Aprender é a única coisa que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. [307518]

"Aprender é a única coisa que a [anonimizat] e nunca se arrepende."

Leonardo da Vinci

Se você me contar… eu vou esquecer

Se você me mostrar… eu vou lembrar

Se você me envolver… eu vou entender

Confúcio

Dedicatória

Este livro é dedicado a todos aqueles que se empenham para diminuir a violência e os acidentes de trânsito através do trabalho informativo e educacional que colaboram para a segurança de todos os usuários do sistema viário.

Agradecimento

Agradeço a Deus pela inspiração para que este livro se tornasse realidade e a minha família pelo apoio e incentivo, sempre presente nos momentos difíceis.

Eterna gratidão ao casal de amigos Dr. FRANCISCO MENESES DE MORAIS, Médico Neurologista, e a [anonimizat]ó[anonimizat]ência, entusiasmo e interesse na revisão [anonimizat] e tornar o conteúdo mais claro e objetivo.

Não poderia deixar de mencionar a grande amiga e [anonimizat]óloga Especialista em Trânsito que também colaborou com seus conhecimentos e experiência revisando a parte psicológica deste trabalho.

Sumário

Dedicatória vi

Agradecimento viii

1. Prefácio 1

2. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva psicológica na busca de um trânsito melhor 7

3. Definição de Trânsito 15

3.1. O deslocamento existe em todos os lugares e todos nós compartilhamos dele 16

3.1.a. Quais os papéis que desempenhamos dentro do sistema Trânsito? Podemos ser: Motorista – Passageiro – Pedestre 17

3.1.b. Quem são as pessoas e os profissionais que formam e participam do trânsito? 18

3.2. A Violência no Trânsito 19

4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito 19

4.1. A Didática e o Ensino 19

4.1.a. A Importância de John Locke para Psicologia 19

4.1.b. Fase 1: Sensório-motor ( 0 A 2 anos) 19

4.1.c. Fase 2: Pré-Operatório ( 2 A 7 anos) 19

4.1.d. Fase 3: Raciocínio Operatório Concreto (7 a 11 anos) 19

4.1.e. Fase 4: Raciocínio Operatório Formal (12 anos em diante) 19

5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem 19

5.1. O Estruturalismo 19

5.2. O Funcionalismo 19

5.3. O Associacionismo 19

5.4. Behaviorismo 19

5.5. Gestalt 19

5.5.a. Organização Perceptual – Assimilação e Contraste: Figura e Fundo 19

5.6. Psicanálise 19

5.6.a. Estrutura da Personalidade 19

6. Resolução do CONTRAN 19

7. Conteúdo Programático do Currículo Escolar 19

8. Aprendizagem 19

8.1. Definição 19

9. O Cérebro e a Aprendizagem 19

9.1. O Sistema Nervoso Central 19

10. Fases e Processos Envolvidos na Aprendizagem 19

11. Motivação 19

11.1. Definição de Motivação 19

11.2. Tipos de Motivação 19

11.2.a. Motivação Intrínseca e Motivação Extrínseca 19

11.3. Implicações da Motivação na Aprendizagem 19

11.3.a. Comportamentos fisiológicos 19

11.3.b. Comportamentos Sensoriais 19

11.3.c. Comportamentos de Atividade Física 19

11.3.d. Comportamentos Relacionados à Atividade Mental 19

11.3.e. Comportamentos Sociais 19

12. Percepção e Atenção 19

12.1. O estudo da percepção 19

13. Fatores que podem influenciar a percepção 19

13.1. Fatores Externos que Agem e Interferem na Percepção 19

13.2. Fatores Internos que Atuam e Interferem na Percepção 19

14. Tipos de Percepção 19

14.1. Percepção visual 19

14.2. Percepção Auditiva 19

14.3. Percepção Olfativa 19

14.4. Percepção Gustativa 19

14.5. Percepção Tátil 19

14.6. Percepção Temporal 19

14.7. Percepção Espacial 19

15. A Atenção 19

15.1. Atenção Distribuída ou Difusa 19

15.2. Atenção Concentrada 19

15.3. Atenção Discriminativa 19

16. Processo da Aprendizagem 19

16.1. Definição de Aprendizagem 19

16.2. Características da Aprendizagem 19

16.3. Princípios da Aprendizagem 19

16.3.a. Habilidade Psicomotora 19

16.3.b. Habilidade Afetiva 19

16.3.c. Habilidade Cognitiva 19

17. O Homem Aprende Experimentando 19

17.1. Criação de Esquemas: Automatização 19

18. Aquisição e Interpretação 19

19. Retenção e Memória (Evocação) 19

19.1. Tipos de Memória 19

19.2. Módulos da Memória Humana 19

20. Generalização e Transferência 19

20.1. Aprendizagem e Transferência 19

21. Desempenho e Resposta 19

22. Retroação e Reforço 19

22.1. Retroação 19

22.2. Reforço 19

22.3. Tipos de Reforço 19

23. Considerações Finais 19

Obras Citadas 19

1. Prefácio

O tema que trata sobre a violência no trânsito tem sido o centro da atenção dos estudiosos das mais variadas áreas da saúde, envolvendo tanto o homem como a sociedade em que vivemos.

Entendemos que a educação quando relacionada ao desenvolvimento físico e psicológico do indivíduo pode nos ajudar a mudar a situação e minorar a violência que se instalou na sociedade atingindo o sistema viário de um modo geral.

Nossa proposta não é oferecer uma receita pronta e padronizada para a solução, mas sim, instigar a reflexão sobre o problema na busca de alternativas que possam diminuir ou ajudar a organizar o caos que o trânsito representa nos dias atuais.

O presente trabalho foi desenvolvido a partir da observação das constantes dificuldades e dos acidentes diários que ocorrem no trânsito. As autoras ao analisarem a crescente desordem que se instituiu no mundo contemporâneo e de modo global, pareceu-lhes importante um estudo e uma reflexão mais sistematizada sobre o tema agressividade e violência, canalizando seu foco de atenção para o grupo social que compõe o sistema viário como um todo.

Essa observação nos permitiu intuir que, com a desagregação da família, dos valores morais, éticos, religiosos e sociais, surgiu uma gama de motivos que levaram os indivíduos ao desajustamento social e pessoal, tornando o homem cada vez mais agressivo e violento em seu comportamento e relacionamento interpessoal de forma sistêmica e generalizada, trazendo consigo a desintegração das relações humanas o que no trânsito pode ser percebido através da direção insegura e perigosa dos motoristas considerados acidentógenos. Essa lenta fragmentação da vida em comunidade e a necessidade de autoafirmação que estão acontecendo em um momento histórico-social e político-econômico considerados críticos, exigem um senso de cooperação e um envolvimento maior entre os indivíduos para que possamos encontrar um equilíbrio satisfatório e harmônico no processo da convivência social e no desenvolvimento humano, dando um impulso maior para a integração do homem consigo mesmo e com o meio em que vive numa tentativa de atenuar o caos que se estabeleceu na sociedade e, por conseguinte, no trânsito também.

A priori cremos que essa atmosfera indicadora do mal estar social, pode ser o início, a sinalização de um crescente “desconforto emocional”, onde o problema existencial pode estar contido em perguntas simples tais como: Para onde o homem pretende ir e como ele está se percebendo? A forma como está conduzindo sua máquina é adequada? Seu relacionamento interpessoal está sendo produtivo?

A sabedoria dessas respostas pode consistir na unicidade com o outro, onde a transformação interior tem dois caminhos a serem escolhidos; ou a pessoa cai num Círculo Vicioso onde só consegue ver os seus defeitos e os dos outros, não conseguindo melhorar a percepção de si mesmo e do mundo; ou então escolhe o caminho do Circulo Virtuoso onde o indivíduo se aceita como é e percebe o aspecto bom do seu caráter e do outro também. Ninguém pode roubar a riqueza interior, a autoestima e o potencial de alguém. São aspectos e características inerentes a cada indivíduo.

Partindo da experiência de consultório clínico, essa comprovação veio com a experiência das autoras na área da psicologia do trânsito durante o processo da avaliação psicológica de candidatos a motoristas, onde as pessoas passam por uma entrevista e uma bateria de testes para a avaliação dos traços de sua personalidade, mensuração dos vários tipos de atenção e de memória, além da mensuração da sua capacidade de raciocínio. Só aí pudemos, com os resultados obtidos, perceber e ponderar o quanto a população “está doente”.

Várias vezes nos pegamos refletindo: como essa pessoa consegue sobreviver diante de tanta dificuldade e tanta pressão emocional? Como ela consegue continuar trabalhando? E na família, como vivem e convivem uns com os outros? Como se relacionam? Como conseguem lidar e conviver com esses conflitos? Que tipo de motoristas são ou serão?

Podemos também corroborar durante a circunstância da entrevista, a extrema carência afetiva que envolve as pessoas e a grande necessidade que as mesmas apresentam em encontrar alguém que as ouça, que lhes dê atenção e valorize o que elas “têm para falar”.

Durante o processo da avaliação psicológica, por meio dos resultados conseguidos, pode-se observar o grau de dificuldades cognitivo e/ou emocional que o indivíduo apresenta no seu dia a dia, e constatar que a maioria das pessoas não consegue lidar com as suas emoções simplesmente porque não as conhece, ou porque não consegue identificar os seus próprios sentimentos. Não alcançam o significado dos seus afetos.

Assim, concluiu-se que: se a pessoa não conhece e não consegue identificar as suas emoções, automaticamente não pode manter o controle sobre algo que lhe é desconhecido. Essa dificuldade pode estar sendo refletida diretamente no trânsito, que funciona como uma válvula de escape onde o indivíduo extravasa suas dificuldades e suas frustrações, o que nos permite entender a grande perplexidade e incidência dos acidentes.

Do ponto de vista psicológico, entendemos que na vida os afetos e os sentimentos assumem várias dimensões e várias características que precisamos saber distinguir, identificar, nomear e reconhecer, para podermos lidar com os mesmos, caso contrário trata-se de uma luta fadada à frustração.

Como exemplo, podemos citar os sentimentos que estão classificados e divididos em duas categorias com seus aspectos diferenciados:

os sentimentos subjetivos:

raiva

amor

depressão, etc.;

os aspectos objetivos dos sentimentos:

sorriso

lágrima

gritos, etc,

(de acordo com os estudos Cowan de 1981)

De acordo com o trabalho de pesquisa denominado “Núcleo de Reabilitação e Treinamento de Motorista Acidentógeno” desenvolvido no DETRAN de São Paulo no período de 2000 a 2006, os resultados comprovaram a tese do envolvimento cognitivo e/ou emocional do motorista acidentógeno que se envolve ou provoca acidentes, permitindo verificar-se que a dificuldade dos indivíduos aparece abarcando os dois aspectos fundamentais para a adaptação ao meio:

os aspectos afetivos (sentimentos e emoções), por serem intrínsecos e subjetivos, a grande maioria dos indivíduos não sabe e não consegue reconhecê-los e nomeá-los; e

no aspecto cognitivo (raciocínio, memória e atenção), mesmo quando a emoção ou o sentimento se manifesta de modo objetivo e concreto através da expressão facial e/ou corporal, existe um bloqueio, uma dificuldade na compreensão do seu significado, e na decodificação da manifestação do tipo de sentimento que o indivíduo experimenta.

Essas dificuldades podem incapacitar o condutor na sua tomada de decisão (cognição) e na emissão de uma resposta adequada (emoção) diante de uma situação perigosa no trânsito e na vida de um modo geral.

Por meio da experiência na avaliação psicológica dos condutores, e com os resultados obtidos através dos estudos realizados com os motoristas, compreendemos que a violência psicológica que é vivenciada pelo indivíduo pode ter como um dos fatores desencadeantes da violência, a falta de flexibilidade e de integração consigo mesmo.

Essa falta de consistência pode acabar afetando os sujeitos com maior intensidade, e consequentemente pode aumentar a incidência dos desajustes emocionais e sociais, elevando os índices de condutas agressivas, que são representadas, por exemplo, pelas transgressões às normas e às leis, o que tem aumentado sensivelmente os indicadores da criminalidade, inclusive no trânsito.

Acreditamos que, em meio a esse processo de insegurança pessoal, sem afeto e sem objetivos, inconscientemente o indivíduo perde o controle de todas as coordenadas de sua vida, passando a agir sem afetividade de forma impulsiva, e irracional.

Esse processo de desintegração pessoal e social pode estar relacionado ao bloqueio emocional que trava e limita a capacidade de raciocínio e abstração na análise e na avaliação das situações de conflito ou de perigo, vivenciados pelo indivíduo, o que acaba travando a manifestação de respostas assertivas na solução dos problemas enfrentados.

Os sentimentos de impotência, de insegurança e de agressividade se manifestam como defesa numa tentativa de suprir os desfalques emocionais e pessoais, que podem ter sido causados de forma violenta e prejudicial durante seu crescimento e desenvolvimento, surgindo na expressão do seu comportamento onde não respeita seus próprios limites e nem os limites dos outros.

A violência mostra-se também quando o desejo de realização social e pessoal não pode ser atingido, e acaba desencadeando o menosprezo por si mesmo, ativando o sentimento de raiva pelo outro, gerando o desejo de ataque e destruição, que no trânsito se manifesta através da direção perigosa.

Essa falta de capacidade para suportar a frustração está relacionada à imaturidade emocional que caracteriza o imediatismo, o comportamento impulsivo onde o indivíduo sente-se incapaz de se impor uma frustração em curto prazo para poder obter uma compensação em longo prazo, o que dificulta a sua adaptação ao meio.

A impulsividade é uma das características de personalidade observadas com muita frequência nos motoristas acidentógenos, segundo pesquisa realizada no DETRAN de SP em 2002, intitulada “Características de Personalidade do Motorista Acidentógeno”.

Para entendermos melhor o homem e seu comportamento recorremos às Escolas de Psicologia, cada uma com sua peculiaridade e que nos ajudaram a perceber as particularidades relativas ao indivíduo como um todo, além de oferecer diretrizes sobre o que pode ser feito para colaborar em seu processo de reequilíbrio e readaptação.

No Capítulo 4 do livro, que trata sobre o desenvolvimento Cognitivo e Emocional poderemos ter uma visão ampla do desenvolvimento humano e como se processa a sua integração social e a sua aprendizagem tanto cognitiva como emocional.

Em termos do sistema trânsito, esse trabalho em seu Capítulo 7, tem a pretensão, por meio das instituições de ensino e da utilização de técnicas e conteúdos programáticos específicos e planejados, devolver aos jovens os seus referenciais pessoais, morais e éticos, e ao mesmo tempo capacitá-los no reconhecimento e na identificação de suas emoções, habilitando-os para o domínio sobre as mesmas, proporcionando condições de futuramente poderem conduzir tranquila e firmemente seu veículo sem envolver-se ou provocar acidentes.

O desenvolvimento tanto físico como mental é uma constante e o ensino não pode ser estanque. É preciso solidificar a educação para que comecemos uma nova era da edificação humana.

A proposição da disciplina em nossas vidas é estabelecer uma ordem, uma organização e um planejamento das nossas atitudes e comportamentos, possibilitando que a pessoa sinta-se feliz pelo que pode fazer e não seja frustrada pelo que não pode realizar melhorando o seu autoconceito e elevando a percepção de si mesma e do outro.

É imprescindível que o trânsito seja reavaliado bem como a capacitação dos motoristas, e simultaneamente percebamos que vivemos um momento singular para mudarmos a educação.

2. Introdução: Um movimento simples e eficiente sob a perspectiva psicológica na busca de um trânsito melhor

Um dos pontos mais compassivos sobre a violência pode ser atribuído ao crescente individualismo e ao isolamento social das pessoas, onde o individuo sente-se abatido e desamparado. Nos dias atuais, talvez possamos equiparar a violência a uma doença social.

A falta de confiança em si mesmo e a alta competitividade objetivando unicamente o sucesso material e não o crescimento pessoal tornou o homem cada vez mais insensível à vida em sociedade e ao mesmo tempo alheio aos seus próprios sentimentos, e que na maioria dos casos acaba valendo-se do trânsito como bode expiatório para aliviar todos os seus conflitos e insucessos. Essa tese ajuda a compreender e a explicar a descrição dos vários tipos de motoristas envolvidos no trânsito: o Guerreiro: o Rei, o Piloto, o Prisioneiro e o Salvador.

Esses tipos de motoristas podem ser definidos da seguinte forma:

Guerreiro: usa o veículo como armadura ou mesmo um tanque de guerra; conduz o veículo como se estivesse num campo de batalha, num campo de guerra, onde o outro é sempre percebido como inimigo a ser vencido (agressivos)

REI: o veículo é o seu trono, o mundo e todas as pessoas lhe devem favores. As normas e as leis devem privilegiá-lo. O rei tem domínio absoluto sobre tudo e sobre todos que o cercam e ele pode tudo. (onipotente)

PILOTO: o veículo faz parte do seu próprio ser, é uma extensão do seu corpo e de sua vida. Utiliza o veículo como instrumento para provar sua audácia e coragem, já que não consegue mostrar de outras maneiras sua segurança, pois no fundo trata-se de um ser inseguro e medroso. Tenta conquistar seu espaço no mundo dos adultos. (adolescente- por idade ou de mentalidade)

PRISIONEIRO: como o motorista profissional, o veículo é o seu cárcere permanente. Sente-se enjaulado e com sua vontade e sentidos tolhidos, presos pela situação de seu trabalho – horários, percurso, paradas em cada ponto, passageiro nervoso, campainha, luzes piscando, congestionamentos constantes, pagamento por viagem… Mal ajustado, usa o veículo, aproveitando-se do tamanho do mesmo e da velocidade, para satisfazer sua necessidade de auto afirmação e superar suas frustrações, desprezando por completo a convivência humana e social, como compensação por sua impotência e desprestígio. (motoristas profissionais)

SALVADOR: aquele que sempre deixa os outros passarem na frente, pensa sempre em auxiliar os que estão com problemas e sempre dá passagem aos pedestres.

Várias áreas das ciências humanas colaboraram com seus estudos para ajudar a entender as tribulações manifestadas pelos indivíduos na expressão do seu comportamento.

O desenvolvimento da neurobiologia nos forneceu os subsídios que permitem observar o funcionamento do cérebro e como são estabelecidas as conexões neurais da cognição (inteligência – atenção) e das emoções (raiva – amor).

Por outro lado, a psicologia, estudada de uma maneira ampla, nos ajuda a entender e a aprimorar os conhecimentos sobre as dificuldades cognitivas, emocionais e afetivas que assolam a humanidade desencadeando nos indivíduos a apatia afetiva, tornando a pessoa cada vez mais insegura culminando com o sentimento de baixa autoestima e de frustração contínua, gerando a instabilidade e a inadequação comportamental, que observamos no trânsito através da direção arriscada e da violência entre os usuários.

O interesse psicológico está em estudar e entender a separação que se estabeleceu entre a inteligência, as emoções e o comportamento final do indivíduo, que está sendo prejudicado na apreensão do Ser como um todo. Esse processo de distanciamento nos parece ter impossibilitado a pessoa na sua capacidade de compreensão e avaliação da situação que está enfrentando.

Parece-nos que a falta de objetivos e de referências faz com que o jovem sinta-se “solto no ar”, sem nenhum compromisso com a vida, consigo mesmo, com a família e nem com a sociedade.

Vive num mundo efêmero, sem ética e sem valores, onde não existem regras nem leis que rejam o comportamento e o relacionamento humano estabelecendo os limites de cada um, e este é um dos fatores que pode esclarecer a violência que atualmente sentimos e vivemos no nosso dia a dia. Leis e regras que tem a finalidade de garantir a ordem e o progresso pessoal e social, são desprezadas por completo é como se não existissem.

Sem objetivos e sem realização a pessoa sente-se cada vez mais incapacitada e fracassada, isolando-se de si mesma, dos seus afetos e sentimentos, reagindo de forma agressiva e violenta em seu convívio com os outros, e o grupo social trânsito acaba funcionando como alvo, como um meio propício para extravasar todas estas dificuldades. Afinal ele possui uma arma potente em suas mãos: o veículo automotor, que funciona como uma armadura de proteção aos seus ataques.

Uma das questões mais frequentes entre os estudiosos do psiquismo humano é: “porque algumas pessoas que tem um QI considerado alto não conseguem progredir na vida, enquanto que, outras consideradas com QI baixo se dão bem?”.

Essa aptidão foi denominada por Daniel Goleman como sendo a Inteligência Emocional, responsável pelo autocontrole, pelo cuidado, pela persistência e pela automotivação. Portanto podemos pensar que o problema não está na capacidade cognitiva, mas sim na adequação da emoção para a situação.

Toda emoção em sua essência é impulsiva; somente no homem, com o desenvolvimento do intelecto, é que passou a existir um controle racional do sentimento, o que podemos chamar de reflexão sobre a ação. Quando o aspecto intelectual, por algum motivo, é bloqueado, a violência sentida internamente pelo indivíduo, é transferida para o mundo externo de forma impulsiva e agressiva, onde o outro passa a ser visto como culpado pelo seu fracasso pessoal. É onde o indivíduo age e se comporta de forma combativa e violenta, sem nenhuma reflexão sobre o seu sentimento, sobre a sua emoção e sobre o seu comportamento.

No trânsito podemos perceber a manifestação desses sentimentos violentos por meio da alta velocidade, ultrapassagem perigosa, avanço de sinal, falta de respeito com a faixa de pedestre, buzina constante, entre outros comportamentos considerados inadequados.

Esse tipo de situação faz-nos pensar que as pessoas não são emocionalmente perturbadas, mas são deficientes em seu movimento social, em suas metas, em sua forma de integração social, porque formou conceitos errados de si mesma, dos outros e do mundo.

Esse trabalho de educação tem como objetivo devolver ao jovem a sua idoneidade, de modo que o mesmo consiga situar-se dentro do tempo e do espaço em que vive assumindo o seu existir. Esse argumento possibilita o desenvolvimento adequado da percepção de si mesmo e do outro e pode restaurar o sentimento da autoestima, permitindo a descoberta do seu potencial, devolvendo-lhe a segurança pessoal e a capacidade de ponderação para uma vida equilibrada e segura.

Esses sentimentos positivos poderão vir a se refletir também na condução do veículo, através de uma direção defensiva e hábil, promovendo no sistema trânsito um ambiente agradável, amigável e cooperativo.

Se durante o processo educacional existir normas, que terão a função de facilitar a adaptação do indivíduo ao grupo social de sua convivência, e as regras que estabeleçam os limites a serem obedecidos, garantindo o seu direito e o direito do próximo, isso trará as fronteiras e o bem estar para o jovem e o ajudará na disciplina para a vida como um todo, incluindo o trânsito.

A disciplina é uma fonte de energia propulsora para a esperança e a elevação dos padrões de comportamento de uma sociedade, na medida em que ajuda a determinar os objetivos e as metas para serem atingidos, estabelecendo uma ordem, uma organização e um planejamento do que queremos, do que podemos e do que devemos fazer. Podemos dizer que seria uma hierarquização dos interesses e dos valores pessoais e sociais.

Quando estabelecemos objetivos e conseguimos selecionar e estabelecer metas para a vida, estaremos definindo se o que queremos é um desejo real ou simplesmente um capricho.

Para isso a disciplina dá o entusiasmo e a motivação para alcançarmos os nossos alvos, as nossas metas além de colaborar para a realização dos nossos sonhos. Significa uma melhora constante e incessante na vida das pessoas, enquanto que a rotina de um comportamento implica numa estagnação, na ausência de movimento, onde há uma perda do entusiasmo pela própria vida.

É como se fosse à morte da alma, pois o comportamento mecânico e sem intenção pré-estabelecidas não necessita de emoção e nem de raciocínio, e acaba anulando totalmente a intervenção do indivíduo como um ser vivente e com vontade própria.

O corpo pode ser considerado como sendo o veículo da alma, e é através dele e do nosso comportamento que expressamos o que sentimos e o que pensamos. Quando existe alguma dificuldade nas esferas afetiva e/ou emocional, para o motorista o veículo passa a ser a sua alma uma continuação do seu próprio corpo, é quando os valores se misturam e se invertem e a máquina passa a ser o meio de solução para os seus conflitos.

Com a apresentação deste Projeto de Educação, temos a ambição de através das dinâmicas de grupo e dos jogos propostos com os objetivos determinados, alargar e devolver a capacidade cognitiva e afetiva do indivíduo. O alvo principal é facilitar o contato com as próprias emoções e promover a tomada de decisão diante das situações de conflito, procurando assumir posturas assertivas na solução dos mesmos.

O conflito de escolha por si só, provoca um sentimento de satisfação quando é compensatório, e de frustração quando a escolha não foi satisfatória podendo, como vimos ocasionar o desajuste emocional e comportamental.

Do ponto de vista psicológico, acreditamos que com a promoção do autoconhecimento e da autopercepção, as pessoas poderão criar um ambiente interno deleitoso, onde poderão sentir-se vivas, criativas e autênticas consigo mesmas e com os outros em suas relações, facilitando o reconhecimento dos seus afetos e emoções, e a partir daí alcançar um bom controle sobre o seu comportamento e a sua adequação ao meio em que vive. Este equilíbrio e tranquilidade interna permitem ao individuo uma forma de condução veicular mais cooperativa, amigável e cautelosa.

O comportamento é um sistema de crenças formado por referências, informações, e conhecimentos que vem antes da disciplina. É a história de vida do indivíduo construída sobre as suas experiências com o mundo e com as pessoas.

Quando quebramos essas referências e/ou mudamos nosso sistema de crenças, estabelecemos novos padrões de comportamento, às vezes, inadequados.

O mundo está em constante mudança, tanto no aspecto tecnológico como no aspecto do relacionamento humano. A todo o momento somos bombardeados por uma gama infinita de informações que temos que absorver e acomodar no nosso cotidiano.

Assim como existem concepções e definições do que é uma estrada segura e um veículo apropriado para circulação, a definição do condutor ou motorista adequado deve acompanhar a crescente complexidade do trânsito e as alterações que acontecem.

Atualmente, o motorista não é mais aquela pessoa que simplesmente manobra o veículo, ou que simplesmente conduz uma máquina. Ele é um elemento ativo e seu comportamento é imediatamente refletido no trânsito.

O número de veículos nas ruas aumenta constantemente, e as máquinas estão cada vez mais diversificadas e sofisticadas, mais potentes exigindo cada vez mais habilidade dos seus condutores.

As estradas, as rodovias e as ruas por onde estas máquinas circulam, também estão constantemente sofrendo mudanças em suas tecnologias e logísticas ordenando novas soluções e sinalizações, exigindo uma atualização constante do motorista.

Essas mudanças são perseverantes e acontecem num ritmo muito acelerado desencadeando uma estimulação cada vez maior, tanto em relação à sinalização como aos elementos humanos concernentes ao trânsito demandando uma capacitação cada vez maior dos condutores na apreensão dos estímulos e na elaboração das respostas para conduzir sua máquina de forma segura sem envolver-se ou provocar os acidentes. É preciso um bom controle sobre as emoções e uma capacidade de concentração e atenção, além do raciocínio rápido de modo que o motorista possa encontrar uma solução para a situação em que se encontra, sem desarmonizar o sistema como um todo.

A relação que o homem estabelece com sua máquina seguem dois cursos: ou ama e idolatra seu veículo como sendo uma extensão de seu próprio corpo, ou simplesmente o percebe como uma ferramenta a ser utilizada em seu transporte.

Outro aspecto na relação do homem com seu veículo é o seu uso como status social como meio de autoafirmação e aceitação em seu meio. Este tipo de sentimento faz com que as pessoas passem a valorizar mais o bem material do que o emocional, o que pode comprometer sua relação com o outro e com o próprio grupo do sistema trânsito.

Pessoas seguras, equilibradas emocionalmente, disciplinadas, são capazes de entender que, primeiro é preciso SER, isto é, apropriar-se de si mesmo, de sua própria vida, para depois TER, sendo capazes de canalizar a sua criatividade e a sua energia para o desenvolvimento de uma sociedade onde os limites são respeitados e os valores preservados.

3. Definição de Trânsito

CODIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

LEI Nș 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997.

Institui o Código de Trânsito Brasileiro.

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1ș – O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código.

§ 1ș – Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.

São vários os significados encontrados para definir o que é trânsito.

No dicionário da língua portuguesa, a palavra trânsito significa: passagem; trajeto; movimento de pedestres, animais e veículos que transitam nas cidades ou nas estradas, acesso fácil.

Em tempos primitivos, os pés constituíam o único meio de locomoção; e o próprio Ser humano era o principal meio de transporte que formava o trânsito.

Todo indivíduo, a pé ou num veículo de qualquer tipo, movimentando-se nas ruas, nas estradas, ou mesmo dentro de casa está formando o que conhecemos como trânsito.

Há os que transitam como pedestres, motoristas ou passageiros, além dos que administram todo o sistema, como por exemplo, o policial ou o agente de trânsito.

Rozestraten (1988) definiu o trânsito como “um conjunto de deslocamentos nas vias públicas, dentro de um sistema convencional de normas”.

Segundo Vasconcelos (1985), outro estudioso do tema, a definição de trânsito seria: ”o conjunto de todos os deslocamentos diários pelas calçadas e vias da cidade de pedestres e veículos”.

Mais um conceito encontrado para definir o trânsito é: movimento ou circulação de veículos e de pessoas, envolvendo a máquina, as vias públicas, o meio ambiente e o homem que é considerado como sendo o agente central de todo movimento do trânsito, vivendo ao mesmo tempo dentro de dois ambientes distintos:

seu próprio corpo (aspecto objetivo) – stress, dores de cabeça, mal estar, etc. e

seu psiquismo (aspecto abstrato) – mesmo que esteja vivendo algum conflito, seu “EU” tem que estar no trânsito e atento a tudo que ocorre a sua volta.

Sendo assim, podemos dizer que transitar é caminhar de um lado para outro, o que significa que trânsito não se refere somente a veículos motorizados, mas também a pedestres, ciclistas, motociclistas, etc., que também circulam pela cidade, ou seja, indo e vindo de um lado para outro.

Alguns autores sugerem ainda mais, que trânsito é também diálogo, quer dizer que para se locomover de um lugar para outro, as pessoas necessitam comunicar-se entre si e com o meio: como por exemplo, enviar, receber e compreender as mensagens emitidas pelos motoristas para sinalizar suas manobras é uma forma de comunicações que orienta o trânsito sendo um aspecto fundamental para evitar os acidentes .

A linguagem do trânsito é específica e a falta de compreensão da mesma pode levar a imprevistos.

3.1. O deslocamento existe em todos os lugares e todos nós compartilhamos dele

A circulação de um modo geral pode ser feita por meio de várias formas diferentes entre si: pelo ar (avião), pela água (barcos), pelo solo (a pé, trem, ônibus, carro, moto, bicicleta) e pelo subsolo (metrô).

Todo veículo, homem ou animal, ao se movimentar em qualquer lugar do nosso planeta está fazendo parte do trânsito. Assim, por exemplo, quando saímos de nossas casas e nos dirigimos ao mercado ou a escola, já estamos formando e participando do trânsito.

O movimento de circulação está tanto nas ruas, nas rodovias, nos passeios, como nas escolas, nas nossas casas, nos locais de trabalho. Sempre que nos locomovemos de um lugar a outro, dizemos que estamos em trânsito.

Para que o trânsito flua bem e sem problemas, todos nós devemos circular de forma cooperativa sem dificultar ou atrapalhar o deslocamento dos outros. Agindo dessa forma valorizamos o sentimento de cidadania, o que significa comportarmo-nos como bom cidadão respeitando o nosso espaço e o espaço do outro.

Quando as regras, as normas ou as leis que regem o trânsito não são obedecidas, em qualquer das situações citadas, acontece uma desordem que dificulta a circulação das pessoas e dos veículos, provocando os engarrafamentos, congestionamentos e podendo culminar com os acidentes.

Então, para compreender o caos que se instalou no trânsito, não é suficiente analisar os problemas relacionados aos imprevistos ou às adversidades; precisamos entender como as pessoas participam desse trânsito, como estão circulando e colaborando para um trânsito seguro, quais são suas necessidades, seus interesses e como essas mesmas pessoas colaboram para o desenvolvimento e a ordem do mesmo.

De acordo com o Novo Código de Trânsito Brasileiro Lei n. 9.503, de Setembro de 1997 – arts. 1ș e 2ș; o trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a este cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotarem medidas destinadas a assegurar esse direito.

3.1.a. Quais os papéis que desempenhamos dentro do sistema Trânsito? Podemos ser: Motorista – Passageiro – Pedestre

Durante o dia, a todo o momento, nos é solicitado a exercermos um determinado papel dentro do sistema trânsito, e no decorrer do dia, dependendo da situação em que estamos envolvidos, representamos quase todos os papéis inevitavelmente.

Quem estiver se deslocando em um tipo qualquer de veículo e estiver conduzindo a máquina, este é o motorista. Quando o individuo não for o condutor, ele é o passageiro, e quando nossa movimentação é feita a pé, somos os pedestres.

Todas as pessoas dependendo do momento e da situação podem ser motoristas, passageiros, ou pedestres porque a maioria das pessoas está sempre transitando de um lugar para o outro.

Alguns locais por onde transitamos estabelecem as normas de circulação, como por exemplo, dentro de estabelecimentos comerciais ou dentro das nossas casas só podemos ser pedestres.

É importante lembrar que, como motoristas, passageiros ou pedestres, precisamos estar sempre atentos à nossa segurança e à segurança dos outros também, pois é disso que depende o nosso bem mais precioso: a nossa vida e a vida do nosso próximo.

3.1.b. Quem são as pessoas e os profissionais que formam e participam do trânsito?

Para formar o trânsito é necessário que várias pessoas e/ou vários veículos estejam envolvidos na situação, e que cada um represente um papel específico que os define. São vários os profissionais que colaboram para a existência do trânsito, como por exemplo:

CAMINHONEIRO: é o indivíduo que dirige qualquer tipo de caminhão.

CICLISTA: qualquer pessoa que anda de bicicleta

MOTOCICLISTA: quando o indivíduo é o piloto de uma motocicleta, independente da cilindrada.

MOTORISTA: condutor de qualquer tipo de veículo automotor, como carro, ônibus, caminhonete.

PEDESTRE: indivíduo que circula a pé.

TAXISTA: quando o sujeito dirige e trabalha com um táxi.

POLICIAL DE TRÂNSITO: guarda ou agente de trânsito que fiscaliza e orienta o trânsito.

PATRULHEIRO RODOVIÁRIO: policial de trânsito responsável pela circulação dos veículos nas estradas

AGENTE de TRÂNSITO: indivíduo responsável pela fiscalização do cumprimento das normas e leis que regem o trânsito

Cada uma dessas pessoas tem um papel específico dentro do trânsito com o objetivo de garantir a segurança do usuário.

3.2. A Violência no Trânsito

Ultimamente a violência tem sido o foco da atenção e da preocupação na sociedade do mundo inteiro e de um modo globalizado.

Segundo Goleman “nos países modernos, a tendência é para um individualismo exacerbado, o que acarreta, consequentemente, uma competitividade cada vez maior […] essa visão de mundo traz consigo o isolamento e a deterioração das relações sociais e pessoais”.

A lenta desintegração da vida em comunidade e a necessidade de autoafirmação estão acontecendo paradoxalmente num momento em que as pressões econômico-sociais estão exigindo uma maior cooperatividade e envolvimento ético entre os indivíduos.

Esta atmosfera de mal estar social representada pelo alto índice de hostilidade, violência e criminalidade, é indicadora de um crescente desconforto emocional, e uma sensação de incapacidade, que podem estar gerando os desajustes sociais, tornando difícil o convívio do homem com os seus semelhantes.

No grupo social trânsito não é diferente; essas dificuldades se manifestam por meio da alta competitividade e pela falta de cooperação entre os motoristas tornando o trânsito cada vez mais perigoso e violento.

Ultrapassagens perigosas, buzinar pressionando o condutor que está à sua frente, não dar passagem, xingamentos, fechadas, etc., são formas de manifestar a violência no trânsito.

Observando esses tipos de comportamentos tão inadequados, começamos a nos perguntar: quando age de forma violenta, agredindo o outro ou a si mesmo, o que a pessoa espera da sociedade? A quem ela deseja realmente atingir? Aos outros, a sociedade, as regras morais, as leis ou a si mesma? Enfim qual é o alvo real do ataque da pessoa que não se integra à comunidade e que não se ajusta às regras e às normas estabelecidas?

No mundo atual, visto sob o ângulo psicológico, entendemos que o respeito humano está sendo banido dos relacionamentos e das convivências sociais, mediante a inversão dos valores éticos, morais, religiosos e sociais que se instituiu no mundo.

Vemos que há uma grande preocupação dos profissionais de todas as áreas das ciências humanas e da saúde, para reencontrar o ponto de equilíbrio e amenizar a convivência dos homens entre si estabilizando seu contato com a sociedade de modo geral, inclusive no trânsito. Podemos considerar que os disparates que ocorrem no sistema viário é o reflexo do que vivemos atualmente.

Somado ao aspecto educacional, a mazela da crise econômica, que nos parece ser eterna, o problema da falta de cooperação, de solidariedade e de respeito com o outro aparece também nas vias e rodovias, onde a violência pode se manifestar com todo o seu vigor, pois o motorista está legalmente autorizado através da CNH, a portar uma arma (o veículo), que quando mau manejada acaba por ocasionar mortes ou ferimentos, que em sua maioria são graves, deixando o indivíduo com sequelas que na grande parte das vezes, pode torná-lo limitado ou incapacitado por toda a vida. O que temos hoje é uma gama de motoristas mal informados, e mal formados.

Para entendermos o comportamento humano geral, precisamos considerar os fatores internos e externos relacionados ao ambiente em que o indivíduo vive e que irão determinar a sua resposta ao mesmo, resposta que se manifestará em comportamentos e ações.

Partimos da premissa que o homem é um ser multifatorial, e que na formação da sua personalidade, o processo de educação e as informações recebidas exercem um papel fundamental para o seu ajustamento pessoal e social.

A psicologia compreende o homem como um ser determinado pelas condições histórico-sociais que o cercam. Como ciência, tem buscado sobremaneira entender a transformação que ocorre no seu íntimo, e de que forma essa modificação age sobre seu comportamento social. Para isso tentaremos definir o termo agressão, para chegarmos ao desencadeamento do comportamento violento.

Existem dois tipos de agressividade definidos por Sigmund Freud: as agressividades positivas, ligadas ao instinto de vida (Eros), e a agressividade negativa ligada ao instinto de morte (Tânatos).

Segundo Laplanche e Pontalis agressividade é a tendência ou o conjunto de tendências que se atualizam em comportamentos reais ou fantasísticos que visam prejudicar o outro, destruí-lo, constrangê-lo, humilhá-lo, etc.

De modo sucinto, podem ser feitas as seguintes formulações:

A violência é definida como o uso desejado da agressividade com fins destrutivos, e pode ser de caráter:

Voluntário – intencional

Racional – premeditado

Consciente – o objeto é adequado à agressão

Involuntário ou Irracional – a agressão destina-se a um objeto substituto.

Nos tempos modernos, a violência invadiu todos os setores das nossas vidas, e também todas as áreas de nossas relações, sendo causadora da desunião e destituição humana, como patologia ou doença social que contamina toda a sociedade, podendo ser a responsável pelo grande número de acidentes e mortes no trânsito.

Em meio a esta instabilidade as pessoas acabaram perdendo as coordenadas dos seus objetivos e da própria vida. Dentro desse contexto caótico, definimos o aparecimento e a evolução de três tipos de violência:

Violência Primária – manifestada pela expressão facial ou corporal (sinais obscenos, etc.)

Violência Secundária – manifestada pela expressão verbal (ofensas, menosprezo, etc.)

Violência Terciária – manifestada através da expressão física (agressão propriamente dita, culminando com o homicídio).

(Rassul e Colacique, 2002).

Por outro lado, analisando o homem como sendo o agente central que motiva e movimenta todo o trânsito, é importante perceber e avaliar não como o motorista pode dirigir, mas sim como está dirigindo, pois entendemos que a forma como dirige é o reflexo de sua própria vida, é a manifestação do seu verdadeiro EU.

Os indivíduos mal ajustados, agressivos ou violentos, usam o veículo de forma inadequada, como uma arma para satisfazer sua necessidade de autoafirmação, desprezando por completo a convivência humana e social.

O sistema trânsito, percebido e compreendido como um grupo social é formado por uma tríade de partes coordenadas entre si que compõem todo o conjunto de locomoção, e é representado pelo diagrama como segue:

onde, o Homem é o fator ressaltante no organograma, pois interage ao mesmo tempo com a máquina, com o meio ambiente, com os outros e consigo mesmo.

A psicologia do trânsito é um ramo da ciência que estuda o comportamento do homem em seu deslocamento – motorizado ou não – mediante um conjunto de normas e leis que pretendem assegurar a integridade física e moral dos componentes do sistema viário.

Os acidentes de trânsito podem ter suas causas em fatores objetivos e concretos tais como:

Fator Natural (considerado como sendo o ambiente);

Fator Técnico (veículo, vias públicas ou despreparo do condutor);

Fator Físico, orgânico, fisiológico (condutor); ou em fatores subjetivos (relacionados com os aspectos emocionais e a personalidade do condutor).

Considerando ainda que o condutor é o elemento central e atuante principal do sistema viário e do acidente, não devemos nos esquecer dos comportamentos que caracterizam a imprudência, a negligência e a imperícia. Esses comportamentos podem ser definidos como:

Imprudência: atitude de irresponsabilidade ao volante (ex: transitar em alta velocidade);

Negligência: senso de desleixo ao conduzir o veículo (má condição de conservação);

Imperícia: quando não possui qualificação para dirigir um veículo.

Enfatizamos que um dos caminhos que temos para tentarmos organizar esse caos que se estabeleceu no trânsito, e que tem gerado a grande violência que hoje estamos vivendo, é através da educação e da boa aprendizagem.

Essas questões nos remetem aos princípios psicológicos do desenvolvimento e da didática de ensino como pontos de partida para uma prática mais eficiente, dinâmica e com resultados mais decisivos e satisfatórios.

4. O Desenvolvimento Cognitivo e a Educação Para o Trânsito

Na maioria das vezes o trabalho escolar não tem considerado a dimensão holística do educando, abandonando o aspecto emocional onde a nova tecnologia de ensino acaba gerando pessoas intelectualmente adultas, porém sentimentalmente infantis, irreais e até mesmo aguerridas.

Segundo os autores Hoffman e Filho uma das formas de prevenção contra o acidente de trânsito seria a educação para o trânsito, que colaboraria para comportamentos sociais mais adequados e significativos. Apesar do foco deste trabalho ser o trânsito, o mesmo estudo é adequado para as instituições de ensino de modo geral.

A educação para esses autores é compreendida como: “Educação ético-social englobando a Educação para o Trânsito e ambas estão inseridas na educação social, de onde obtém fundamentos teóricos e metodológicos”, . (Hoffman e Filho, 2003, p. 195).

O ensino moderno tem sonegado as situações limites da vida, onde a apreensão dos fatos da realidade é equivocada; cada indivíduo tem a sua própria verdade esquecendo que o mundo real é dinâmico e ao mesmo tempo contraditório, jamais estático e estratificável em conceitos individuais e verdades definitivas.

A apreensão do real deve emanar sempre de um processo coletivo (Círculo Virtuoso) e não estar e nem ser baseada em uma postulação newtoniano-positivista de um conhecimento individual objetivo e inquestionável (Círculo Vicioso).

A questão epistemológica remonta aos gregos, do século VI A.C.. O substantivo grego episteme deriva do verbo ep-istastai, que significa “saber, estar próximo, conhecer”.

Com base nos princípios da didática do ensino, distingue-se e considera-se que a instrução compreende o conhecimento teórico- científico; enquanto que a educação abrange os conteúdos morais e éticos.

Partindo desse pressuposto, podemos entender que a instrução envolve a esfera cognitiva; ao passo que a Educação abrange a esfera emocional, onde a integração desses dois aspectos do indivíduo permite o processo da aprendizagem como um todo e que se externa em adaptação social e comportamentos adequados.

Quando falamos em instrução estamos nos referindo ao indivíduo como o centro de suas realizações pessoais, aonde seu conhecimento vai sendo construído passo a passo; enquanto que na educação o enfoque é para o desenvolvimento da personalidade relacionado às individualidades psíquicas, aproveitando ao máximo o seu potencial emocional, com o objetivo de atingir e desenvolver os conteúdos éticos e morais.

Considerando que o homem, sobretudo é um ser social que promove e ao mesmo tempo sofre mudanças relacionadas ao meio, através do seu estilo de interação e de conexão que estabelece com o mundo e com o outro, então perguntamos: o que estará errado, ou estará faltando para que a experiência de dirigir torne-se integral, na medida em que envolve os planos cognitivo e emocional do indivíduo enquanto pessoa e ao mesmo tempo como membro de uma sociedade? Porque será que o trânsito é tão violento? Será que sentimos a falta da educação no trânsito?

De acordo com uma pesquisa sobre estratégias que poderiam ser adotadas para redução de acidentes de trânsito, realizada por Lemes em 2003, com base em sugestões da Comunidade, o resultado em ordem decrescente foi o seguinte:

31,0% Educação para o trânsito (inclusão no currículo de ensino)

21,3% Fiscalização (punição de condutas inadequadas)

14,2% Impunidade (atividade comunitária de recuperação dos acidentados)

10,4% Engenharia (melhoria da malha viária)

6,7% CNH (seriedade no curso de formação do condutor)

5,6% Governo

4,7% Corrupção.

Infelizmente a área de trânsito é muito carente de pesquisas mais atualizadas.

Delors  revela que a educação do século XXI deve transmitir SABERES (Instrução) e SABER FAZER (Educação) evolutivo, de modo que cada indivíduo possa ser capaz de selecionar, filtrar, decodificar, codificar e gerenciar o excesso de inovações e informações que são recebidas diariamente.

A adaptação do homem a um mundo e a um trânsito em constantes mudanças, já não é possível nem adequada somente com o acúmulo de conhecimentos teóricos e comportamentos automáticos.

É importante atualizar, aprofundar e reorganizar o que foi apreendido e aprendido anteriormente para que possamos adequar nosso comportamento e as nossas ações às novas situações que se apresentam na vida e no trânsito, de maneira equilibrada e produtiva, permitindo dessa forma a manifestação de comportamentos mais conscientes e afirmativos.

É por isso que o Ensino deve estar articulado com a Educação, visando favorecer o avanço das ciências através de uma eficaz coordenação do concreto (meio ambiente) com o abstrato (psique).

A aprendizagem deve evoluir de simples transmissão de prática rotineira para uma preocupação na melhoria da segurança e na qualidade de vida, desenvolvendo, alavancando, e aprimorando o sentimento de cidadania, o respeito às regras, sendo capaz de promover a produção de valores mais humanos.

Segundo John Dewey “dizer que se vendeu quando ninguém comprou é tão exato como declarar que se ensinou quando ninguém aprendeu”.

Hoje o caminho da Educação deve levar o sujeito à consciência da interdependência inata e saudável entre os homens, fornecendo destaque à capacidade de saber ouvir, aumentando a empatia, a propagação do hábito da utilização do diálogo e da argumentação, na busca da construção de uma personalidade autônoma, discernidora e responsável.

Esse caminho contempla todas as potencialidades individuais: memória, raciocínio, sentidos éticos e estéticos, capacidades cognitivas e psicomotoras além da adaptabilidade emocional.

Além de englobar os fatores físicos relativos ao amadurecimento neurológico que são primordiais para a recepção e para o seguimento da informação, o processo da aprendizagem engloba fatores psíquicos que dizem respeito à prontidão emocional para perceber, decodificar e assimilar novos dados, permitindo que indivíduo seja capaz de dimensionar as consequências de suas atitudes frente ao mundo e às pessoas.

A Psicologia enquanto ciência do comportamento ajudou muito na compreensão dos afetos e das emoções humana, e colaborou para a compreensão do processo da aprendizagem. Vários psicólogos pesquisadores forneceram dados reveladores sobre os aspectos cognitivo e emocional do homem. A título de informação, citaremos mais adiante, alguns dos estudiosos que tiveram um destaque maior para o nosso trabalho.

4.1. A Didática e o Ensino

A didática tem como meta desenvolver formas e recursos para facilitar a transmissão de conhecimentos específicos, devendo para isso preparar o público a quem se destina, selecionando e ordenando seus conteúdos e os recursos que utilizará para passar as informações, num plano de curso pré-estabelecido respeitando a capacidade cognitiva e emocional de quem vai receber as informações. Para isso desenvolveu os seguintes passos a fins de despertar o interesse e a motivação dos alunos:

dados gerais ou identificação da disciplinar: nome da disciplina, período letivo, carga horária, nome do instrutor;

justificativa: explicação do porque da matéria. Qual sua importância?

objetivo específico: ensinar o aluno e ele aprender;

seleção de temas: conteúdos, programas;

metodologia, estratégia de ação;

recursos: filmes, cartazes, banners;

atividades: trabalho e procedimento;

avaliação e replanejamento:

Contínua perguntando durante a aula

Somativa final de cada unidade

Diagnóstico pré e pós-teste

A atitude do professor em relação à matéria é orientar, controlar e medir o aproveitamento dos alunos. A avaliação do processo de aprendizagem deve ser contínua e dinâmica; de ação e reação diante dos conteúdos apresentados, com uma proposta de modificar os comportamentos e/ou as percepções e deduções inadequadas.

O professor ou instrutor deve ter como objetivo as mudanças que deverão ocorrer no comportamento do aprendiz com a aquisição das novas informações.

Uma das formas de construir a aprendizagem é fazer com que o aluno pense e desenvolva hipóteses a respeito dos problemas que lhes são apresentados, de modo que consiga chegar a uma solução satisfatória, potencializando a capacidade de observar e entender a sua reação, e o porquê do seu comportamento para chegar a uma conclusão final.

As respostas assertivas estão baseadas numa linha de raciocínio lógico-dedutivo, objetivando a compreensão da relação existente entre a ação e a reação, o que permite ao sujeito o desenvolvimento da sua capacidade de controle sobre a impulsividade, manifestando comportamentos mais adequados e conscientes.

Esta percepção e compreensão de que toda ação gera uma reação é muito importante para o trânsito, pois permite uma reflexão maior sobre as atitudes que serão adotadas.

A didática preocupa-se com a metodologia e os recursos materiais para cumprir sua proposta de ensino, enquanto que a psicologia preocupa-se em entender o funcionamento cognitivo/emocional do indivíduo na recepção das informações, numa tentativa de adequar os métodos de ensino e facilitar o processo da aprendizagem e do autoconhecimento.

Ambas as ciências são importantes e caminham paralelamente tendo em vista o pressuposto de que o ser humano é uma unidade indivisível.

Na psicologia, surgiram várias linhas (escolas) de pensamento com a finalidade de atingir e compreender o psiquismo humano. Muitas teorias foram desenvolvidas para explanar sobre o comportamento humano e suas variações, até o momento em que a psicologia se firmou como ciência.

Como informação e para facilitar a compreensão do trabalho, faremos uma breve apresentação sobre o desenvolvimento da psicologia citando alguns autores e suas escolas bem como as características de cada uma para o processo da aprendizagem.

4.1.a. A Importância de John Locke para Psicologia

No século XVII o filósofo britânico John Locke (1632 – 1704) revolucionou o mundo acadêmico com sua teoria onde declarava que a mente do recém-nascido era como uma “pedra lisa” (tabula rasa) e dessa forma nenhum conhecimento e nenhuma informação estaria em nossa mente ao nascermos.

A expressão Tabula Rasa deu origem e sentido à corrente filosófica denominada de empirismo onde John Locke é considerado o seu principal representante.

O filósofo partia da suposição de que todas as pessoas quando nascem não sabem e não conhecem absolutamente nada, todos nascemos sem nenhuma impressão. Tomando como referencia esse princípio Locke deduziu que todo o processo do conhecimento e do comportamento seria aprendido durante a vida e adquirido pela experiência do indivíduo com o mundo através da tentativa e erro.

Locke considerava que todo aprendizado e conhecimento alcançados seriam gravados na tabula por meio das nossas experiências com o mundo externo, isto é, por meio das informações que foram captadas através dos nossos órgãos dos sentidos: visão, audição, olfação, gustação e tato.

Atualmente a teoria da tabula rasa é considerada ultrapassada pelas evidências científicas da influência genética no comportamento humano, onde os pesquisadores passaram a reconhecer a importância e a influencia do meio ambiente sem, no entanto desprezar a carga genética do individuo.

Na metodologia e no processo da educação, as funções atribuídas ao professor são a coordenação e a direção da apreensão dos estímulos, para planejar a aprendizagem espontânea que se manifesta no desenvolvimento e nas atividades da criança, estimulando e favorecendo o interesse e a iniciativa do aprendiz. Isto significa adequar os materiais à capacidade de compreensão do indivíduo.

No desenvolvimento cognitivo e emocional, há uma sequência lógica e ordenada que está subordinada à maturação do organismo e a sua interação com o meio onde vive.

Já o filósofo Aristóteles se ocupou com as associações da combinação de duas ou mais representações ou vivências parciais, o que levou David Hume (1711 – 1776) a retomar e aperfeiçoar a teoria aristotélica das associações comprovando sua extraordinária importância para a Psicologia que conhecemos atualmente.

Hume argumentou que as reproduções captadas eram figuras de impressões sensoriais e se encontravam ligadas umas às outras tendo como base leis mecanicamente funcionais. Dando continuidade ao pensamento Aristotélico, Hume formulou as leis da associação da relação espaço-tempo, da semelhança, do contraste e da casualidade.

Vários psicólogos como Piaget, Kohlberg, Freud e Erikson acreditavam que existiam etapas separadas quantitativa e qualitativamente diferentes no processo do crescimento, e que posteriormente foram denominadas por Jean Piaget como sendo os estágios do desenvolvimento.

Na ciência psicológica, esses estágios apontam que:

existe um tópico predominante num determinado estágio que organiza o comportamento;

os comportamentos de cada estágio são qualitativamente distintos;

todas as crianças passam pelos mesmos estágios de desenvolvimento e na mesma ordem, sendo esta invariável.

As transformações que acontecem nos aspectos físico e intelectual durante o processo de desenvolvimento da criança foram bem demarcadas e definidas pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980), reconhecido como um dos pensadores mais influentes do século XX.

Piaget passou a maior parte de sua carreira profissional interagindo com crianças; observando e estudando sua técnica de raciocínio.

Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e da Pedagogia.

A necessidade de definir os períodos relativos ao desenvolvimento da inteligência residia no fato de que, em cada uma das fases, a criança adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade. O estudo e a compreensão destes processos são fundamentais para que os professores possam também compreender a capacidade da criança na fase em que se encontra, podendo aproveitar melhor o seu potencial.

Piaget foi um biólogo suíço com enorme produção nas áreas da Psicologia, Epistemologia e Educação. Lecionou psicologia na Universidade de Genebra nos anos de 1929 a 1954, sendo conhecido principalmente por organizar e descrever o desenvolvimento cognitivo em uma série de estágios.

Seu conhecimento sobre Biologia ajudou-o a entender o desenvolvimento cognitivo das crianças como sendo uma evolução gradativa e sequencial.

A adaptação era definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência, que ocorreria através dos processos que ele denominou de assimilação e acomodação.

Segundo ele, os esquemas de assimilação vão sendo modificados de acordo com as necessidades para configurar os estágios de desenvolvimento.

Piaget considerava, ainda, que o processo do desenvolvimento era influenciado por outros fatores como:

maturação (crescimento biológico dos órgãos),

exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que implicam na formação dos hábitos),

aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e

equilibração (processo de auto regulação interna do organismo que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio – homeostase – após cada desequilíbrio sofrido).

Esse processo pode ser entendido através do paradigma que segue:

Piaget estudou e desenvolveu diversos campos científicos, como por exemplo, a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que veio a ser chamado de epistemologia genética.

A profundeza do trabalho de Piaget tinha como escopo ensinar que ao observarmos cuidadosamente a maneira como a informação é alcançada pelas crianças, poderíamos entender melhor o caráter do conhecimento humano.

Suas pesquisas sobre a psicologia do desenvolvimento e a epistemologia genética tinham a finalidade de buscar entender como ocorria a evolução da inteligência.

Piaget formulou a teoria de que o conhecimento sofre transformações progressivas, influenciadas pelas estruturas de raciocínio que vão sendo substituídas umas às outras através dos estágios. Isto significa que a lógica e as formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos adultos. Esse aspecto é de suma importância para a distribuição do conteúdo programático que aborda o tema trânsito.

Segundo Piaget, enquanto a criança experimenta o mundo, ela “constrói” teorias a cerca de como o mundo funciona, às quais, denominou de “esquemas”.

Ao enfrentar uma situação nova, a criança tenta compreendê-la em termos dos esquemas já existentes anteriormente.

Se o esquema antigo não for capaz de acomodar uma nova informação, então há necessidade de modificar a teoria do que já foi assimilado para que a nova informação possa ser processada. A essa técnica reflexiva Piaget chamou de Assimilação.

Então podemos entender que a assimilação consiste numa tentativa do indivíduo em solucionar os problemas que surgem, aproveitando a estrutura cognitiva que ele já possui até aquele momento específico da sua existência, anexando às mesmas as informações relacionadas à nova situação, para encontrar uma solução adequada. Esse processo é ininterrupto uma vez que o indivíduo está em constante atividade para interpretar a realidade que o rodeia e poder adaptar-se a ela.

Como o processo de assimilação representa sempre uma tentativa de integração entre os aspectos das experiências vivenciadas e dos esquemas previamente estruturados, ao entrar em contato com os novos elementos da informação o indivíduo tende a retirar dele somente os conhecimentos que lhe interessam deixando de lado os detalhes que não são importantes ou significativos, propondo-se sempre ao restabelecimento da homeostase.

A acomodação, por sua vez, consiste na capacidade da transformação de uma estrutura mental antiga em fornecer condições ao indivíduo para que ele domine um novo aspecto do objeto de conhecimento. Isto é, a acomodação representa a atuação do objeto sobre o sujeito, (Freitas, op. cit.:65) surgindo como o elemento complementar das interações entre o sujeito e o elemento.

Em resumo, todo conhecimento é assimilado em uma estrutura de ideias já existentes (esquemas) podendo provocar uma transformação, suscitando um processo de acomodação.

Em seu trabalho, Piaget identificou e descreveu os quatro estágios da evolução mental na criança. Cada estágio é um período onde o pensamento e o comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de conhecimento e raciocínio.

Esses quatro estágios são:

sensório-motor,

pré-operatório,

operatório concreto e

operatório formal.

Faremos uma breve explanação sobre cada um desses estágios com suas características:

4.1.b. Fase 1: Sensório-motor ( 0 A 2 anos)

Na fase do estágio sensório-motor, que vai desde o nascimento até aproximadamente o segundo ano de vida, a criança busca alcançar o seu controle motor e ao mesmo tempo desvendar e conhecer o mundo físico que a cerca.

Esse estágio é chamado de sensório-motor, porque nele a criança adquire o conhecimento por meio do seu corpo e das suas próprias ações que são controladas pelas informações sensoriais imediatas e concretas.

Segundo a tese piagetiana, “a criança nasce em um universo que para ela é caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao poder das ações, em uma forma de onipotência”.

Para explicar o seu estudo sobre a construção do real, Piaget propõe e ilustra a sua ideia utilizando-se da expressão “a passagem do caos ao cosmo”, concluindo que no recém-nascido as funções mentais estariam vinculadas e restringidas ao treino dos aparelhos reflexos inatos.

Sendo assim, Piaget sugere que o universo que rodeia a criança vai sendo conquistado pela percepção e pelos movimentos (como a sucção, o movimento das mãos, dos olhos). A ausência da função semiótica, isto é, do funcionamento e recepção dos diferentes sistemas de signos de comunicação entre indivíduos ou coletividades seria a principal característica deste período.

Nessa fase a inteligência funciona utilizando-se das percepções (simbólico) e das ações (motricidade) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência eminentemente prática e concreta, o mundo precisa ser tocado e sentido para ser conhecido e apreendido.

O desenvolvimento da linguagem vai desde a ecolalia (que é a repetição de sílabas) até a palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água), uma vez que não consegue representar mentalmente o objeto e as ações. Neste período, seu comportamento social é de isolamento e indiferenciação (o mundo é a própria criança).

Progressivamente, a criança vai aprimorando os seus movimentos reflexos e adquirindo novas habilidades, chegando ao final do período sensório-motor se concebendo dentro de um cosmo, como sendo um corpo diferenciado e independente dos demais (noção do esquema corporal). Nessa fase, a criança já consegue perceber que nesse espaço existem tempo, espaço, e que entre eles existe uma relação de causalidade, objetivados e solidários, entre os quais situa a si mesma como um objeto específico, agente e paciente dos eventos que nele ocorrem, provocando e sofrendo as influências dos mesmos.

No Período Simbólico, que vai aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade, surge a função semiótica que permite o aparecimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, habilitando a criança para a criação de imagens mentais na ausência do objeto ou da ação; é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico.

Com a descoberta dessa nova capacidade a criança pode formar imagens mentais e transformar qualquer objeto numa fonte de satisfação do seu prazer (por exemplo, uma caixa de sapatos pode se transformar em um carrinho). É também o período em que a criança “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem").

A linguagem passa a existir, porém, na forma de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que ninguém responda as argumentações uns dos outros. Duas crianças “conversando” verbalizam frases que não têm nenhuma relação com a frase que o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, contudo dentro do coletivo. Não existe liderança e os pares são constantemente trocados sem que isso traga qualquer prejuízo.

Existem ainda outras características do pensamento simbólico, como o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), a superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), e tantas outras que não mencionaremos aqui, uma vez que a proposta básica é de compendiar e sintetizar as ideias de Jean Piaget.

4.1.c. Fase 2: Pré-Operatório ( 2 A 7 anos)

No estágio pré-operatório, que se estende aproximadamente dos 2 aos 7 anos de idade, a criança procura adquirir e desenvolver a habilidade verbal. Nesse estágio, ela já consegue nomear corretamente os objetos e raciocinar intuitivamente, mas ainda não é capaz de coordenar as operações fundamentais. A fase pré-operacional distinguiu-se das anteriores pelo desenvolvimento da linguagem, que como resultado proporciona para a vida mental possibilidade de adaptação favorecendo:

a socialização da ação, com troca compreensível entre os indivíduos, e

o desenvolvimento e elaboração do raciocínio a partir do pensamento verbal: finalismo (causas finais), animismo (dar vida a objetos inanimados) e artificialismo

Neste período já existe um desejo de explicação e compreensão dos fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o indivíduo pergunta o tempo todo.

Nessa fase a criança já é capaz de distinguir a fantasia da realidade, podendo dramatizar a fantasia sem que necessariamente acredite nela.

O tipo de pensamento continua centralizado em seu próprio ponto de vista, consegue organizar coleções e conjuntos sem, no entanto, ser capaz de compreender e incluir os conjuntos menores em conjuntos maiores (cavalo no conjunto de quadrúpedes, por exemplo).

Quanto à linguagem não consegue manter uma conversação longa, mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro e estabelecer um diálogo compreensível. Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.

4.1.d. Fase 3: Raciocínio Operatório Concreto (7 a 11 anos)

No estágio operatório concreto, que se prolonga dos 7 aos 11/12 anos de idade, a criança começa a ter contato e a trabalhar com os conceitos abstratos como por exemplo, os números e os relacionamentos. Esse estágio é caracterizado por uma lógica interna sólida e pela destreza em solucionar problemas de ordem concreta.

É o período onde o indivíduo solidifica as conservações de substância, volume e peso. Torna-se capaz de ordenar os elementos considerando seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando o mundo que a cerca de uma forma mais lógica ou operatória.

Agora a sua organização social é a de bando, conseguindo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já são capazes de compreender regras, sendo fiéis a elas, e mostram condições de firmar e cumprir compromissos.

O diálogo torna-se possível, haja vista, que já desenvolveram e possuem uma linguagem socializada, no entanto podem discutir diferentes pontos de vista sem que cheguem a uma conclusão satisfatória e comum.

De forma sintetizada as características da fase das operações concretas são:

o desenvolvimento do pensamento lógico sobre coisas concretas

a compreensão das relações entre os objetos e capacidade para classificá-los

a superação do egocentrismo do comportamento e da linguagem

as noções de conservação de substância, peso e volume

4.1.e. Fase 4: Raciocínio Operatório Formal (12 anos em diante)

No estágio operatório formal – que se desenvolve entre os 12 e 15 anos de idade – o pré-adolescente já começa a raciocinar de uma forma lógica e sistemática. Esse estágio é definido pela habilidade de dedicar-se ao raciocínio abstrato. As deduções lógicas podem ser feitas de forma abstrata sem necessidade da presença dos objetos concretos.

Essa última é considerada a fase das operações formais, sendo o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático, onde o indivíduo é capaz de mostrar sua aptidão e competência para construir e entender sistemas e teorias abstratas.

Considera-se que nessa etapa o jovem está apto para conjecturar sobre as probabilidades, estabelecendo uma relação direta entre causa e efeito, libertando-se do concreto imediatista em proveito de interesses orientados para o futuro. É finalmente, a “abertura para todos os possíveis”.

A partir desta estrutura de pensamento a dialética torna-se possível, o que permite que a fala se processe em nível de discussão, objetivando chegar a uma conclusão comum. Sua organização grupal tem por base estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.

A obra de Jean Piaget é muito importante para a educação, não somente por oferecer aos educadores uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança, mas por nos mostrar e ensinar que cada fase do desenvolvimento apresenta características e possibilidades específicas de crescimento e maturação além da aquisição de novas informações.

O conhecimento das particularidades destas possibilidades faz com que os professores possam eleger e oferecer estímulos mais apropriados para cada fase e assim poder proporcionar um maior e melhor aproveitamento pelo aluno.

Os papéis da experiência ativa (assimilação e acomodação) e da equilibração são agentes determinantes no processo de desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e da sua interação e relação com o meio ambiente.

Entende-se por experiência ativa a ação da criança sobre o meio externo, onde cada tipo de conhecimento construído – físico, lógico-matemático e social – demanda sua interação com o meio ambiente ou com as pessoas que a cercam.

As ações efetuadas podem ser de dois tipos: manipulação física ou manipulação mental, resultando em transformações cognitivas, isto é, mudanças nas estruturas ou nos esquemas de raciocínio que já estão construídos.

A equilibração e o arranjo dos outros fatores são entendidos como a regulação do desenvolvimento global da criança, sendo o ponto de equilíbrio, o mediano que permite que novas experiências, novos conhecimentos sejam incorporados aos esquemas pré-existentes.

No desenvolvimento deste projeto de educação, reconhecemos a importância de cada um dos estágios do desenvolvimento, porém interessa-nos especialmente dois: o Estágio das Operações Concretas e o Estágio das Operações Formais.

No momento do ingresso da criança na 1ă Série do Ensino Fundamental, supõe-se que a mesma esteja madura neurologicamente e emocionalmente, apta a iniciar o processo de alfabetização, considerando-se um processo de desenvolvimento normal.

Nessa etapa, a criança se encontra no estágio das Operações Concretas, durante o qual é capaz de pensar sobre objetos e eventos de modo lógico, percebendo suas diversas características e também já consegue ordená-los em série, de acordo com um de seus aspectos concretos. Apesar de utilizar termos abstratos, a criança assim procede com relação ao objeto concreto, sobre o qual tem acesso sensorial direto.

Nesta fase, ela começa a descobrir que algumas regras são convenções sociais: seu senso moral muda, pois passa a ponderar os aspectos subjetivos que causam a resposta a uma determinada situação. Consegue estabelecer a relação causa e efeito, ação e reação.

Até então, a criança era voltada para si mesma, acreditando ser o centro do mundo, onde os fatos ocorriam ou deveriam acontecer ou serem alterados de acordo com sua vontade. Em vez das condutas impulsivas da primeira infância, a criança nesse período já pensa antes de agir, o que demonstra que está a caminho da conquista do processo de reflexão.

Em termos de inteligência, o fato marca o início da capacidade do raciocínio lógico, ou da construção lógica. (Apostila Curso de Didática Geral p.45).

No estágio das Operações Formais, o indivíduo já consegue pensar logicamente sobre as proposições abstratas e testar hipóteses de maneira sistemática.

Seu posicionamento frente ao mundo e as pessoas se transformam. Começa aqui, sua preocupação com os problemas futuros e ideológicos. Passa a considerar todas as possibilidades, a mostrar interesse em criar regras pensadas sob um raciocínio de conteúdo moral, e a abordar a sociedade como um todo (altruísmo) em vez de estar voltado unicamente a situações pessoais e individuais (egoísmo).

O jovem consegue atingir o pensamento hipotético-dedutivo, que lhe permite raciocinar partindo de premissas inexistentes e desvinculadas da realidade. É a época em que o adolescente constrói sistemas e teorias, e reflete sobre o “possível”.

No processo do desenvolvimento, a ciência psicológica estuda o ser humano como um todo que interage com um mundo interno e com o mundo externo, em todos os seus aspectos:

físico-motor,

intelectual, afetivo-emocional e

social, desde seu nascimento até a idade adulta, fase em que todos estes aspectos atingirão seu mais completo grau de maturidade e estabilidade

Existem várias teorias do desenvolvimento humano, que foram construídas a partir de observações e pesquisas com grupos de pessoas de várias etnias e de diferentes faixas etárias.

Como já foi ponderado anteriormente, dentre as várias teorias, destaca-se a do psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980) principalmente pelas suas implicações teóricas e práticas no campo da educação.

O progresso humano refere-se à ampliação mental e ao crescimento bio-orgânico do ser, onde o desenvolvimento intelectual é um continuum que caracteriza o surgimento gradativo de estruturas mentais que organizam as atividades cognitivas e vão se aperfeiçoando e se solidificando até o pleno desenvolvimento de todas elas.

Quando plenamente desenvolvidas caracterizam um estado de equilíbrio superior quanto ao aspecto da inteligência, da vida afetiva e das relações sociais; aspectos fundamentais para um trânsito solidário e uma direção mais segura.

Algumas das estruturas mentais permanecem ao longo da vida do indivíduo e garantem o seguimento da evolução do indivíduo enquanto que outras estruturas mentais vão sendo substituída a cada nova fase da vida, à medida que a criança age espontaneamente sobre o meio assimilando e acomodando os estímulos do mundo que a cerca.

Além das fases do crescimento, Piaget considerou o desenvolvimento cognitivo como tendo três componentes:

Conteúdo é o que a criança conhece e refere-se aos comportamentos observáveis – sensório motor e conceitual – que refletem a atividade mental.

Função relativa à característica da atividade mental intelectual: assimilação e acomodação. Pela assimilação à criança incorpora o mundo exterior às estruturas que já tem; e pela acomodação reajusta essas estruturas ou cria novas estruturas, de acordo com as exigências do mundo exterior.

Estrutura é a propriedade organizacional inferida (esquemas) que explicam a ocorrência de determinados comportamentos.

“O desenvolvimento é concebido como um fluxo contínuo de modo cumulativo aonde cada nova etapa vai sendo construída sobre as etapas anteriores integrando-se a elas” .

Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o desenvolvimento afetivo.

A afetividade refere-se “a capacidade da pessoa de se deixar afetar pelas situações da vida, perdendo diante delas, em maior ou menor grau, a objetividade”.

Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e emoções em geral. “Piaget entendeu que há vários aspectos do afeto que se desenvolvem durante a vida do indivíduo”.

O afeto exibe várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos (amor, raiva, depressão) como os aspectos expressivos (sorrisos, lágrimas, gritos) segundo pesquisa de Cowan 1981.

Os afetos e os sentimentos estão ligados diretamente à motivação e a seleção das atividades intelectuais e/ou emocionais, ou seja, aos acontecimentos que interessam e que de alguma forma são significativos para a pessoa, formando uma unidade no funcionamento intelectual, onde todo comportamento deveria ter ambos os elementos. “Eles são os dois lados de uma mesma moeda” .

A esfera afetiva tem uma grande importância e profunda influência no desenvolvimento intelectual, podendo acelerar ou diminuir o ritmo da evolução do indivíduo. Segundo Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição, ou seja, a medida que a criança desenvolve os aspectos cognitivos, há um desenvolvimento paralelo da afetividade.

Os mecanismos de construção são os mesmos; as crianças assimilam as experiências vividas e o resultado é o conhecimento.

Nesse estudo, após um breve histórico sobre o desenvolvimento humano, procuramos relevar e respeitar as características de cada fase do desenvolvimento adaptando o conteúdo programático, de acordo com a capacidade intelectual do aprendiz, com o objetivo de facilitar e solidificar a aquisição dos novos conhecimentos sobre o trânsito e incentivar ao máximo o aproveitamento do potencial da mesma, de modo que ela se interesse e participe da técnica apresentada.

Considerando a importância da afetividade para o desenvolvimento pessoal, intelectual e social, as escolas de psicologia, cada uma com sua peculiaridade, tiveram grande participação para a nossa compreensão desses processos.

5. As Escolas de Psicologia e Sua Importância Para a Aprendizagem

Os principais movimentos e as Principais Escolas (Teorias) da Psicologia, representadas por seus fundadores são:

Estruturalismo; (Wilhelm Wundt)

Funcionalismo; (William James)

Behaviorismo; (John Watson)

Psicologia da Gestalt; (Max Wertheimer)

Teoria Psicanalítica; (Sigmund Freud)

Uma das definições atribuídas à Psicologia é: a ciência que estuda o comportamento e seus processos mentais, baseada na motivação da ação do ser humano, ou seja, o que sustenta o comportamento e o que o finaliza, ponderando os seus processos mentais, que passam pela sensação, pela emoção, pela percepção, pela aprendizagem, pela inteligência, e todas as outras esferas que compõe o homem como um todo.

Nesse trabalho especificamente, por tratar-se de um projeto de ensino de educação para o trânsito, consideramos importante estudar e entender as teorias psicológicas e como cada uma delas contribuiu para a evolução do processo da aprendizagem.

A história da Psicologia, cuja etimologia deriva da palavra Psique (alma) + Logos (razão ou conhecimento), se confundiu com a Filosofia até meados do século XIX. Sócrates, Platão e Aristóteles deram o pontapé inicial na instigante investigação da alma humana.

Abreviadamente, para Sócrates (469 – 399 a.C.) a principal característica do ser humano era a razão – aspecto que permitiria ao homem deixar de ser um animal irracional para diferenciar-se das demais espécies.

Platão (427 – 347 a. C.) – discípulo de Sócrates – concluiu que o lugar da razão no corpo humano era a cabeça, representando fisicamente a psique, e a medula teria como função a ligação entre a mente e o corpo.

Aristóteles (387 – 322 a. C.) – foi um dos discípulos de Platão – ele entendia o corpo e a mente de forma integrada, e concebia a psique como o princípio ativo da vida.

Durante a “era cristã” quando todo conhecimento era produzido e mantido a sete chaves pela Igreja, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino partiram dos posicionamentos de Platão e Aristóteles respectivamente para criar suas teorias sobre o homem, seu comportamento e sua aprendizagem.

Em 1649, René Descartes, um filósofo francês publicou o livro Paixões da Alma, onde reafirmava a separação entre o corpo e a mente. Pensamento que dominou o cenário científico até o século XX.

Alguns pesquisadores alegavam que essa hipótese assumida por Descartes foi um subterfúgio encontrado para continuar suas pesquisas, desenvolvidas a partir da dissecação de cadáveres, com o apoio da Igreja e protegido contra a Inquisição.

Foi em meados do século XIX que a Psicologia passou a ser tema de interesse e investigação pela Fisiologia e pela Neurofisiologia, levando à formulação de novas teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que para conhecer o psiquismo humano (pensamento, percepção e sentimentos), era preciso compreender o funcionamento do cérebro, considerado a máquina, motora e propulsora, de toda ação humana. Assim, a Psicologia passou a trilhar os caminhos da Fisiologia, da Neuroanatomia e da Neurofisiologia.

Em 1846, a Neurologia descobriu que a doença mental era o resultado da ação direta ou indireta de vários fatores sobre as células cerebrais.

A Neuroanatomia desvendou o mistério do funcionamento cerebral relatando que a atividade motora nem sempre estava ligada diretamente à consciência, por não estar ligada ao centro nervoso superior (córtex cerebral), como é o exemplo dos comportamentos reflexos.

Por outro lado a Psicofísica se preocupou em estudar os aspectos físicos (órgãos dos sentidos) relacionados aos aspectos psicológicos (percepção dos fatos) na tomada de consciência.

A realidade é que no final do século XIX, os acadêmicos da época resolveram distanciar a Psicologia da Filosofia e da Fisiologia, dando origem ao que se chamou de Psicologia Moderna.

As condutas que são observáveis tornaram-se uma parte muito importante para a investigação científica nos laboratórios com o objetivo de controlar o comportamento humano.

Nesse sentido, os teóricos canalizaram suas ações na tentativa de construir um corpo teórico consistente, buscando o reconhecimento da Psicologia como ciência.

É neste cenário investigativo que surgiram as três correntes teóricas: o Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo.

Surgem, então, as novas abordagens sobre a Psicologia como ciência, com o desenvolvimento do Estruturalismo de Wilhelm Wundt (1832 – 1920), e Edward Titchener (1867 – 1927), o Funcionalismo, de William James (1842 – 1910), o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874 – 1949), o Behaviorismo de John B. Watson (1878 – 1958), o da Gestalt, de Max Wertheimer (1880 – 1943) e da Psicanálise de Sigmund Freud (1856 – 1939).

5.1. O Estruturalismo

O estruturalismo entendia a psicologia como sendo a ciência da consciência que era composta pelos processos cognitivos, tendo como foco desvendar quais eram os elementos mentais, seus conteúdos e como se estruturavam.

O lugar de primazia que Wilhelm Wundt ocupa entre os psicólogos e a sua influência internacional tem fundamento na criação do primeiro laboratório destinado à investigação experimental dos fenômenos da consciência, em 1879, na cidade de Leipzig, Alemanha, fato que muitos consideraram o início da Psicologia como ciência independente. Além disso, Wundt abordou os mais variados temas relacionados à nova ciência, passando pela Psicologia Experimental Fisiológica até à Psicologia dos Povos.

Os pioneiros da psicologia científica – Wundt, William James e Edward B. Titchener – se incluem na escola estruturalista, para a qual o importante era determinar os dados imediatos da consciência: as características principais e específicas dos processos de consciência e seus elementos fundamentais. Somente no final do século XIX, a psicologia se tornou uma ciência independente, graças a Wundt.

A partir deste acontecimento é que foram desenvolvidas de forma sistemática as investigações em psicologia, através de vários autores que a ela se dedicaram, construindo múltiplas teorias.

No Estruturalismo de Edward Titchener (1867 – 1927) também houve preocupação com a consciência, porém relevando os seus aspectos estruturais, uma vez que considerava a consciência, em seus estados elementares, como estruturas do Sistema Nervoso Central, cujo objeto de estudo era a estrutura consciente da mente.

Titchener levou a ideia da Psicologia para os Estados Unidos da América, modificando-a em alguns pontos, mas não foi bem aceita sendo extinta em meados do século XX.

5.2. O Funcionalismo

O Funcionalismo foi criado por William James (1842 – 1910) que teve o estudo da consciência como sua grande preocupação. Queria entender como funcionava e como o homem a utilizava para aprender e adaptar-se ao meio.

O funcionalismo nasceu de uma crítica ao estruturalismo, buscando em Charles Darwin e Francis Galton as teorias da evolução, e das diferenças individuais, respectivamente.

Seu precursor foi Willian James, que não gostava do título, e ainda é considerado como um dos fundadores da Psicologia na América. Os conceitos e as ideias de Willian James foram estudados e ampliados por John Dewey, que se dedicou especialmente ao trabalho prático na educação tendo sido posteriormente aclamado como fundador desta escola de pensamento.

As correntes funcionalistas, à qual pertenciam os americanos John Dewey, Robert S. Woodworth, Harvey A. Carr e James R. Angell, privilegiava o estudo das funções mentais, em detrimento de sua morfologia e estrutura.

Em vez de investigar somente "o que é", o psicólogo passou a estudar "para que serve" e "como se efetua" o processo psíquico.

Entre a Europa e os Estados Unidos, William James teve a sua formação aberta a diversas influências. Interessado em várias disciplinas, escreveu sobre todos os aspectos da psicologia humana, do funcionamento cerebral às experiências religiosas. Ensinou psicologia e filosofia na Universidade de Harvard e é considerado o pai do pragmatismo.

A preocupação da escola funcionalista era responder “o que fazem os homens e porque o fazem”.

Para isso, William James (1842 – 1910) se opôs ao movimento estruturalista uma vez que o julgava artificial, e elegeu a consciência como centro da compreensão do comportamento humano, na medida em que o homem a usa para adaptar-se ao meio, sendo um processo único e pessoal estando em contínua mudança, evoluindo com o tempo e selecionando os estímulos do meio.

O interesse maior da escola funcionalista estava voltado para o sistema nervoso e para os processos mentais, especialmente pelo modo como funcionavam, sendo um aliado do outro para proteger e ajudar o homem na garantia da sua sobrevivência.

5.3. O Associacionismo

Seu principal representante foi Edward L. Thorndike, e a sua maior importância na psicologia está em ter sido o formulador da primeira teoria sobre a aprendizagem. O termo associacionismo refere-se ao processo de associação das ideias, da mais simples a mais complexa.

Thorndike formulou também a Lei do Efeito, onde toda ação, todo comportamento de um organismo vivo tende a se repetir se for recompensado, e tende a não ocorrer (a ser extinto) se for castigado.

A psicologia científica foi constituída de três escolas principais: o Behaviorismo ou Teoria S-R de John B. Watson, a Gestalt de Max Wertheimer e a Psicanálise de Sigmund Freud.

Wilhelm Maximilian Wundt (1832 – 1920) que era médico de formação também demonstrou grande interesse pelos processos mentais.

Na época a psicologia não tinha um campo de domínio próprio sendo ainda definida como um ramo da filosofia.

Wundt avaliava o consciente a partir da sensação (conteúdo objetivo da experiência imediata através dos órgãos dos sentidos), e dos sentimentos ou afetos.

A teoria associacionista antecedeu a teoria do comportamentalismo ou behaviorismo. O objetivo de Wundt era constituir uma identidade específica para a psicologia, e entendeu que seria importante estudar particularmente os processos mentais, tais como: atenção, intenções e metas; e acabou tornando-se o líder do movimento conhecido como Estruturalismo, que sustentava as seguintes teses:

os psicólogos deveriam estudar a consciência humana, especialmente as experiências sensoriais.

deveriam servir-se de trabalhos e estudos introspectivos analíticos de laboratório; e

deveriam analisar os processos mentais em seus elementos, com a finalidade de descobrir as suas combinações e conexões e a partir daí localizar no cérebro as estruturas a eles relacionadas, estabelecendo uma analogia de associação entre a ação e a estrutura do SNC.

Com isto, vinculado às duas escolas, Wundt demonstrou grande preocupação com o comportamento em seus aspectos estruturais e funcionais, isto é, o estado de consciência como estrutura do SNC e a associação das estruturas, e o seu funcionamento relacionados ao comportamento final.

A escola foi inaugurada por Wundt, mas foi Edward Titchner, psicólogo britânico e aluno de Wundt, que usou pela primeira vez o termo Estruturalismo, para diferenciá-la do Funcionalismo, e passou a estudar a consciência em seu aspecto estrutural, isto é, através da ação da percepção, determinar na estrutura do sistema nervoso central as regiões responsáveis pela ação das emoções, das percepções, e do raciocínio.

Com o desenrolar de seus estudos e pesquisas, percebeu que o cérebro humano conforme foi evoluindo passou a ter três componentes que foram aparecendo e se sobrepondo, sendo que a parte mais antiga do cérebro situava-se na parte inferior posterior (arquipálio), a parte seguinte ocupava uma posição intermediária (paleopálio) e a mais recente localizava-se na parte anterior do cérebro e sobreposta às outras partes (neopálio).

A função dessas estruturas, de acordo com vários estudos realizados, permitiu observar e questionar se a relação existente entre a emoção e a resposta imediata (impulso), que é uma característica do nosso cérebro primitivo (arquipálio), seria a responsável e explicaria o nosso instinto animal.

O arquipálio, ou cérebro primitivo corresponde ao cérebro dos répteis sendo formado pelas estruturas do tronco cerebral (bulbo, cerebelo, ponte e mesencéfalo), pelo mais antigo núcleo da base (globo pálido) e pelos bulbos olfatórios, caracterizados pelos comportamentos reflexos e instintivos involuntários.

O paleopálio refere-se ao cérebro dos mamíferos inferiores, e o neopálio é o cérebro dos mamíferos superiores, dos primatas, dos seres racionais.

O sistema límbico cria e modula as funções que permitem aos seres diferenciar as situações que lhe dão prazer (homeostase, equilíbrio) e o que lhe desagrada (gera conflito, desequilíbrio), administrando e permitindo o desenvolvimento das funções afetivas.

É somente no homem civilizado e evoluído que podemos notar a cisão entre o impulso e o comportamento, que ocorre através da utilização do raciocínio e da reflexão. A ideia fundamental era poder, através do estudo da estrutura nervosa compreender o funcionamento global do homem e sua adaptação ao meio.

Wilhelm Wundt, juntamente com o seu discípulo Titchener, iniciaram o caminho que iria levar a Psicologia a atingir o status de ciência. Começaram por definir como objeto da psicologia o estudo da mente associando a emoção ao raciocínio e ao comportamento.

O estudo da mente (ou consciência) é efetivado por meio da observação do consciente do homem e pela análise dos seus elementos simples, sendo semelhante a uma divisão em átomos da realidade.

Wundt buscou decompor a mente, a consciência (objetivo), nos seus elementos mais simples, que são as sensações.

Ele defendia a ideia de que os processos mentais, não são mais do que uma organização das sensações elementares que se associam, e procurou localizá-las e relacioná-las com as estruturas do sistema nervoso central, tendo como finalidade o estudo e a compreensão da mente, dos processos racionais e da experiência consciente do homem.

No laboratório buscou conhecer os elementos que compunham a consciência, a forma como se relacionavam e como se associavam (associacionismo).

A análise era realizada através da introspecção; onde os sujeitos experimentais descreviam o que sentiam, relatavam os seus estados subjetivos, resultantes de estímulos visuais, auditivos e tácteis.

Dessa forma Wundt com outros colegas utilizou um metrônomo para descrever as sensações antes (tensão), durante (excitação) e após os estímulos (sensação).

A psicologia teria como objetivo a prática humana, estudada na perspectiva das experiências pessoais através da auto-observação, visando conhecer os seus elementos constituintes: ou seja, as sensações humanas.

5.4. Behaviorismo

Palavra de origem inglesa behaviour (RU) ou behavior (EUA) significa comportamento, conduta.

Behaviorismo é um termo genérico que foi utilizado para incorporar ao mesmo tempo diversas e contraditórias correntes de pensamento na Psicologia que tinham como unidade conceitual o comportamento, mesmo que com diferentes entendimentos sobre o que significava a ação do sujeito.

Contrariamente aos outros estudiosos, o primeiro behaviorista declarado foi John B. Watson, que passou a ser considerado o pai do behaviorismo metodológico, ao publicar, em 1913, seu artigo "Psicologia vista por um Behaviorista”, onde professava que a psicologia era um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais, e que tinha como finalidade estudar, predizer e controlar o comportamento de toda e qualquer pessoa.

Os behavioristas de orientação positivista defendiam e acreditavam na ideia de que o comportamento dos indivíduos pode ser observável, mensurável e controlável, tal qual os fatos e acontecimentos das ciências naturais e exatas.

Watson era um defensor da importância e da influência que o meio ambiente representava na formação e no desenvolvimento do indivíduo.

Os seus estudos tiveram como base o condicionamento clássico desenvolvido pelo fisiologista russo Ivan Pavlov (1849 – 1936), que foi premiado com o Premio Nobel de Medicina pelo seu trabalho sobre o funcionamento digestivo dos cães.

Em sua clássica experiência com cachorro, Pavlov demonstrou e comprovou que os cães não salivavam apenas quando viam a comida, mas que o mesmo comportamento de salivação surgia quando os cães associavam a "chegada da comida" a algum outro tipo de estímulo, como por exemplo, algum gesto, alguma imagem ou som.

O acontecimento da associação foi denominado por Pavlov de condicionamento clássico. Depois dessas descobertas, o interesse pela investigação empírica sobre a relação existente entre o organismo e o meio foi definitivamente estabelecido.

O fato de ter definindo o comportamento como o objeto central de estudo da psicologia, por tratar-se de um fenômeno observável, mensurável e passível de ser reproduzido em laboratório com sujeitos em condições diferentes, deu à psicologia a consistência e o status de ciência, que vinha buscando. Ele não estava propondo uma nova ciência, mas afirmando que a Psicologia deveria ser redefinida como o estudo do comportamento.

5.5. Gestalt

A palavra Gestalt (plural Gestalten) é um termo intraduzível do idioma alemão para o português. O Dicionário Eletrônico Michaelis apresenta como possibilidades de tradução as palavras: figura, forma, feição, aparência, porte, estatura, conformação, vulto, às quais ainda se pode acrescentar estrutura e configuração.

Gestalt é um termo utilizado para abranger de modo global a teoria da percepção visual fundamentada na psicologia da forma.

Foi a partir de 1870 aproximadamente que alguns pesquisadores alemães começaram a se interessar e a estudar os fenômenos perceptuais humanos, especialmente os relacionados à visão.

Seus estudos buscavam entender como se produziam os fenômenos perceptuais, tendo para isso se utilizado de obras de arte, em grande parte deles, uma vez que deram ênfase maior à capacidade visual.

Esperavam com isso perceber e entender o que acontecia para que uma determinada pintura ou quadro resultasse em percepções e efeitos diferentes quando vistos por pessoas diferentes.

Por utilizar-se de obras de arte estes estudos foram denominados de Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa Forma.

Com base em suas observações, a Teoria da Gestalt assevera que não podemos obter conhecimento do todo através das partes, e sim das partes através do todo; que os conjuntos possuem leis próprias e estas regem seus elementos, as denominadas Leis da Gestalt (e não o contrário, como se pensava antes); e que só através da percepção da totalidade é que o cérebro pode de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito.

Seus expoentes mais conhecidos foram Wolfgang Köhler, Kurt Koffka e Max Wertheimer. Estes pesquisadores criaram as Leis da Gestalt concernentes à percepção humana, e que até os dias atuais se mantêm válidas e fidedignas.

Partindo da investigação das percepções, os gestaltistas formularam um princípio segundo o qual o conjunto dos fenômenos psíquicos apresenta características que não podem ser inferidos considerando as partes isoladamente. Os pesquisadores iniciaram seus trabalhos de estudo analisando a percepção e a sensação do movimento.

Os Gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os fatores e os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando um estímulo físico é percebido pelo sujeito com uma forma diferente do que ele é e tem na realidade. São as formas ambíguas, como os exemplos clássicos da Gestalt:

Wertheimer começou a raciocinar sobre essas conclusões e desse modo com suas experiências pôde demonstrar claramente que as relações existentes entre os objetos visuais deliberam quais os que se tornam componentes do grupo e quais os que não se tornam, decidindo dessa maneira o ponto onde um grupo se separa de outro.

Todo esse interesse apenas pela percepção deve-se simplesmente ao fato de que em nenhum outro campo da Psicologia, os eventos são tão acessíveis e palpáveis à observação.

Esperava-se com isso que os outros princípios funcionais que também são importantes para a percepção pudessem vir à luz nessa área da Psicologia, e que se mostrariam relevantes para outras características cognitivas, tais como a memória, a aprendizagem, o pensamento e a motivação.

Foi justamente partindo desse princípio que os primeiros estudos sobre os processos intelectuais tiveram início.

Com o passar do tempo, Kurt Lewin aprimorou suas investigações sobre a motivação que, em parte, seguiu as mesmas linhas e acrescentou também o conceito de Gestaltung (ou organização) à memória, à aprendizagem e à retenção da informação, aspectos básicos para o processo da aprendizagem.

A Gestalt aparece como uma forma de organização dos processos mentais, onde o princípio fundamental era a concepção de um modelo configurado e de um todo organizado, em contraries com uma reunião de partes isoladas.

Wertheimer preocupava-se em entender essa estrutura da mente, analisando através do método da introspecção, o pensamento consciente em suas unidades fundamentais, como a sensação, a imagem, e a ideia.

O fenômeno da percepção, segundo a teoria da Gestalt é orientado pela procura do fechamento, da harmonia e da regularidade entre os pontos que compõe a figura buscando a boa-forma, que moldará a relação figura-fundo, que é a base da psicologia dessa escola.

A maneira como percebemos e interpretamos o estímulo determina o nosso comportamento, como nos relacionamos com as pessoas e com o mundo.

Na avaliação psicológica de motoristas, esses dados permitem um prognóstico de como será seu comportamento dentro do sistema trânsito.

Para os defensores desta teoria, como Köhler, Koffka e Hartmann, no processo da aprendizagem, a experiência e a percepção são mais importantes porque englobam a totalidade do comportamento e não as respostas isoladas e específicas dadas a determinados estímulos separadamente.

Quando vai iniciar o processo da aquisição de conhecimentos, o indivíduo já dispõe de uma série de atitudes, de habilidades e de expectativas que vão facilitar a introjeção das novas informações. Assim o aprendiz é capaz de selecionar e organizar os estímulos de acordo com sua própria experiência, e responder a eles de uma forma mais significativa.

5.5.a. Organização Perceptual – Assimilação e Contraste: Figura e Fundo

Um aspecto importante a ser ressaltado no processo da organização perceptual é a distinção e a demarcação do campo visual. A maneira com que a forma é apresentada pode, por exemplo, estimular fenômenos como a associação e o contraste.

Um dos princípios da Gestalt diz respeito à equivalência das partes que compõe a forma quando não há fronteiras entre elas, ou quando essas delimitações não são percebidas. Os contornos são importantes uma vez que tendemos a tornar cada parte da figura, homogênea para a percepção do todo.

A assimilação pode ocorrer quando há circunvizinhança, notadamente quando estas áreas próximas não estão abalizadas.

Já o contraste consiste na percepção de uma diferença entre as partes, maior do que realmente é, e sobrevém quando existe uma separação entre essas partes, quase de maneira contrária à assimilação.

É importante lembrar que, tanto a assimilação como o contraste, são conduzidos pela organização perceptual total, podendo, existir a ocorrência dos dois fenômenos em um mesmo objeto, dependendo do tipo de fundo em que a figura está sendo percebida.

Os conceitos figura e fundo são ao mesmo tempo os mais simples e os mais complexos na forma da organização perceptual. Quando observamos um objeto ou um fato, uma das partes sempre parece se sobressair em relação às demais. Esta parte que nos chama mais a atenção recebe o nome de figura, e todo o resto que compõe a figura é considerado com sendo fundo.

Comumente o que for mais homogêneo, ou até mesmo mais conhecido para quem observa, passará a ser visto como sendo figura, e aí entra o tema da subjetividade na percepção.

A Teoria da Gestalt desvendou algumas leis sobre a percepção humana das formas, e sobre o comportamento natural do cérebro, quando e como age no procedimento da percepção. Os gestaltistas ressaltaram que os elementos constitutivos do objeto são agrupados considerando as características que possuem entre si, tais como a semelhança e a proximidade entre outras particularidades.

O indivíduo percebe uma “forma”, uma “estrutura”, uma “organização”, e a partir daí ocorre o insight que é a compreensão repentina do todo.

A aprendizagem mecânica por associação e condicionamento deve-se a Kurt Koffka (1886 – 1941) em sua proposição de que as leis que regem a organização da percepção podem ser aplicadas à área da aprendizagem. Segundo Koffka essas regularidades são tão previsíveis que é possível testá-las em laboratório e foram denominadas de “princípios ou leis que regem a percepção”, determinando o que na situação será tido como figura e o que será fundo. Os princípios da relação figura-fundo são determinados pelos objetivos, pelas necessidades, pelos interesses e metas do sujeito que observa.

Dentro de todos os contextos que envolvem o ser humano, tudo o que for significativo, tudo que tiver um valor emocional para o individuo, será percebido como figura, e todos os demais elementos da situação serão tidos como fundo.

No processo de habilitação do condutor e no processo da aprendizagem, as experiências e os ensinamentos devem estar relacionados com os interesses, com os objetivos e com as necessidades pessoais de quem vai aprender. Este é um dos motivos que torna importante o conhecimento das características de cada fase do desenvolvimento humano.

O professor deve planejar a estratégia de ensino e os recursos didáticos visando aumentar a probabilidade para que os aspectos do conteúdo sejam sempre figuras, atribuindo significado ao que se aprende, mantendo a atenção do aluno voltada para a aula, o que não deixa de ser uma maneira de organizar e disciplinar todos os que estão envolvidos no momento, mantendo a ordem da situação de sala de aula, por conseguinte no trânsito.

No entanto não podemos esquecer que cada pessoa tem a sua forma particular de organizar uma configuração, de acordo com suas características de personalidade, sua história e suas experiências vividas, sendo, portanto, um processo individual a forma de perceber, sentir e relacionar-se com o mundo.

5.6. Psicanálise

A Psicanálise é definida como a ciência do inconsciente e foi fundada por Sigmund Freud (1856 – 1939).

Trata-se de um método de investigação, que consiste essencialmente em evidenciar o significado camuflado das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de uma pessoa.

Este método baseia-se principalmente nas associações livres de ideias, que são a garantia da validade da interpretação do comportamento.

Como teoria, a psicanálise caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados que tem por objetivo compreender os processos inconsciente e consciente para a investigação do funcionamento da vida psíquica das pessoas.

Em sua essência a Psicanálise pode ser entendida como uma teoria que explica a formação e o funcionamento da personalidade

5.6.a. Estrutura da Personalidade

Entre 1920 e 1923, Freud introduziu os conceitos de Id, Ego e Superego referindo-se as três instâncias da personalidade, que comporiam o aparelho psíquico e que estão continuamente interagindo entre si de forma dinâmica .

Essas instâncias, com sua significação teriam um papel importante no processo da socialização e da inter-relação entre os seres.

As observações e os estudos realizados por ele revelaram uma série infindável de conflitos e de acordos psíquicos.

O Id foi definido por Freud como sendo a sede dos impulsos, uma instância psicobiológica por excelência, cuja origem encontrava-se no corpo biológico e de onde nasceria a energia dos instintos e das pulsões. O Id é o núcleo primitivo da personalidade sendo dominado pelos impulsos. Freud denominava o Id como sendo “um caos, um caldeirão de excitamento fervente” .

Os instintos seriam basicamente dois: instinto de vida (Eros) e instinto de morte ou instinto agressivo (Tânatos). Dependendo de qual dos instintos predomina, desenvolve-se uma personalidade mais cooperadora, amorosa, construtiva, ou uma personalidade com característica mais destrutiva, agressiva e possessiva.

Freud associou as funções físicas com partes da mente onde considerava o Id como sendo regido pelo "princípio do prazer", tendo a função de descarregar as tensões biológicas e psicológicas. Corresponderia à alma carnal sob o ponto de vista da filosofia platônica, sendo a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem biológica voltada para a preservação e propagação da vida.

O Ego é a instância que lida com a estimulação proveniente tanto da própria mente como do mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio da realidade". É o aspecto racional da alma, conforme o esboço platônico, onde a esfera perceptiva e a inteligência precisam, considerando-se um adulto normal, dirigir todo o comportamento e atender simultaneamente as requisições do Id e do Superego através de convenções estabelecidas entre essas duas instâncias, sem que a pessoa se incline demasiadamente para os prazeres esquecendo-se de suas responsabilidades e ao mesmo tempo sem se impor obstáculos exagerados prejudicando sua espontaneidade e seu deleite pela vida através do contato com o mundo externo.

Diferentemente do Id que é caracterizado por sua volúpia e impulsividade, o Ego é mais controlado, realístico e lógico vivenciando o real e criando estratégias para atender as solicitações do Id, porém de modo racional, aferindo se o impulso manifesto pode ou não ser satisfeito. O Ego funciona como o mediador entre o Id e o Superego.

O Ego vive um conflito incessante sendo constantemente pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, e ao mesmo tempo submetido à austeridade repressiva do Superego e aos contratempos do mundo exterior.

De acordo com o próprio Freud o “coitado" do Ego tem que servir a três ditadores duros e implacáveis, o Id o Superego e a Realidade, e precisa desdobrar-se para conseguir fazer o melhor que pode para conciliar as exigências dos três.

A terceira instância da personalidade o Superego é considerado o agente moral, formado pelos valores e conceitos sociais, impondo condições e deveres.

O Superego consiste em normas e em padrões sociais transmitidos pela cultura e pela educação e posteriormente internalizados pelo indivíduo durante a vida.

A autoestima e a autoconfiança são formadas e internalizadas, dependendo diretamente da acomodação constante entre as necessidades do Id e as exigências do Superego, para garantir o equilíbrio do Ego propiciando uma adaptação satisfatória ao meio em que o indivíduo vive, sendo esses fatores fundamentais para o ajustamento individual e social permitindo que a adaptação e a aprendizagem se processem.

O principal objeto de estudo da psicologia é o homem e seu comportamento relacionado ao meio em que vive.

Para poder entender os vários aspectos que interferem no desempenho dos indivíduos, vimos que foram criadas várias escolas de psicologia e outras tantas teorias, e que no princípio cada uma dessas escolas preocupou-se com um único aspecto do desenvolvimento.

Aos poucos os pesquisadores e estudiosos do comportamento perceberam que todas as teorias e descobertas se entrelaçavam e se completavam formando um todo único e indivisível: o homem.

O homem é um ser único, é a soma de todos os aspectos que englobam o desenvolvimento, tanto físico como emocional e ambiental.

Partindo desse pressuposto, então podemos perguntar: Qual a importância dessas teorias e como elas estão relacionadas ao trânsito?

Se partirmos do princípio de que o homem é um ser único e indivisível, é importante que para estar inteirado e integrado dentro do seu grupo social, durante seu processo de desenvolvimento, o indivíduo tenha uma boa formação de sua estrutura nervosa (Estruturalismo), que essa estrutura funcione adequadamente (Funcionalismo) permitindo que consiga estabelecer conexões entre as informações que são recebidas (Associacionismo) emitindo respostas assertivas aos estímulos que são provenientes tanto do meio interno como do meio externo (Behaviorismo).

Desenvolvidas todas estas potencialidades, fica mais fácil para o indivíduo estabelecer uma filtração hierarquizada dos estímulos que o rodeiam, dando prevalência aos aspectos mais significativos (Gestalt) prestando mais atenção aos acontecimentos que o circundam, por exemplo, no caso do trânsito, observar os outros motoristas, a sinalização, o pedestre, etc., podendo dessa forma, evitar possíveis acidentes.

O equilíbrio e o controle emocional (Psicanálise) estão vinculados diretamente à história de vida do indivíduo e de suas experiências pessoais, que serão refletidas em seu comportamento, nas reações emocionais e em sua capacidade de raciocínio.

A partir dessa compreensão e percepção, o homem passa a ser visto como um ser global, que vive em sociedade onde as normas e as regras são fundamentais para a sua organização, estruturação e sobrevivência.

O trânsito é um grupo social, e todos nós, direta ou indiretamente, fazemos parte dele. Como todo grupo social, para poder garantir sua organização, o trânsito também tem suas normas e suas leis.

Para que o homem possa sentir-se adequadamente adaptado ao seu meio, é preciso que saiba lidar com seus impulsos e emoções, garantindo um bom controle sobre os mesmos, obedecendo e adaptando-se a essas regras.

A integração, em seu repertório de comportamento das normas e das leis de funcionamento do trânsito, vai depender da aprendizagem que teve para a formação de hábitos adequados.

Para que a aprendizagem se processe de forma consistente e eficiente precisamos associar os aspectos cognitivo-emocionais aos métodos didáticos de modo que a transmissão das informações possa ser assimilada e introjetada pelo aprendiz, culminando com a mudança de seu comportamento.

Ponderando que o homem é quem conduz a máquina e que, com o passar do tempo, o comportamento de dirigir tornar-se-á automático, é vital que a introjeção das informações por ele recebidas sejam adequadas e completas, com o propósito de que o futuro motorista se comporte de forma coerente, ajustada e adequada, sendo o protagonista de situações que revelem uma boa interação entre o homem, a máquina e o meio ambiente, garantindo através de uma direção segura a sua sobrevivência, tanto quanto a sobrevivência do outro.

Uma sociedade onde os motoristas respeitam as normas e as leis de trânsito, a prevenção de acidentes torna-se mais fácil.

Através da educação, o motorista adquire instrumentos que o capacitarão, intelectual e emocionalmente, a avaliar e controlar seu comportamento, preparando-o a vivenciar o trânsito de forma mais segura, consciente e responsável.

A ação educativa pressupõe a inter-relação entre o interesse, o ânimo e a energia, alimentando a motivação e o interesse para o processo da aprendizagem, sendo que esses aspectos envolvem também outros princípios, como segue:

a aprendizagem deve realizar-se através da própria atividade do educando;

o trabalho educativo deve adequar-se aos níveis de desenvolvimento do aluno;

a educação não é uma mera preparação para uma vida futura, mas é a própria vida.

é preciso considerar não somente o valor prático de nossos atos, mas a sua eficácia na vida social.

A educação é o caminho principal para um trânsito e uma sociedade sadia e equilibrada.

Para isso, o novo Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu determinações sobre este tema de acordo com suas resoluções, como veremos a seguir.

6. Resolução do CONTRAN

Com a implantação do novo Código de Trânsito Brasileiro, lei 9503 de 23 de setembro de 1997, em seu capítulo VI “DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO, em seus artigos 74 e 76 estabelecem que”:

Art.74. A educação para o trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito

1ș) É obrigatória a existência de coordenação educacional em cada órgão ou entidade componente do Sistema Nacional de Trânsito

2ș) Os órgãos ou entidades executivos de trânsito deverão promover, dentro de sua estrutura organizacional ou mediante convênio, o funcionamento de Escolas Públicas de Trânsito, nos moldes e padrões estabelecidos pelo CONTRAN

Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1ș, 2ș e 3ș graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.

Parágrafo Único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá:

I – a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito;

II – a adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores;

III – a criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e análise dos dados estatísticos relativos ao trânsito;

IV – a elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade na área de trânsito .

No trânsito, a preservação da vida e a educação tornam-se uma coisa só. Por isso a ação de educar deve estar intimamente relacionada com as atividades da vida real no ato da condução de um veículo automotor, ou na simples travessia de uma rua.

Nós agimos no meio social fazendo parte de vários grupos, dos quais somos membros ativos. Por isso, é preciso aprender a cooperar e a agir eticamente em comunidade, somando esforços e tendo em vista o bem comum. Este é um dos princípios, a nosso ver, da eficácia social.

“A concepção educativa que fundamenta o método de projetos ressalta a importância das relações humanas e determina que um dos objetivos do trabalho escolar seja o desenvolvimento dessas relações” .

O desenvolvimento de um projeto é construído a partir de um problema concreto e realiza-se na tentativa de encontrar soluções para o mesmo.

No caso, esse trabalho de educação foi elaborado e desenvolvido considerando-se o alto índice da violência social de modo geral, em meio ao qual temos vivido e principalmente na violência que se instalou no trânsito. Esse é o problema detectado, e consideramos que a solução está na educação para o trânsito.

O projeto preocupou-se em respeitar as fases de desenvolvimento da criança, para que a mesma seja capaz de captar, apreender e aprender o conteúdo do programa, que engloba todas as matérias exigidas pela lei para a boa formação do pedestre, do motociclista e do condutor, buscando solucionar, através da tomada de consciência, o problema da violência no trânsito, atendendo a Resolução nș 120, de 14 de Fevereiro de 2001 que tem o seguinte texto “Dispõe sobre o Projeto Educação” e Segurança no Trânsito – escolas de ensino médio – que trata da inclusão de conteúdos específicos sobre Trânsito no Ensino Médio, em consonância com o disposto na Resolução 050/98 – CONTRAN e define procedimentos para a implantação nas escolas interessadas.

O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, usando da competência que lhe confere o art. 12, inciso I, da Lei nș 9.503 de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – CTB, e conforme Decreto nș 2.327, de 23 de setembro de 1997, que dispõe sobre a Coordenação do Sistema Nacional de Trânsito, e

Considerando a necessidade de medidas complementares para o cumprimento no disposto no Código de Trânsito Brasileiro, Capitulo VI – artigos 74 e 76 inciso I, II;

Considerando a necessidade do desenvolvimento de uma Política Nacional de Educação e Segurança no Trânsito, voltada, sobretudo, para o grupo considerado de risco, constituído pela população adolescente que se insere nas escolas de ensino médio em todo território nacional;

Considerando a importância de desenvolver valores, integrando o jovem no sistema de trânsito nos seus diferentes papéis;

Considerando ainda a necessidade premente da melhoria do processo de formação de condutores e o fato de ser a unidade escolar de ensino médio célula composta por docentes devidamente qualificados, resolve:

Art. 1ș Instituir o Projeto de Educação e Segurança no Trânsito – Escolas de Ensino Médio, com conteúdos específicos voltados para a formação e desenvolvimento de comportamentos seguros no trânsito, de conformidade com o disposto na matriz conceitual no Anexo desta Resolução.

Art. 2ș O Projeto, uma vez desenvolvido de conformidade com todos os requisitos constantes desta Resolução e seus Anexos, será reconhecido pelo Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, como a formação teórico-técnico necessária para que o aluno integrante deste Projeto possa submeter-se ao exame teórico a que se refere o Artigo 3ș e seu parágrafo único da Resolução 050/98 do CONTRAN.

Art. 3ș As escolas interessadas no desenvolvimento do Projeto em tela deverão ser credenciadas pelo DENATRAN, devendo, para isto, cumprir os seguintes procedimentos utilizando os instrumentais específicos:

solicitar inscrição no Projeto citado;

apresentar o Coordenador responsável pelo desenvolvimento do referido Projeto na respectiva unidade escolar, bem como a Equipe Docente;

apresentar Planejamento do desenvolvimento dos conteúdos.

Art. 4ș O credenciamento será homologado pelo Departamento Nacional de Trânsito DENATRAN após o cumprimento do disposto no art. 3ș desta Resolução.

Art. 5ș Uma vez cumprido o desenvolvimento do Projeto, a escola remeterá ao DENATRAN, a relação nominal dos alunos aprovados.

Art. 6ș Aos alunos cuja avaliação for considerada satisfatória pela Equipe Docente será expedido pela Escola um certificado de participação do Projeto.

Art. 7ș De posse do Certificado referido no artigo anterior, o aluno interessado na Permissão para Dirigir desde que preencha os requisitos exigidos no Art. 140 da Lei 9.503, de setembro de 1997, deverá encaminhar-se ao DETRAN, onde se dará o início do processo de habilitação.

Art. 8ș Cabe ao DENATRAN regulamentar esta Resolução, definindo critérios, instrumentais específicos e etapas de implantação do projeto.

Art. 9ș Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. (Cidadania. Transitar é Conviver – Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito/ Ministério da Justiça/ Brasília 2002, p.395, 396, 397).

Na tentativa de atender a todas estas exigências do DENATRAN e do CONTRAN, que constam no Novo Código de Trânsito Brasileiro, fizemos todo um estudo sobre o psiquismo humano, como foi visto anteriormente, para que se tornasse plausível apresentar o trânsito às crianças, de forma que as mesmas, dentro do seu limite de amadurecimento cognitivo e emocional, possa compreender captar e assimilar as informações que lhes serão transmitidas.

Para isso selecionamos e distribuímos as matérias referentes à cidadania, defesa do meio ambiente, legislação, mecânica e primeiros socorros, obedecendo a cada fase do desenvolvimento, como seguem na apresentação do novo tópico desse livro.

7. Conteúdo Programático do Currículo Escolar

Entendemos que o Sistema Trânsito é composto por uma tríade que envolve o homem, o veículo e as vias públicas, e que essa tríade pode ser pautada dentro do ensino sobre o trânsito, com as matérias exigidas pelo Código de Trânsito Brasileiro, da seguinte forma:

Ao homem por ser o agente pensante e central de todo o movimento do trânsito são relacionados diretamente os conteúdos sobre a cidadania, a legislação, os primeiros socorros, porque ele é o elemento que estabelece a ponte de relacionamento entre os demais integrantes do sistema trânsito, ou seja, o veículo e as vias públicas.

O veículo é importante, pois é através do mesmo que nos transportamos de um ponto a outro, sendo importante obtermos informações sobre mecânica e a manutenção e, além disso, sobre como o homem deve conduzir adequadamente essa máquina desenvolvendo uma direção defensiva e segura.

O terceiro item deixa clara a necessidade de proteger e cuidar das vias públicas por ser o local onde todos (pessoas, animais e veículos) circulam e é somente através da defesa do meio ambiente que todos teremos uma qualidade de vida melhor.

Os estudos de Jean Piaget foram muito importantes para a educação de um modo geral, pois possibilitaram oferecer aos educadores não somente uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência do aluno, mas também por nos esclarecer e ensinar que cada fase do desenvolvimento tem suas peculiaridades e possibilidades específicas de crescimento e maturação para a aquisição de novas informações.

Com base nas várias escolas de Psicologia e em suas teorias sobre o desenvolvimento cognitivo e emocional, e com respaldo na Ética, nos princípios e nas técnicas de ensino da Didática, formulamos a grade curricular, obedecendo a cada uma das fases do desenvolvimento da criança.

O conteúdo programático estará calcado na exigência, estabelecida pelo DENATRAN e pelo CONTRAN, que determina o ensino das seguintes matérias:

Cidadania – definida como o exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais.

Defesa do Meio Ambiente – refere-se à preservação de todos os reinos que compõe o Planeta Terra (Reino Animal, Vegetal e Mineral) que afetam os ecossistemas e a vida dos seres humanos.

Legislação – é composta por um conjunto de normas jurídicas instituídas por atos normativos e estabelecidas pelas autoridades competentes para garantir a ordem social.

Primeiros Socorros – cuidado imediato a uma pessoa ferida até à chegada de ajuda profissional.

Mecânica – trata da manutenção e conservação dos automóveis.

A aplicação do projeto que vai desde a pré-escola até o ensino médio visa que toda a informação contida nestas matérias seja específica e relacionada ao trânsito, sendo ao mesmo tempo um meio que possa corroborar para a boa formação do aluno, como cidadão e como futuro motorista.

Buscamos nos fundamentos na Psicologia, que é uma ciência do comportamento, as bases para utilizar todos estes conteúdos, de modo que, ao mesmo tempo, possamos estar informando e formando os alunos para crescerem com uma consciência, a mais plena possível, de seus compromissos consigo mesmos, com os outros e com o mundo que os cerca.

A matéria sobre Cidadania poderá nos fornecer toda base para o conhecimento sobre os valores éticos, valores morais, valores sociais e valores humanos.

O teor contido no capítulo sobre Defesa do Meio Ambiente pode ajudar a fortalecer na pessoa o contato do conhecimento sobre suas emoções, sua sensibilidade e seus afetos; estimulando o cuidado consigo mesmo, com o outro e com o meio ambiente. Ao observar a natureza, a pessoa estará preservando a vida de um modo geral.

Os princípios que compõe a Legislação sobre o trânsito dará a noção de regras e leis que regem a conduta, o entendimento dos direitos e deveres da pessoa, para um bom convívio em sociedade.

São essas diretrizes que determinam os limites que nos ajudarão a entender até onde podemos e devemos ir, e quando precisamos parar. Essa noção nos esclarece sobre os nossos próprios limites, bem como os limites do outro, favorecendo a ética e o respeito para um convívio salutar.

Nos Primeiros Socorros, teremos os preceitos e as informações sobre o funcionamento do nosso organismo e como protegê-lo para garantir a nossa integridade física. Caso venhamos a sofrer algum acidente os Primeiros Socorros nos dão a base do que poderemos fazer para evitar o agravamento da situação ou o que poderemos fazer para auxiliar a amenizar a situação no momento do fato.

Mecânica é uma matéria fundamental que nos ajudará a detectar problemas no veículo auxiliando em possíveis soluções, dando-nos as diretrizes para a manutenção do nosso veículo, garantindo uma direção segura, preservando a nossa vida e a do próximo.

Todas estas informações estarão sempre atreladas à pessoa como um ser individual e que ao mesmo tempo é um ser integrante do grupo social ao qual chamamos trânsito.

Para entendermos melhor essa distribuição dos conteúdos, faremos uma breve explanação associando o tipo de raciocínio característico de cada fase do desenvolvimento, com a matéria a ser ministrada, distribuindo as matérias da seguinte forma:

Ensino Fundamental

1ș ao 5ș ano abrangendo as fases do desenvolvimento: 1 Sensório Motora e 2 Pré-Operátoria

Após a experiência do contato tátil para conhecer o mundo, a criança com o desenvolvimento da linguagem, consegue nomear os objetos que a cercam e consegue raciocinar intuitivamente, porém não é capaz de realizar as operações fundamentais. A criança já consegue distinguir o que é real e o que é fantasia.

Respeitando essa potencialidade do desenvolvimento podemos introduzir a história do surgimento da roda e sua importância para o desenvolvimento da humanidade; a história do trânsito e do desenvolvimento dos meios de transporte inventados pelo homem até o presente momento, uma vez que o tipo de raciocínio permite a compreensão e o acompanhamento dessas informações. Além do conteúdo verbal a criança terá a oportunidade de realizar tarefas concretas (pintar, desenhar, colar) para uma fixação melhor do que lhe é transmitido.

Segue sugestões de conteúdos a serem apresentados e discutidos em sala de aula

1ș à 5ș ano

Noções Básicas de Sinalização – história do desenvolvimento urbano e do trânsito:

semáforo

faixa de pedestre

ciclo via

passarela

rua, rodovia

estrada, etc.

Noções Básicas de Meio Ambiente – lixo no lixo

sala de aula limpa

ruas limpas

lixo na rua, boca de lobo e enchentes

importância das plantas para o ar

proteção do verde, etc.

Noções Básicas de Cidadania – seus direitos e seus deveres

conhecer e reconhecer limites

necessidade de obedecer normas e leis

importância da disciplina, etc.

6ș à 9ș séries – Raciocínio Operatório Concreto

No estágio operatório a criança começa a ter contato e a lidar melhor com os conceitos abstratos, e desenvolve uma lógica interna sólida que lhe permite solucionar problemas desde que sejam concretos.

Nesse tipo de raciocínio e inteligência, a criança é capaz de compreender os temas com seus conteúdos:

Defesa do Meio Ambiente – queimadas

chuva ácida

produção agrícola

reserva de água do planeta

pichação

vandalismo, etc..

Cidadania – respeito às normas sociais

suas obrigações consigo mesmo e com o outro

respeito ao seu limite e ao limite do próximo

reconhecer e respeitar seus direitos e os direitos do outro

importância das leis para ordem social, etc..

Noções Básicas de 1ș Socorros – conceito de acidentes

conceito de trânsito

importância de isolar a área do acidente

sinalizar o local para evitar novos

acidentes,etc.

ficando à critério do professor ampliar o conteúdo da matéria.

Ensino Médio – Raciocínio Operatório Formal

Nesse estágio o pré-adolescente já começa a raciocinar de uma forma lógica e sistemática marcado pela habilidade do raciocínio abstrato. As deduções lógicas podem ser feitas de forma abstrata sem nenhuma necessidade da presença dos objetos concretos.

O indivíduo é capaz de conjeturar sobre as probabilidades e estabelecer uma relação direta entre a causa e o efeito.

A partir desta estrutura de pensamento o indivíduo já consegue pensar logicamente sobre as proposições abstratas e testar hipóteses de maneira sistemática.

Passa a considerar todas as possibilidades, a mostrar interesse em criar regras pensadas sob um raciocínio de conteúdo moral, e a abordar a sociedade como um todo (altruísmo) em vez de estar voltado unicamente a situações pessoais e individuais (egoísmo).

As matérias ministradas nessa etapa exigem a capacidade de raciocínio abstrato e capacidade de deduzir mediante hipóteses formuladas.

Como exemplo, citamos alguns conteúdos que poderão ser apresentados aos alunos, sendo o professor livre para abordar novos conteúdos para enriquecer a grade do currículo escolar.

Primeiros Socorros

conceito de acidente

procedimentos quando há feridos no acidente, etc.

Leis e Normas de Trânsito

reconhecimento de placas de sinalização e regulamentação

significado das placas e dos sinais de trânsito

infração às normas e leis de trânsito e suas consequências legais, éticas e morais.

Mecânica

veículo: partes principais

manutenção do veículo

identificação de danos na máquina,etc.

Direção Defensiva

conceito de Direção Defensiva

fatores que diminuem a capacidade do motorista

importância dos equipamentos de segurança,etc.

Esperamos com isso, que quando o aluno terminar o Ensino Médio, com os conhecimentos adquiridos possa dirigir-se ao DETRAN e realizar a prova teórica para a obtenção da CNH atendendo à resolução publicada pelo CONTRAN/DENATRAN.

Um dos objetivos da Educação é a transformação das pessoas em bons cidadãos.

A partir das informações e atividades que serão desenvolvidas em salas de aula e com base no Programa de Educação para o Trânsito apresentado acima, esperamos que o aprendiz melhore seu autoconhecimento e sua autoestima, reconhecendo seus limites sendo capaz de sair do Pensamento Egocêntrico e passar a desenvolver um Pensamento Sociocêntrico, colaborando dessa forma para um convívio harmônico entre os homens e para um trânsito mais humano e seguro.

A criança e o jovem funcionam como agentes transformadores dentro do seu ambiente familiar, levando sempre novas informações e novas concepções sobre os fatos, ampliando o universo de informação do seu grupo.

Assim acreditamos que a partir do momento em que a criança começar a receber as informações sobre um trânsito mais humano e seguro, esses subsídios poderão ser repassados para os outros componentes da família, podendo ajudar em uma transformação de valores e de atitudes no sistema viário.

8. Aprendizagem

8.1. Definição

A aprendizagem vem sendo pesquisada e metodizada desde os povos da antiguidade. No Egito, na China e na Índia a finalidade era transmitir as tradições, os costumes familiares e os hábitos culturais e morais; enquanto que na Grécia e Roma, a aprendizagem passou a seguir duas linhas opostas, porém complementares:

A pedagogia da personalidade que visava a formação individual, e

A pedagogia humanista cujo objetivo era desenvolver os indivíduos numa linha onde o sistema de ensino e o sistema educacional seria representativo da realidade social dando uma ênfase maior à aprendizagem universal.

Desde os tempos mais remotos, o ser humano procura compreender e explicar o mundo em que vive, numa tentativa de atrair recursos e meios para poder enfrentar situações ameaçadoras e perante as mesmas conseguir sobreviver.

Entretanto, conforme o conhecimento humano foi avançando, as explicações para os fenômenos do Universo também foram sofrendo mudanças.

Os povos da Antiguidade achavam que as tempestades aconteciam em consequência da fúria dos deuses, sendo uma forma de demonstrar seu descontentamento com os homens. Hoje com o avanço das Ciências sabemos que as tempestades ocorrem por diferenças da pressão atmosférica, da temperatura e da umidade entre as massas de ar.

Tentar enxergar além das aparências e duvidar de tudo que supostamente é certo faz com que as Ciências avancem e se desenvolvam cada vez mais, pois tal postura obriga o ser humano a pesquisar melhor sobre todos os temas que envolvem a humanidade.

O conhecimento é um fenômeno do dia a dia que ocorre desde o início da vida e que não acontece sem passar pela unidade do ser.

Reserva-se o termo aprendizagem às mudanças provenientes de algum tipo de treinamento, ou seja, dos processos de repetição, dos exercícios e das práticas de determinadas tarefas, ou mesmo pela simples observação atenta de alguém que está executando um determinado tipo de atividade (aprendizagem por observação).

Segundo alguns estudiosos, a aprendizagem é o processo de alteração de comportamento de um indivíduo, seja por condicionamento operante, experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente permanente. As informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos.

A conduta não se refere unicamente ao comportamento exteriorizado, mas também a toda atividade mental cognitiva ou afetiva que determina uma nova forma de resposta ou um novo hábito incorporado ao repertório do indivíduo.

O ato ou a vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente o homem possui o caráter intencional, ou seja, o querer aprender, sendo que o processo da aprendizagem é dinâmico, por estar sempre em mutação e procurar novas informações para enriquecer a informação; é criador, por buscar novos métodos visando a melhora da própria aprendizagem.

Outra linha de estudo define a aprendizagem como sendo uma mudança relativamente durável do comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, ou não, adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada.

A motivação tem um papel fundamental na aprendizagem. Ninguém aprende se não estiver motivado, se não desejar aprender.

Na verdade o ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para que o processo seja processado e a aprendizagem ocorra.

Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de aprender a falar, a andar, necessitando apenas que a criança passe pelo processo de maturação física, psicológica e social, e que receba os estímulos suficientes para que o comportamento seja adquirido e posteriormente aperfeiçoado.

Mas a maioria das aprendizagens se dá no meio social e temporal onde o indivíduo vive e convive; sua conduta muda, normalmente, por esses fatores, e naturalmente, pela herança genética dos seus antepassados.

Aprender significa realizar uma pequena mudança na estrutura do Sistema Nervoso Central (SNC). Os sinais encontram os seus caminhos através da rede de neurônios no cérebro e sinais repetidos tendem a tomar sempre o mesmo caminho, passando de um neurônio para outro através das sinapses.

Se vamos começar uma nova atividade, como, por exemplo, aprender a tocar violão, os sinais deverão ser transmitidos através de caminhos já existentes a fim de dar as instruções apropriadas para que os dedos toquem as cordas de uma determinada maneira para produzir o som desejado.

Como no início temos poucos caminhos para escolher, os movimentos dos nossos dedos são bastante desajeitados. Com os exercícios repetitivos, a mesma mensagem é passada mais e mais frequentemente, e então os caminhos começam a mudar.

Mais sinapses se desenvolvem para levar as instruções para os músculos dos dedos. Quando esses novos caminhos evoluem, torna-se mais fácil mover os dedos exatamente como desejamos, e, finalmente, podemos tocar a música desejada, sem mesmo olhar o que estamos fazendo.

O cérebro de um bebê tem menos conexões entre seus neurônios do que o de um adulto. Essas conexões aumentam muito rapidamente à medida que o bebê aprende sobre o mundo ao seu redor. Por isso é muito importante falar com os bebês e dar-lhes grande quantidade de brinquedos para captar seu interesse enquanto seu cérebro se desenvolve mais completamente.

Aprender significa “adquirir nova forma de conduta ou modificar uma forma de conduta anterior” .

A ciência da Psicologia também não crê que alguém aprende simplesmente porque o outro ensina, ou apenas porque deseja aprender. Por que surgiu essa duvida?

Observou-se que muitas pessoas a quem se ensina, não querem aprender, e por este motivo, não aprendem; outras mesmo querendo aprender não o conseguem se alguém não ensiná-las; e outras ainda, mesmo querendo aprender e tendo quem as ensine, também não conseguem captar as informações.

O problema da aprendizagem pode ser associado à dificuldade na manutenção da atenção seletiva, que pode ter sido causada por algum tipo de atraso ou ineficiência no desenvolvimento da criança em relação a esta capacidade.

A aprendizagem é um processo universal e pessoal, dependendo do envolvimento e do desenvolvimento de cada um, do seu esforço e da capacidade integrativa, que ocorre durante toda a vida da pessoa.

Porém não é tão simples como parece à primeira vista. Uma das definições encontrada nos dicionários enuncia que: “a aprendizagem é a aquisição de conhecimento ou especialização em determinadas tarefas”, mas não explica e nem determina a amplitude do significado do que é aprender.

O suporte da aprendizagem está na dúvida, caracterizada por uma síntese mental abstrata: é algo que penetra a mente, demandado de um processo abstrato e não ostensivo.

“Aprendizagem é a mudança progressiva do comportamento e que está ligada, de um lado, a sucessivas apresentações de uma situação, e de outro, a repetidos esforços dos indivíduos para enfrentá-la de maneira eficiente” .

Devemos à Edward L. Thorndike (1874 – 1949) a formulação da primeira teoria sobre a Aprendizagem, sob a visão da Psicologia.

O termo teve origem na concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias, desde a mais simples a mais complexa, e simplificou o termo aprendizagem da seguinte forma; “aprendizagem é a formação de conexões do tipo S–R, em que S significa situação ou estimulo, e R, resposta ou reação”.

A aprendizagem exige a retenção de hábitos ou de novas informações, e a solução dos problemas tem sua origem justamente na retenção dessas cadeias de ideias.

É por meio das soluções dos problemas que se apresentam no dia a dia que o indivíduo se adapta e se ajusta ao seu meio ambiente.

“Normalmente, consideram-se como aprendidas as mudanças de comportamento relativamente permanentes, que não podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo, mas que resultam da experiência” .

A adaptação refere-se à capacidade do organismo em responder a situações que se modificam, conseguindo manter um nível de organização; portanto trata-se de um processo de desenvolvimento onde o organismo ajusta-se rapidamente aos efeitos provocados pelas condições externas ou internas, mantendo sua homeostase.

É preciso examinar o comportamento de um indivíduo ainda quando necessita de especialização e/ou de conhecimento, para somente após ter recebido a informação demandada, registrar a modificação positiva ou negativa que ocorreu nesse mesmo comportamento.

Adota-se este procedimento porque a aprendizagem não pode ser observada enquanto se processa, mas apenas depois que se realiza.

Assim, podemos concluir que a aprendizagem não é um comportamento, mas sim uma mudança de comportamento relativamente duradoura, e que é perceptível.

Na aprendizagem, os conteúdos devem estar relacionados aos interesses, aos objetivos e às necessidades pessoais do aprendiz.

É mister que o educando, segundo os parâmetros da Didática, seja capaz de selecionar e estabelecer as bases dos conhecimentos anteriores, de forma que a educação se organize em torno dos quatro saberes:

Aprender a conhecer: desenvolver a capacidade de compreensão de modo a aprender a entender o mundo que o cerca, proporcionando-lhe uma vida digna, ampliando sua capacidade profissional e a capacidade de construir o real.

Aprender a fazer: o aprender a fazer é inseparável do aprender a conhecer. O saber fazer refere-se à capacidade do homem em transformar os conhecimentos, em renovar as novas tecnologias em fonte de novos empregos ou de novos trabalhos não mais do tipo “mecânico”, autômatos. A aprendizagem deve evoluir sempre em direção aos objetivos do aprimoramento do homem enquanto pessoa e melhorar sua qualidade de vida na sociedade, seja como cidadão – pelo respeito às regras e as normas sociais – seja como SER, alcançando sua verdadeira independência.

Aprender a viver junto, a viver com os outros: a competição desenfreada e o desejo de sucesso individual têm impactado e dividido as sociedades e as nações do mundo. O caminho apontado pela Educação procura evitar os confrontos e os comportamentos de incompreensão, a quebra dos preconceitos e da intolerância, buscando a paz, e a amizade, e a harmonia entre as pessoas.

Aprender a Ser: valorizar a construção de uma personalidade com capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal .

A Psicologia da Aprendizagem baseia-se nos estudos da Psicopedagogia – termo que evidencia a junção da Psicologia com a ciência Pedagógica – que tem como objeto de estudo a pessoa a ser educada e o método de ensino a ser utilizado, levando em consideração todo o processo de desenvolvimento do indivíduo e as suas alterações, na busca de uma solução para os problemas que surgirem durante o processo da aquisição do conhecimento.

Preconiza-se que é função do pedagogo:

estimular seu próprio potencial afetivo para ser um incentivador da aprendizagem dos indivíduos.

facilitar a aprendizagem através da motivação, respeitando o ritmo e a fase de desenvolvimento da criança;

mobilização global do indivíduo bem como da abordagem do processo educativo em toda sua potencialidade e totalidade, por uma equipe multidisciplinar.

Segundo Santo Tomás de Aquino, o principal agente do processo da aprendizagem é a atividade daquele que aprende, onde a aprendizagem corresponde aos princípios estruturais e inter-relacionais transmissores do conhecimento, das atitudes e das habilidades que a sociedade considera importante para sua sobrevivência.

A aprendizagem classifica-se em dois grandes grupos:

Teorias associacionistas – onde a dinâmica da aprendizagem se dá por uma associação de ideias e de processos mentais ou num encadeamento de reações nervosas formando duas correntes distintas:

teorias subjetivas – considera que a aprendizagem se processa por uma associação interna de sensações e de imagens (Titchener Teoria Estruturalista); e

teorias objetivas – considera que a aprendizagem é uma associação de processos de estados nervosos corticais de reflexos e de reações orgânicas (Teoria Funcional de Thorndike, Teoria Behaviorista de Watson e Teoria Dinâmica de Woodworth); e

Teorias não associacionistas que explicam a aprendizagem como uma integração de reações espontâneas na atividade instintiva.

9. O Cérebro e a Aprendizagem

O cérebro está ligado diretamente ao comportamento sendo o responsável por estabelecer os padrões de ação, de comunicação, e de fornecer também os limites da quantidade de informações que podem ser assimiladas e processadas, aspectos considerados importantes para a cognição e para o comportamento do homem.

As pessoas são na verdade, um complexo composto dos aspectos: cognitivo-afetivo-motor, e qualquer impacto ou mudança em um desses fatores afeta os demais. Daí considerarmos a aprendizagem como um processo global.

Muitos estudos têm sido realizados para explicar a relação entre as funções cerebrais e como a aprendizagem ocorre no homem.

O cérebro é dividido em duas partes, o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito e sua morfologia lembra o miolo de uma noz.

Para a Psicologia e para a Fisiologia, a função cerebral é entendida como uma atividade complexa e adaptativa do organismo, dirigida à realização de uma tarefa que possui um papel fisiológico ou psicológico específico para a atividade vital do homem.

As funções cerebrais são frutos da interação entre os processos genéticos e do desenvolvimento por um lado, e da aprendizagem, do outro, o que pode alterar a estrutura e o funcionamento das células neurais e as suas conexões.

Na verdade somos do jeito que somos, devido em grande parte, ao que aprendemos e lembramos graças ao que chamamos de memória, o que nos possibilita a transmissão dos conhecimentos, garantindo a manutenção da cultura social, de geração em geração.

As funções psicológicas foram correlacionadas à estrutura do Sistema Nervoso Central (SNC), onde o tecido cerebral é uma rede contínua de impulsos nervosos (captação de estímulos tanto do meio externo como do meio interno) e o cérebro uma massa homogenia funcionando como um todo.

9.1. O Sistema Nervoso Central

A função do SNC (Sistema Nervoso Central) é receber, analisar e integrar todas as informações provenientes tanto do meio interno como do meio externo. É onde acontecem as tomadas de decisões e o envio das ordens, que se transformam em comportamento.

O SNC é formado pelas seguintes estruturas:

Hemisférios cerebrais

Cerebelo

Ponte

Bulbo

Medula Espinhal,

Sendo subdividido em Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico

O SNP (Sistema Nervoso Periférico) transmite as informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e glândulas) gerando a ação.

O Sistema Nervoso Periférico é composto por duas divisões: a somática e a automática.

A somática é a camada responsável pelo controle da musculatura esquelética e pela transferência da informação dos órgãos sensoriais abarcando vários nervos ramificados do SNC sendo sensoriais ou aferentes e os motores ou eferentes.

O Sistema Nervoso Autônomo é composto por outras duas divisões que estimulam vários órgãos e várias glândulas, sendo elas: a divisão simpática e a divisão parassimpática.

O funcionamento harmonioso do SNC é de suma importância para o motorista.

Vimos que o cérebro humano é dividido em hemisférios, com lobos que são separados por sulcos, sendo cada área (lobo) responsável por uma função específica, como segue:

Lobo frontal: área motora

Lobo temporal: área auditiva

Lobo parietal: área sensorial

Lobo occipital: área visual

Lobo Frontal – o lobo da inteligência, como também é o lobo occipital, nas áreas circunvizinhas onde são interpretadas as imagens visuais; no lobo frontal estaria localizada a capacidade de raciocínio lógico e de síntese fenomenológica, o lobo frontal é o lobo do futuro, da prospecção. Elabora o pensamento, e o planejamento das ações.

Lobo Temporal – região da memória, do “arquivo morto” – relaciona-se com o sentido da audição, reconhecendo a intensidade e o tipo de determinados tons e sons.

Lobo Parietal – é a região do cérebro onde são computadas as informações de uso imediato: o lobo do presente. No lobo parietal encontramos as circunvoluções prega-curva e supramarginais onde se localizam o esquema corporal e as relações temporo-espaciais. Responsável pela sensação de dor, pelo tato, pelo paladar, pela temperatura e pela pressão.

Lobo Occipital – responsável pelo processamento dos estímulos visuais, pela percepção.

Para a execução de um comportamento, é requerida uma série de excitações e conexões simultâneas e sucessivas, onde a perda de um elo do sistema acaba afetando o resultado final da tarefa ou da ação.

Entendemos então que o SNC é uma rede de sinapses com estímulos aferentes e eferentes e que o mesmo estímulo desencadeia uma série de circuitos para a obtenção da resposta correta. O cérebro é o órgão responsável pelo processamento das informações recebidas e pela tomada de decisão. Recebe as informações através dos receptores, integra as informações com as experiências passadas, avalia todos os dados e planeja uma ação.

A título de informação, o Homúnculo de Penfield é a representação da sensibilidade e da motricidade das diversas partes do corpo humano a nível do córtex.

No Lobo Frontal, a área do Giro Pré-Central (Área Motora Primária) corresponde à motricidade, enquanto que no Lobo Parietal, a área do Giro Pós-Central (Área Somestésica Primária) se refere à sensibilidade do corpo.

Esta figura nos apresenta um corpo humano "deformado", pois a proporcionalidade que existe entre o tamanho dos diversos segmentos e áreas corporais entre si, não é a mesma a nível cortical. Isso é explicado pelas diferentes concentrações de fibras nervosas que chegam ou que saem de cada segmento e região do corpo.

Assim, observamos que na face (lábios e língua) e na mão (incluindo os dedos), existe uma representação destacadamente maior quando comparada às outras partes do corpo, visto que nestas regiões os movimentos são mais precisos e a sensibilidade mais acurada.

Observe as figuras a seguir:

Porém, na maioria das vezes, nas nossas atividades cotidianas há predominância de um dos aspectos do nosso cérebro: por exemplo, no comportamento de andar a função motora é essencial, enquanto que no comportamento de interação pessoal, a função predominante é a afetiva; e na aprendizagem a função mais importante é a cognitiva.

No caso deste último – a aprendizagem – destacam-se os sistemas cerebrais que podem funcionar de modo semiautônomo com relação aos outros, de modo suplementar com outro sistema, ou mesmo de modo inter-relacionado. Para o ato de dirigir, são necessárias todas as funções simultaneamente.

Dentro das possibilidades de inter-relação cerebral, é possível haver três modos de aprendizagem:

Intra neuro sensória – modo de aprendizagem que está predominantemente vinculado a um sistema do cérebro.

inter neuro sensória – quando utiliza mais de um sistema cerebral;

integrativo – modo que utiliza todos os sistemas simultaneamente, como no caso da alfabetização, da escrita e da linguagem, e também da condução de veículos.

Para que a aprendizagem se processe, há o envolvimento de todo o complexo cerebral. Por não se tratar de um produto único, tem no mínimo duas formas principais de ocorrência:

as formas implícitas que são caracterizadas pela reflexão, não exigindo a atenção consciente;

as formas explícitas, que é a ação direta sobre o meio ambiente e exige a atenção consciente.

10. Fases e Processos Envolvidos na Aprendizagem

Da mesma forma que o desenvolvimento cognitivo se processa em fases ou etapas, é preciso que exista uma sequência lógica dessas fases para que ocorra a aprendizagem. A promoção da aprendizagem deriva de processos concomitantes entre o estímulo e a resposta a este estímulo.

Os eventos do dia a dia – a estimulação sensorial, a privação e o aprendizado – afetam as conexões sinápticas onde os fatores sociais modulam a estrutura biológica do cérebro, uma vez que é a atividade cerebral que estará sendo modificada.

Embora existam ligações entre o que ocorre no cérebro e no desenvolvimento intelectual, ainda não está claro nem definido o que essas ligações representam, ou quais conclusões educacionais podem ser extraídos dessas uniões.

Os recursos mentais, como a aquisição da fala, a atenção seletiva, a formação de conceitos, a aprendizagem de normas, enfim todos esses processos cognitivos são fundamentais para a aquisição do conhecimento.

Por essa razão, para que a criança compreenda, apreenda e aprenda as informações que lhe são transmitidas, é necessário que ela esteja apta a esse entendimento, comprovando um determinado grau de maturação neurológica, fisiológica e psicológica.

Apesar da maturação e da aprendizagem serem processos diferentes, ambos dependem da estimulação ambiental para que o SNC seja ativado.

Enquanto na maturação o estímulo atualiza uma potencialidade própria da espécie, a aprendizagem refere-se a um enriquecimento das potencialidades e das características da espécie através do treino e das condições de estimulação do meio em que o indivíduo vive.

A condição de aprendizagem está diretamente vinculada à fase de desenvolvimento da criança. Não podemos exigir o que ela não pode nos oferecer. Por isso é importante que todo conteúdo programático seja feito respeitando a fase do desenvolvimento em que a criança se encontra. Só assim poderemos aproveitar todo potencial que é inerente ao ser humano.

A existência de diferenças individuais é fato incontestável: o tempo interno de cada pessoa é único e é uma característica intrínseca a cada indivíduo.

O cérebro, o comportamento e a cognição estão intimamente relacionados uma vez que a estimulação de um desses elementos impacta no outro provocando reação.

Porém, em termos biológicos e psicológicos, existe um padrão que aponta e define o desenvolvimento normal do ser humano.

A estrutura do organismo e seu funcionamento apresentam diferenças e transformações em função do sexo, do tempo e da idade da criança, fatores que interferem na aprendizagem.

Tanto no aspecto físico como no psicológico existe um padrão de desenvolvimento.

Fisicamente espera-se que uma criança do sexo masculino com 7 anos de idade, tenha uma estatura aproximada de 122,50cm, e que tenha uma massa corpórea de 24,40kg.

Sob o aspecto psicológico, espera-se que essa mesma criança tenha movimentos fundamentais, consiga desenvolver atividades em grupo, tenha capacidade em manter um diálogo e tenha uma independência relativa; e que no aspecto mental, essa mesma criança seja dotada de inteligência lógica e consiga realizar operações concretas, e psicologicamente seja capaz de realizar operações que exijam raciocínio lógico.

A aprendizagem não é uma situação singular, mas uma série de situações consecutivas onde o repertório de resposta da criança progride de respostas gerais para respostas específicas, que devem se manifestar na solução de problemas e mudança de comportamento, para que possamos concluir que o fenômeno da aprendizagem ocorreu.

O segmento da aprendizagem exige a retenção de hábitos ou de novas informações, e como vimos anteriormente, a solução de problemas baseia-se na fixação de cadeias de ideias. Segundo Ross , Gagné define que o ato da aprendizagem pode ser decomposto em fases e processos distintos cada um com sua peculiaridade:

FASES PROCESSOS

Motivação Expectativa

Percepção Atenção apreensão

Aquisição Interpretação seletiva

armazenagem

Retenção Memória de armazenagem

Evocação Recuperação

Generalização Transferência

Desempenho Resposta

Retração Reforço

Cada fase corresponde a um processo e todos estão inter-relacionados: forma-se um ciclo completo quando ocorre a aprendizagem, ou seja, a mudança do comportamento.

Para entendermos a aprendizagem, descreveremos, a seguir, o significado de cada fase associada ao processo que a desencadeia, e ao grau de importância de cada uma delas para que o novo comportamento seja instalado.

11. Motivação

11.1. Definição de Motivação

A motivação é um dos temas que mais atrai as pessoas no estudo da Psicologia. Existe uma necessidade de se entender o modo como o ser humano se comporta, o que motiva as suas atitudes e ações e as mantém.

Entende-se por motivação “um esforço vitalizado, por oposição ao esforço sem interesse” .

“Muitos especialistas resumem toda motivação humana em autoconservação e autoexpansão. A síntese do que o homem busca durante a vida é satisfazer-se dentro de um quadro referencial imediato e ao mesmo tempo projetar-se em busca de um futuro melhor; ou seja, manter-se e expandir-se” .

“Motivar significa predispor o indivíduo para certo comportamento desejável naquele momento” .

Tudo que o homem realiza, pensa e sente tem sua origem nos motivos básicos. A motivação está sempre presente como desencadeadora da ação, seja por necessidade fisiológica, necessidade afetiva, social ou intelectual.

Considerando as características inatas de cada indivíduo, a educação que recebe no seio familiar, o modo como interage com o mundo que a cerca, e como se relaciona consigo mesmo, encontramos a diferenciação dos motivos básicos de autoconservação e autoexpansão, uma vez que a determinação de objetivos que atendam às necessidades do ser humano e a escolha do caminho para atingi-los são individuais e pessoais. O homem sente-se bem quando está em equilíbrio consigo mesmo e com o meio em que vive.

Segundo Mouly (op. Cit.p. 258-9) os motivos têm três funções importantes:

Os motivos que acionam o organismo como um todo – na tentativa de satisfazer uma necessidade (fome, sede, sono, sexo, etc.) mantendo o organismo em atividade até que a necessidade seja satisfeita e a tensão gerada desapareça.

Os motivos dirigem o comportamento para um objetivo específico – os motivos dirigem o comportamento do indivíduo para o objetivo mais adequado para satisfazer sua necessidade. Então, não basta o organismo estar ativo, é fundamental que sua ação seja dirigida para um objetivo determinado e adequado.

Os motivos selecionam e acentuam as respostas corretas – as respostas que satisfazem a necessidade serão aprendidas, e repetidas em situações semelhantes.

O equilíbrio geralmente traz uma sensação de prazer, de satisfação, enquanto que o desequilíbrio provoca tensão, ansiedade e angústia que quando constantes, podem, inclusive, acabar levando a pessoa à reação depressiva.

Todo comportamento humano pode ser entendido como uma busca para atingir o equilíbrio. No entanto, no homem quando o equilíbrio permanece num mesmo estágio gera insatisfação, pois a potencialidade humana exige concretização. “O normal não é o repouso, mas a ação” .

O equilíbrio que o homem busca é sempre dinâmico, sendo que a todo o momento está sendo rompido; o que acaba gerando um estado de tensão que obriga o individuo a buscar uma nova solução para readquirir a homeostase.

“Motivo refere-se, então, a um estado de tensão, uma impulsão interna, que inicia, dirige e mantém o comportamento voltado para um objetivo. Este objetivo é, muitas vezes, chamado de incentivo” .

No caso da aprendizagem, se o aluno não se sentir motivado não vai aprender. Quando o aprendiz sente-se determinado, o comportamento será sempre intencional, isto é, permanecerá sempre voltado para a satisfação de sua necessidade.

No processo educativo é importante que os interesses e as necessidades do professor coincidam com as do aluno, daí a importância de falar-se a mesma língua. Para isso devemos adaptar o material, o método de apresentação da matéria a ser ensinada, à fase de desenvolvimento e ao nível da capacidade de compreensão do aprendiz, para mantê-lo motivado e interessado.

Na situação de trânsito o motorista precisa sentir-se motivado a obedecer às leis e as regras que garantem sua integridade física. Esse processo de compreensão está diretamente vinculado ao processo da aprendizagem. Quanto mais eficaz a educação maior o senso de responsabilidade.

11.2. Tipos de Motivação

O termo motivação vem do Latim e significa mover. Em psicologia o termo refere-se a força do organismo que influencia e orienta uma ação, podendo ser de origem intrínseca ou extrínseca.

11.2.a. Motivação Intrínseca e Motivação Extrínseca

A motivação que liga a pessoa ao que ela realiza pode ser de ordem intrínseca, quando o interesse reside na atividade em si; ou de ordem extrínseca quando a atividade é vista como meio para atingir um objetivo pré-determinado. Alguém pode cantar porque gosta, ou pode fazer disso um meio de subsistência.

Essa separação, essa diferenciação é de grande importância para o campo da educação, pois para que a aprendizagem se processe de forma solidificada, a criança ou o jovem precisa gostar do que faz, ou seja: estudar, aprender.

Se a participação nas atividades for prazerosa pode ativar e estimular o próprio aluno a tornar-se o agente de sua própria educação. Para tanto, insistimos, não podemos esquecer a idade do aluno e a fase do desenvolvimento físico e mental em que se encontra de modo a adequar a didática utilizada as suas necessidades e capacidades, proporcionando a formação de hábitos, de atitudes e de habilidades adequadas para a vida em sociedade, respeitando e obedecendo as normas que o grupo impõe aos seus integrantes. Isso vale também para o trânsito

A vivacidade torna-se cada vez mais complexa, à medida que tentamos compatibilizar os diferentes interesses da pessoa, com os motivos sociais. A vida social exige que o comportamento se molde a determinadas normas, que estabelecem os limites.

Viver como se o outro não existisse, é no mínimo, irracional. Por outro lado, sacrificar as necessidades em nome do grupo, é acumular frustrações que acabarão por atingir à própria relação social.

No trânsito, pode surgir a situação de um motorista “forçar” a ultrapassagem; permitir ou não que o outro siga seu caminho vai depender do estilo da personalidade e de comportamento do condutor que está sendo pressionado.

Como conseguir conciliar tudo? Vai depender da atitude do motorista em questão, do seu grau de amadurecimento emocional, dos seus interesses e da percepção que ele tem do mundo e do outro.

As normas e as regras existem para estabilizar essa dinâmica e não para criar situações de conflito e desordem.

Quando uma necessidade não é satisfeita através dos recursos disponíveis tanto de ordem interna como de ordem externa, o indivíduo poderá sentir-se eternamente frustrado, e isso acaba gerando ansiedade e consequentemente poderá levar à manifestação do comportamento agressivo, recorrente da frustração sentida.

Segundo Sigmund Freud, sempre que um objetivo é frustrado, a resposta é agressiva, no sentido de destruir o obstáculo. Muitas vezes haverá conflito entre o motivo e o objetivo. A satisfação ou realização do indivíduo em relação a sua meta dependerá muito da resposta que vai emitir, ou seja, um comportamento que atenda a atinja o seu alvo no momento de sua necessidade e que alcance a sua realização posteriormente.

Por exemplo, a criança pode ter interesse em determinada aula e em determinada matéria; e por ter interesse prestar mais atenção e consequentemente aprende mais. O professor tem que estar atento se ao seguir a exposição da aula, o aluno vai satisfazer as suas necessidades, os seus motivos de atividade mental e social (aprovação por parte do professor), para que seu interesse seja mantido.

11.3. Implicações da Motivação na Aprendizagem

Todo comportamento tem, como alvo, o equilíbrio, a homeostase.

A aprendizagem e a educação modificam e harmonizam os impulsos naturais com a intervenção da razão e das regras sociais, promovendo este ajuste de modo prazeroso.

Porém, o equilíbrio não implica e nem faz da aprendizagem um processo estático e imutável; ao contrário, ele é dinâmico. A todo o momento estamos expostos à estimulação tanto do meio externo como do meio interno, e isto significa que estamos constantemente numa luta firme pelo nosso equilíbrio.

No processo de desenvolvimento, percebemos que o homem não fica satisfeito com situações estáticas, que não apresentam mudanças ou desafios. Sua capacidade e potencialidade exigem ação, concretização.

A todo o momento, nosso equilíbrio está sendo rompido, e isso gera certo grau de tensão, uma reação episódica, uma neurose provocada pela luta entre estes estímulos de cunho externo e interno.

Este desequilíbrio é o impulso, o incentivo, enfim, a mola propulsora para pelejarmos na busca de atingirmos os nossos objetivos. Após alcançarmos nossas metas, a tendência da tensão é desaparecer e em seu lugar surgir o reestabelecimento do equilíbrio, a homeostase, que resumindo seria a probabilidade da própria vida que se mantém e se propaga.

Ponderando que o desenvolvimento humano é uma sucessão de diversos aspectos (biológico/psicológico/social) temos que considerar o desdobramento dos motivos básicos entre uma série de outros.

Para Maslow, as necessidades dos seres humanos obedecem a uma hierarquia, uma escala de valores a serem transpostos diariamente.

Assim, a cada necessidade satisfeita, surgirá outra em seu lugar, mantendo o homem em constante e incessante ação. Maslow apresentou uma teoria da motivação segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas de acordo com uma hierarquia de importância e de influência, em cujo apoio se encontra as necessidades mais básicas (fisiológicas) e no topo, as mais elevadas (relativas à auto realização)

Necessidades de Auto-Realização: autoatualização, moralidade, criatividade, espontaneidade, aceitação, finalidade da experiência, propósito, desenvolver seus conhecimentos e seus valores.

Necessidades de Auto-Estima: confiança, empreendimento, respeito dos outros e de si mesmo, prestígio, independência, necessidade de ser um indivíduo único, sentimento de ser útil e de ter valor, conservar sua identidade.

Necessidades Sociais: amizade, família, intimidade, ser amado, ouvido e compreendido, ser estimado, fazer parte de um grupo, ter um status.

Necessidades de Segurança: saúde, trabalho, propriedade, família e estabilidade social, sentir-se seguro, confiar.

Necessidades Fisiológicas: fome, sede, sobreviver, sexualidade, respirar, água, alimento, eliminação, moradia, roupas, repouso, sono.

Abraham Maslow atraiu, para a psicologia que havia fundado, outros autores e estudiosos da motivação humana, agregando, ainda seus estudos sobre a pirâmide das necessidades humanas.

Para ele, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que se satisfaçam as necessidades de segurança.

Estas, se satisfeitas, abrem campo para as necessidades sociais, que quando resolvidas, abrem espaço para as necessidades de autoestima. Se uma destas necessidades não está extinta, gera a incongruência que leva ao conflito.

Quando todas as necessidades estiverem de acordo, abre-se espaço para a autorrealização, que é um dos aspectos do sentimento de felicidade do indivíduo. Esta é hoje a terceira grande força dentro da psicologia.

Pensando no homem, vamos analisar algumas dessas necessidades e suas consequências em termos comportamentais, correlacionando sua influencia sobre a ação do motorista:

11.3.a. Comportamentos fisiológicos

Os comportamentos fisiológicos, como o próprio nome diz, referem-se ao funcionamento do organismo de modo geral. A sensação de sono, por exemplo, gera um estado de tensão, que é representado por sintomas como o cansaço, alteração da capacidade sensório perceptual, além de afetar a atividade motora voluntária. A temperatura corporal sofre mudanças, comprometendo o funcionamento geral do organismo, produzindo uma sensação desagradável, além de diminuir sensivelmente os reflexos do condutor.

Essa sensação de desconforto impulsiona o motorista ao comportamento de buscar uma solução para esse problema, como encontrar um local para repousar, locomovendo-se para satisfazer sua necessidade.

No caso do motorista essa sensação desagradável pode causar irritabilidade e desatenção no trânsito, tornando sua direção perigosa. O foco de sua concentração é desviado do meio externo (tráfego) para o meio interno (sono).

O corpo humano tem características e limitações de ordem puramente fisiológica como a força muscular, resistência ao stress e a doenças de um modo geral, necessidade de tempo de sono, tempo de trabalho e de descanso, etc. Cada pessoa tem seu limite e conhece seu corpo. Todos esses fatores podem comprometer seriamente o tempo de reação do indivíduo.

Para o trânsito o tempo de reação ou o reflexo é importante para prevenção de acidentes. Por exemplo, quando um motorista avista uma situação de perigo precisa reagir com precisão e rapidez para evitar o acidente (desviar, frear, ou realizar qualquer outra manobra). Em condições de stress elevado, esse tempo pode aumentar e muito tornando os reflexos mais lentos e mesmo a acuidade visual pode ser afetada e diminuída.

Segundo os estudos, mais de 90% de todas as nossas ações são controladas pela visão. Para que nosso organismo funcione adequadamente, precisamos estar atentos à sua necessidade e solicitação de satisfação, ou seja, observar com atenção o motivo de desequilíbrio temporário do nosso organismo.

Os motivos ativam o organismo e levam o indivíduo a uma atitude, na tentativa de satisfazer suas necessidades. Qualquer necessidade gera tensão e desequilíbrio.

“Os motivos mantêm o organismo ativo até que a necessidade seja satisfeita e a tensão desapareça” .

Como foram citados anteriormente, os comportamentos fisiológicos podem ser afetados pela fadiga, pelo uso de drogas, como o álcool e o fumo, por doenças e pelas condições ambientais como: temperatura, muitas horas de trabalho consecutivo, ruído, etc. Todos esses fatores podem afetar a condição psicológica do indivíduo tornando-o um motorista perigoso e acidentógeno.

11.3.b. Comportamentos Sensoriais

De um modo geral estes comportamentos estão ligados ao funcionamento dos sentidos. “É a soma dos fatores que estimulam os órgãos dos sentidos da pessoa que aprende” .

Segundo a classificação de Jordan, os comportamentos sensoriais podem ser respostas a estímulos orgânicos (procura de alimento), ou respostas aos objetos do ambiente: vocalização, placas de sinalização e/ou respostas a nossos semelhantes (rivalidade, combate, cordialidade).

O excesso de luminosidade, o barulho das avenidas e rodovias, a temperatura, são fatores que interferem no comportamento geral do indivíduo e também no ato de dirigir. Vários estudos realizados já comprovaram que a lassidão e a monotonia, podem levar o motorista a envolver-se ou provocar acidentes. A tensão, gerada nessa circunstância de uniformidade pode ser provocada pela ausência de fatores estimulantes, podendo tornar a atividade em trânsito invariável. No caso do motorista, uma estrada longa e reta, pode levar ao tédio afetando sua capacidade de atenção e concentração, diminuindo os reflexos. A esta situação os estudiosos do trânsito denominaram de “Hipnose Rodoviária”, onde o motorista dirige como se fosse um robô. Está com os olhos abertos, mas alheio a tudo.

11.3.c. Comportamentos de Atividade Física

Caspersen em 1985 definiu a atividade física como sendo: "qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte em gasto energético maior que os níveis de repouso" , ou comportamento que gere um estado de relaxamento. Dirigir por horas consecutivas, sem parada e sem descanso, exige um esforço físico gigantesco.

Ficar sentado na mesma posição, executando os mesmos movimentos por longo espaço de tempo, além de exigir um gasto energético maior, estressa e afeta o bom funcionamento do sistema musculoesquelético, podendo causar câimbras. Por isso recomenda-se que a cada 3 ou 4 horas o motorista pare o veículo, desça e dê uma “boa espreguiçada” para relaxar e estender a musculatura.

Essa simples atividade física faz com que o motorista extravase a energia contida e acumulada no organismo, provocando uma sensação de bem estar.

Ao liberar a tensão, o motorista torna-se menos tenso, menos ansioso, garantindo a manutenção da saúde e ao mesmo tempo melhorando a mobilidade além de promover o conforto físico e psicológico.

11.3.d. Comportamentos Relacionados à Atividade Mental

O pensamento é fruto da nossa atividade mental. A atividade mental está relacionada diretamente a operosidade e ao funcionamento da inteligência. Ao pensar o homem concretiza uma atividade. O ato de pensar consente que o homem transforme as situações que vivencia, e lide com as mesmas de um modo mais efetivo atendendo às suas necessidades e aos seus desejos.

Segundo Piaget, para o processo de aprendizagem, a capacidade de pensar é fundamental; sendo o alicerce do conhecimento. Sem o pensamento não nos conscientizamos dos fatos e das situações que nos envolvem. O pensar nos permite perceber e ao mesmo tempo imaginar como poderemos agir dentro da realidade dos acontecimentos. É uma forma de mantermo-nos presos à realidade.

Numa análise mais abrangente podemos considerar que o pensamento tem a função de ser o crítico avaliador da realidade.

A memorável frase de Descartes é válida até os dias atuais: “Penso, logo existo”.

Quando as questões ou os problemas não são resolvidos geram tensão, e impulsionam o indivíduo a perguntar, a prestar mais atenção e a refletir. O homem só se satisfaz quando consegue resolver um problema, entender uma questão, constatar a lógica de uma situação.

A direção veicular abarca uma série de estímulos cognitivos, sendo uma atividade complexa exigindo do condutor uma capacidade para analisar, sintetizar e resolver uma situação adversa, de modo que seu comportamento e sua atitude sejam eficientes e traga um bom resultado efetuando rápida precisamente a manobra adequada.

11.3.e. Comportamentos Sociais

O comportamento social pode ser definido como sendo a ação orientada com o objetivo de estabelecer uma interação com outros membros que pertencem a mesma espécie.

O comportamento social engloba um significado dentro de um contexto social provocando reações de outras pessoas, sendo uma forma de comunicação entre os seres.

Os comportamentos sociais referem-se às implicações da vida gregária do homem aludindo à necessidade do convívio em grupo, e à necessidade da socialização.

A aceitação social é um dos objetivos mais caros ao indivíduo .

O homem nasceu para viver em grupo e não isoladamente, sendo que esse processo pode ser explicado pelos três aspectos que definem essa necessidade, como segue:

Pelo relato anterior, podemos observar que, Maslow descreveu muito bem o comportamento motivacional com base nas necessidades humanas. Os estímulos podem ser de origem interna ou externa, agindo com força sobre o indivíduo e levando-o à ação.

Esta teoria denota que a motivação tem um ciclo que foi denominado de “Ciclo Motivacional”, ou seja, quando o ciclo não se realiza ou não se completa, surge a frustração, que pode levar o homem a se manifestar das seguintes formas:

comportamento ilógico ou fora da normalidade;

agressividade por não poder dar vazão à insatisfação contida;

nervosismo, insônia, distúrbios circulatórios / digestivos;

falta de interesse pelas tarefas ou objetivos;

passividade, moral baixo, má vontade, pessimismo, resistência à modificação, insegurança, falta de colaboração, etc..

De acordo com o que vimos sobre a Escola Behaviorista, acredita-se que a aprendizagem se realiza quando mediante uma resposta manifestada ocorre a apresentação de um estímulo, que tem a função de recompensa.

Portanto, às respostas adequadas será dado um reforço positivo, com a intenção de garantir a manutenção daquele comportamento até que ele se torne um hábito incorporado ao repertório comportamental do indivíduo; e para as respostas Inadequadas será dado um reforço negativo, – “punição” – com o intuito de que aquela resposta seja minimizada ou mesmo extinta e não faça parte do comportamento do indivíduo.

Dessa forma, ocorre uma associação entre o estímulo e a emissão da resposta que visa a recompensa. Toda vez que a criança emitir um comportamento adequado haverá a expectativa da sucessão de algum evento desejável. Essa expectativa motivará o aprendiz na manifestação de respostas e comportamentos adequados, ou seja, comportamentos assertivos.

Conforme a criança vai se desenvolvendo, o tipo de reforço também deve ser adaptado a fase evolutiva, visando a manutenção da motivação do individuo.

Num primeiro momento, o reforço deve ser concreto, de modo que a criança possa vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, senti-lo (doces, toque físico, abraço, beijo, aplauso, etc.).

É desse modo que ela conquista gradualmente a sua capacidade de abstrair, passando a dar uma importância maior ao reforço verbal e ao reconhecimento social, devido à mudança concomitante de seus valores internos no decorrer da sua evolução.

O homem por natureza é um ser sociável, não nasceu para viver isolado. Desde que nasce, o indivíduo já está inserido num grupo: a família, e por toda sua vida sempre estará participando, interagindo dentro de grupos sociais, como, por exemplo, escola, trabalho, amigos.

O trânsito também é um grupo social, pois quando estamos no tráfego, estamos interagindo com os demais usuários do sistema. A forma como nos comunicamos com os integrantes desse grupo em especial, denota quais são as nossas necessidades e como é a nossa personalidade.

12. Percepção e Atenção

Na língua portuguesa, define-se a palavra “perceber” como adquirir conhecimento por meio dos sentidos ou da inteligência. (Silveira Bueno).

A percepção do meio depende de como o SNC e os nossos órgãos dos sentidos detectam o estímulo e como o nosso cérebro interpreta e arquiva essas informações para uso posterior, o que exige atenção, organização, discriminação e seleção.

Percepção é a função cerebral que atribui significado aos estímulos sensoriais, a partir do histórico das vivências passadas.

Através dela, o indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir um significado ao seu meio.

A percepção consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos, podendo ser estudada do ponto de vista estritamente biológico ou fisiológico, envolvendo estímulos elétricos evocados pelos estímulos nos órgãos dos sentidos. Do ponto de vista psicológico ou cognitivo, a percepção envolve também os processos afetivos, mentais, a memória e outros aspectos que podem influenciar na interpretação dos objetos percebidos.

Os órgãos receptores são os músculos, a pele e as articulações que percebem uma mudança física ou química no organismo e transformam a percepção em impulsos que percorrem o neurônio sensorial.

O neurônio sensorial transmite os impulsos recebidos até o sistema nervoso central, que ativa o órgão executor para que o comportamento seja manifesto.

A apreensão refere-se à percepção da imagem como um todo. “A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a discriminação, mas também a capacidade de distinguir entre sons e imagens, bem como a capacidade de organizar e arranjar a sensação captada em um todo significativo, desenvolvendo a capacidade de estruturar a informação que está sendo recebidas” .

12.1. O estudo da percepção

A percepção é um dos campos mais antigos dentro da pesquisa psicológica, pois abrange tanto a esfera cognitiva como a fisiológica e a emocional.

Por se tratar de uma característica individual abrangente, foram desenvolvidas várias teorias quantitativas e qualitativas para sua mensuração, onde os pioneiros nesse estudo foram Hermann Von Helmholtz, Gustav Theodor Fechner e Ernst Heinrich Weber.

A Lei de Weber-Fechner é uma das teorias mais remotas da psicologia experimental e institui as relações existentes quantitativamente entre a magnitude do estímulo físico mensurável por instrumentos específicos e a conexão do efeito percebido pelo sujeito por meio de sua narração.

A percepção foi objeto de estudo da filosofia do conhecimento e da epistemologia numa tentativa de procurar entender o seu efeito sobre a gnose e a aquisição de informações do mundo interno e externo.

De modo geral o sentido visual é o mais importante para o ser humano e em consequência disso a percepção foi a base para a criação de várias teorias científicas e filosóficas haja vista que a fenomenologia e o existencialismo basearam toda a sua teoria na forma como o individuo percebe o mundo.

Um exemplo clássico da deturpação da percepção são as figuras ambíguas, onde cada sujeito percebe formas diferentes, atribuindo sentido diferente para o mesmo desenho, como mostram as tradicionais figuras gestálticas que seguem:

Algumas ilusões de óptica tem como base esse tipo de percepção ambígua. As imagens equívocas são exemplos de percepção mutável ao permitir que se vejam objetos diferentes de acordo com nosso estado de ânimo e da interpretação que fazemos da figura ou objeto.

Na apresentação de uma "imagem mutável", não é o estímulo visual que muda, mas sim a interpretação que se faz do estímulo proposto.

Da mesma forma que um mesmo objeto pode dar margem a múltiplas percepções, também pode acontecer que um objeto não gere nenhuma percepção. Se o objeto percebido não tiver um significado na realidade da pessoa, expressamente falando, ela pode não percebê-lo, simplesmente o ignora.

Esse dado sobre a deturpação na percepção é importante, pois indica como o indivíduo se relaciona com a realidade, como ele percebe e transforma o mundo em que vive.

Na psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância uma vez que o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade segundo seus critérios de percepção, e não da realidade em si.

Por este motivo, entendemos que a percepção do mundo torna-se diferente entre os indivíduos, pois cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância ou são mais significativos para si próprios.

Muitos psicólogos cognitivos e filósofos de diversas escolas sustentam a tese de que, ao transitar pelo mundo, as pessoas criam um modelo mental de como o mundo funciona criando paradigmas para entender e tentar se adaptar a ele. Ou seja, elas sentem o mundo real, mas o mapa sensorial que isso provoca na mente é provisório, da mesma forma que uma hipótese científica é provisória até ser comprovada ou refutada ou ainda até que novas informações sejam acrescentadas ao modelo estabelecido. À medida que adquirimos novas informações, nossa percepção vai sofrendo alterações.

Vários experimentos com a percepção visual demonstraram que é possível compreender a mudança na percepção quando o individuo adquiri novas informações. Esse detalhe pode ser claramente observado na teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo e suas respectivas fases.

No trânsito, cada nova informação, cada novo aprendizado deve levar o condutor a ter um comportamento mais adequado e assertivo, no sentido de tornar o trânsito mais seguro.

A maneira como percebe e sente o mundo será refletida na condução do veículo; se sente o mundo como uma ameaça sua maneira de dirigir o veículo será agressiva numa tentativa de defender-se da intimidação que sente.

Quando o objeto ou a informação não faz parte da realidade daquele indivíduo, simplesmente ele não é capaz de diferenciar esses estímulos dos demais, sendo diluídos no meio sem que isso possa ser interpretado como um dado a ser considerado.

No processo da formação do condutor as sinalizações de trânsito devem ser apresentadas de modo que tenham um significado e passem a fazer parte do cotidiano do motorista, para que quando o sinal se apresentar ele seja capaz de percebê-lo e interpretá-lo, obedecendo às normas e as leis de trânsito.

Nas ruas, avenidas e rodovias os condutores esperam encontrar as placas e as sinalizações de trânsito, e por essa razão elas se tornam prontamente visíveis, mesmo que sejam apenas alguns pontos no horizonte. Em situação contrária é fácil imaginar o caos que se instalará caso as normas, as leis e as regras não sejam significativas para o condutor.

Tem-se considerado cada vez mais a importância da condição física e emocional do indivíduo que observa durante o ato da percepção, de modo que o mesmo interprete as informações dentro da realidade.

A presença e a condição do observador podem modificar o fenômeno uma vez que as percepções são consideradas normais quando correspondem realmente àquilo que o observando vê, ouve e sente. Contudo, se o individuo estiver com algum problema em qualquer uma das esferas, a percepção pode ser ineficaz e produzir ilusões dos sentidos deturpando o sentido real da situação.

13. Fatores que podem influenciar a percepção

O processo perceptivo é iniciado pela atenção que nada mais é do que uma observação seletiva realizada pelo indivíduo. Esta seleção faz com que apenas alguns elementos sejam percebidos em detrimento de outros.

Os fatores que influenciam a atenção são vários e estão agrupados em duas categorias distintas:

dos fatores externos (próprios do meio ambiente) e

dos fatores internos (próprios do organismo: os órgãos dos sentidos).

Cada um dos cinco órgãos dos sentidos tem uma relação direta com uma parte específica do cérebro. O funcionamento mental forma um conjunto de funções que torna viável nosso relacionamento com o meio, tanto interno como externo. É por meio dos sentidos que percebemos tudo o que está ao nosso redor e dentro de nós, e de acordo com as nossas sensações atribuímos um significado que assegura a nossa sobrevivência e integração com o ambiente.

No processo de avaliação psicológica do condutor é necessário verificar-se através da utilização dos instrumentos adequados, se esses sentidos estão funcionando adequada e harmoniosamente para que o futuro motorista possa perceber e interpretar as informações de maneira realística para integrar-se satisfatoriamente ao sistema trânsito, garantindo uma atitude colaborativa e adequada para sua segurança e do sistema como um todo.

13.1. Fatores Externos que Agem e Interferem na Percepção

Um dos fatores externos mais importantes para a atenção é a intensidade da incitação, uma vez que para despertar nossa atenção é preciso que os estímulos se apresentem com um limiar de intensidade suficiente para estimular o nosso sentido.

Esses estímulos no trânsito podem ser de origem térmica, visual, auditiva, e eventualmente olfativa.

Isso pode justificar o fato das sirenes das ambulâncias terem um som insistente e alto, quando pedem passagem. Outros estímulos, como carros buzinando incessantemente, motoristas gritando, freadas bruscas, são fatores externos que também direcionam nossa atenção.

Outro fator importante é o contraste existente na figura, ou seja, nossa atenção será muito mais aguçada quanto maior for a diferença existente entre as estimulações, como acontece, por exemplo, com os sinais de trânsito que são pintados com cores vivas e contrastantes.

O movimento também constitui um elemento importante para despertar a vigilância, por exemplo, nossa atenção é estimulada mais facilmente quando os objetos visualizados estão em movimento do que aqueles que são estanques. É mais fácil percebermos alguém que está andando na rua tentando atravessar, do que alguém parado num ponto de ônibus, por exemplo.

Outro aspecto importante para a atenção é a incongruência, ou seja, às coisas absurdas e bizarras despertam muito mais a atenção do que aquelas tidas como normais, por exemplo, na rua prestamos mais atenção a uma pessoa empurrando um veículo do que no condutor que transita normalmente, ou num outdoor de propaganda onde aparece uma mulher de bigode, por exemplo.

13.2. Fatores Internos que Atuam e Interferem na Percepção

Os fatores internos considerados importantes para despertar a atenção são:

motivação, uma vez que nossa tendência maior é canalizarmos mais intensamente nossa atenção a tudo que consideramos mais significativo e que nos dá prazer, do que às coisas que não nos interessam;

a experiência anterior, ou em outras palavras, a força do hábito faz com que prestemos mais atenção ao que já conhecemos e entendemos do que a fatores novos que vão exigir uma nova avaliação e uma nova significação. É a lei do menor esforço. O hábito pode levar ao comodismo, ao automatismo, e nesse aspecto a introjeção adequada das leis e das normas de trânsito são fundamentais para garantir uma direção tranquila; e

por último o fenômeno grupal que explica a nossa natureza social, fazendo com que pessoas de contextos sociais diferentes não tenham a mesma atenção aos mesmos objetos, por exemplo, Indivíduos que possuem a carteira de habilitação, estão mais interessados em observar às normas e as regras de trânsito mesmo que estejam conversando ao volante, se comparados àqueles que ainda não são habilitados. A importância que atribuímos ao objeto pode ser explicada pela Gestalt em seu exemplo costumeiro da representação de figura e fundo.

No que se refere à percepção de profundidade, sabe-se que ela incide graças à interação da acomodação do cristalino que é uma espécie de lente natural para focarmos adequadamente os objetos e a convergência da visão, isto é, a posição perceptiva sofre alteração sempre que olhamos para objetos que estão situados em distâncias diferentes.

Os fatores ambientais mais característicos do meio ambiente e que interferem na percepção são o princípio do contraste luz-sombra, onde as partes mais iluminadas dos objetos tornam-se mais relevantes do que as que recebem pouca luz, e também a observância da grandeza relativa dos objetos, ou seja, a profundidade é representada pela variação do tamanho e da distância entre os objetos. Quanto mais distantes os objetos estiverem menores nos parecerão do que aqueles que estão mais próximos.

Para o trânsito esse a percepção de profundidade é fundamental para evitar e/ou envolver-se em acidentes, pois ajuda o motorista a situar-se melhor dentro do tempo e do espaço.

14. Tipos de Percepção

O estudo da atenção proporcionou a distinção entre alguns tipos principais de percepção. Sabemos que nos seres humanos, as formas de percepção mais desenvolvidas são a percepção visual e a auditiva, visto que durante muito tempo foram fundamentais para a sobrevivência da espécie, tendo em vista que os homens utilizavam esses sentidos para serem bem sucedidos na caça e na sua proteção contra outros predadores.

Devido ao acentuado desenvolvimento da visão e da audição as artes plásticas e a música foram as primeiras a serem desenvolvidas por todas as civilizações, antecedendo até mesmo a invenção da escrita.

As outras formas de percepção, como a olfativa, gustativa e tátil, embora não estejam diretamente associadas à sobrevivência, têm um papel importante na afetividade e na reprodução humana.

Além do incremento da percepção vinculada aos cinco sentidos, os homens possuem também a capacidade de percepção temporal e espacial, fatores importantes para a locomoção e deslocamento dos indivíduos principalmente no trânsito de um modo geral.

Por exemplo, um condutor ao planejar uma ultrapassagem precisa ter uma boa orientação temporo-espacial para poder calcular a distância a ser percorrida e a velocidade que será dada ao veículo calculando o tempo que terá para concluir a ultrapassagem de forma segura para evitar acidentes.

Vejamos os tipos de percepção que podemos ter e quais são suas características.

14.1. Percepção visual

Os olhos são os órgãos responsáveis pela nossa visão, sendo um dos sentidos principais que nos permite conhecer e perceber o mundo.

O Sistema Óptico é formado por um complexo esquema fisiológico composto pelos globos oculares (olhos), nervos ópticos, corpos geniculares laterais e as áreas de visões, que nos permitem decifrar não somente a impressão da cor, como também a noção de profundidade, a textura do objeto, o tamanho, seu movimento.

Os globos oculares são responsáveis pela captação dos raios luminosos e sua transformação em impulsos que serão interpretados pelo cérebro, denominados de receptores das imagens, formados pela córnea, íris, retina, dando forma à imagem.

É na retina, uma membrana ocular interna, que estão situadas as células nervosas, os bastonetes e os cones que recebem os estímulos luminosos, onde se projetam as imagens produzidas pelo sistema óptico.

Uma boa visão é essencial para uma direção segura.

14.2. Percepção Auditiva

A percepção auditiva envolve vários aspectos do nosso organismo para a recepção e a interpretação dos estímulos sonoros aos quais somos submetidos. Esses estímulos são enviados para nosso SNC e processados formando uma imagem mental sobre o sinal acústico que recebemos. Esse sinal deve ter uma vibração e uma amplitude mínima suficiente para excitar nosso órgão sensorial.

Neste tipo de percepção podemos identificar algumas habilidades importantes para a audição como, por exemplo, a identificação do som, a diferenciação, o posicionamento, o reconhecimento, a compreensão, além da atenção e da memória.

Todos esses elementos fazem parte do processamento auditivo envolvendo a verificação do sinal acústico recebido, dando suporte para a integração e a informação que são transformados em modelos.

Diferentemente da visão, a audição não tolera estímulos desagradáveis. Caso o ouvido seja exposto a intervalos repetitivos com longa duração de sons desagradáveis pode causar desconforto e irritabilidade ao ouvinte.

A audição refere-se à percepção dos ruídos e dos sons. A psicologia, a acústica e a psicoacústica estudaram a forma como os seres percebem e reagem aos fenômenos sonoros e constataram que a música tem um papel importante sendo aplicada com sucesso, nos tratamentos através da musicoterapia.

A percepção auditiva é importante para o trânsito, pois permite ao motorista reconhecer e localizar a procedência do som, como por exemplo, a sirene de uma viatura policial (procedência externa) ou eventualmente algum tipo de problema mecânico (proveniente do veículo). Ao ouvir a sirene, identifica que tipo de veículo é; a distância que se encontra do seu veículo e de que lado virá para ultrapassar.

14.3. Percepção Olfativa

O olfato é a percepção dos odores sendo um dos sentidos moderadamente fugaz nos humanos, mas trata-se de um sentido importante para a alimentação, pois colabora para distinguirmos os sabores que estão em nossa boca.

A memória olfativa também tem uma grande importância para a afetividade.

Nos seres humanos e nos demais animais superiores, o órgão olfativo se forma a partir de um espessamento epidérmico situado na região etmoidiana do crânio. A neurorrecepção somente será ativada após as moléculas das substâncias odoríferas serem dissolvidas no muco que recobre a membrana pituitária (epitélio olfativo).

Em alguns animais, como por exemplo, nos cães, a percepção olfativa é muito mais exacerbada e tem uma capacidade de discriminação e alcance muito maior do que nos seres humanos.

Esse tipo de percepção tem uma importância significativa para o trânsito uma vez que ajuda a detectar possíveis vazamentos de combustível, desgaste das pastilhas de freio, e assim por diante.

14.4. Percepção Gustativa

O paladar é a percepção aguçada dos sabores e é realizada pela língua sendo muito importante para o processo da alimentação.

Assim como o olfato, o paladar geralmente está associado ao prazer e aos aspectos nutritivos dos alimentos. O principal fator desta modalidade de percepção é a discriminação entre os sabores, as texturas e as temperaturas dos alimentos.

Os pontos receptores que fazem parte desse sentido são as células chamadas de papilas gustativas que se espalham por toda a língua formando concentrações diferentes.

Esse tipo de percepção também não tem nenhum significado para o ato de dirigir.

14.5. Percepção Tátil

O tato é sentido pela pele em toda sua extensão e permite reconhecer a presença, a forma e o tamanho, a textura dos objetos em contato com o corpo além de fornecer também sua temperatura.

Além disso, o tato é um sentido importante para o posicionamento do corpo dentro do espaço e do tempo auxiliando na proteção e na integridade física.

O tato não é um sentido distribuído uniformemente pelo nosso corpo. Os dedos das mãos têm uma capacidade discriminativa muito maior que as demais partes do corpo, enquanto outras partes são mais sensíveis ao calor. O tato tem um papel muito importante para a afetividade e para o sexo.

Para o trânsito esse tipo de percepção não é significativo.

14.6. Percepção Temporal

Desde o século XIX até os dias atuais, a percepção temporal despertou grande interesse e tem sido objeto de vários estudos filosóficos, cognitivos e físicos, como também tem instigado os pesquisadores para descobrir e explicar o funcionamento do cérebro.

Não existe nenhum órgão físico específico para a percepção e mensuração do tempo, no entanto sabemos que todas as pessoas são capazes de perceber e sentir sua passagem.

Segundo o psicólogo Paul Fraisse, um estudioso francês, é imperioso que os homens sejam capazes de discernir a duração relativa do tempo, percebendo e discriminando a diferença do espaço entre um tempo de curta duração (alguns segundos) e um tempo de longa duração (algumas horas).

Para o trânsito, esta é uma das capacidades mais definitivas para se conseguir evitar acidentes, tanto para motoristas, como para motoqueiros, ciclistas e para pedestres.

No que se refere aos motoristas a noção do tempo é fundamental para a programação de uma manobra perigosa, por exemplo. Quando observa o buraco à sua frente o condutor tem que calcular quanto tempo e a distância a ser percorrida, qual a velocidade que deverá imprimir ao seu veículo, para poder desviar com segurança. A mesma regra se aplica ao motoqueiro e ao pedestre que pretende atravessar uma rua ou avenida.

O transeunte deve ser capaz de observar o veículo que está vindo, pressupor a velocidade que está desenvolvendo e calcular a distância a ser percorrida; computar a rapidez que deverá caminhar para atravessar a rua. Essa capacidade perceptiva pode ser a diferença entre ser atropelado ou não.

14.7. Percepção Espacial

Assim como a percepção temporal, nosso cérebro não possui um órgão específico para a percepção espacial, porém as distâncias entre os objetos podem ser efetivamente aquilatadas. Esse processo envolve a percepção da distância e do tamanho referente aos objetos observados.

O pretexto para distinguir a percepção espacial dos outros tipos de percepção baseia-se no fato de que aparentemente a percepção espacial é compartilhada pelas outras modalidades utilizando elementos das percepções: auditiva, visual e temporal.

Assim, por exemplo, na percepção espacial podemos distinguir se um som está se aproximando ou se afastando de nós.

A percepção temporal e espacial está vinculada diretamente à formação do esquema corporal, pois é através da percepção do nosso próprio corpo que nos situamos dentro do tempo e do espaço.

A mesma importância que atribuímos à noção da percepção do tempo, atribuímos também à noção da percepção do espaço para que o motorista possa ser capaz de evitar acidentes e conduzir com velocidade e distancia segura em relação ao veiculo da frente se precisar desviar ou frear repentinamente sem provocar ou envolver-se em acidentes ou colisões.

Para os pedestres a noção de espaço e tempo é a sua segurança na hora de atravessar uma rua ou avenida. Ao observar o movimento do veículo e a largura da rua que ira atravessar, o pedestre tem que ser capaz de calcular o ritmo que terá que imprimir aos seus passos ou se deve correr para atingir o outro lado da pista sem ser atropelado.

15. A Atenção

Uma boa capacidade de atenção é um dos aspectos cognitivos fundamentais para o ato de conduzir um veículo automotor com segurança.

O homem possui a capacidade de eleger e selecionar os fatos que o interessam, aplicando uma energia específica aos mesmos, com maior ou menor intensidade. A esta capacidade chamamos de atenção, porém é preciso esclarecer que não se trata de uma função especial e sim, segundo A. M. Aguayo, uma maneira geral de exercício da vida psicológica.

A atenção é um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e seleciona os estímulos provenientes tanto do meio externo como do meio interno, estabelecendo uma relação significativa entre eles.

A todo instante recebemos uma gama de estímulos, que são provenientes das mais diversas fontes, porém só atendemos a alguns deles, pois não seria possível e nem necessário responder a todos.

No trânsito isso não é diferente, uma vez que as avenidas estão repletas de placas de sinalização e outdoors promovendo algum produto, sem considerar a circulação de outros veículos, pedestres, motociclistas. São inúmeros os estímulos competindo pela atenção do motorista.

É sabido que prestar atenção a uma determinada coisa ou situação requer do individuo certo interesse e esforço, pois é difícil sustentá-la se não estivermos motivados.

Podemos nos colocar num estado de atenção, porém mais cedo ou mais tarde nos dispersamos. Toda essa atividade de atrair a atenção faz com que o indivíduo assuma um papel passivo, quando reage a algo que vem do mundo externo. Tal tipo de atenção é involuntário. O que nos interessa de fato é a atenção voluntária, na qual somos nós mesmos que queremos e tomamos a iniciativa de estarmos atentos. Para a segurança do trânsito isso é fundamental.

Como já foi citada anteriormente, a atenção é um processo cognitivo de extrema importância em determinadas áreas, como no trânsito e na educação, já que se exige, por exemplo, que o individuo concentre sua atenção às matérias lecionadas pelo professor e para as informações que chegam, ignorando outros estímulos visuais, sonoros, ou de qualquer outra natureza, como por exemplo, prestar atenção no professor e não estar atento ao que está se passando fora da sala de aulas (estando a atenção, neste caso, relacionada também com o problema da disciplina).

A atenção dedicada aos objetos externos recebe o nome de observação; se a atenção for dirigida a objetos internos, isto é, fatos da consciência recebe o nome de meditação.

A atenção através dos órgãos dos sentidos para o mundo exterior é a atenção sensorial, enquanto que a atenção aplicada aos fatos da vida psíquica é a atenção intelectual.

No caso do condutor as duas categorias de atenção são importantes na condução do veículo, tendo que conciliar de maneira satisfatória os eventos externos com as sensações internas.

“A percepção nunca é o registro objetivo da realidade, mas sim, constitui um processo ativo-seletivo, com características subjetivas, baseado numa série de condições fisiológicas, psicológicas e sociais do sujeito” .

O pericampo social, no processo da avaliação, permite ponderar como a pessoa percebe o que está à sua volta, e nesta forma de perceber o mundo devemos considerar as características e o modo de reação próprio, individual e inerente a cada pessoa.

Na avaliação psicológica é possível fazer um prognóstico do comportamento do indivíduo no trânsito, ao mensurarmos sua impulsividade e agressividade, e sua capacidade de autocontrole.

A motivação e o estado emocional influenciam decisivamente na percepção e na capacidade de atenção e interpretação dos fatos da realidade.

Os processos mentais e emocionais orientam as percepções, os conhecimentos, as crenças e as expectativas de cada ser humano.

O ambiente é repleto de estímulos potenciais que são captados pelos órgãos dos sentidos (sons, imagens, cheiros, etc.), e por um conjunto de sensações que provêm do interior do próprio corpo (palpitação cardíaca, vazio no estômago e outras).

Wertheimer, Koffka e Köhler consideram que a percepção humana funciona seguindo um determinado padrão, funcionando de uma forma organizada e estruturada, de tal modo que podemos verificar a existência de certas regularidades na maneira de um indivíduo perceber a realidade física e social de modo que essas regularidades são tão previsíveis sendo possível testá-las em laboratório. A essa forma regular de percepção denominou-se de princípios ou leis que regem a percepção (ver, ouvir, degustar).

O empirismo e o racionalismo são duas formas de estudar e interpretar a maneira como o homem percebe o mundo isto é, como ele o apreende e aprende.

O empirismo preocupou-se em enfatizar o funcionamento dos órgãos dos sentidos, enquanto que o racionalismo canalizou seu interesse e aplicação para o trabalho da mente.

Perceber significa compreender o fato e/ou a situação em que estamos envolvidos, e a essa potencialidade de análise temos que vincular a nossa capacidade de atenção.

Para que a atenção se processe depende de três fatores considerados fundamentais:

Fator fisiológico;

Fator motivacional; e

Capacidade de concentração

Assim como na aprendizagem, a atenção também tem a prerrogativa de ser um processo oculto que só pode ser mensurado pelas alterações no desempenho e no comportamento do indivíduo.

A atenção não é um fenômeno único e fechado em si mesmo. Trata-se de uma das ferramentas da consciência que permite a existência das diversas formas de atenção. Dependendo do nível de consciência em que a pessoa se encontra no momento da percepção, poderá apreender aspectos qualitativos e quantitativamente diferentes da realidade concreta, agindo de acordo com sua emoção, o que pode levar a inadequação do comportamento.

Berlyne em seus estudos identificou os aspectos intensivos da atenção, e concluiu que a atenção seletiva ajuda-nos a limitar o número de estímulos captados tanto do mundo externo como do mundo interno, favorecendo e auxiliando-nos na emissão de respostas mais assertivas.

A atenção seletiva é uma variável decisiva para o processo da aprendizagem, tanto na memorização quanto no desempenho, sendo muito importante na condução de veículos automotores.

“A atenção se baseia, por conseguinte, num conjunto de interesses vitais, em função do qual orientamos nossa atividade, dando preferência a certos objetos e valores, em detrimento de outros” .

O curso do desenvolvimento da atenção seletiva inicia-se na infância, quando os hábitos da atenção são considerados hiperexclusivos, e em seguida, ocorre o aumento da capacidade de atenção simultânea a uma grande variedade de estímulos, hábito designado como atenção hiperinclusiva.

Por atenção hiperexclusiva, ou superseletiva entende-se a recepção de um estímulo onde o indivíduo atende a essa percepção excluindo todos os aspectos do objeto ou da situação e observa um único elemento do estímulo, em prejuízo de todos os demais. Por exemplo: ao mostrarmos um cubo azul com bolinhas coloridas para o indivíduo, sua atenção fica detida somente na cor, desprezando e não observando a forma e o contorno da figura, o tamanho, os detalhes. Percebe que é um objeto azul, mas não percebe que se trata de um cubo com bolinhas coloridas.

Esse tipo de atenção é muito característico nos autistas, uma vez que:

“Quando se defronta com estímulo composto de muitas dimensões, a criança autista parece que responde a apenas uma dessas dimensões, não revelando nenhuma aprendizagem incidental, segundo os trabalhos realizados por Lovaas, Schreibman, Koegel & Rehm em 1971” .

Em contra partida na atenção hiperinclusiva o indivíduo atende a muitos estímulos que são irrelevantes e por isso não consegue distinguir os aspectos realmente importantes na situação. Por exemplo: ao mostrarmos o mesmo cubo azul com bolinhas coloridas para o individuo, ele observa tudo; a cor, o tamanho, as bolinhas coloridas, os ângulos, só não percebe que se trata de um cubo, porque inclui todos os estímulos só não consegue selecionar o que realmente interessa: a forma do objeto que lhe atribuir um significado.

Quando estamos em estado de alerta (acordados), uma enorme quantidade de estímulos competem por nossa atenção. Sofremos um bombardeio constante tanto do meio externo como do meio interno e quando estamos em trânsito isso não é diferente.

Imagine se o motorista prestasse atenção em um único detalhe do trânsito, como, por exemplo, observar somente o veículo que vai à sua frente desprezando por completo todos os outros que estão envolvidos na situação de tráfego, assim como os pedestres e a sinalização. Certamente esse tipo de atenção hiperexclusiva dedicada ao trânsito acabará em acidente.

Na atenção hiperinclusiva a pessoa atende a muitos estímulos irrelevantes e não consegue distinguir os aspectos que são realmente importantes na situação

Para a situação de trânsito, este tipo de atenção também é totalmente desaconselhável, pois se o motorista é absorvido por todos os detalhes que as ruas oferecem, não conseguirá estar atento às manobras dos outros veículos, à sinalização, aos pedestres, o que também acabará em acidente.

Gradativamente conforme vai se desenvolvendo, o indivíduo vai aumentando sua capacidade de concentração em um número maior de estímulos, conforme cada situação impõe, até que consiga atingir os níveis de maturação considerados ótimos, o que ocorre na adolescência, e ao qual se denomina de capacidade de “atenção seletiva”.

Atenção seletiva é a capacidade do indivíduo em atender de forma apurada à característica relevante e decisiva dentro de um complexo de estímulos; isto é, o sujeito percebe todos os aspectos do estímulo, e filtra as informações selecionando o que realmente é significativo dentro do todo, atribuindo um sentido lógico à situação ou ao objeto.

A atenção também pode significar:

“Focalização consciente e deliberada de energia mental num objeto ou num componente de uma experiência complexa e, ao mesmo tempo, excluindo outros conteúdos emocionais ou intelectuais; o ato de tomar cuidado, notar, observar ou concentrar-se em algo” .

“Comumente, os seres humanos e outros animais escolhem um filão de impressões para atender. Os estímulos que ficam na periferia (limite) de nossa atenção formam um pano de fundo. Essa abertura seletiva para uma pequena porção de fenômenos sensoriais chama-se atenção” .

Então qual seria a natureza da atenção? Alguns estudos psicológicos veem a atenção como sendo um filtro que tem como função peneirar as informações que são recebidas pelos diferentes pontos envolvidos nos nossos processos perceptivos.

Outros autores consideram que o indivíduo focaliza meramente o que deseja perceber, porém sem excluir os demais eventos ou elementos que estão envolvidos na situação como um todo. A preocupação dos psicólogos e estudiosos desse procedimento é identificar os pontos do processo perceptivo onde a atenção opera.

As pesquisas e os estudos desenvolvidos lembram que a atenção pode ser ativada em várias situações: inicialmente quando recebe um input de um órgão sensorial, e mais tarde, ao decidir se reage a ele, preparando uma ação.

Kenneth Nakdimen instituiu uma diferenciação entre dois tipos de atenção: a atenção aloplástica e a atenção autoplástica.

Na primeira sugere que se trata de uma função do hemisfério cerebral esquerdo: é a atenção analítica e abstrativa; caracterizando-se pela manutenção da fronteira do ego o que comumente é chamado de reflexão, enquanto que a atenção autoplástica seria uma função do hemisfério cerebral direito onde o desempenho estaria voltado para as imagens gestálticas e para a concretização, portanto sinestésica e alteradora do eu incluindo a forma de atenção chamada de imaginação.

Por se tratar de um acontecimento de ordem intrínseca que não pode ser observado e nem controlado objetiva e diretamente, como já foi citado anteriormente, a atenção tem a mesma regalia do processo da aprendizagem, que só acontece caso um determinado fato motive uma resposta, dependendo do estado em que se encontra a pessoa: acordada ou adormecida; alerta ou indiferente; vigilante ou absorta. Essa ressalva desencadeou vários dilemas, entre os quais a interrogação: “quando sabemos se uma pessoa está realmente prestando atenção em algo? ou quando estará alheia à situação?”.

Os estudiosos deduziram que assim como sucede com o processo da aprendizagem, a atenção também só pode ser avaliada e mensurada através das alterações do comportamento observável.

“Se ambos são mensurados pela mudança de comportamento, é impossível apurar se a falta de alteração no desempenho é devida à uma atenção imperfeita, à aprendizagens imperfeitas ou a ambas. Este problema de circularidade lógica foi debatido por Mostofsky (1970)” .

Pelo fato do homem ser o agente central do trânsito, o estudo da atenção nos interessa em especial, pela sua implicação direta para uma direção segura, promovendo condições favoráveis, quando possível, para o condutor evitar ou conseguir safar-se de acidentes.

O nosso estilo perceptivo é de grande valor para garantir a nossa sobrevivência.

Em consequência de sua “construção”, os homens tendem a focalizar mais o mundo externo, e não o interno. O ambiente externo humano é repleto de estímulos potenciais e de uma grande quantidade de outros que emanam do interior do próprio corpo, sendo que nos homens há uma maior ênfase aos estímulos visuais.

O sentido visual facilita a colocação do indivíduo dentro do espaço, facilitando sua adaptação ao mesmo. “Ajuda-nos a responder a perigos súbitos, localizar e manipular objetos no espaço e a movimentar-nos sem colisões” .

A atenção é um dos aspectos importantes envolvidos na capacidade de percepção, e tem por base o funcionamento do Sistema Nervoso Central. O processo de percepção é muito complexo e depende tanto dos órgãos sensoriais como do nosso cérebro.

A percepção do mundo está vinculada ao funcionamento dos nossos órgãos dos sentidos e como estes detectam o estímulo, bem como o nosso cérebro interpreta e arquiva essas informações para uso posterior, o que exige atenção, organização, discriminação e seleção.

É uma cadeia onde os elos estão interligados e a ruptura em qualquer um deles pode gerar percepção e interpretação erradas levando à consequências desagradáveis.

Os órgãos receptores ao perceberem uma mudança física ou química no organismo transformam essa percepção em impulsos que percorrem o neurônio sensorial. O neurônio sensorial transmite os impulsos recebidos até o sistema nervoso central (SNC), que ativa o órgão executor para que o comportamento seja manifesto.

O cérebro desempenha o papel mais importante no processo da percepção sensorial.

A apreensão refere-se a percepção da imagem como um todo. “A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a discriminação, mas também a capacidade de distinguir entre sons e imagens, bem como a capacidade de organizar e arranjar a sensação captada em um todo significativo, desenvolvendo a capacidade de estruturar, organizar e arquivar a informação que está sendo recebida” .

Dentro desse conceito, a percepção tem por base quatro operações fundamentais:

detecção do estímulo,

tradução (conversão da energia de uma forma para outra),

transmissão e

processamento da informação.

O organismo humano está equipado com sistemas especiais de captação de informações, que são denominados sentidos ou sistemas sensoriais.

Os cientistas conseguiram catalogar onze sentidos humanos bastante distintos. O olfato, a audição, o paladar e a visão são os mais conhecidos. “O que antigamente chamava-se tato revelou-se composto de cinco sistemas dérmicos (de pele) separados (ou somato-sensoriais): contato físico, pressão profunda, calor, frio e dor” .

Nos seres humanos tem mais dois sentidos que detectam os atos do próprio organismo: o sentido cinestésico e o sentido vestibular.

O sentido cinestésico depende dos receptores dos músculos, tendões e articulações; e o sistema vestibular nos dá a noção de orientação e equilíbrio.

A nossa percepção e a nossa consciência do meio ambiente dependem de comparações entre o passado e o presente: analogamente, os nossos sentidos detectam os estímulos e o nosso cérebro interpreta essas informações atribuindo-lhes um sentido.

Por isto, podemos dizer que a interpretação e a compreensão dos fatos denotam uma avaliação cognitiva e afetiva da situação em que estamos envolvidos.

Existe grande quantidade de estudos que se preocupam em decifrar o que motiva e direciona a atenção da pessoa. Necessidades, interesses e valores têm sido citados como influências importantes sobre a atenção.

Os psicólogos associacionistas definem a percepção como um conjunto de sensações que, por meio de analogias, forma um todo homogêneo, sobre o qual a atenção confere nitidez e clareza aos fatos.

A nossa integração social depende da percepção que temos do meio e das pessoas com quem interagimos. “A percepção nunca é o registro objetivo da realidade, mas sim, constitui um processo ativo-seletivo, com características subjetivas, baseadas numa série de condições fisiológicas, psicológicas e sociais” .

Nesse aspecto a avaliação psicológica do condutor é muito importante, pois nos fornecerá um perfil do seu estado emocional ajudando-nos a compreender como suas emoções estão interferindo na sua maneira de perceber o mundo permitindo um prognóstico do comportamento que poderá ter no trânsito.

Cremos que a atenção não pode ser avaliada como uma instância autônoma do nosso psiquismo uma vez que se encontra vinculada à consciência. Isto significa que se um indivíduo encontra-se em estado de obnubilação comumente apresenta alterações na capacidade de prestar atenção se mostrando hipervigil. Entretanto uma pessoa que se encontra em estado de torpor se encontra hipovigil. Desprovida da atenção a prontidão psíquica tornaria a existência do indivíduo como um sonho impreciso, longo e contínuo.

Os processos mentais orientam as percepções, os conhecimentos, as crenças e as expectativas de cada ser humano.

Berlyne em seus estudos identificou os aspectos intensivos da atenção. Concluiu que a atenção seletiva ajuda-nos a limitar o número de estímulos captados, auxiliando-nos na emissão de respostas mais assertivas.

A todo o momento recebemos uma gama enorme de estímulos que são captados através dos nossos órgãos receptores, vindos de várias fontes como foi considerado anteriormente.

As fibras nervosas visuais, táteis, auditivas, sinestésicas e proprioceptivas estão constantemente conduzindo impulsos para o nosso cérebro e que às vezes requerem respostas conflitivas e incompatíveis, que acabam gerando um conflito. Se o indivíduo não for capaz de filtrar e selecionar os estímulos, para atender a um número limitado dos mesmos, ocorrerá o caos no comportamento.

“A atenção seletiva é, portanto, fonte de capacidade altamente adaptável, e um defeito na utilização dessa capacidade podem ser prontamente considerados como uma séria desvantagem” .

Por conseguinte, a atenção seletiva é uma variável decisiva no processo da aprendizagem do futuro condutor, tanto na memorização quanto no seu desempenho no trânsito, provendo um dos meios para a pessoa lidar com seus conflitos.

A atenção seletiva denota uma maturação na capacidade de concentração e avaliação do indivíduo para conseguir atender as características relevantes e decisivas dentro de um complexo de estímulos; o sujeito percebe todos os aspectos do estímulo, e filtra a informação selecionando o que realmente é significativo considerando o todo.

Dentro desse conceito de atenção Berlyne (1960, 1970) considerou três outros aspectos:

Atenção na aprendizagem – que se refere a seleção do estímulo para estabelecer uma associação entre R–S (estímulo e resposta);

Atenção na rememoração – correspondendo a que tipo de estímulo a pessoa estará apta a rememorar em situações futuras, portanto parece que pouquíssima diferença existe entre a atenção na aprendizagem e atenção na rememoração uma vez que o relembrar implica diretamente em algo aprendido; e finalmente a

Atenção no desempenho – “Berlyne (1960) usou o termo conflito para indicar a situação em que respostas mutuamente incompatível estão sendo induzidas ao mesmo tempo, e a atenção no desempenho é um dos meios pelo qual o individuo enfrenta esse conflito. Ela dirige sua atenção direta seletivamente a um estímulo ou a um limitado número de estímulos e emite a resposta que aprendeu” .

Pressupondo que o ato de dirigir um veículo automotor depende do processo de aprendizagem, a atenção é então uma capacidade indispensável conjuntamente com os processos perceptivos, onde o processamento das informações, a tomada de decisão e a externalização desta, mediante ação psicomotora voluntária, principalmente de braços, das mãos, pernas e pés devem ser orquestradas de forma coordenada e adequada para evitar-se acidentes.

Sabemos que alguns tipos de ações podem integrar produtos específicos da aprendizagem, que são os chamados comportamentos automáticos constituídos pelo hábito e pela habilidade.

Um hábito consiste no uso repetido de um determinado comportamento em uma situação definida.

Os hábitos podem ser de várias origens, tais como:

hábito de valor educativo e valor mental – ler, observar, refletir;

hábito de valor moral – dizer a verdade, praticar a honestidade; ter caráter.

Por outro lado a habilidade consiste no domínio de uma técnica determinada para realizar uma tarefa, como por exemplo: ler e escrever, usar o dicionário, o ato de dirigir um veículo automotor.

O hábito corresponde ao fazer muitas vezes e a habilidade é o como se faz, isto é saber como se conduzir dentro de determinada situação, onde a habilidade é um importante meio para aquisição de novas informações e conhecimentos, pois sabendo aproveitar todos os recursos disponíveis a pessoa estará preparada para enriquecer sua bagagem cognitiva, cada vez mais.

O psicólogo Fitts descreveu três fases importantes na aprendizagem de automatismos:

Fase cognitiva – estar atento e preparado para captar e compreender a situação;

Fase organizadora – a ênfase desloca-se do aspecto intelectivo para o motor, onde as indicações do ambiente se tornam cada vez mais significativas e as ações do sujeito mais coordenadas.

Fase do aperfeiçoamento – a prática conduzindo ao automatismo.

Diante dessas informações pensamos na aprendizagem como um processo global, já que a compreensão, o sentimento e a ação ocorrem ao mesmo tempo e na mesma pessoa que busca uma coerência em sua personalidade, entendendo a situação (cognição), sentindo gosto pela execução (apreciação) e sendo hábil na realização do comportamento (automação).

Para que todas essas fases ocorram com sucesso, é preciso que a pessoa seja capaz de manter sua vigilância concentrada e sustentar a sua capacidade de percepção voltada para a situação que está envolvida possibilitando uma boa atenção para uma boa aprendizagem.

Por exemplo, um indivíduo que se mostra apático, desanimado, astênico, por estar com conflitos de ordem interna, terá sua capacidade de atenção e percepção alteradas. Não vai conseguir captar de forma adequada os estímulos provenientes do mundo externo, pois está voltado para si mesmo não sendo capaz de perceber e observar as mudanças que ocorrem ao seu redor.

Por exemplo, se no trânsito o individuo estiver mais introspectivo pode não perceber a mudança da cor no semáforo, o que prejudica no ato de dirigir, sendo este motorista um sério candidato a envolver-se em acidentes.

“Um determinado nível de alerta é fundamental para que haja condição de se pensar em atenção. Este nível, também considerado vigília plena, é o que mantém o cérebro em constante preparo para desempenhar suas funções, recrutando para seu funcionamento uma complexa orquestração de subsistemas que vão desde o tronco cerebral até o córtex basicamente chamado de sistema reticular ascendente” .

A todo o momento uma gama de excitações é enviada para nosso córtex cerebral, e dependendo da nossa motivação e do nosso interesse, apenas alguns se tornarão foco de nossa atenção (atenção seletiva).

Para conduzir um veículo com segurança, o motorista deve ser capaz de utilizar-se dos vários tipos de atenção de forma organizada e sincronizada, sem perder o controle da situação. Os vários tipos de atenção envolvidos no ato de dirigir são:

Atenção Difusa

Atenção Concentrada

Atenção Discriminativa

15.1. Atenção Distribuída ou Difusa

É a capacidade para disseminar a atenção a vários estímulos, simultaneamente, sem perder a visão de conjunto.

Consiste na primeira fase de treinamento da atenção. Ela visa levar o praticante a desenvolver a capacidade de estar consciente de si mesmo observando os eventos ao redor, sem priorizar ou julgar nenhum deles.

Essa neutralidade é capital, pois retira o indivíduo da prisão das emoções negativas que irrompem constantemente na consciência latente do dia a dia e que finaliza substituindo sua capacidade perceptiva por um diálogo interno emocional pouco conscientizado.

O exercício dessa neutralidade representa em si mesmo, um poderoso treinamento. Geralmente, essa fase é associada com a "visão difusa", um adestramento cognitivo-emocional que envolve o ato de visualizar a situação e utilizar a "auto-observação" para entender e atribuir significado ao que realmente é importante dentro daquele contexto e naquele momento.

No trânsito a atenção difusa ajuda o motorista a focalizar os vários estímulos que estão disseminados no meio ambiente, capturando de forma rápida essas informações que lhe darão uma visão geral e um direcionamento dentro do contexto.

Por exemplo: o motorista deve ser capaz de observar as placas de trânsito, ouvir o rádio ou consultar seu painel sem perder o controle da direção e da condução do veículo. Nesse tipo de atenção múltiplos estímulos estão sendo processados simultaneamente sem que o motorista perca o foco de sua atenção: o trânsito.

15.2. Atenção Concentrada

É a capacidade de focar e manter integralmente a atenção numa tarefa de precisão. Nesse tipo de atenção a concentração e o foco de interesse e de atenção são dirigidos a um determinado estímulo, ou um grupo de incitações com as mesmas características para obter um melhor aproveitamento do seu desempenho.

No caso do condutor, um dos impulsos mais contínuos e que exigem a concentração da atenção refere-se às placas e a sinalização de trânsito que orientam o motorista para garantir uma boa fluidez e estabilidade na direção.

De acordo com Alonso Fernández, ao concentrarmos nossa atenção, estamos escolhendo um objeto ou uma situação que será enviada para nosso campo de consciência dando prioridade ao que estamos percebendo no momento mantendo o foco sem deixar-nos desviar, até a ocasião onde outro estímulo se fizer mais importante. Nosso interesse não é vedado podendo ser modificado quando a situação assim o exigir.

A motivação e o pensamento conduzem nossa atenção, de modo que a energia empregada revela o nosso grau de concentração alcançado.

15.3. Atenção Discriminativa

Esse tipo de atenção focaliza vários estímulos ao mesmo tempo e realiza uma separação do que é mais importante para que o sujeito possa emitir uma resposta específica e afirmativa.

Por exemplo, o condutor pode estar conversando com o passageiro, mas nem por isso deixará de prestar atenção para onde está indo bem como não deixará de observar o trânsito como um todo.

É importante uma reflexão sobre a temática trânsito avaliando-se não “Como o motorista pode dirigir, mas como está dirigindo”. A sua ação ao volante, além de ser um reflexo do seu estilo de vida, reflete também como foi o seu aprendizado.

Sendo a percepção a propiciadora da captação de toda a informação recebida, é imprescindível que essa apreensão seja concisa e exata para que o condutor possa ter condições de elaborar e definir uma ação mais assertiva e segura.

Então podemos finalizar dizendo que a atenção em suas várias formas constitui-se em uma função primordial para a vida como um todo e principalmente no ato de dirigir, devendo o bom motorista manter seu estado de vigília e atenção de modo constante para sua segurança e a segurança do próximo.

As modificações do estado normal da atenção compromete o bom desempenho do motorista, uma vez que as mesmas podem ser derivadas de perturbações de outros sistemas ou funções das quais depende a ação normal da atenção.

Algumas das anormalidades com suas características que podem afetar a capacidade de concentração da atenção são as seguintes:

Hipoprosexia: ocorre a diminuição global da atenção;

Aprosexia: a capacidade de atenção é totalmente eliminada, independentemente da intensidade e das características do estímulo;

Hiperprosexia: a atenção dedicada ao objeto é exagerada denotando certa tendência;

Distração: dedicação de uma superconcentração ativa da atenção sobre determinadas características do objeto;

Distraibilidade: instabilidade e dificuldade para fixar a atenção; incapacidade de concentração.

16. Processo da Aprendizagem

Aprendizagem é uma das funções mentais presentes nos seres humanos e nos animais. Entende-se por aprendizagem o processo pelo qual as capacidades, as aptidões, os conhecimentos, os comportamentos ou os valores morais, sociais e éticos são adquiridos e/ou transformados, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação do individuo em relação ao mundo e a si mesmo.

O processo da aprendizagem pode ser analisado a partir das diferentes perspectivas e das diferentes teorias que abordam o tema.

A aprendizagem humana está relacionada à educação e ao desenvolvimento pessoal. Deve ser devidamente orientada sendo mais favorecida quando o indivíduo está motivado. O estudo sobre o tema utiliza os conhecimentos e as teorias da neuropsicologia, da psicologia, da educação e da pedagogia.

A tomada de conhecimento como um meio para estabelecer novas relações entre o ser e o ambiente, tem sido objeto de vários estudos empíricos em animais e em seres humanos.

O processo da aprendizagem pode ser medido através das curvas de conhecimentos, que mostram a importância da repetição de certas predisposições fisiológicas, de "tentativa e erro" e de períodos de descanso, após o qual se pode acelerar o processo. Esses estudos também mostram o relacionamento da aprendizagem com os reflexos condicionados.

Algumas pesquisas começam a revelar que os sonhos têm um papel muito importante na aprendizagem e na formação de memória. Por exemplo, alguns cientistas observaram que durante o sono, o cérebro recorda de coisas que aprendeu recentemente. Em seguida, no sono REM – onde os sonhos acontecem – o cérebro trabalha para guardar essas memórias por um longo prazo.

16.1. Definição de Aprendizagem

Definir a aprendizagem é uma tarefa no mínimo difícil de ser realizada para não confundi-la com outros conceitos, uma vez que aprendizagem refere-se a um conceito natural e não um conceito criado artificialmente.

Uma definição muito utilizada e que tem sua base no paradigma comportamentalista é: a Aprendizagem é um processo através do qual uma atividade tem início ou pode ser modificada pela reação a uma situação encontrada, desde que essas características não possam ser explicadas por tendências inatas, ou pelo processo de maturação ou ainda pelos estados temporários do organismo (por exemplo, sono, fome, fadiga, drogas).

A princípio, essa definição serve para que possamos fazer algumas diferenciações importantes entre as atividades de aprendizagem e outras ações que são inatas ou inerentes ao ser.

Os processos de maturação do organismo envolvem mudanças o que torna imprescindível saber quais dessas mudanças são ocasionadas pelo crescimento natural propriamente dito, e quais são provocadas pela aprendizagem.

16.2. Características da Aprendizagem

O homem nasce com capacidade para aprender, carecendo unicamente dos estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para que o processo possa ser concretizado.

Existem aprendizados que são considerados natos como, por exemplo, o ato de aprender a falar, a andar, precisando somente que o indivíduo passe pelo processo de maturação física, psicológica e social.

Para evoluir o ser humano precisa aprender. É através desse processo que adquire e transforma as informações provenientes do mundo e do seu contato com o outro, aprimorando cada vez mais seu potencial e sua capacidade de adaptação ao meio.

A aprendizagem potencializa as capacidades congênitas e as que são adquiridas pelo indivíduo durante o seu processo de desenvolvimento.

Pozo (2002) em seus estudos sugere três características que considera importantes para uma boa aprendizagem. São elas:

a aprendizagem produz mudanças duradouras no comportamento

a aprendizagem deve ser passível de ser transferida para outras situações

a aprendizagem é resultado direto da técnica realizada

O crescimento global do indivíduo é a soma das suas potencialidades genéticas, do seu contato com o meio e, especialmente, das habilidades desenvolvidas durante as várias etapas da vida estando inteiramente vinculada a capacidade cognitiva.

16.3. Princípios da Aprendizagem

O homem funciona como um todo organizado e indivisível. Para que a aprendizagem ocorra é necessário mobilizar-se a esfera cognitiva, a afetiva e a esfera motora, onde cada uma delas tem função específica, porém atuando conjunta e simultaneamente.

Na ciência psicológica consideram-se três grandes domínios relacionados aos princípios do processo da aprendizagem:

Habilidade Psicomotora,

Habilidade Afetiva,

Habilidade Cognitiva.

16.3.a. Habilidade Psicomotora

A aprendizagem motora tem mecanismos específicos relacionados a armazenagem das experiências anteriores que são chamados de memória associativa e referem-se a aquisição e ao desenvolvimento de habilidades motoras através da repetição de gestos promovendo a mecanização do movimento. Como, por exemplo, ao dirigir um carro o movimento de usar a embreagem, de acelerar ou frear, com a experiência passa a ser automático, não necessitando de reflexão para sua execução. Uma vez que o movimento foi instalado, se durante um período, mesmo que longo, a sua prática for extinta, ao readquiri-lo o processo é mais rápido do que na aquisição inicial.

A memória motora é essencial não somente para, posteriormente, executar a mesma atividade com maior facilidade; como também, no aprendizado de novos comportamentos motores mais sofisticados, como é o movimento da escrita, que requer movimentos finos (epicríticos).

Quando realizamos ou tentamos imitar um ato motor, os nossos programas mentais se mobilizam e recorrem à memória associativa para a execução do ato maquinal, permitindo a instalação de novos movimentos, aumentando o repertório comportamental, que pode ser observado e avaliado através da melhora do desempenho. O motorista hábil é capaz de mudar a marcha ou consultar o painel sem perder o controle da direção do veículo.

O desenvolvimento motor necessita de treinamento repetitivo e, normalmente, é duradouro, de forma que a reprodução consiga aprimorar o movimento até que se torne harmonioso e mecânico.

Ao adquirirmos maior domínio sobre um determinado gesto motor como, por exemplo, dirigir um carro, somos capazes de realizar uma curva ou desviar rapidamente de um buraco, sendo que a ação necessária para execução do movimento realizado demanda pouco esforço, e ocorre de forma automática, sem que seja necessário intenso raciocínio ou programação, pois já houve uma automação prévia de possíveis reações, a qual foi gerada, a princípio, pelo treinamento repetitivo; por isso somos capazes de executar alguns afazeres com nosso pensamento direcionado para outra questão.

16.3.b. Habilidade Afetiva

O termo habilidade se refere ao grau de conhecimento de uma pessoa na solução de um determinado problema. É a maneira como utilizamos o que foi aprendido.

A afetividade trata da capacidade do homem em experimentar e vivenciar sentimentos e emoções considerando seu estado de ânimo e/ou de humor.

Em psicologia, o termo tem sido empregado para indicar a fragilidade que o ser humano experimenta diante de determinadas alterações que ocorrem tanto no mundo externo como no mundo interno.

A afetividade e as emoções tem sido tema de estudo e de intenso interesse tanto na civilização Ocidental como na Oriental, desde épocas como o VI século antes de Cristo, nos estudos de Lao-Tzu (oriental) e nos estudos de Sócrates, nos anos de 470 a 399 a. C. até a contemporaneidade, onde se destacam alguns nomes como Sigmund Freud, Magda Arnold, Jacques-Marie Lacan, Francisco Varela, Humberto Maturana entre muitos outros.

Todavia, para muitos pesquisadores, o início da investigação científica moderna (racionalista) sobre a natureza das emoções é atribuído a Charles Darwin graças ao seu livro que trata sobre as expressões emocionais em animais e em humanos, publicado no ano de 1872.

Podemos tentar definir a afetividade como sendo todo e qualquer domínio exercido sobre as emoções propriamente ditas, ou seja, domínio sobre os sentimentos das emoções.

Spinoza, um dos grandes racionalistas do século XVII afirmava que existe exclusivamente dois tipos de afetos, os que compõem a vida, e os que decompõem a vida, ou que desestimulam a viver.

O estudo da afetividade é importante porque determina a atitude geral da pessoa diante da vida e do mundo, requerendo impulsos motivadores ou inibidores frente a cada situação experimentada.

Os sentimentos e os afetos fazem com que a pessoa perceba de maneira agradável ou desagradável os eventos ocorridos, atribuindo-lhes um valor que oscila ente a indiferença e o entusiasmo determinando os sentimentos entre dois polos: a depressão e a euforia.

Direta ou indiretamente a habilidade afetiva é que determina a forma como o homem vai se relacionar com o mundo e com os outros por meio da manifestação de seus sentimentos e emoções.

Nossos comportamentos e atitudes devem ser compreendidos e avaliados levando em consideração os afetos que os desencadearam.

O meio físico e social com o qual nos relacionamos fornece estímulos que são captados pelos órgãos dos sentidos e processados internamente para receber um significado através da importância que representam.

Nossa vida afetiva como já foi citado por Spinoza é organizada com base em dois tipos de afetos: o amor (construtivo) e ódio (destrutivo). Ambos estão presentes em nosso comportamento e em nossas ações, que representam a prática desses sentimentos.

As emoções podem ser entendidas como expressões afetivas seguidas de reações intensas e breves do organismo, como as respostas a uma situação extraordinária. Uma brecada súbita pode causar alterações tanto físicas como emocionais.

Quando falamos em habilidade afetiva estamos nos referindo a capacidade da pessoa em lidar com situações problemáticas, de conflito ou de perigo, sem perder o equilíbrio e a capacidade de concentração na atividade que está realizando.

Resumindo, o termo afeto é empregado para aludir à aptidão na subjetivação e na expressão de uma resposta emocional, ou seja, é a qualidade e o tônus emocional aos quais segue uma ideia, uma representação mental ou o comportamento manifesto. A compreensão desse tipo de afeto permite ao psicólogo fazer uma predição de como o motorista se comportará e reagirá no trânsito.

16.3.c. Habilidade Cognitiva

Atualmente existe uma tendência em analisar os termos cognição e inteligência como tendo o mesmo significado e a partir daí identificá-los com sendo o funcionamento mental pertinente ao raciocínio.

A capacidade de processar as informações é denominada de cognição. Em relação ao homem, consideramos tratar-se da capacidade de adaptação a situações absolutamente diferentes que se manifestam em um curto intervalo de tempo.

No entanto, vale explicar que a adaptação humana, em seus aspectos cognitivos, difere da adaptação biológica que alude a um nicho significativo e imprescindível para garantir a sua sobrevivência no ambiente.

Devemos ressaltar que ao longo de sua evolução, os homens não desenvolveram somente a capacidade de adaptar-se a determinadas condições, mas também que dentro de certos limites, são capazes de modificá-las para sobreviver. Por exemplo, os homens são capazes de desenvolver meios de sobrevivência se ficarem perdidos numa floresta ou numa ilha deserta. Essa potencialidade de adaptação humana recebe o nome de cognição, ou inteligência.

Antigamente conceituava-se o funcionamento mental do homem, ponderando três aspectos julgados básicos para essa compreensão. São eles:

a cognição – a que abrangia a linguagem, a memória e, o raciocínio lógico;

a motivação – que se correlacionava com nossas necessidades mais básicas como: sono, sexo, fome, sede; e

o afeto – que está ligado à importância que atribuímos a sensação de prazer ou desprazer, no aspecto emocional da vida.

Atualmente, essa classificação estanque está ultrapassada. Há razões neurobiológicas, psicológicas e filosóficas que justificam a superação dessa segmentação. Do ponto de vista psicológico, não se pode, por exemplo, falar em memória sem se falar em emoção e cognição.

Talvez, por essa razão o conceito de percepção abrange toda a capacidade de processar as informações, e de reação ao que apreendemos sobre o mundo e sobre nós mesmos.

O processo da aprendizagem engloba, principalmente, dois aspectos do indivíduo: o neurológico (órgãos dos sentidos e o aparelho locomotor), e o psicológico (emoção e cognição).

A tese de Goldstein de que o cérebro não funciona em partes separadas, mas sim como um todo complexo, corresponde à teoria da escola Gestáltica de Max Wertheimer (1880 – 1941), Wolfgang Köhler (1887 – 1967) e Kurt Koffka (1886 – 1967), onde segundo esses autores o todo é formado pelas partes, num processo constante de sobreposição de figura e fundo.

Por outro lado, na teoria neurológica consideram-se duas grandes tendências:

a localizacionista, onde as funções mentais ocupam uma área delimitada no cérebro;

a holística, onde as funções do cérebro são resultantes de uma atividade indivisível, e o SNC funciona como um todo organizado, garantindo a integridade do organismo.

Dessa forma pode-se concluir que o método introspectivo está ligado ao SNC, onde o comportamento verbal ou o comportamento motor realiza-se por meio de uma cadeia de processos simples que estimulam as conexões cerebrais, indo buscar o seu significado numa sede mecânica denominada memória.

Todos os sistemas de memória, inclusive os de computadores, dependem de uma área de armazenamento. E a memória humana segue a mesma tradição.

A percepção e a consciência na maior parte das vezes dependem da comparação que estabelecemos entre o passado e o presente, isto é, a evocação das experiências vivenciadas e significativas, bem como das informações arquivadas. O processo da memorização inclui:

Codificação – colocar na memória

Armazenamento – manter na memória

Recuperação – recuperar da memória

As informações que impressionam os nossos órgãos dos sentidos parecem ficar retidas momentaneamente num sistema de armazenamento denominado memória sensorial (MS) e posteriormente essas informações são transferidas para um segundo sistema, a MCP (memória de curto prazo: lobo parietal).

Para que a informação seja retida na MLP (memória de longo prazo – lobo temporal), existem dois processos que são básicos:

reprodução ou imitação; e

vivenciar um processo profundo onde é utilizada a estratégia da repetição elaborativa, isto é, prestamos muita atenção sobre o fato ou sobre o objeto, pensamos sobre o seu significado, e relacionamos com os dados de outras informações já colocadas na MCP.

A MCP e a MLP estabelecem uma comunicação entre si continuamente. Quando a informação é inserida na MLP passa a fazer parte do repertório comportamental da pessoa sem necessidade de elaboração cognitiva; a ação passa a ser inconsciente, ou seja, automatizada.

Podemos ilustrar esse processo por meio do paradigma:

A habilidade cognitiva ajuda o motorista a tomar decisões rápidas frente a alguma adversidade que exige tomada de decisão imediata para evitar um acidente. Os motoristas considerados acidentógenos, normalmente tem essa capacidade comprometida.

17. O Homem Aprende Experimentando

A prática e a experiência de um comportamento são fundamentais no processo de aprendizagem, tanto que é explicitamente citada em sua definição.

De acordo com Magill (1989), a aprendizagem refere-se a uma mudança na capacidade do indivíduo em executar uma tarefa. A mudança surge em função da prática e do ensaio que aos poucos vai habilitando, melhorando e tornando o comportamento aperfeiçoado e permanente. Estamos caracterizando a prática como uma atividade organizada que consiste da repetição de uma mesma tarefa ou ação motora cujo objetivo é a melhora na “performance” da ação.

Podemos estudar e entender o desempenho final do indivíduo, considerando três etapas sequentes para que o processo da aprendizagem possa ser totalmente concretizado. São elas:

Novato

Mediano

Experiente

Novato (calouro) – Nesta primeira etapa o indivíduo sente-se inapto e despreparado, manifestando um número exagerado de comportamentos que poderiam ser dispensáveis, não apresentando nenhuma coerência ou espontaneidade entre eles, podendo revelar uma infinidade de atitudes motoras desconexas entre si numa tentativa desesperada de encontrar a melhor solução para a tarefa a ser realizada.

Pela inexperiência, nas primeiras tentativas para conseguir atingir o seu objetivo, o sujeito não consegue desvendar e conhecer melhor qual é o trabalho que deverá executar, como um ser puramente cinestésico, emite várias ações sem conseguir atingir o objetivo.

Diante dessa dificuldade, numa tentativa de amenizar a sua insegurança, o individuo, para sentir-se melhor, vai verbalizando em voz alta a sequência de seus movimentos, como se estivesse se auto instruindo, e acaba não prestando atenção aos detalhes significativos que poderiam facilitar e auxiliar na solução do problema.

É esperado que, nessa condição, o indivíduo esteja exposto a uma grande quantidade de erros sendo que no final o sucesso da ação vai parecer casual e o sujeito não saberá como e com que comportamento chegou à solução do problema. É como se a solução fosse obtida ao acaso. Se o sujeito em questão não conseguir vincular a ação à solução do problema, não ocorreu a aprendizagem.

Se o aprendiz de motorista não conseguir associar suas atitudes e ações ao seu bom desempenho no volante, não saberá como comportar-se adequadamente no trânsito. É preciso estabelecer a conexão entre a ação e a solução do problema.

Mediano – nessa etapa, durante as tentativas de acerto, o sujeito vai percebendo e eliminando os movimentos que considera desnecessários, e com isso descobre algo novo: que pode economizar energia e tempo na realização da sua tarefa.

Para que isso ocorra é necessário que o indivíduo permita que o seu controle visual sobre a ação vá cedendo lugar ao controle cinestésico e com isso, ele vai ajustando a frequência do padrão motor, de modo que, ao mesmo tempo em que a quantidade dos erros emitidos vai sendo diminuída, aumenta a certeza do comportamento correto e a compreensão de como a tarefa deve ser realizada para obter sucesso.

Isso pode ser percebido nitidamente quando, por exemplo, no processo de habilitação, o candidato a motorista precisa aprender como e quando deve trocar a marcha do veiculo.

A sequência das ações gradualmente vai ganhando fluidez e harmonia, ao mesmo tempo em que sua atenção é concentrada e direcionada aos aspectos que são relevantes, permitindo a percepção dos detalhes que antes passaram despercebidos.

Para ilustrarmos melhor o processo do desenvolvimento das habilidades, podemos estabelecer a diferença entre as habilidades motoras abertas e as habilidades motoras fechadas, relacionando-as à invariabilidade do ambiente, no nosso caso o trânsito.

A constância e o equilíbrio do ambiente (tráfego dos veículos) durante a execução das habilidades motoras fechadas (dirigir o carro) induz o sujeito da ação, a buscar e manter uma consistência e uma coerência maior para realizar a tarefa adequadamente.

Quando acontecer alguma alteração no ambiente (trânsito) onde a ação está sendo executada, o motorista movimenta suas habilidades e tenta adaptar o seu padrão motor a estas alterações ambientais.

Experiente (“expert”) – nessa fase a fluidez e a habilidade permitem a adaptação espontânea do motorista às mudanças que acontecem no ambiente da ação.

O sujeito tem certeza do que deve fazer para atingir a meta da ação, com um menor esforço, desprendendo um mínimo de tempo e energia.

Equilíbrio e eficácia do comportamento estão presentes neste estágio onde o sujeito necessita de um ínfimo de vigilância para conseguir realizar a tarefa (comportamento automatizado), podendo dirigir a maior parte da sua concentração e atenção para as informações que não são tão relevantes ao controle da mesma.

O padrão de comportamento motor é relativamente previsível e estável sendo que qualquer mudança que venha a ocorrer no mesmo vai implicar em uma volta ao estágio intermediário para conseguir-se uma nova adaptação.

17.1. Criação de Esquemas: Automatização

Indivíduos treinados são capazes de desempenhar concomitantemente tarefas complexas que supostamente se utilizam dos mesmos recursos de processamento, com pouca ou nenhuma interferência na performance.

Esse tipo de resultado sugere que o treinamento repetitivo alivia a carga de atenção supostamente necessária em decorrência da automatização.

Assim, o desempenho lento, sequencial e mediado verbalmente (que demanda grande quantidade de recursos), usualmente observado nos estágios iniciais da conquista de uma habilidade, vai sendo gradativamente trocado pelo desempenho rápido, equivalente e que requer pouco esforço ou controle voluntário (demandando relativamente poucos recursos), como é o ato de dirigir, andar, correr.

Assim, torna-se possível que esse processo de automatização, permita a identificação de determinados estímulos ambientais que são significativos para o indivíduo, corroborando para a aquisição de processos independentes de atenção controlada e voluntária.

A automatização do comportamento pode ser definida também como um conjunto de técnicas que podem ser utilizadas numa determinada situação objetivando tornar a ação mais eficiente, ou seja, elevar ao máximo a eficácia da solução do problema sem erros e com um mínimo de gasto de energia e tempo, obtendo melhores condições de segurança.

18. Aquisição e Interpretação

A aquisição compõe o âmago do processo da aprendizagem, onde a informação apresentada necessita ser introduzida no sistema cognitivo do sujeito para armazenagem em forma de memória de modo que possa ser evocada quando necessário. Essa ocorrência é um processo totalmente interno e só podemos ter inferência sobre ele através da mudança do comportamento.

Uma das melhores fontes utilizadas na aquisição de novas formas de comportamento ou modificação dos comportamentos adquiridos anteriormente são os hábitos, ou seja, a repetição de um determinado comportamento até que o sujeito consiga deter o domínio sobre uma situação específica, através de sua habilidade, como por exemplo, o ato de conduzir um veículo.

Piaget não utiliza muito o termo aprendizagem, preferindo à expressão “aquisição de conhecimento”. A base da teoria Piagetiana pode ser resumida em poucas palavras: “O ser vivo ou se adapta ou morre”.

Por ser dotado de inteligência, o homem adquiriu grandes conhecimentos da realidade e, consequentemente, alto nível na capacidade de adaptação.

Cada novo conhecimento adquirido transforma a pessoa, alterando a própria estrutura mental, pois novas condutas, novos hábitos e novas habilidades são inseridos em seu repertório comportamental.

No processo de aprendizagem do motorista, as informações sobre as leis e as normas de trânsito, sobre as placas de sinalização e seus significados, e mesmo o ato de conduzir o veículo são elementos novos que serão solidificados conforme o interesse e a prática do aprendiz.

A adaptação refere-se à capacidade que o organismo possui em responder a situações que se modificam, mantendo um nível de organização interna, que leva o indivíduo a ajustar-se rapidamente aos efeitos provocados pelas novas informações e que lhe permitem emitir respostas adequadas: estas são características do processo do desenvolvimento e do conhecimento humano. A resposta à aprendizagem será mais positiva dependendo do grau de motivação do sujeito.

Neste ponto, atingimos o cerne da aprendizagem, quando o saber que é passado ao “aluno” precisa embrenhar-se em seu sistema cognitivo para ser por ele interpretado e armazenado e, mediante solicitação, o mesmo aluno deve ser capaz de apresentar um novo padrão de resposta, que demanda uma ação criativa com implicações profundas relativas à esfera afetiva e cognitiva.

Quando está sendo submetido às aulas práticas de direção, o principiante deve prestar atenção e obedecer á sinalização para que isso se torne um hábito.

A aquisição de conhecimentos – por ser um processo pessoal – é gradual, cumulativo e integrativo, pois sempre que uma aquisição recente é adicionada ao repertório anteriormente adquirido, os conceitos são atualizados e as ações reformuladas, dando origem a novos comportamentos.

A interpretação das informações recebidas é um ato da inteligência e pressupõe a abstração que se fundamenta em nossos estados afetivos, fazendo com que acreditemos em tudo que corresponde aos nossos desejos, propósitos e preferências. Podemos entender que a interpretação dos fatos, das mensagens auferidas, seria a nossa linguagem interna que é sinônimo da linguagem receptiva e expressiva.

Aprender significa a forma como transformamos em símbolos significativos o que vivemos e experimentamos. Interpretar uma placa de trânsito, entender e respeitar a mensagem contida pode ser a diferença entre envolver-se e/ou provocar um acidente, ou sair ileso da situação.

Os psicólogos associacionistas definiram a percepção como um conjunto de sensações que, por meio de analogias, forma um todo homogêneo, sobre o qual a atenção confere nitidez e clareza aos fatos, atribuindo-lhe um significado.

Tanto as percepções como a consciência do meio ambiente e do trânsito dependem de comparações entre o passado e o presente: analogamente, os nossos sentidos detectam os estímulos e o nosso cérebro interpreta essas informações.

Por isto, podemos dizer que a interpretação e a compreensão dos fatos denotam uma avaliação cognitivo/afetiva da situação em que estamos envolvidos. A nossa integração social dentro do sistema trânsito depende da percepção que temos do meio e das pessoas com quem interagimos.

19. Retenção e Memória (Evocação)

O termo memória tem sua origem etimológica no latim e significa a faculdade de reter e ou readquirir ideias, imagens, expressões e conhecimentos armazenados anteriormente reportando-se às lembranças e às reminiscências de nossas experiências.

A aprendizagem e a memória são semelhantes, e ambas, provavelmente, dependem das mesmas alterações que ocorrem no cérebro.

A memória ainda não está bem definida e compreendida, uma vez que ela também pode depender de mudanças nas sinapses que os sinais produzidos pelos neurônios realizam no cérebro.

De acordo com seu conteúdo, classificamos as memórias, em dois grandes grupos:

as memórias declarativas (aquelas que são empregadas para fatos ou eventos, ou qualquer informação que possa ser expressa conscientemente) e

as memórias procedurais, que envolvem basicamente as habilidades motoras e/ou sensoriais, também chamadas de hábitos.

Essas duas categorias de memória são muito importantes para a atividade de conduzir um veículo. A primeira relaciona-se à cognição, retenção das informações teóricas recebidas durante a aprendizagem; enquanto que a segunda está diretamente ligada ao desenvolvimento motor, prática veicular, não menos importante para o ato de dirigir.

As memórias declarativas são influenciadas pelo estresse, pela labilidade de humor e pela motivação. Esses sentimentos quando estão descompensados podem justificar e explicar o envolvimento em acidentes.

As memórias procedurais ou implícitas vão se formando gradativamente e são evocadas inconscientemente, chamando e trazendo à tona as habilidades motoras que realizam a ação.

A nossa memória é ativada automaticamente para ser utilizada em atividades relacionadas às habilidades motoras e intelectivas que adquirimos, como o ato de dirigir.

O acesso às lembranças se faz sem a necessidade de uma atenção direcionada ou sob um controle voluntário.

O arquivamento das habilidades motoras se faz por meio de uma aprendizagem de reprodução de comportamento, ou seja, pela repetição sistemática de uma atividade complexa, até que o nosso SNC atenda à solicitação atuando como um todo uniforme.

Para exemplificar melhor: as memórias procedurais são as nossas habilidades de montar quebra-cabeças, andar de bicicleta, nadar ou interpretar o significado de uma placa de sinalização, sofrendo pouca influência do nosso estado emocional ou pelo nosso estado de ânimo.

Na estrutura cerebral humana não existe uma ação isolada, a memória é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de sistemas cerebrais que funcionam conjuntamente. Como o ato de dirigir é basicamente motor, mas sofre influencia do nosso estado emocional, os dois aspectos devem caminhar paralelamente para garantir uma direção segura.

O lobo temporal é uma região no cérebro que apresenta um significativo envolvimento com o processamento da memória. Ele está localizado logo abaixo do osso temporal (acima das orelhas), e é assim chamado porque os cabelos desta região são os primeiros a se tornarem brancos com o tempo.

Vários estudos realizados sugerem que esta região é particularmente importante para a armazenagem dos eventos passados, sendo avaliada como o nosso “arquivo morto”.

Alguns cientistas acreditam que existem algumas substâncias químicas especiais que podem estar envolvidas no processo de armazenamento de informações na memória.

Há várias modalidades de memória. Uma é muito curta e consiste em uma rápida análise de todo o material recebido pelos órgãos sensoriais. Quase tudo é rapidamente esquecido. Como exemplo, quando aprendemos a dirigir, entramos em contato com um grande número de placas de sinalização do trânsito, que, depois de habilitados, por falta de visualização das mesmas, acabamos esquecendo seu significado. Sabemos enquanto estamos aprendendo (Memória de Curto Prazo), mas depois com o desuso das mesmas abolimos de nossa memória a imagem e o significado das mesmas.

Às vezes surge alguma sinalização que nos interessa mais e então pensamos nela por um instante. Isso também desaparecerá em poucos segundos, a menos que nós a repitamos várias vezes para nós mesmos, a decoremos e a mesma seja uma constante nas ruas e avenidas. Isso parece fazer a informação "aderir" na mente. É o que temos que fazer para decorar uma senha, por exemplo.

Depois de repetirmos a senha várias vezes ou a usarmos com frequência, ela se tornará permanente em nossa memória, integrando o nosso repertório de comportamento e conhecimento. Quando alguma coisa é gravada em nossa memória de longo prazo, permanece para sempre.

Nós, algumas vezes, "esquecemos" alguma coisa, mas o que acontece realmente é que esquecemos como achá-la no enorme sistema de armazenagem do nosso cérebro.

Provavelmente o caminho usual não é o mais efetivo, porque não tem sido usado o suficiente. A informação que procuramos permanece arquivada até que possamos alcançá-la por outro caminho através do cérebro. Essa informação só estará realmente perdida se, em idade avançada, um número suficiente de células cerebrais morrerem, e a área de armazenamento não funcionar mais.

A retenção refere-se ao acúmulo de informação; e evocação é a ação de lembrar, de recordar, trazer à consciência o que já foi aprendido.

Quando a pessoa adquire uma informação, é necessário que ela seja capaz de retê-la e armazená-la, e possa ser capaz de evocá-la em situações apropriadas.

A esta capacidade chamamos de habilidade, que é o domínio de determinada técnica, e que corresponde ao como fazer. Esta é a tarefa da memória.

A memória é uma das funções cognitivas da mente e está relacionada, basicamente, aos sistemas atentivos, à consciência e aos circuitos emocionais. O funcionamento adequado dessas estruturas é fundamental para quem pretende conduzir de forma segura um veiculo automotor.

19.1. Tipos de Memória

Atualmente, existem aproximadamente cinquenta modelos de memória em estudo. Interessa-nos dois tipos, que são definidos como Memória de Curto Prazo (MCP) e a Memória de Longo Prazo (MLP). O que significa isso?

Significa que as informações que impressionam nossos órgãos dos sentidos parecem ficar momentaneamente retidas em um sistema de armazenagem denominado Memória Sensorial (MS); num segundo momento, estas informações são transferidas para a Memória de Curto Prazo, que consegue abrigar um número limitado de informações.

Para que a informação seja transferida para Memória de Longo Prazo, é necessário que ela passe por um processo que utiliza a prática da repetição elaborativa, no qual a pessoa pensa sobre o significado daquela informação e relaciona esses dados a outras informações já armazenadas.

A evocação da informação se dá através da associação dos fatos.

A memória de longa duração implica em um acúmulo lento de informações que são obtidas pelas repetições e pelo aprimoramento das atividades desenvolvidas, de forma participativa e consciente. (Kandel).

A semelhança entre os dados da informação ou da situação favorece a retenção, bem como as revisões periódicas que não permitem o esfriamento da informação, fatores importantes para a aprendizagem.

19.2. Módulos da Memória Humana

O interesse científico pelos processos que envolvem a memória vem se beneficiando do conceito da articulação das funções, isto é, da noção de que a memória compreende um conjunto de habilidades mediadas por diferentes módulos do sistema nervoso, que funcionam de forma independente, porém de maneira cooperativa e harmônica.

O processamento das informações por esses módulos acontece de forma paralela e distribuída, permitindo que essas unidades de processamentos influenciem outras a qualquer momento, ao mesmo tempo em que outra grande quantidade de informações é processada concomitantemente. A retenção, ou o arquivamento das informações, abrange dois processos:

a contemplação; e o

reviver o já visto.

Para que ocorra a memorização, é necessário decodificar a informação, prepará-la servindo-se dos conhecimentos anteriores transformando a informação em um símbolo (codificação), o que facilitará sua evocação posterior.

Os processos para que a memorização ocorra são os seguintes:

apreensão (órgãos dos sentidos);

retenção (localização no cérebro em área específica);

evocação (recordar através de associação); e

esquecimento (interesse desviado para outro foco).

A memória é estuda em várias modalidades como:

Memória Declarativa – é a capacidade de relatar um fato;

Memória de Curto Prazo – acontecimentos recentes que logo são esquecidos.

Memória de Longo Prazo – lembrança de acontecimentos da vida passada

Memória de Procedimento – mais estáveis e difíceis de serem perdidas

20. Generalização e Transferência

Entende-se por generalização a “conclusão geral que se tira da observação de casos particulares de uma mesma espécie” (Silveira Bueno).

“Uma vez adquirida determinada parcela de informação, o aprendiz precisa ser capaz de utilizá-la em várias circunstancias e situações diferentes” , para podermos considerar que houve aprendizagem.

A teoria da generalização foi apresentada por Judd em 1908, e esse estudioso acreditava que não bastava somente à existência de semelhança entre os elementos para que a prática ocorresse.

Podemos entender a generalização como o processo pelo qual tendemos a reunir os aspectos comuns numa classe de indivíduos ou objetos, e abstrair uma única conclusão.

No estudo sobre o trânsito, ao aprender a dirigir um carro, essa aprendizagem pode ser generalizada e transferida para a condução de qualquer tipo de veiculo automotor (exceção de motocicletas), dependendo da habilidade do motorista, permitindo que ele execute as manobras com excelência.

É necessário que o motorista aprendiz perceba a base comum dos diversos veículos e generalize esses seus conhecimentos nas mais variadas situações.

Por outro lado, a transferência refere-se precisamente à capacidade de deslocamento do conhecimento adquirido para contextos diferentes em momentos diferentes, mediante elementos comuns entre ambos. “Quanto mais parecido o ambiente, tanto mais provável a transferência e a generalização” .

Para Claparède, a transferência mais importante e acentuada que se conseguirá na educação será quando a escola além de preparar o aluno para vida conseguir fazer com que o mesmo sinta a escola como um aspecto de sua própria existência.

O processo de transferência das informações recebidas é decisivo para que a experiência da aprendizagem seja efetivada.

Segundo Aguayo, transferência é “o progresso ou ganho que o exercício de um poder, órgão ou capacidade produz noutro poder, capacidade ou órgão não exercitado anteriormente” .

Conduzir o veículo por vias diferentes, com fluxo de veículo distinto com várias faixas de sinalização ajuda o motorista a consolidar sua destreza.

O foco principal da educação é desenvolver a habilidade dos indivíduos para facilitar sua adaptação ao meio, exigindo que o indivíduo generalize e transfira os conhecimentos adquiridos para outras situações permitindo que possa executar a tarefa com o máximo de precisão possível.

20.1. Aprendizagem e Transferência

Quando os conhecimentos são transferidos para as questões e para os movimentos a serem aprendidos num momento diferente, as informações adquiridas e armazenadas tendem a facilitar o novo aprendizado.

Quando surge o problema ou a tarefa, é necessário que a pessoa seja capaz de selecionar e organizar os estímulos conhecidos, de acordo com suas experiências anteriores, para poder perceber a situação como um todo e reagir aos aspectos mais significativos para resolver o problema, colocando em prática os conhecimentos arquivados.

Parar e sair com o veículo, num teste de ladeira vai depender da habilidade do futuro condutor bem como do que aprendeu e foi armazenado em sua memória. Quando consegue sucesso na ação, podemos considerar que a aprendizagem está solidificada.

A transferência não se limita aos conhecimentos adquiridos, mas abrange também os hábitos e as atitudes internalizadas. Dewey (Piletti ) postulou que o mais importante é desenvolver no iniciante o gosto e o hábito de refletir; pois de acordo com este procedimento, Dewey expressa a sua convicção de que a aprendizagem obtida é transferida para o dia a dia da pessoa, levando-a a uma reflexão sobre suas ações e sobre o seu estilo de vida no trato consigo mesma e com os outros, colaborando para observar melhor a sua conduta no trânsito.

Na administração e organização das informações e dos estímulos recebidos, dois processos estão diretamente envolvidos:

o receptivo e integrativo, incluindo os vários tipos de memória

o expressivo, que inclui as várias formas de manifestações motoras, cognitivas e emocionais.

Às vezes, diante de uma situação difícil ou de perigo, a pessoa consegue perceber que a mesma solução dada a um problema vivido anteriormente pode também se apresentar eficaz como solução para o problema existente naquele momento. Como, por exemplo, as manobras adequadas para evitar ou safar-se de acidentes.

No trânsito espera-se que o condutor, mesmo tendo ainda um número pequeno de conceitos e princípios, seja capaz de adquirir novas aprendizagens, estabelecendo novas conexões entre o que já foi aprendido e o que está experimentando e vivendo no momento.

Thorndike e Woodworth sugerem que “dá-se a transferência quando há elementos idênticos na atividade exercitada e noutra, não submetida a exercício prévio” .

A transferência pode ser realizada pelos tipos de elementos comuns, como segue:

Identidade de conteúdo

Identidade de método

Identidade de atitudes gerais e de ideais de conduta

Identidade de elementos de caráter geral, exigidos pela compreensão e aplicação de um princípio.

De tudo, e em qualquer situação, podemos extrair alguma informação ou experiência que pode nos ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar o que já sabemos, ou para rejeitar determinados conceitos sobre o mundo ou ainda, sobre a maneira de conduzir um veículo e para incorporar novos pontos de vista e novos hábitos mais salutares.

Um dos grandes desafios para o educador de trânsito é ajudar o futuro condutor a tornar a informação significativa, a escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, e compreendê-las de uma forma global.

No processo de generalização pode ocorrer alguma interferência emocional, levando o indivíduo a mudar, a distorcer, ou a alterar a sua percepção da realidade.

Cada indivíduo tende a perceber e experimentar o trânsito a partir do modo em que foi condicionado. Muitos dados não são sequer percebidos, são deixados de lado antes de serem decodificados. Quando há muitos estímulos simultâneos, o cérebro seleciona o que considera principal e corre em busca dos estereótipos e das formas que já lhe são familiares. Cada um pensa que a sua percepção é completa e verdadeira e isso leva a dificuldade em aceitar as percepções diferentes dos outros, gerando comportamentos inadequados e na maioria das vezes perigosos para os motoristas.

21. Desempenho e Resposta

Podemos verificar a eficácia de um processo educativo observando, na prática a capacidade de execução e de realização de tudo que foi estudado.

A reação mediante um problema ou uma situação emergencial no trânsito, pode ser adequada ou não, dependendo do que foi aprendido e armazenado anteriormente.

Quando a resposta é adequada, existe a prova concreta de que a aprendizagem se realizou eficazmente.

É através da resposta, do comportamento e da atividade manifesta pelas reações que os estímulos do meio provocam nas pessoas, que poderemos avaliar os processos de ação livre e criadora da personalidade do indivíduo.

John Dewey conclui que “tornar o indivíduo mais consciente do fim de suas ações e modificar lhe as energias, de modo que estas deixem de ser mecânicas e se convertam em juízos reflexivos” .

O desempenho seria o reflexo direto da maneira como alguém entende o problema e atua em prol de uma solução com base na sua memória, evocando todas as informações cabíveis para uma solução eficiente, mostrando seu potencial durante a ação e expressando uma reação espontânea.

Em psicologia na área da análise do comportamento, a resposta refere-se ao movimento ou a produção de um organismo.

A definição de resposta é muito é abrangente incluindo a capacidade de pensar, de sentir e de reagir a uma situação.

O termo resposta não pode ser entendido como um sinônimo do termo comportamento, uma vez que é necessário existir uma relação entre um estimulo do meio (interno ou externo) que afeta o organismo através dos órgãos dos sentidos. Isso significa que o organismo tem que decifrar o estímulo e com base em suas experiências passadas emitir uma resposta, sendo esta, especificamente, a ação, o comportamento, realizado pelo organismo.

A resposta será eficiente dependendo do bom desempenho do aprendiz por meio de sua maturação emocional, motora e intelectual resumindo-se na concretização de seus objetivos, na sua autorealização.

Na situação de trânsito seria a efetivação do individuo respondendo como um motorista defensivo.

22. Retroação e Reforço

22.1. Retroação

A retroação é a busca, na memória, das informações que já foram arquivadas e utilizadas com sucesso em outras situações para solução de problemas, bem como para a condução adequada de um veículo.

Segundo Ludwig Von Bertalanffy o enriquecimento das experiências é constante e permanente enquanto o individuo conseguir autorregular as informações recebidas e consequentemente, melhorar sua adaptação ao meio, abrangendo seu comportamento no trânsito.

Quando as informações são aproveitadas e absorvidas de forma positiva tendem a manterem-se vivas na MLP; porém se as consequências das informações assimiladas forem negativas, tendem a ser extintas da memória se não houver uma alteração do comportamento que contrabalance ou neutralize a ação contraproducente.

O sistema de retroação é considerado dinâmico porque existe uma causa implícita que gera o comportamento, como por exemplo, a deslocação do individuo de um ponto a outro para atingir um objetivo (trabalhar, estudar, diversão, etc.).

A retroação, ou feedback, é a resposta à ação do indivíduo frente à situação, podendo ser de caráter negativo (retroação negativa) ou de caráter positivo (retroação positiva) de acordo com a adaptabilidade e as ações do individuo no meio em que interage.

No trânsito, quando o motorista respeita as normas e a sinalização, consegue chegar ao seu destino sem multas ou acidentes, sendo sua conduta um estimulo positivo para que continue obedecendo às regras; por outro lado se desrespeita alguma norma ou lei de trânsito, poderá sofrer a punição na forma de multa ou apreensão do veículo para intimidar a conduta negativa.

Esperamos que o comportamento manifesto se aproxime ao máximo possível do padrão desejado, e para isso o mecanismo da memória poderá mesclar feedbacks tanto positivos como negativos.

Embora o conceito de retroação aluda ao retorno da informação em forma de fenômeno comportamental provocado pelo órgão receptor e o órgão emissor, as ações e as reações nunca acontecem de forma linear, mas sim de forma cursiva e complexa.

No ato de conduzir um veículo o motorista, durante seu processo de habilitação, recebeu uma gama de informações tanto teóricas como práticas que, supõem-se, ficaram arquivadas em sua MLP para serem acionadas quando necessário.

A retroação do motorista no trânsito está relacionada à sua memória cognitiva (lembrar-se das normas e do significado da sinalização), bem como a memória motora, (aceleração, frenagem, troca de marcha, freio de mão, etc.).

22.2. Reforço

O reforço, ou estímulo reforçador, na teoria behaviorista, é o resultado de uma ação que torna o comportamento mais plausível de ocorrer e tem como finalidade aumentar a incidência do mesmo.

Os reforços são estímulos dados a um comportamento, em oposição à punição.

Obedecer ou não às leis de trânsito gera uma consequência.

O reforço é um estímulo que desencadeia qualquer tipo de emoção positiva, provocando uma sensação de prazer e de conforto que, por essa razão, estimula na emissão da resposta adequada, como o cuidado e atenção na direção. Chegar ileso ao seu destino é algo que satisfaz e promove um sentimento de alegria e bem estar.

O estímulo reforçador – aplicado após a emissão da resposta – aumenta a probabilidade de ocorrência da mesma resposta em situações semelhantes. Equivale a uma recompensa dada ao sujeito por ter aprendido corretamente. A esta percepção, Thorndike definiu como de efeito satisfatório.

Depois que emitir uma resposta adequada (assertiva), é importante que o motorista aprendiz também confirme sua expectativa sobre seu desempenho, para poder orientar-se com sucesso em situações futuras.

Se a sua expectativa não for confirmada, ou se for até mesmo refutada, o processo da aprendizagem poderá ficar comprometido e seu comportamento no trânsito pode ser prejudicado.

22.3. Tipos de Reforço

Os reforços podem ser divididos em dois grupos:

Reforço Positivo

Reforço Negativo, existindo um terceiro elemento fundamental para a equilibração e adequação comportamental: a punição.

Existe uma tendência, até natural, em confundir o reforço negativo com a punição pelo fato dos dois termos referirem-se a coisas desprazeirosas, mas na realidade eles têm funções e ações diferentes.

Os reforços, tanto o positivo como o negativo, tem a mesma finalidade: moldar e manter os comportamentos considerados adequados, onde o reforço positivo tem a prerrogativa de manter e aumentar a emissão da conduta; e o reforço negativo tem a função de diminuir ou extinguir um comportamento indesejável. Já a punição tem um único papel: extinguir por completo o comportamento considerado inadequado.

O reforço positivo tem como meta alimentar a probabilidade da emissão das respostas adequadas em situações futuras. Quando o comportamento desejável é emitido logo após, o sujeito recebe uma gratificação para assegurar a constância desse comportamento.

Observe o paradigma ilustrativo:

Por outro lado, o reforço negativo, ou seja, depois do comportamento inadequado ser manifesto apresenta-se um estímulo desagradável que é retirado do ambiente, espera-se que com essa sensação de desprazer suprimida o indivíduo tende a diminuir e/ou extinguir as respostas tidas como impróprias.

O reforço negativo pode aumentar a probabilidade da ocorrência de um comportamento a medida que a situação aversiva é afastada ou eliminada.

A punição é outra metodologia utilizada para extinguir um comportamento inadequado, porém a supressão é temporária e não definitiva, a menos que a punição seja realmente muito intensa.

Os educadores devem ser informados que a punição resolve o problema temporariamente, uma vez que a motivação do indivíduo permanece a mesma. Isto significa que quando a punição for suspensa há uma possibilidade grande de o comportamento voltar a ocorrer.

Na situação de trânsito podemos citar como exemplo de punição, o motorista ser multado e receber a pontuação na CNH por avançar o sinal vermelho. A punição é pagar a multa e no caso dos pontos na CNH (20 no total) serem submetido a um Curso de Reciclagem para reduzir ou extirpar a incidência desse comportamento inadequado.

Contudo o que observamos é que as punições aplicadas não motivam os motoristas a mudarem seus comportamentos; continuam cometendo as infrações e tornaram-se experts em esquivas e manobras de fuga das situações que exigem o cumprimento da lei. Esse tipo de comportamento evidencia a falta da educação no trânsito.

23. Considerações Finais

Para tentarmos compreender o grande número de acidentes e a violência que está instalada no trânsito, nos baseamos na dificuldade dos relacionamentos humanos e no grande problema que se transformou a obediência às normas e as leis estabelecidas.

O comportamento dos condutores, de um modo geral, tem se mostrado cada vez mais arredio e intolerante com o próximo, sem nenhuma preocupação ou responsabilidade em garantir um trânsito seguro para si mesmo e para o outro.

Consideramos que a educação é um dos poucos caminhos viáveis para a construção de um mundo melhor e menos violento para garantir um trânsito mais seguro.

Este projeto foi elaborado para atender ao Novo Código de Trânsito Brasileiro que na Resolução do CONTRAN, em sua Lei nș 9503 e em seu Decreto 2327 de 23/09/1997, tratam da Educação Para o Trânsito.

Com base na Psicologia do Desenvolvimento e em teorias de diversos autores que destacaram a importância de cada fase da evolução infantil, com ênfase na capacidade cognitiva e emocional da criança durante o processo de aprendizagem, procuramos adaptar ao currículo escolar o conteúdo programático exigido pelo CTB, respeitando as características de cada fase, o que se mostrou plenamente possível.

Pretendemos que a experiência de aprender seja realmente concretizada da melhor forma possível, respeitando as peculiaridades de cada fase do desenvolvimento da criança permitindo sua participação ativa e concreta nas atividades como aprendiz, com a clara intenção de que esta criança tenha a oportunidade de vivenciar situações, de manifestar seus sentimentos, de aprender a identificar suas emoções, de reconhecer seus limites e seu potencial, e que com isso, possa ser possuidora das diretrizes básicas e necessárias para um convívio social e pessoal integrado e satisfatório, na conquista do bem comum.

Quanto mais o indivíduo se conhecer e reconhecer os seus direitos e deveres, bem como os seus limites pessoais e sociais, maior facilidade terá para se auto aceitar e adequar-se a um convívio igualitário, fortalecendo a segurança em si mesmo, garantindo possibilidades de obter maior sucesso em seus empreendimentos, em suas metas e em seus objetivos.

Dessa forma pressupomos que a capacidade de aceitação do outro como ele é, com suas limitações e diferenças tornará o relacionamento interpessoal mais amável e solicito.

Quando o homem permitir sentir-se feliz e realizado, ele buscará a melhora da sua qualidade de vida assim como a melhora da qualidade de vida daqueles que com ele convivem, inclusive no sistema trânsito.

Os temas abordados em cada nível de ensino visam solidificar e aproveitar os potenciais intelectuais e humanos do aluno, preparando-o para o convívio em sociedade.

O ensino não pode ser estanque ou rotineiro. Assim como a busca de uma vida melhor, a aprendizagem também é dinâmica e agitada; e se caracteriza como um trabalho incessante.

Se em cada fase do desenvolvimento do ser humano introjetarmos a noção dos limites, o respeito às normas e às leis, a noção de cidadania – através de dinâmicas de grupo e atividades de grupo que serão participativas – ele entenderá que, além de direitos, ele tem também deveres, e perceberá que a construção de uma sociedade, de um trânsito melhor e de um mundo mais humano dependem também de como ele se coloca diante da vida, dos outros e do meio ambiente.

Se desde pequenos os indivíduos forem treinados a respeitar a si mesmos e ao próximo, e se esses valores morais e humanos forem preservados para que se processe uma transformação interior, o gerenciamento das emoções e dos desajustes se tornará mais fácil e mais viável de serem controlados. Isso propiciará a desenvoltura de um trânsito mais tranquilo e mais seguro.

Esse trabalho tem como objetivo conscientizar as pessoas de um modo geral, considerando principalmente as crianças, os jovens e os professores, que somente através da educação poderemos expandir os nossos horizontes.

Os conceitos que são impróprios, as atitudes que se manifestam de forma desajustadas e as ideias inadequadas poderão ser transformadas através da ampliação do conhecimento e da educação, que fornecerão o sentimento do quanto é importante ser um cidadão participativo, com nossos direitos e nossos deveres, certificando que restabelecendo os elos da sociedade civil no resgate dos vínculos comunitários destruídos pela modernidade liberal, estaremos colaborando para um trânsito mais segura e uma sociedade mais justa.

As paixões humanas desorganizaram o contato do homem com a natureza, pois destruíram sua fonte de prazer e de equilíbrio.

Preservar a Natureza, valorizar a vida, solidificar a educação e os valores éticos humanos, tornarão o homem, o trânsito, a sociedade e a vida de um modo geral mais cordial, com a possibilidade da criação de um mundo onde a convivência terá base na compreensão, na colaboração na amizade e na ordem.

Através da educação podemos fortalecer os movimentos sociais que articulam e representam os interesses e as demandas dos amplos setores da população na busca do bem comum.

Esse trabalho tenta colocar a Psicologia a serviço da Educação e da Cidadania promovendo uma qualidade de vida melhor.

É importante lembrarmos sempre que “sem educação estaremos perdendo a luta pela civilização”.

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