o hábito de refletir; pois de acordo com este procedimento, Dewey
expressa a sua convicção de que a aprendizagem obtida é transferida
para o dia a dia da pessoa, levando-a a uma reflexão sobre suas ações
e sobre o seu estilo de vida no trato consigo mesma e com os outros,
colaborando para observar melhor a sua conduta no trânsito.
Na administração e organização das informações e dos estímulos
recebidos, dois processos estão diretamente envolvidos:
1. o receptivo e integrativo, incluindo os vários tipos de memória
2. o expressivo, que inclui as várias formas de manifestações
motoras, cognitivas e emocionais.
Às vezes, diante de uma situação difícil ou de perigo, a pessoa
consegue perceber que a mesma solução dada a um problema vivido
anteriormente pode também se apresentar eficaz como solução para o
problema existente naquele momento. Como, por exemplo, as
manobras adequadas para evitar ou safar-se de acidentes.
151No trânsito espera-se que o condutor, mesmo tendo ainda um número
pequeno de conceitos e princípios, seja capaz de adquirir novas
aprendizagens, estabelecendo novas conexões entre o que já foi
aprendido e o que está experimentando e vivendo no momento.
Thorndike e Woodworth sugerem que “ dá-se a transferência quando há
elementos idênticos na atividade exercitada e noutra, não submetida a
exercício prévio ” [12, p. 112].
A transferência pode ser realizada pelos tipos de elementos comuns,
como segue:
1. Identidade de conteúdo
2. Identidade de método
3. Identidade de atitudes gerais e de ideais de conduta
4. Identidade de elementos de caráter geral, exigidos pela
compreensão e aplicação de um princípio.
De tudo, e em qualquer situação, podemos extrair alguma informação
ou experiência que pode nos ajudar a ampliar o nosso conhecimento,
para confirmar o que já sabemos, ou para rejeitar determinados
conceitos sobre o mundo ou ainda, sobre a maneira de conduzir um
veículo e para incorporar novos pontos de vista e novos hábitos mais
salutares.
Um dos grandes desafios para o educador de trânsito é ajudar o futuro
condutor a tornar a informação significativa, a escolher as informações
verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, e
compreendê-las de uma forma global.
No processo de generalização pode ocorrer alguma interferência
emocional, levando o indivíduo a mudar, a distorcer, ou a alterar a sua
percepção da realidade.
Cada indivíduo tende a perceber e experimentar o trânsito a partir do
modo em que foi condicionado. Muitos dados não são sequer
percebidos, são deixados de lado antes de serem decodificados.
Quando há muitos estímulos simultâneos, o cérebro seleciona o que
considera principal e corre em busca dos estereótipos e das formas que
já lhe são familiares. Cada um pensa que a sua percepção é completa e
verdadeira e isso leva a dificuldade em aceitar as percepções diferentes
dos outros, gerando comportamentos inadequados e na maioria das
vezes perigosos para os motoristas.
15321. Desempenho e Resposta
Podemos verificar a eficácia de um processo educativo observando, na
prática a capacidade de execução e de realização de tudo que foi
estudado.
A reação mediante um problema ou uma situação emergencial no
trânsito, pode ser adequada ou não, dependendo do que foi aprendido e
armazenado anteriormente.
Quando a resposta é adequada, existe a prova concreta de que a
aprendizagem se realizou eficazmente.
É através da resposta, do comportamento e da atividade manifesta
pelas reações que os estímulos do meio provocam nas pessoas, que
poderemos avaliar os processos de ação livre e criadora da
personalidade do indivíduo.
John Dewey conclui que “ tornar o indivíduo mais consciente do fim de
suas ações e modificar lhe as energias, de modo que estas deixem de
ser mecânicas e se convertam em juízos reflexivos ” [12, p. 76].
O desempenho seria o reflexo direto da maneira como alguém entende
o problema e atua em prol de uma solução com base na sua memória,
evocando todas as informações cabíveis para uma solução eficiente,
mostrando seu potencial durante a ação e expressando uma reação
espontânea.
Em psicologia na área da análise do comportamento, a resposta refere-
se ao movimento ou a produção de um organismo.
A definição de resposta é muito é abrangente incluindo a capacidade de
pensar, de sentir e de reagir a uma situação.
O termo resposta não pode ser entendido como um sinônimo do termo
comportamento, uma vez que é necessário existir uma relação entre um
estímulo do meio (interno ou externo) que afeta o organismo através
dos órgãos dos sentidos. Isso significa que o organismo tem que
decifrar o estímulo e com base em suas experiências passadas emitir
uma resposta, sendo esta, especificamente, a ação, o comportamento,
realizado pelo organismo.
A resposta será eficiente dependendo do bom desempenho do aprendiz
por meio de sua maturação emocional, motora e intelectual resumindo-
se na concretização de seus objetivos, na sua autorrealização.
Na situação de trânsito seria a efetivação do indivíduo respondendo
como um motorista defensivo.
15522. Retroação e Reforço
22.1. Retroação
A retroação é a busca, na memória, das informações que já foram
arquivadas e utilizadas com sucesso em outras situações para solução
de problemas, bem como para a condução adequada de um veículo.
Segundo Ludwig Von Bertalanffy o enriquecimento das experiências é
constante e permanente enquanto o indivíduo conseguir autorregular as
informações recebidas e consequentemente, melhorar sua adaptação
ao meio, abrangendo seu comportamento no trânsito.
Quando as informações são aproveitadas e absorvidas de forma
positiva tendem a manterem-se vivas na MLP; porém se as
consequências das informações assimiladas forem negativas, tendem a
ser extintas da memória se não houver uma alteração do
comportamento que contrabalance ou neutralize a ação
contraproducente.
O sistema de retroação é considerado dinâmico porque existe uma
causa implícita que gera o comportamento, como por exemplo, a
deslocação do indivíduo de um ponto a outro para atingir um objetivo
(trabalhar, estudar, diversão, etc.).
A retroação, ou feedback, é a resposta à ação do indivíduo frente à
situação, podendo ser de caráter negativo (retroação negativa) ou de
caráter positivo (retroação positiva) de acordo com a adaptabilidade e
as ações do indivíduo no meio em que interage.
No trânsito, quando o motorista respeita as normas e a sinalização,
consegue chegar ao seu destino sem multas ou acidentes, sendo sua
conduta um estímulo positivo para que continue obedecendo às regras;
por outro lado se desrespeita alguma norma ou lei de trânsito, poderá
sofrer a punição na forma de multa ou apreensão do veículo para
intimidar a conduta negativa.
Esperamos que o comportamento manifesto se aproxime ao máximo
possível do padrão desejado, e para isso o mecanismo da memória
poderá mesclar feedbacks tanto positivos como negativos.
Embora o conceito de retroação aluda ao retorno da informação em
forma de fenômeno comportamental provocado pelo órgão receptor e o
órgão emissor, as ações e as reações nunca acontecem de forma
linear, mas sim de forma cursiva e complexa.
No ato de conduzir um veículo o motorista, durante seu processo de
habilitação, recebeu uma gama de informações tanto teóricas como
práticas que, supõem-se, ficaram arquivadas em sua MLP para serem
acionadas quando necessário.
22. Retroação e Reforço
156A retroação do motorista no trânsito está relacionada à sua memória
cognitiva (lembrar-se das normas e do significado da sinalização), bem
como a memória motora, (aceleração, frenagem, troca de marcha, freio
de mão, etc.).
22.2. Reforço
O reforço, ou estímulo reforçador, na teoria behaviorista, é o resultado
de uma ação que torna o comportamento mais plausível de ocorrer e
tem como finalidade aumentar a incidência do mesmo.
Os reforços são estímulos dados a um comportamento, em oposição à
punição.
Obedecer ou não às leis de trânsito gera uma consequência.
O reforço é um estímulo que desencadeia qualquer tipo de emoção
positiva, provocando uma sensação de prazer e de conforto que, por
essa razão, estimula na emissão da resposta adequada, como o
cuidado e atenção na direção. Chegar ileso ao seu destino é algo que
satisfaz e promove um sentimento de alegria e bem estar.
O estímulo reforçador – aplicado após a emissão da resposta –
aumenta a probabilidade de ocorrência da mesma resposta em
situações semelhantes. Equivale a uma recompensa dada ao sujeito por
ter aprendido corretamente. A esta percepção, Thorndike definiu como
de efeito satisfatório.
Depois que emitir uma resposta adequada (assertiva), é importante que
o motorista aprendiz também confirme sua expectativa sobre seu
desempenho, para poder orientar-se com sucesso em situações futuras.
Se a sua expectativa não for confirmada, ou se for até mesmo refutada,
o processo da aprendizagem poderá ficar comprometido e seu
comportamento no trânsito pode ser prejudicado.
22.3. Tipos de Reforço
Os reforços podem ser divididos em dois grupos:
1. Reforço Positivo
2. Reforço Negativo, existindo um terceiro elemento fundamental
para a equilibração e adequação comportamental: a punição.
Existe uma tendência, até natural, em confundir o reforço negativo com
a punição pelo fato dos dois termos referirem-se a coisas
desprazeirosas, mas na realidade eles têm funções e ações diferentes.
Os reforços, tanto o positivo como o negativo, tem a mesma finalidade:
moldar e manter os comportamentos considerados adequados, onde o
reforço positivo tem a prerrogativa de manter e aumentar a emissão da
conduta; e o reforço negativo tem a função de diminuir ou extinguir um
157comportamento indesejável. Já a punição tem um único papel: extinguir
por completo o comportamento considerado inadequado.
O reforço positivo tem como meta alimentar a probabilidade da emissão
das respostas adequadas em situações futuras. Quando o
comportamento desejável é emitido logo após, o sujeito recebe uma
gratificação para assegurar a constância desse comportamento.
Observe o paradigma ilustrativo:
S R RP
estímulo Resposta + reforço +
Por outro lado, o reforço negativo, ou seja, depois do comportamento
inadequado ser manifesto apresenta-se um estímulo desagradável que
é retirado do ambiente, espera-se que com essa sensação de desprazer
suprimida o indivíduo tende a diminuir e/ou extinguir as respostas tidas
como impróprias.
O reforço negativo pode aumentar a probabilidade da ocorrência de um
comportamento à medida que a situação aversiva é afastada ou
eliminada.
A punição é outra metodologia utilizada para extinguir um
comportamento inadequado, porém a supressão é temporária e não
definitiva, a menos que a punição seja realmente muito intensa.
Os educadores devem ser informados que a punição resolve o
problema temporariamente, uma vez que a motivação do indivíduo
permanece a mesma. Isto significa que quando a punição for suspensa
há uma possibilidade grande de o comportamento voltar a ocorrer.
Na situação de trânsito podemos citar como exemplo de punição, o
motorista ser multado e receber a pontuação na CNH por avançar o
sinal vermelho. A punição é pagar a multa e no caso dos pontos na
CNH (20 no total) serem submetido a um Curso de Reciclagem para
reduzir ou extirpar a incidência desse comportamento inadequado.
Contudo o que observamos é que as punições aplicadas não motivam
os motoristas a mudarem seus comportamentos; continuam cometendo
as infrações e tornaram-se experts em esquivas e manobras de fuga
das situações que exigem o cumprimento da lei. Esse tipo de
comportamento evidencia a falta da educação no trânsito.
15923. Considerações Finais
Para tentarmos compreender o grande número de acidentes e a
violência que está instalada no trânsito, nos baseamos na dificuldade
dos relacionamentos humanos e no grande problema que se
transformou a obediência às normas e as leis estabelecidas.
O comportamento dos condutores, de um modo geral, tem se mostrado
cada vez mais arredio e intolerante com o próximo, sem nenhuma
preocupação ou responsabilidade em garantir um trânsito seguro para si
mesmo e para o outro.
Consideramos que a educação é um dos poucos caminhos viáveis para
a construção de um mundo melhor e menos violento para garantir um
trânsito mais seguro.
Este projeto foi elaborado para atender ao Novo Código de Trânsito
Brasileiro que na Resolução do CONTRAN, em sua Lei nș 9503 e em
seu Decreto 2327 de 23/09/1997, tratam da Educação Para o Trânsito.
Com base na Psicologia do Desenvolvimento e em teorias de diversos
autores que destacaram a importância de cada fase da evolução infantil,
com ênfase na capacidade cognitiva e emocional da criança durante o
processo de aprendizagem, procuramos adaptar ao currículo escolar o
conteúdo programático exigido pelo CTB, respeitando as características
de cada fase, o que se mostrou plenamente possível.
Pretendemos que a experiência de aprender seja realmente
concretizada da melhor forma possível, respeitando as peculiaridades
de cada fase do desenvolvimento da criança permitindo sua
participação ativa e concreta nas atividades como aprendiz, com a clara
intenção de que esta criança tenha a oportunidade de vivenciar
situações, de manifestar seus sentimentos, de aprender a identificar
suas emoções, de reconhecer seus limites e seu potencial, e que com
isso, possa ser possuidora das diretrizes básicas e necessárias para um
convívio social e pessoal integrado e satisfatório, na conquista do bem
comum.
Quanto mais o indivíduo se conhecer e reconhecer os seus direitos e
deveres, bem como os seus limites pessoais e sociais, maior facilidade
terá para se auto aceitar e adequar-se a um convívio igualitário,
fortalecendo a segurança em si mesmo, garantindo possibilidades de
obter maior sucesso em seus empreendimentos, em suas metas e em
seus objetivos.
Dessa forma pressupomos que a capacidade de aceitação do outro
como ele é, com suas limitações e diferenças tornará o relacionamento
interpessoal mais amável e solicito.
23. Considerações Finais
160Quando o homem permitir sentir-se feliz e realizado, ele buscará a
melhora da sua qualidade de vida assim como a melhora da qualidade
de vida daqueles que com ele convivem, inclusive no sistema trânsito.
Os temas abordados em cada nível de ensino visam solidificar e
aproveitar os potenciais intelectuais e humanos do aluno, preparando-o
para o convívio em sociedade.
O ensino não pode ser estanque ou rotineiro. Assim como a busca de
uma vida melhor, a aprendizagem também é dinâmica e agitada; e se
caracteriza como um trabalho incessante.
Se em cada fase do desenvolvimento do ser humano introjetarmos a
noção dos limites, o respeito às normas e às leis, a noção de
cidadania – através de dinâmicas de grupo e atividades de grupo que
serão participativas – ele entenderá que, além de direitos, ele tem
também deveres, e perceberá que a construção de uma sociedade, de
um trânsito melhor e de um mundo mais humano dependem também de
como ele se coloca diante da vida, dos outros e do meio ambiente.
Se desde pequenos os indivíduos forem treinados a respeitar a si
mesmos e ao próximo, e se esses valores morais e humanos forem
preservados para que se processe uma transformação interior, o
gerenciamento das emoções e dos desajustes se tornará mais fácil e
mais viável de serem controlados. Isso propiciará a desenvoltura de um
trânsito mais tranquilo e mais seguro.
Esse trabalho tem como objetivo conscientizar as pessoas de um modo
geral, considerando principalmente as crianças, os jovens e os
professores, que somente através da educação poderemos expandir os
nossos horizontes.
Os conceitos que são impróprios, as atitudes que se manifestam de
forma desajustadas e as ideias inadequadas poderão ser transformadas
através da ampliação do conhecimento e da educação, que fornecerão
o sentimento do quanto é importante ser um cidadão participativo, com
nossos direitos e nossos deveres, certificando que restabelecendo os
elos da sociedade civil no resgate dos vínculos comunitários destruídos
pela modernidade liberal, estaremos colaborando para um trânsito mais
segura e uma sociedade mais justa.
As paixões humanas desorganizaram o contato do homem com a
natureza, pois destruíram sua fonte de prazer e de equilíbrio.
Preservar a Natureza, valorizar a vida, solidificar a educação e os
valores éticos humanos, tornarão o homem, o trânsito, a sociedade e a
vida de um modo geral mais cordial, com a possibilidade da criação de
um mundo onde a convivência terá base na compreensão, na
colaboração na amizade e na ordem.
161Através da educação podemos fortalecer os movimentos sociais que
articulam e representam os interesses e as demandas dos amplos
setores da população na busca do bem comum.
Esse trabalho tenta colocar a Psicologia a serviço da Educação e da
Cidadania promovendo uma qualidade de vida melhor.
É importante lembrarmos sempre que “ sem educação estaremos
perdendo a luta pela civilização ”.
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