A gramática desempenha um papel muito importante na vida dos homens, visto que é através [600688]
11
CAPÍTULO I
1. Introdução
A gramática desempenha um papel muito importante na vida dos homens, visto que é através
dela que os seres humanos reúnem ferramentas necessárias para a aquisição de uma dada
língua. Olhando para constituição, a gramática subdivide -se em diversas component es que
estão em função da organização da língua. Sendo assim, é imperioso, que o indivíduo se faça
valer dela em qualquer produção comunicativa.
O uso da gramática no ensino da Língua Portuguesa nas escolas, em geral, vem gerando
polémica no decorrer dos anos. Muitas vezes nos perguntamos: Devemos utilizar ou não
gramática no ensino de Língua Portuguesa? É claro que devemos utilizar a gramática, pois
segundo BAGNO (2000:87) “a gramática deve conter uma boa quantidade de actividades de
pesquisa, que possibi litem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico,
como uma arma eficaz contra a reprodução irreflectida e acrítica da doutrina gramatical
normativa”.
Desta feita, olhando para os desafios que se têm vivido ao nível da oralidade dos alunos na
aula de Português do ensino básico, torna -se imprescindível, de uma forma objectiva, que as
escolas do ensino básico desenvolvam profundamente os conhecimentos inerentes a
gramática, propondo condições e estratégias a adoptar que facilitem a tal aprendi zagem.
Assim, a pesquisa foi desenvolvida sobre o tema “O Papel da Gramática no Desenvolvimento
da Oralidade dos Alunos do Ensino Básico”. Um estudo a ser desenvolvido na Escola
Primária do 1ș e 2ș Graus 17 de Setembro, especificamente com os alunos da 7ă classe, Turma
B, Curso Diurno .
Nesta ordem de ideias, procurou -se conhecer até que ponto a gramática tem ou pode
contribuir para o desenvolvimento da oralidade dos alunos ainda no ensino básico. Para se
atingir este objectivo, fez -se um estudo crucial co m a intenção de analisar o papel da
gramática, bem como as estratégias a usar no acto da sua implementação no PEA.
O trabalho está estruturado em três capítulos: o primeiro capítulo é constituído por uma breve
introdução; o segundo capítulo é formado pela revisão da literatura, uma vez que, os aspectos
teóricos são a essência de qualquer trabalho de investigação que se faça. E por fim, já no
terceiro capítulo apresentamos a análise e interpretação dos dados, e posteriormente
apresentamos a conclusão e suges tões.
12
1.1. Tema
O Papel da Gramática para o Desenvolvimento da Oralidade dos alunos do Ensino
Básico
1.2. Delimitação do Tema
O processo de delimitação do tema só é dado por concluído quando se faz a sua
limitação geográfica e espacial, com vista à realização de pesquisa. Muitas vezes as
verbas disponíveis determinam uma limitação maior do que o desejado pelo
coordenador, mas qua ndo se pretende um trabalho científico, é preferível o
aprofundamento à expressão. Assim, o tema anteriormente referenciado, teve a sua
abordagem na Escola Primária do 1ș e 2ș Graus 17 de Setembro – Quelimane, 7ă
classe, turma B, curso diurno.
1.3. Probl ema
Actualmente, tem -se assistido de uma forma intensa no ensino moçambicano, problemas
inerentes à oralidade dos alunos, o que acaba colocando em causa o seu próprio
aproveitamento pedagógicos, primeiro, na aula de Português e depois em todo processo de
ensino -aprendizagem do ensino básico, uma vez que tem sido a oralidade a chave de
mediação e assimilação dos conteúdos, isto na interacção professor -aluno e aluno -aluno.
Não somente o problema é notável neste nível, como também, tem -se manifestado ao nível da
escrita quando os alunos, nas suas redacções, apresentam erros que são motivados pela sua
oralidade que é um pouco limitada, o que traz implicações na sua vida social, e,
consequentemente na sua vida profissional.
Portanto, olhando pelos argumentos ant eriormente apresentados, levanta -se aqui a seguinte
pergunta de pesquisa:
Até que ponto a gramática poderá contribuir para o desenvolvimento da oralidade
dos alunos do ensino básico, especificamente na Escola Primária do 1ș e 2ș Graus 17
de Setembro, 7ă classe, turma B, curso diurno?
1.4. Hipótese
O ensino da gramática diminui erros na comunicação oral dos alunos.
13
1.5. Objectivos
1.5.1. Objectivo Geral
Analisar o papel da gramática para o desenvolvimento da oralidade dos alunos do
ensino básico, concretamente na Escola Primária do 1ș e 2ș Graus 17 de Setembro, 7ă
classe, T.B, C/D;
Compreender o grau de percepção dos alunos bem como professores , acerca do papel
da gramática para a oralidade no ensino básico.
1.5.2. Objectivos Específicos:
Indicar as estratégias usadas no ensino da gramática, por parte dos professores do
ensino básico, para a oralidade dos alunos;
Propor estratégias inerentes ao ensino da gramática, de modo a melhorar a expressão e
compreensão da língua .
1.6. Justificativa
O presente trabalho é importante porque, do ponto de vista social, falar da gramática em
função da oralidade, é falar do dispositivo indispensável para qualquer indivíd uo que quer se
tornar falante de uma língua, uma vez que é na gramática onde se encontram todas as
componentes necessárias para o funcionamento de uma língua, o mesmo que dizer, é a
gramática que rege e regula o funcionamento das línguas.
Por sua vez, so b ponto de vista pedagógico, este estudo é importante porque vai despertar
todo os envolvidos do processo ensino -aprendizagem, sobre a ferramenta e estratégia
necessária para o desenvolvimento da oralidade dos alunos no ensino básico, visto que a
gramática proporciona no aluno as melhores maneiras de se comunicar com proficiência e
precisão em qualquer esfera comunicativa.
Por conseguinte, a necessidade de se fazer este estudo com a turma anteriormente citada, é
pelo facto dos professores e os alunos terem a tendência de utilizar, prioritariamente, a
modalidade oral, o que seria conveniente que se apoiassem de recursos e técnicas que
favoreçam a correcta aprendizagem da oralidade.
Assim como se considera preocupante que os alunos apresentem dificuldades na
materialização do discurso, visto que a expressão oral e a escrita são elementos
14
imprescindíveis na comunicação. Nessa perspectiva, exige pensar, que antes, os professores
devem adoptar uma atitude reflexiva de forma a terem maior domínio e clareza do cont eúdo,
para que possam valorizar todas as possibilidades de produção oral.
Portanto, pela relevância do assunto, pretendeu -se com este trabalho, de maneira sucinta,
desenvolver conhecimentos sobre o papel da gramática no desenvolvimento da oralidade no
processo Ensino -Aprendizagem, com vista a despertar a quem é de direito ou até mesmo a
própria sociedade em geral, em relação à problemática da não proficiência na oralidade dos
alunos, o que tem concorrido para o baixo aproveitamento pedagógico no PEA. Em seg uida,
pretendeu -se sugerir estratégias a adoptar para o melhoramento da oralidade dos alunos, com
base no ensino da gramática.
1.7. Metodologia
De acordo com GIL (2002:26), os procedimentos Metodológicos da pesquisa devem ser
entendidos como o conjunto det alhado e sequencial de métodos e técnicas científicas a serem
executados ao longo da pesquisa, de tal modo que se consiga atingir os objectivos
inicialmente propostos.
Nisso, serão seguidos os seguintes métodos para a concretização deste trabalho:
1.7.1. Tipo de Pesquisa
A pesquisa é do tipo “qualitativo” , em que de acordo com GIL (2002:14), “Na Pesquisa
Qualitativa há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeit o que não pode ser
traduzido em números”.
Ainda segundo GIL (2002:14), a interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados
são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é o
instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados
indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.
Portanto, para este trabalho usou -se este tipo de pesquisa, visto que se pretendia saber como é
vista a gramática no ensino básico e porquê se deve ensinar na aula de português, bem como
as estratégias usadas em benefício da oralidade.
15
1.7.2. Métodos de Abordagem
Método Bibliográfico
A Consul ta Bibliográfica é orientada na base de recolha de informações em bibliotecas
através de livros e artigos da internet publicados. Assim, neste trabalho fez -se o uso da revisão
bibliográfica para servir de ajuda para a elaboração de estratégias, com vista a se ter de uma
forma geral, a proficiência na oralidade dos alunos da Escola Primária do 1ș e 2ș Graus 17 de
Setembro, 7ă classe, T.B, C/D.
1.7.3. Técnicas de Colecta de Dados
Questionário
Esta técnica foi escolhida porque a sua administração é de pouco c usto, leva menos tempo e
se obtêm várias respostas em pouco tempo. As questões foram abertas, direccionadas aos
alunos, com vista a se ter o conhecimento da problemática em estudo e para a sua devida
solução.
Entrevista
Considerando que a entrevista é a ob tenção de informações de um entrevistado, sobre
determinado assunto ou problema, para este trabalho, foi usada esta técnica para a recolha de
dados não documentados sobre o tema, onde, para além dos alunos e professores da turma em
questão, possivelmente f oram entrevistados também algumas entidades da direcção
pedagógica, sobre o papel da gramática para o desenvolvimento da oralidade dos alunos.
Observação
Observação sistemática não tem planeamento e controle previamente elaborados; esta técnica
ajuda a o bservar o comportamento da população em estudo.
Foi efectuada uma observação através de assistências de aulas de língua portuguesa, na turma
em questão, com vista o autor familiarizar -se com o problema, para consequentemente
adquirir dados concretos da pr oblemática em estudo.
16
1.7.4. Delimitação do Universo
Universo
O universo do estudo foi constituído pela turma B da 7ă classe, curso diurno, na Escola
Primária do 1ș e 2ș Graus 17 de Setembro. Acredita -se que com este grupo de população será
possível colh er informações concretas sobre como se manifesta a problemática em estudo,
quais as consequências bem como as possíveis medidas de solução do problema. A validade
ou não das hipóteses dependerá das informações que serão fornecidas, bem como as propostas
ou recomendações que forem comentadas por este grupo alvo.
Amostra
A amostra do estudo foi de trinta e três (33) pessoas, sendo alunos e professores, uma vez que
se supõe que as turmas nestas classes são constituídas no intervalo de 30 a 35 alunos. Foi
usado o método probabilístico aleatório simples para a selecção dos inquiridos, neste caso, os
alunos da turma em questão.
17
CAPÍTULO II
2. REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo, aparecem os principais conceitos e pontos de vistas de diferentes a utores,
concernente ao tema “O Papel da Gramática no Desenvolvimento da Oralidade dos Alunos do
Ensino Básico”. Sendo assim, começou -se por trazer o conceito de gramática, onde se fez
menção do historial, conceito, objectivos/importância e tipos de gramáti ca; por sua vez, fez -se
menção à oralidade na sua íntegra.
2.1. Gramática e sua origem: um breve historial
Para que possamos analisar, compreender e até criticar o ensino da gramática levantando seus
prós e contras, é necessário realizarmos um estudo sobre a mesma, suas origens, objectivos,
contribuições ou “empecilho” para o aprendizado significativo da linguagem pelos educandos.
De acordo com LIMA (2006:36):
A gramática teve origem há dois séculos antes da era cristã na escola de
Alexandria, sendo os gregos os primeiros a se dedicarem ao estudo gramatical
e às suas estruturas gramaticais com objectivo de preservar a pureza da língua
grega que estava sendo contaminada por barbarismos.
A grande preocupação em proteger a língua teve início com a constatação de diferenças
linguísticas na linguagem corrente da população em relação à língua clássica. Com receio de
que tais diferenças pudessem atingir e modificar a língua, os gregos criaram uma gramática
com o objectivo de garantir sua preservação e s ua “originalidade”. Como mostra BAGNO
(1999:56):
Quando o estudo da gramática surgiu, no entanto, na antiguidade clássica, seu
objectivo declarado era investigar as regras da língua escrita para poder
preservar as formas consideradas mais “correctas” e “el egantes” da língua
literária. Aliás a palavra gramática, em grego, significa exactamente “a arte de
escrever”.
Essa gramática teve por base as obras de escritores clássicos que seguiam a risca a linguagem
grega sendo tomadas como padrões a serem seguidos. Segundo NEVES (2006:103 -104):
Tendo -se tomado ciência da discrepância entre os padrões do grego clássico e
a linguagem corrente, contaminada de barbarismos, põem -se em exame os
autores cuja linguagem autenticamente grega oferece os padrões ideais que
devem ser preservados. Essa necessidade especial de divulgação do helenismo
impulsiona o desenvolvimento dos conhecimentos literários e linguísticos:
buscam -se os textos verdadeiros, não corrompidos, especialmente os de
18
Homero, e levantam -se os factos que car acterizam essa língua considerada
modelo.
A autora salienta que gramática teve por base as obras de escritores clássicos que seguiam à
risca a linguagem grega, sendo tomadas como padrões a serem seguidos.
Já para ANTUNES (2007:36):
A criação da gramática continua a ser uma forma de controlar determinada
língua contra ameaças de desaparecimentos e declínios, mas esse controle
apresenta interesses mais amplos que vão além da mera preservação da língua:
entre eles estão interesses políticos, económicos e soci ais.
A língua é sinónimo de poder, a linguagem identifica o ser humano, facilitando assim o
desenvolvimento de interesses de quem governa. Como bem cita ANTUNES (2007:36), “foi
sendo atribuído aos compêndios de gramática um papel de instrumento controlado r da língua,
ao qual caberia conduzir o comportamento verbal dos usuários, pela imposição de modelos ou
padrões”.
Dessa forma, a criação da gramática, na verdade, tinha por objectivo a regularização, o
estabelecimento de um padrão na língua escrita, que s egundo NEVES (2002:49) “trata -se de
um estudo que, pelas condições de seu surgimento, se limita à língua escrita, especialmente a
do passado, mais especificamente a língua literária e, mais especificamente ainda, a grega”.
Entretanto, essa regularização se estendeu à língua falada, gerando maiores problemas.
A regularização da língua culta realizada pelos manuais gramaticais, estipulando -a como a
única correcta, digna e pronunciada pela classe dominante, se analisada profundamente,
evidencia um dos maiores fortalecedores das diferenças sociais. A linguagem utilizada por
cada pessoa passou a ser um espelho de sua condição social, se a língua utilizada for a culta, o
indivíduo conquista certo respeito diante da sociedade, já se a língua utilizada se diferencia r
desta, este indivíduo, na maioria das vezes, passa a sofrer preconceitos, sendo estigmatizado,
pois não se encaixa no padrão estipulado pela sociedade. A linguagem passou a ser um marco,
delimitando os que pertencem à classe culta e os que não pertencem a ela. Como critica
BAGNO (1999:149):
A gramática tradicional permanece viva e forte porque, ao longo da história,
ela deixou de ser apenas uma tentativa de explicação filosófica para os
fenómenos da linguagem humana e foi transformada em mais um dos muito s
elementos de dominação de uma parcela da sociedade sobre as demais.
19
É válido verificarmos a influência exercida pela gramática, principalmente nas escolas, pois a
mesma passou a determinar o certo e o errado na língua, mesmo tendo nascido muito depois
do surgimento da linguagem. É indispensável um olhar crítico do professor frente ao ensino
da gramática, assim como é indispensável que os mesmos estejam cientes do que realmente
esteve por trás da criação da gramática para que possam ministrar esse ensino d e maneira
eficiente.
Assim, se analisar -se a função que a gramática ocupa nas escolas de hoje, pode -se constatar
que a mesma continua a desenvolver o papel que lhe foi atribuído aquando do seu surgimento:
o de repassar a língua culta utilizada pela socieda de, fortalecendo -a, mantendo sua
legitimidade.
2.2. Ensino da Gramática
Muito se tem questionado a respeito do ensino de gramática nas aulas de Língua Portuguesa;
afinal a gramática deve ou não ser ensinada? Diante de uma nova metodologia, como seria a
reacção de professores e alunos? Todavia, é importante ressaltar que o ensino de gramática,
não deve ocorrer apenas para proteger ou conservar a composição da língua, mas para auxiliar
o usuário e falante no conhecimento de sua própria língua, possibilitand o-lhe as características
essenciais que pertencem à sua cultura.
Trabalhar com Língua Portuguesa é muito mais do que relacionar o que é certo e o que é
errado: é compreender seu funcionamento hoje, e no passado; é um processo dinâmico de
capacitação dos alunos para a leitura e para a produção de textos orais e escritos dos mais
variados géneros.
De acordo com POSSENTI (2004:63), “a noção de gramática é controvertida: nem todos os
que se dedicam ao estudo desse aspecto das línguas a definem da mesma maneir a.”. Isso
significa que nem todos os estudiosos da “norma” conseguem definir o conceito de gramática,
porém para POSSENTI (Op. cit) “gramática é o conjunto de regras”.
A gramática, quando considerada um conjunto de regras, é a determinação do uso de normas
as quais são essenciais para o perfeito uso da língua materna.
Parafraseando HOUAISS (2004:314), “gramática é o conjunto de prescrições e regras que
determinam o uso considerado correcto da língua escrita e falada”.
20
Todavia, esses conceitos são direcciona dos a um tipo de gramática: a normativa. Essa é a que
apresenta as normas sintácticas e morfológicas para o bom uso da língua, é a ensinada nas
escolas.
POSSENTI (2000:46), “corrobora que a gramática é necessária para que haja comunicação.
Mesmo que o fala nte a ignore, ele usa a sua competência linguística internalizada para dar
sentido ao que fala, ou escreve”.
Por sua vez, TRAVAGLIA (2009:101), “a gramática internalizada é a que constitui não só a
competência gramatical do usuário, mas, também, sua compe tência textual e sua competência
discursiva e, portanto, a que possibilita sua competência comunicativa”.
Conforme os argumentos acima apresentados, é de extrema importância que os professores
fortifiquem a ligação entre o ensino de gramática e o desenvolv imento da competência
comunicativa dos alunos, existindo desta maneira, a preocupação em se fazer um ensino de
língua pertinente para falantes nativos, caso contrário, o ensino se desvirtua da língua usual, e,
por consequência, fica sem significado algum p ara o aluno.
Ainda em relação a esta ideia TRAVAGLIA (2009:101), afirma que “não há razão para o
estudante continuar decorando regras de gramática, repletas de excepções, sem entender o que
está estudando. Dessa forma, ele passa horas memorizando definiçõe s feitas previamente, sem
pensar nelas enquanto língua, sem haver questionamento, análise e posicionamento quanto ao
conteúdo”. Consequentemente:
Tudo se mistura numa imensa confusão, agravada pelas pressões sociais em
torno do ideal de um falar correcto, supostamente mais perfeito e prova de
superioridade intelectual e cognitiva. E o resultado é que, quando se sai da
escola, se sai muito mais confuso, com uma visão de língua deturpada,
reduzida e falseada, terreno muito propício à gestação de preconceitos e de
simplismos encabáveis (ANTUNES, 2007:63).
Portanto, é urgente uma reforma no ensino de gramática, para que se possa ver na língua mais
elementos do que apenas erros e acertos de terminologia.
Em razão da realidade escolar acima relatada, TRAVAGLIA ( 2009:101) vaticina que:
O ensino de gramática em uma concepção analítico -reflexiva, ganha força. A
gramática reflexiva é uma gramática em explicitação, surge da reflexão
baseada no conhecimento intuitivo dos mecanismos da língua e usada para o
21
domínio cons ciente de uma língua que o aluno já domina ou não,
conscientemente.
O trabalho com a gramática em uma perspectiva analítico -reflexiva se abstém das aulas
expositivas, em que se passa a teoria gramatical pronta ao aluno. Pelo contrário, elaboram -se
activida des que, de certo modo, levam os alunos a redescobrir elementos já postos por
linguistas, de tal sorte que se faz uma reflexão norteada à explicitação de factos da língua.
Desse modo, a aula de gramática deixa de ser uma afirmação da autoridade do profess or, para
se tornar um laboratório de estudos em que os alunos constrõem o conhecimento com o
auxílio docente. A partir de práticas de observação e reflexão, o indivíduo perceberá a
constituição e o funcionamento da língua. Por conseguinte, o mesmo, agregan do
possibilidades à sua competência comunicativa, será capaz de produzir textos com os efeitos
de sentido que desejar.
Além disso, o ensino de gramática em uma perspectiva analítico -reflexiva desenvolverá o
raciocínio lógico -científico do aluno. A partir d a análise, reflexão e avaliação de
possibilidades da língua, ele será desafiado a dar respostas e a pensar de maneira coerente.
Conforme VIEIRA (2013:101) apud PERINI (2000:27) destaca:
A partir dos objectivos centrais do ensino de Língua Portuguesa, deve -se
promover o raciocínio lógico -científico do aluno, com base em actividades
reflexivas, para que ele desenvolva o conhecimento (…) de modo a fazer
opções linguísticas conscientes na p rodução de textos orais e escritos.
Dessa forma, o ensino de gramática estará atrelado a todas as outras competências – não só
linguísticas – a serem desenvolvidas pelos alunos. Se configura, então, uma
interdisciplinaridade, na qual é passível a afirmaçã o de que:
O objectivo de desenvolver o raciocínio, a capacidade de pensar, de ensinar a
fazer ciência é um objectivo educacional mais amplo e não especificamente do
ensino de língua materna. Para atender este objectivo, o professor deverá
buscar desenvolve r no aluno a habilidade de, diante de factos e fenómenos do
mundo (natural ou social) ser capaz de observar, formular hipóteses e buscar
sua comprovação ou falsificação (TRAVAGLIA, 2009:102).
Assim, as aulas de gramática terão um teor de pesquisa. Os alu nos, por sua vez,
desenvolverão a sua capacidade de raciocinar, pensar e sua independência intelectual. É
interessante perceber que, de certa forma, os alunos poderão aprender sozinhos, tendo a
possibilidade de concordar com o conhecimento já existente, cr iticá-lo e criar um
22
conhecimento inédito. O estudante perceberá que as normas sociais de uso da língua são
escolhas baseadas em muitos factores, por vezes não linguísticos.
Pode -se dizer, também, que a gramática passa a ser trabalhada sob uma perspectiva d e acção –
reflexão -acção. O aluno actua naturalmente, em princípio, como usuário da língua. Por meio
das aulas de Língua Portuguesa, ancoradas na gramática reflexiva, é levado à observação,
análise e reflexão sobre a língua, e, em virtude disso, aumenta o se u repertório linguístico.
Assim, eleva sua competência comunicativa, que o fará ter mais subsídios ao utilizar a língua
em situações de comunicação oral e/ou escrita. Afinal, segundo CASTILHO e ELIAS
(2012:14), o ensino da língua é muito mais uma reflexão sobre ela do que outra coisa.
De facto, o ensino de gramática analítico -reflexiva é uma inversão da ordem tradicional de
ensino. Nesse sentido inicia -se com a formulação de perguntas, para que juntos, professor e
aluno, cheguem às respostas. Embora o pro fessor seja o condutor da actividade, anda junto
com seus alunos neste circuito de descobertas.
Deve ser também, um ensino harmonioso na relação entre o ensino da gramática normativa e
a contextualizada, sem descartar as nomenclaturas, terminologias e reg ras, as quais são
fundamentais para o desenvolvimento social e cultural dos alunos.
Portanto, a preocupação com o ensino de gramática nas escolas, deve decorrer pelo facto do
processo de ensino -aprendizagem da língua revestir -se de grande complexidade e v ir sendo
considerado como um dos principais responsáveis pelo baixo nível de conhecimentos
linguísticos dos educandos sobre o uso da língua.
2.3. Tipos de Gramática
VIEIRA e BRANDÃO (2007:15) apresentam, além da gramática normativa, outros três tipos
de gramática: descritiva, gerativa e funcional.
2.3.1. Gramática Normativa
Essa é a mais conhecida pela população. Conforme dito anteriormente, a gramática normativa
é a que impõe as regras para o bom funcionamento da língua falada e escrita, além de ser a
ensinada nas escolas.
23
Na óptica de VIEIRA e BRANDÃO (2007:15), “entende -se, neste tipo de gramática, que a
língua deve ser utilizada de forma correcta, em qualquer situação de fala e escrita, ignorando
as variações que, inevitavelmente, existem no português”. Endeusada por seus falantes, essa
gramática é o que se pode chamar de “preconceituosa”, por não aceitar as variações, além de
ser o “terror” de muitos estudantes, tendo em vista a dificuldade de entendimento de suas
regras complexas.
O domínio da língua culta é o objectivo dos professores de português que utilizam essa linha
de ensino, pois essa é a prestigiada pela sociedade.
Segundo ANTUNES (2007:30), as regras de concordância e da regência verbal são as
modalidades da sintaxe que mais se enca ixam nesse perfil social, já que aí se encontram as
normas para um falar “sem erros”.
No entanto, é de salientar que a norma culta não deve ser desmerecida. Ela se encaixa em
determinados níveis sociais e em situações específicas, assim como todas as outra s. Em
momentos formais, ela é estritamente necessária, como por exemplo, numa entrevista de
emprego. Em contramão, quando o falante estiver conversando com os amigos ele não deverá
usar uma língua formal, pois o ambiente não é propício para essa linguagem. A gramática
normativa é importante, mas não essencial.
2.3.2. Gramática Descritiva
A definição de gramática descritiva é muito parecida com a da gramática normativa, podendo
ser confundidas.
De acordo com POSSENTI (2004:66), “a visão da gramática descriti va é a de explicar como a
língua é falada, o ponto -chave da diferenciação com a gramática normativa”.
Pode -se apresentar alguns exemplos de diferenças entre o que se espera da gramática
normativa e o que revela uma gramática descritiva (Op. Cit):
a) As segun das pessoas do plural que são encontradas nas gramáticas desapareceram. Na
verdade, desapareceu tanto o pronome quanto a forma verbal. O vós passou a ser
vocês e o fostes, no caso da forma verbal, passou a ser foram – ficando: vós fostes e
vocês foram.
24
b) Os futuros sintéticos praticamente não são mais ouvidos, apesar de serem utilizados na
escrita. Na oralidade, o futuro é expresso por uma locução verbal: vou sair, vou
cantar… e não mais pela forma sintética: sairei, cantarei. O mesmo pode ser dito do
preté rito mais -que-perfeito, que, apesar de ainda ser ensinado nas escolas, não é mais
usado na oralidade. O fora, cantara são expressos por tinha ido, tinha cantado.
c) O infinitivo perdeu a sua marca. As pessoas, na oralidade (é sempre bom ressaltar),
não usam m ais o “r”; dormir passou a ser dormi, com um “i” mais prolongado, como
se estivesse acentuado.
d) As formas de terceira pessoa em posição de objecto directo “o/a/os/as” também não se
ouvem mais; ocorrem eventualmente na escrita. Foram substituídas por
ele/ela /eles/elas, apesar de parecer um escândalo a certos ouvidos. O mesmo ocorre
com a forma “lhe(s)” a qual agora funciona como objecto directo, alternando com a
sua função de objecto indirecto, sendo substituídas, na maioria das vezes, por “a/para
ele ou a/pa ra ela”.
e) O pronome “nós” foi substituído por “a gente”, tanto na fala, o que é mais comum,
quanto na escrita.
Com esses exemplos ficou mais nítido o conceito de gramática descritiva, quando se fala em
gramática do uso da língua. Percebe -se que as regras im postas pela gramática normativa não
podem ser direccionada à fala da mesma maneira que à escrita. A fala aceita variações e a
escrita não.
A gramática descritiva, de acordo com ANTUNES (2004:33), “não foca elementos estruturais
da língua e sim hipóteses do uso considerado padrão, ou ainda uma língua, que ao invés de ser
usada em situações soltas e descontextualizadas, segue uma linha contextualizada e de uso
real”.
VIEIRA e BRANDÃO (2007:15) classificam a gramática descritiva como sendo aquela que:
Pretende depreender o sistema de uma língua, através do estabelecimento de
unidades no interior de cada sistema e de suas relações opositivas”, ou seja, a
língua deve ser estudada como ela é e não somente através de sua estrutura,
deve ser vista de forma heterogén ea tanto na fala quanto na escrita, sem
descartar, mas adaptando, as regras de uso.
HOUAISS (2004:315), em seu dicionário, segue a mesma linha de Vieira e Brandão, quando
da rubrica – linguística estrutural “Descrição sincrónica de uma língua fundamentada nos
25
postulados do estruturalismo, e que adopta a concepção de língua como um sistema em que
todos os elementos são interligados e interdependentes e a noção de oposição”.
Quando da rubrica – linguística, Houaiss segue a mesma concepção de Possenti “descrição
sincrónica, rigorosa, objectiva e completa (abarcando a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a
semântica) de qualquer das variantes de uma língua, sem pré -julgamentos quanto à correcção
gramatical, a partir de um corpus de enunciados produzidos espontaneamente por falantes
nativos”.
2.3.3. Gramática Gerativa
Segundo ANTUNES (2007:26), “gramática gerativa, também conhecida como gramática
gerativista, é aquela em que se constitui um sistema de regras direccionadas para a
competência linguística”. I dealizada por Noam Chomsky, essa gramática retrata o
conhecimento mentalizado que os falantes possuem da língua, uma competência linguística.
Exemplificando gramática gerativa, ANTUNES (2007:26), apresenta o seguinte exemplo:
Uma criança de dois anos e quatro meses, ao ser interrogada se queria falar pelo telefone
com a avó, respondeu prontamente:
– Quero
Observa -se que essa criança não disse “queremos”, “quis”, “querem”, nem outra coisa
qualquer que não fizesse sentido nessa situação específica. Pelo contr ário, usou o verbo no
tempo, pessoa, número e modo adequados.
Diante disso, fica nítida a afirmação de que o falante, mesmo não tendo frequentado a escola e
tido noções de gramática, que certamente seriam passadas na terceira ou quarta série do
ensino fund amental, ou seja, muito tarde, possui uma base da língua suficiente para a
comunicação.
Por sua vez HOUAISS (2004:315), define a gramática gerativa da seguinte maneira, “quando
da rubrica – linguística: descrição de uma língua que usa regras formalizadas, constituindo um
conjunto de instruções inteiramente explícitas e de aplicação mecânica, e que são capazes de
gerar todas as frases gramaticais de uma língua e nenhuma agramatical”.
26
2.2.4 . Gramática Internalizada
No item anterior, em diversos momentos foi m encionada a existência de outra gramática, a
internalizada.
POSSENTI (2004:69) define gramática internalizada como “o conjunto de regras que o
falante domina. Isso significa que o falante, mesmo sem ter frequentado a escola, possuiu
conhecimento gramatical suficiente para se comunicar”.
Um exemplo de gramática internalizada, comum, é o facto de que as crianças com pouco
tempo de vida conseguem se comunicar sem problema, apesar das frases não serem coesas.
ANTUNES (2007:27), apresenta o seguinte diálogo:
– Quem quer falar com a vovó? Pergunta a mãe de um garoto e ele responde:
– Eu quero! – ou, simplesmente:
– Eu.
Ambas as respostas estão correctas. Na primeira a criança utilizou uma estrutura mais
complexa, colocando tanto o sujeito quanto o verbo devidament e conjugado; na segunda, ela
omite o verbo e mantém somente o sujeito. Dependendo da idade, a criança utiliza uma
estrutura mais secundária, como “eu qué”, ou “qué”.
ANTUNES (2007:27) coloca ainda que:
Se uma criança diz ‘minhas colegas e meus colegos’, ‘u m algodão’ e ‘um
algodinho’, é porque já domina as regras morfossintáticas de indicação do
masculino e do feminino, bem como as regras de indicação do aumentativo e do
diminutivo em português. Ou seja, já sabe esses pontos da gramática.
SCHERRE apud ANTUNE S (2007:27) afirma ainda que “com 3 anos de idade, qualquer
criança de qualquer parte do mundo se comunica com estruturas linguísticas complexas”.
27
2.2.5. Gramática Funcional
De uma forma geral podemos afirmar que o papel da gramática funcional é o de verificar o
modo como a língua está sendo usada em seu dia -a-dia. Ou seja, se aceita aqui o facto de que
a língua é dinâmica e está sujeita a variações.
Para os que seguem essa linha o importante é a interacção verbal, tendo em vista que é através
dela que se conhece a relação interacional entre os indivíduos, fazendo com que fica
estabelecida a comunicação entre eles.
FRAGOSO (2009:89) propõe algumas características do funcionalismo, tais como:
1. A língua é um instrumento de interacção social;
2. A principal f unção da linguagem é mediar a comunicação;
3. A capacidade linguística do falante compreende não só a habilidade de construir e
interpretar, mas também de usar tais expressões de maneira apropriada e efectiva;
4. As expressões linguísticas são compreendidas quan do consideradas dentro do
contexto;
5. Os universais linguísticos são explicados através dos fins de comunicação.
As teorias que norteiam a gramática funcional referem -se, em grande parte, à competência
comunicativa, ou seja, a capacidade que o ser tem de se interpretar a situação discursiva de
maneira apropriada. “Os universais linguísticos, sob a luz dessa abordagem, se constituem de
uma derivação da universalidade dos usos da linguagem nas sociedades humanas. (Op. Cit)
Em suma, podemos dizer que a gramática funcional trabalha com a perspectiva da
emissão/recepção, isto é, o usuário tem a intenção de emitir a mensagem de tal maneira que o
ouvinte consiga entendê -la, descodificá -la e interpretá -la de acordo com a situação discursiva.
2.3. Oralidade
De acordo com MENDONÇA (2003:04), “a oralidade é um dos quatro domínios de ensino e
aprendizagem previsto no Programa de Língua Portuguesa para além da leitura, escrita e
funcionamento da língua”. A compreensão e expressão oral é uma das competências
privilegiadas n o perfil do aluno do Ensino Secundário. Essa competência permitirá ao aluno
como um cidadão activo a participar na mudança, contribuindo para maior autonomia na
28
comunicação e uma maior integração social. A pedagogia do oral é um produto tardio na
cultura e scolar.
A Linguística Moderna veio dar ênfase à realidade oral e interaccional da linguagem. Hoje as
escolas devem criar condições para a aquisição de competências comunicativas e permitir aos
alunos trabalharem o domínio da oralidade em contextos e regis tos variados.
A pesquisa da oralidade é uma inquietação que se tornou mais proeminente no âmbito da
Linguística, a partir do momento em que os teóricos da linguagem perceberam que a fala
poderia ser um objecto de pesquisa, o que veio de certa forma expandi r, assim, a visão dos
estruturalistas, linguistas para quem a língua como actividade ou modelo estrutural de
gramática, que conforme CASTILHO (2012:24) “buscavam o que nela era homogéneo e,
assim, os gerativistas analisavam -na de forma contemplativa, sem l evar em conta qualquer
que fosse o contexto em que a fala estava inserida”.
Dessa forma, os estudiosos que escolheram a fala como objecto de estudo, começaram a levar
em consideração a língua como uma actividade, uma forma de acção e factores, como, por
exemplo: quem falou, em que condição falou e para quem falou, antes ignorados, que
passaram a ter uma importância especial.
Com relação às distintas formas de ver os factos linguísticos, CASTILHO (2000:11) cita de
maneira mais específica, que “a linguagem é um objecto escondido, que para ser elaborado
parte -se de um ponto de vista de postulações prévias que constituirão a linguagem como um
objecto cientificamente analisável”. Conforme esse teórico, há três grandes postulações
teóricas para interpretação da li nguagem humana: a língua como actividade mental, a língua
como uma estrutura e a língua como actividade social.
Portanto, entende -se aqui com base na teoria gerativista que a língua é uma capacidade inata
do homem, que lhe permite reconhecer as sentenças, atribuindo -lhes uma representação
fonológica. A língua é como estrutura na medida em que as diferentes línguas naturais
dispõem de um sistema composto por signos, distintos entre si por contrastes, organizados em
níveis fonológico e gramatical. E a língua como uma actividade social, por meio da qual
veiculamos as informações, exteriorizamos nossos sentimentos e agimos sobre o outro.
Segundo HALLIDAY (1987:37):
Uma gramática que assim entende a língua, como é o caso da gramática
funcional, procura os pontos -chave entre as estruturas identificadas pelo
29
modelo anterior e aos contextos sociais em que elas emergem, ao
contextualizar a língua no âmbito social.
Portanto, essas teorias vêem a língua como um fenómeno homogéneo, como algo que deve
ser testado minucios amente independente de suas condições de produção, ou seja, elas se
ocupam de enunciados. A terceira teoria vê a língua como um fenómeno heterogéneo. Na
linguística, há oscilação entre esses dois pólos em algum momento. Enfatiza -se a língua como
um enuncia do, valorizando as gramáticas formais estruturais e gerativas; em outros instantes,
destaca as gramáticas funcionais.
Tais considerações sobre os factos linguísticos tiveram como prenunciador e elo de
inspiração, entre tantos, BAKHTIN (1992:125) que decla rou:
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstracto
de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo
acto psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenómeno social da
interacção verbal, realizada atravé s da enunciação ou das enunciações. A
interacção verbal constitui assim a realidade fundamental da língua.
A linguagem humana é essencialmente dialógica, mesmo em sua forma escrita. Uma das
inconfundíveis razões disso é que, na língua escrita, é imprescind ível mencionar as
coordenadas espaço -temporais em que se movem as personagens, ao passo que na fala, tais
coordenadas já estão dadas pela própria situação de fala (CASTILHO, 2000:89).
Para MENDONÇA (2003:05), a língua falada e a língua escrita apresentam d íspares funções.
Enquanto para a fala é mais comum a função de trazer a informação, ainda assim, possui de
marcas que demonstram certas familiaridades, além de valer -se de expressões mais
coloquiais. Para a escrita, exige -se uma certa independência em sua estrutura e possui marcas
mais formais, tanto que a desenvoltura para escrever depende muito da aquisição de domínios
de determinadas habilidades linguísticas.
Logo, para o desenvolvimento da escrita, é necessário antes de tudo um tema, algo a fim de
que s e possa escrever e o material deve ser organizado com um certo cuidado, o que deve ser
formado um todo coerente, uniformizado, com variações de tópicos justificados e explícitos.
A estrutura gramatical da língua escrita faz que a mesma se apresente de form a mais explícita
por si só.
Essa visão de dicotomia entre oralidade versus escrita, em que a primeira é tida com superior
à segunda, conforme MENDONÇA (2003:05) esteve presente nos estudos linguísticos por
muito tempo, veio tomar novos horizontes ou ser qu estionada a partir dos anos 80, quando
30
alguns teóricos viram essas modalidades como práticas sociais diferentes. Sobre isso nos diz
MARCUSCHI (2000:17):
(…) hoje predomina a posição de que se pode conceber oralidade e letramento
como actividades interact ivas e complementares no contexto das práticas
sociais e culturais. Uma vez adoptada a posição de que lidamos com práticas
de letramentos e oralidade, será fundamental considerar que as línguas se
fundam em usos e não o contrário.
Tal teórico nos diz també m, que “numa sociedade como a nossa, a escrita, compreende um
dos recursos tecnológicos mais eficazes”. Assim, esse autor, levanta a hipótese de que o facto
de se ter tornado tão importante, a língua escrita, aproveitou -se de um “status mais alto”.
Embora, conforme o autor, sobre o ponto de vista central da realidade humana, o homem pode
ser definido como um ser que fala e não como um ser que escreve, mesmo assim, isso não
torna a fala superior à escrita e tão pouco se admite a convicção de que a fala é pri mária.
31
CAPÍTULO III
4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Como já havia sido mencionado na parte introdutória, o quarto capítulo deste trabalho diz
respeito à análise e interpretação de dados resultantes da pesquisa feita na Escola Primária do
1ș e 2ș Grau 17 de Setembro, concernente ao “Papel da Gramática para o Desenvolvimento da
Oralidade dos alunos do Ensino Básico”, com vista a chegarmos aos dados concretos do
problema da pesquisa.
Desta feita, os dados analisados correspondem às informações fornecidas pelos alunos e
professores. A amostra utilizada para col ecta de dados corresponde a trinta (30) alunos e três
(03) professores, que foram codificados, passando a ser tratados conforme a letra do seu
código. De A1 à A30 referem -se aos alunos; P1à P3 refere -se aos professores. Portanto, a
partir dos dados colecta dos nos questionários e nas entrevistas efectuadas, são apresentadas as
respostas colhidas para cada pergunta.
4.1. Análise de dados resultantes do questionário dirigido aos alunos
4.1.1. Gosto pela Gramática
Quando questionados os trinta alunos, se gostavam de estudar a gramática na aula de língua
portuguesa, a maioria achou a gramática bastante interessante e significativa, pois os
conhecimentos são parcialmente utilizados no dia -a-dia, como podemos observar no quadro
da página a seguir:
32
Quadro 01: Respostas sobre o gosto pela gramática
Questão 01: Gostas da Gramática? Justifica.
Informante Sim Não 100%
A19 “…porque nos ensina muitas coisas:
como conversar, como nos comunicar e
como usar uma palavra que nos mostra
muitos significados…”
3%
A14 “…aprendemos uso de vírgulas,
ortografia, interpretação de texto …”
3%
A23 “…porque tenho
dificuldade na
disciplina de
português…”
3%
A5 e A13 “…porque eu acho as aulas muito
interessantes…”
“…porque trabalhamos com a leitura,
mímica e por que é muito interessante
no dia -a-dia …”
6%
A6 “…porque eu não gosto
de coisas complicadas
de entender …”
3%
A11 “… eu pessoalmente amo a língua
portuguesa (…), eu não quero passar
vergonha na frente de ninguém falando
errado ou escrevendo errado…”.
3%
Fonte : Autor
33
Com base no quadro anterior , podemos notar que somente sete porcentos (7%) dos
informantes, que corresponde a dois alunos, responderam não gostar da gramática, isto porque
consideram ser difícil de entender como afirma A6 “…porque eu não gosto de coisas
complicadas de entender …”. Diante dos dados, podemos afirmar que em parte os alunos
informantes estão certos, uma vez que cada um tem concepções diferentes de gramática.
4.1.2. Importância de Aprender a Gramática
Quadro 02 : Respostas sobre a importância de aprender a gramática
Questão 02: Consideras pertinente aprender a gramática? Justifica.
Informante Sim Não 100%
A9 “…saber uma língua equivale a saber sua
gramática…” 3%
A29 “…porque saber a gramática de uma língua é o
mesmo que dominar totalmente essa língua…”
3%
A8 “…porque ajuda o aluno a compreender a
língua portuguesa …” 3%
A1 “…a gramática ajuda o aluno a compreender e
produzir textos…”. 3%
A30 “…ajuda o aluno a saber falar…/…comunicar
com lógica…” 3%
A17 “…a gramática ajuda o aluno a falar e escrever
correctamente…” 3%
Fonte : autor
Conforme as respostas apresentadas no quadro acima, pode -se notar que todos os informantes
foram unânimes ao considerarem pertinente aprender a gramática, por várias razões, sendo
uma delas a concepção de que língua e gramática são uma só coisa que deriva do facto de,
ingenuamente, se acreditar que a língua é constituída por de uma única componente: a
gramática. Nessa óptica, como afirma, por um lado, A9 “…s aber uma língua equivale a saber
34
sua gramática…”, por outro lado, A29 “…saber a gramática de uma língua é o mesmo que
dominar totalmente essa língua…”.
No entanto, importa -nos ressaltar que o ensino de gramática, não deve ocorrer apenas para
proteger ou co nservar a composição da língua, mas para auxiliar o usuário e falante no
conhecimento de sua própria língua materna, possibilitando -lhe as características essenciais
que pertencem à sua cultura. Deve ser também, um ensino harmonioso na relação entre o
ensino da gramática normativa e a contextualizada, sem descartar as nomenclaturas,
terminologias e regras, as quais são fundamentais para o desenvolvimento social e cultural
dos alunos.
4.1.3. O Papel da Gramática no Desenvolvimento da Oralidade
Quadro 03 : Res postas sobre o papel da gramática no desenvolvimento da oralidade
Questão 03: A gramática ajuda o aluno a desenvolver a oralidade? Justifica
Informante Sim Não 100%
A4 “…a gramática ajuda o aluno a conhecer
as regras da oralidade…” 3%
A22 “…ajuda o aluno a construir frases e falar
sem erros…” 3%
A1 “…faz com que o aluno tenha uma boa
pronúncia…” 3%
A30 “…falar de uma forma compreensiva…” 3%
A13 “…facilita a conhecer palavras e como
pronunciá -las…” 3%
A8 “…porque o aluno articulará bem as
palavras…” 3%
Fonte : Autor
35
Podemos verificar a partir das respostas fornecidas no quadro anterior , que a gramática
contribui bastante para a oralidade do aluno, e, consequentemente a escrita, onde dentre as
afirmações apontadas podemos observar as seguintes afirmações de A4 “…a gramática ajuda
o aluno a conhecer as regras da oralidade…” e A22 “…ajuda o aluno a construir frases e falar
sem erros…”. Portanto, pode -se concluir com base nessas passagens, que os alunos têm um
conhecimento de o que é gramática e qual é o seu papel para a oralidade dos alunos no ensino
básico.
4.1.4. Construção de Frases
Quadro 04 : Respostas sobre construção de frases
Questão 04: Constrói ou escolhe frases lógicas através das palavras que se encontram
dentro de parênteses:
Informante Respostas 100%
A3-A5 e A18 -23 a) *O João ofereceu ao irmão um livro e
comprou 30%
A7, A9 -11, A30, b) *Encontramo -nos quando íamos na escola 17%
A1-30 c) *Se tu veres o Baltazar não hesite a verdade 100%
A5, A7, A12, A30 a) O João comprou um livro e ofereceu ao irmão 13%
A4-6, 12 -17, A20 -27 b) *Íamos na escola quando encontramo -nos 57%
A1, A6, A8 -11, A13 -17, A24 –
29 a) *O João comprou um livro e ao irmão
ofereceu 57%
A2-3, A8, A18 -19, A28 -29
b) Encontramo -nos quando íamos à escola 26
Fonte : Autor
Como se pode notar com base nas respostas ilustradas no quadro 04, os alunos têm
dificuldades em integrar as palavras dentro da frase, o que acaba criando frases agramaticais,
36
o mesmo que dizer que constroem frases erradas, como se pode verificar em “*O Jo ão
ofereceu ao irmão um livro e comprou”/“*Encontramo -nos quando íamos na escola” e “*Se tu
veres o Baltazar não hesite a verdade”. Nas primeiras duas sequências encontramos frases
cuja agramaticalidade resulta da alteração do padrão básico da frase (SVO), passando a
ocorrer o objecto directo na posição do indirecto como o caso da primeira sequência, e na
segunda frase ocorre a troca da contracção de preposição crase (à) pela fusão (na) o que indica
estar no interior de alguma coisa, o que não é o caso.
Na terceira sequência encontramos o mau uso da forma verbal do futuro imperfeito do modo
conjuntivo, pois os alunos ao invés de usarem o tempo verbal “vir” usaram “ver” motivados
assim pelo infinito do verbo “ver”.
4.2. Análise de dados resultantes do que stionário dirigido aos professores
4.2.1. Norma Padrão
Em relação à norma padrão, olhando para as respostas dos informantes, todos foram unânimes
em afirmar que têm discutido nas suas aulas as diferenças entre Língua falada e Língua
escrita, como pod emos verificar no quadro abaixo:
Quadro 05: Respostas sobre ensino da norma padrão
Questão 01: Tem discutido nas suas aulas as diferenças entre Língua Falada e Língua
Escrita? Caso sim, o que costuma salientar?
Informante Sim 100%
P1 “… a Língua falada permite que o cidadão cometa alguns
“erros” de construção; já a Língua escrita exige ser elaborada a
partir das regras gramaticais prescritas…”
33%
P2 “…é necessário que o aluno tenha uma vasta leitura do mundo e
de palavra (…), deverá ler para entender (…), qualquer tipo de
texto, independente da linguagem…” 33%
P3 “…uma implica a forma coloquial e a outra a norma culta da
Língua…” 33%
Fonte : Autor
37
De certa forma, as três respostas acabam relacionando -se, pois, para se falar correctamente
também é necessário obedecer as regras impostas pela gramática. Como afirma ROCHA
(2002:41), “nota -se que hoje em dia que a maioria dos professores de Português e a
comunidade em geral reconhecem a importância de ensinar o dialecto padrão ao aluno”.
Em geral, os informantes têm uma educação linguística, nota -se também que nenhum dos
informantes ignorou a Língua falada, pelo contrário, afirmam que ajuda muito a ensinar a
norma culta.
4.2.2. Habilidades necessárias para se tornar um bom produtor de textos orais e escritos
Quanto às habilidades que são necessárias para o aluno tornar -se um bom produtor de textos
orais e escritos, os informantes ainda foram unânimes em afirmar que a base é a leitura, como
podemos observar no quadro 06, onde vêm as respostas d os informantes:
Quadro 06: Respostas sobre as habilidades necessárias para se tornar um bom produtor de
textos
Questão 02: Na sua concepção, que habilidades são necessárias para o aluno se tornar
um bom produtor de textos orais e escritos?
Informante Respostas 100%
P1 “… leitura de textos jornalísticos, clássicos e prática de
discurso…” 33%
P2 “…é necessário que o aluno tenha uma vasta leitura de mundo e
de palavra, além disso, deverá ler para entender, assim poderá
desenvolver qualquer tipo de texto, independente da
linguagem…”
33%
P3 “…não é possível escrever um texto sem conhecer a leitura e
escrita (…), quando estimulado nas classes iniciais…” 33%
Fonte : Autor
Como podemos notar, a prática da leitura é vista pelos informantes como a habilidade
necessária para o aluno se tornar um bom produtor de textos orais e escritos. Entretanto, isso
38
só ocorre quando o aluno é motivado ainda nas classes iniciais dentro e fora da escola, como
afirmou P3 “… quando estimulado nas séries iniciais…”.
Assim, o objectivo das aulas de Língua Portuguesa deveria ser sempre ensinar ao aluno tudo
aquilo que ele poder efectivamente usar com finalidade de melhorar sua capacidade de
expressão e de comunicação, tanto em sua modalidade oral quanto escrita.
4.2.3. Finalidade do ensino da norma culta
Quadro 07 : Respostas sobre a finalidade do ensino da norma culta
Questão 03: No seu ponto de vista qual é a finalidade do ensino da norma culta?
Informante Respostas 100%
P1 “… a produção de textos escritos e também preparar os alunos
para um universo competitivo no mercado de trabalho…” 33%
P2 “… é ela quem padroniza com suas regras a forma correcta da
escrita e dos aspectos da fala…”
33%
P3 “… preparar o aluno para a compreensão do mundo (…),para
que o cidadão tenha acesso ao mercado de trabalho em pé de
igualdade com os outros candidatos…” 33%
Fonte : autor
Conforme as afirmações dadas pelos informantes no quadro anterior, podemos concluir que a
norma culta tem como finalidade básica formar os alunos para a produção de textos de
natureza escrita, bem como prepará -los linguisticamente de modo a responderem os anseios
profissionais.
Entretanto, discordamos com a info rmação dada por P2 que a norma culta possa padronizar de
forma “correcta” a fala, uma vez que não podemos monitorar diariamente a Língua falada, até
porque, para comunicarmos, devemos adequar a linguagem ao contexto inserido, como
ressalta BAGNO (2006:16) “a norma culta tem como finalidade manter -se inalterada o
máximo de tempo possível, é conservadora e demora muito a aceitar algum tipo de novidade”.
39
4.2.4. Como a escola deve ensinar a norma padrão
Em relação a esta questão, os informantes afirmaram que o ensino da norma cultura na escola
deve ser conduzida pela Língua que o aluno traz de casa, isto é, valorizar a Língua para
posteriormente fazer -se uma comparação entre as duas, porém, não sendo necessariamente
uma comparação discriminatória entre a Língu a já trazida pelo aluno com a norma padrão,
senão uma forma de mostrar o aluno o quanto importante é a norma padrão em contexto
formais. Podemos observar esses dados no quadro que se segue:
Quadro 08: Resposta sobre como a escola deve ensinar a norma
Questão 04: Como a escola deve ensinar a variedade de maior prestígio (a norma
Culta)?
Informante Respostas 100%
P1 “…enfatizando que o conhecimento que se tem da Língua no
dia-a-dia torna -se de grande importância para a norma culta…”. 33%
P2 “…através de textos variados e actividades lúdicas que
despertem o interesse dos educandos…” 33%
P3 “…deve valorizar a Língua trazida pelo aluno para a escola.
Depois, de forma suave, mostrar para esse aluno a importância
da norma culta no processo de formação social, educacional e
principalmente profissional…”
33%
Fonte : Autor
4.2.5. Ensino da Gra mática
Quando questionados os nossos informantes acerca do ensino da gramática na actualidade
comparado ao antigamente, eles apresentaram algumas diferenças de como a gramática hoje é
concebida, como podemos verificar no quadro 09 da página seguinte:
40
Quadro 09: Respostas sobre o ensino da gramática actualmente
Questão 05: Como tem concebido o ensino de gramática nas escolas nos dias actuais?
É diferente do ensino ocorrido antigamente? Comente.
Informante Sim 100%
P1 “…o método mudou, mas o ensino ainda é o mesmo, pois a
gramática é e sempre será o conteúdo básico para todos os
níveis da Educação básica…”
33%
P2 “…não muito. Hoje ele é mais amplo, questionável e trabalha as
dificuldades apresentadas no acto da aprendizagem (…). Para
mim a importância das regras deve ser reconhecida pois nesses
métodos será fixada a receita e os ingredientes…”.
33%
P3 “…sim, de forma integrada nos textos, pois antigamente era tida
de forma isolada (…), a Educação passou por algumas mudanças
no decorrer da história mas ainda é deficitária no ensino da
gramática, a diferença é pouca em relação ao ensino antigo (…).
Outros apostam trabalhar a partir dos vários géneros e tipologias
de textos do quotidiano já que estamos rodea dos de informação
escritas…”
33%
Fonte : autor
Assim, olhando para as afirmações que são apresentadas no quadro acima, bem como a
realidade que se vive hoje na aula de Português, podemos notar que o método juntamente com
ensino da gramática mudou, o que nos leva a não concordar com a resposta fornecida pelo P1
““…o método mudou, mas o ensino ainda é o mesmo, pois a gramática é e sempre será o
conteúdo básico para todos os níveis da educação básica…”, pois houve mudança sim, tanto
no método quanto no ensin o de gramática. Conforme ROCHA (2002:85):
A mudança deve -se, em parte, ao grande número de teorias, escolas e
modismos que assolaram o ensino da língua materna nos últimos vinte ou
trinta anos, teve o estruturalismo descritivista, a linha francesa de
interpretação de texto, o gerativismo, a teoria da comunicação entre outras,
neste caso a gramática é apenas um acessório que deve ser consultado
quotidianamente.
41
Portanto, os métodos da gramática bem como o ensino foram sofrendo alterações devido a
existência de várias escolas e teorias originadas pelas necessidades da realidade moderna. O
ensino de gramática, contudo, não deve permanecer na base da regra pela regra, explicada e
exercitada com palavras e frases soltas. Não adianta também utilizar textos apenas como
pretextos, ou seja, apenas retirando -se deles palavras ou frases e continuando -se com um
ensino meramente normativo e classificatório, pois, de acordo com PRESTES (1996:52), “é
preciso atentar para que esse ensino mais sistematizado da gramática seja visto em uso e para
o uso, constatando -se sua funcionalidade e procurando -se inseri -lo em situações reais ou que
se aproximem o máximo possível dessa realidade”.
4.2.6. A aplicação da gramática pelo aluno
Quadro 10: Respostas sobre a aplicação da gramáti ca pelo aluno
Questão 06: Na sua opinião, em que circunstâncias o aluno aplica a gramática que lhe é
ensinada?
Informante Respostas 100%
P1 “…a gramática pode ser aplicada na produção de textos e no
dia-a-dia da escola…”
33%
P2 “…trabalhos escolares e fins individuais (…). Além de, pode -se
aplicada na elaboração de textos como bilhetes, recados, entre
outros…” 33%
P3 “… em diversas situações, principalmente em provas (…). O
aluno depara -se constantemente com a necessidade de se
comunicar, a gramática é a luz para uma comunicação solta…” 33%
Fonte : Autor
Portanto, podemos concluir que de uma forma consciente ou inconsciente aplicamos a
gramática no nosso dia -a-dia, conforme respostas dos informantes. Ela está presente desde a
constituição da Língua como facto social, sendo por isso, que ROCHA (2002:20) salienta que
“é necessário que o professor deixe claro os objectivos do ensino de Língua Portuguesa, bem
como qual a finalidade de uso”.
42
4.2.7. Reacção dos alunos no ensino da gramática
Quand o questionados os nossos informantes, em relação às reacções apresentadas pelos
alunos no momento de ensino da gramática, eles responderam o seguinte como vem no
quadro a seguir:
Quadro 11 : Respostas sobre a reacção dos alunos quanto ao ensino da gramática
Questão 07: Que reacção os alunos demonstram em relação ao ensino da gramática?
Informante Respostas 100%
P1 “… na maioria das vezes, eles se mostram interessados.
Entretanto, a reacção depende muito da faixa etária dos alunos e
da classe dos mesmos…”
33%
P2 “… reacção de descoberta (…), depende muito do professor,
para dar um novo sentido ao ensino da gramática…” 33%
P3 “…acham difícil no princípio, mas depois acham normal, pois o
erro torna -se ‘feio’…” 33%
Fonte : Autor
Segundo os informantes pode -se concluir que os alunos apresentam dificuldades, pois, existe
um tabu em relação a isso, ou seja, que é difícil, ou “chato”. Existe ainda a reacção de
preguiça, isto é, reclamam que a gramática é difícil, mas, no final, eles conseguem aprender o
básico.
4.2.8. Recursos didácticos usados no ensino da Gramática
Em relação a esta questão, os informantes, nes te caso professores, afirmaram apoiar -se de
vários recursos didácticos, com vista a facilitar o ensino da gramática na aula de Português,
como podemos verificar no quadro que se segue na outra página:
43
Quadro 12 : Respostas sobre os recursos didácticos usados no ensino da gramática
Questão 08: Que recursos didácticos tem utilizado para ensinar?
Informante Respostas 100%
P1 “…dependendo da infra -estrutura da escola, são grandes
recursos mas os recursos básicos são o giz, quadro, livro…”
33%
P2 “… para desenvolver um bom projecto é necessário ser criativo e
autêntico fazendo uso de revistas, jogos, jornais, oficinas e
outros recursos tecnológicos (…). Uso géneros textuais, figuras,
produção textual…” 33%
P3 “…quadro branco, jornais, criação de textos, elaboração de
trabalhos envolvendo os alunos como; um jornal cinema e
dramatização (…). Existem professores que usam somente
livros, textos orais e escritos…” 33%
Fonte : Autor
Conforme as respostas apresentada s no quadro acima, podemos verificar que os professores
do ensino básico não dispõem de muitos recursos. Segundo o que podemos observar durante o
estágio pedagógico e constatado nos dados, “todo o professor sempre carrega um giz e um
apagador, como recurso s mais utilizados.
Com relação à utilização dos livros didácticos, a maioria dos professores utiliza não somente
o livro, mas também outras fontes que enriquecem mais o processo ensino -aprendizagem, tais
como: para -didácticos, gramáticas, jornais e revista s. Entretanto, notamos que os livros são
um grande suporte para trabalhar e apresentar a realidade. Nem a tecnologia ultrapassa o vasto
conhecimento que se tem nos livros. É preciso ler para aprender mais e mais.
44
4. CONCLUSÃO E SUGESTÕES
4.1. Conclusão
A pesquisa desenvolveu -se visando responder as questões acerca do papel da gramática para o
desenvolvimento da oralidade, em específico, as concepções gramaticais que norteiam as
práticas dos professores de Língua Portuguesa; sendo por esta razão que concluímos, que a
formação académica dos profissionais influencia notoriamente no aprendizado do aluno,
partindo do princípio de que a formação contínua é fundamental na carreira do docente.
Confirmamos ainda, por meio dos dados analisados, a hipótes e de que “o ensino da gramática
diminui erros na comunicação oral dos alunos”. Nesse contexto, podemos afirmar que o
ensino da gramática é importante, pois a mesma oferece condições para o aluno ampliar seu
discurso linguístico em relação ao funcionamento da língua padrão, através do conhecimento
de regras gramaticais trabalhadas nas actividades aplicadas pelos professores que demonstram
as variedades linguísticas, levando o aluno a entender a estrutura, o uso e o funcionamento da
língua materna.
Outrossim, notamos que o giz, quadro preto e apagador são os materiais didácticos mais
usados pelos professores na aula de Português, concretamente no acto do ensino da gramática,
porém notamos que, o que falta no ensino da gramática é a aplicabilidade, pois para qu e haja
um ensino de qualidade, faz -se necessário que o estudo da gramática vá de encontro à vida do
aluno, a isto conceitua -se aplicabilidade.
A partir desse conceito, verificamos que não existe relação entre a teoria gramatical e a
prática de texto, porqu e para muitos estudar a Língua se generaliza em estudar a gramática
normativa. Por isso, existem tantas dificuldades nos alunos em elaborar um texto, pois a
gramática é estudada de forma separada, isto é, não entra em consenso com as outras
interacções da Língua, como a própria prática de produção textual, leitura, dentre outros.
Acreditamos assim, que há possibilidade da gramática condizer com a nossa realidade,
utilizando a própria fala dos alunos para pôr isso em prática, por exemplo, quando um aluno
expressa algo comum na fala de sua comunidade como os regionalismos e os neologismos,
pode -se aproveitar a oportunidade e intervir nessa fala, mostrando que, muitas vezes, há
várias formas de dizer a mesma palavra, que a Linguística explica todas essas varia ções e
posteriormente demonstrar como a gramática normativa usa essa palavra.
45
4.2. Sugestões
Diante disto, sugerimos que no ensino da Língua Portuguesa:
Os conhecimentos na área da linguística ocorram durante todo o processo escolar, pois
o ensino da gra mática se repita em todos os anos escolares, numa prática diária na sala
de aula, numa interacção formal e contextualizada, na oralidade e na escrita;
O ensino da gramática deve -se iniciar nos primeiros anos de escolaridade, pois a
criança desenvolve seu p ensamento a partir das descobertas que vão surgindo pelos
conteúdos aplicados na sala de aula, os quais contribuem para o desenvolvimento da
fala e escrita. A partir dessas descobertas conclui -se que todas as matérias básicas são
estimuladas pelo psicológi co ao longo de um processo de ensino -aprendizagem. Isso
ocorre de forma lenta, interactiva, colectiva e contextualizada.
Como também sugerimos, que no ensino da gramática os professores deve estar cientes que:
O ensino da gramática é importante tanto na escrita quanto na fala, isto porque o aluno
deve conhecer a estrutura, os usos e o funcionamento de uma língua nos seus diversos
níveis: fonológico, morfológico, lexical e semântico;
Sendo professor de Língua segunda desde a alfabetização até o último ano escolar,
deve estar atento a estas informações realizando sua tarefa de educador com precisão e
competência;
Ao ensinar a gramática, o professor deve levar em consideração algumas questões
como: o estudo colectivo, a cooperação e a competição, as quais pod em ajudar na
aprendizagem, no sentido de que as crianças com facilidade colaboram com as demais
crianças, também pode haver uma competição entre grupos, de forma que um seja
avaliado por outros, recebendo sugestões e reflexões para o próprio amadurecimento .
46
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Iran dé. Aula de Português : encontro & interacção. São Paulo: Parábola
Editorial, 2004.
_________________. Muito Além da Gramática : por um ensino de línguas sem pedras no
caminho. São Paulo: Parábola Editori al, 2007
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico : O que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola,
1999.
_________________. A língua de Eulália : novela sociolinguística, 15 ed. São Paulo:
Contexto, 2006.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal . São Paulo: Martins Fontes. 1992.
CASTILHO, Ataliba. T. de. A língua falada no ensino de português . São Paulo: Contexto,
2000.
CASTILHO, Ataliba T. de. ELIAS, Vanda Maria. Pequena gramática do português
brasileiro . São Paulo: Contexto, 2012.
FRAGOSO, Lu ane da Costa Pinto Lins. Revista Electrónica do Instituto de Humanidades .
Brasil. UNIGRANRIO. 2009.
GIL, António Carlos, Como elaborar Projecto de pesquisa . 4ă Ed. São Paulo. 2002.
HALLIDAY, M. A. K. Falar e escrever formas de significados. In: HOROWITZ, R.; KATO,
M. A. No Mundo da Escrita : uma perspectiva psicolinguística. 2ă Ed. São Paulo: Ática.
1987.
HOUAISS – Dicionário Electrónico . Retirado de: http://intra.senado.gov.br/houai ss/cgi –
bin/houaissnetb.dll/frame, disponível em 22/10/2009.
LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico ,
4ă ed. São Paulo: 2001.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita : actividades de retextualização. São Paulo:
Cortez, 2000.
47
MENDONCA, Albertina et al. Métodos e Técnicas de Expressão Oral – Ensino Básico e
Secundário , 1ă edição, Lisboa, ASA editores. 2003.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática -história, teoria, analise e ensino . São Paulo.
UNESP, 2002.
NEVES, Maria Helena de Moura. Texto e Gramática . São Paulo: Contexto, 2006.
PERINI, Mário A. Sofrendo a Gramática : ensaios sobre a linguagem. 3ă Ed. São Paulo: Ática,
2000.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola . Campinas, SP: Mercado d e
Letras: Associação de Leitura do Brasil. 2000.
_____________. Por que (não) ensinar gramática na escola . Campinas, SP: Mercado de
Letras: Associação de Leitura do Brasil, 2004.
PRESTES, Maria Luci de Mesquita. Ensino de português como elemento consciente de
interacção social : uma proposta de actividade com texto. Ciências & Letras. Porto Alegre:
FAPA, 1996.
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Gramática : nunca mais – o ensino da língua padrão sem o
estudo da gramática. Belo Horizonte, UFMG, 2002.
TRAVAG LIA, Luiz Carlos. Gramática e Interacção : uma proposta para o ensino de gramática. 14ă
Ed. São Paulo: Cortez, 2009.
VIEIRA, Sílvia Rodrigues. BRANDÃO, Sílvia Figueiredo. Ensino de gramática : descrição e
uso. São Paulo. Contexto. 2007.
48
Anexo
49
Anexo 1
Ficha de inquérito aos alunos
Caro aluno (a)! No âmbito da pesquisa sobre “O Papel da Gramática no
Desenvolvimento da Oralidade dos alunos do Ensino Básico”, pede -se que responda as
questões aqui colocadas. As questões têm somente o carácter científico e visam a
melhoria da qualidade de ensino.
Dados do Inquirido:
Escola Primária do 1ș e 2ș Grau 17 de Setembro
Turma_____ Idade______
Língua materna ____________________
1. Alguma vez já tiveste contacto com o ensino da gramática na aula de Português?
Sim ( )
Não ( )
2. Consideras pertinente aprender a gramática? Justifica.
Sim ( )
Não ( )
___________________________________________________________________________
_______ ____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
______________________________________ _____________________________________
__________________________________________________________________________
3. A gramática ajuda o aluno a desenvolver a oralidade? Justifica
__________________________________________________________________________ _
___________________________________________________________________________
50
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
______________________________ _____________________________________________
___________________________________________________________________________
4. Constrói ou escolha frases lógicas através das palavras que se encontram dentro de
parênteses:
a) (um livro, e, O João, ao irmão, ofereceu, comprou):
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
b) (na escola/à escola, encontramo -se/encontramo -nos, íamos, quando):
____________ _______________________________________________________________
__________________________________________________________________________
c) (Se tu vires o Baltazar não hesite com a verdade/ Se tu veres o Baltazar não hesite a
verdade):
___________________ ________________________________________________________
__________________________________________________________________________
6. O que sugeres que deve ser feito para melhorar a oralidade dos alunos?
___________________________________________________ ________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______ ____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela atenção dispensada
51
Anexo 2
Ficha de inquérito aos professores
Caro professor (a)! No âmbito da pesquisa sobre “O Papel da Gramática no
Desenvolvimento da Oralidade dos alunos do Ensino Básico”, pede -se que colabore
respondendo as questões aqui colocadas. Salienta -se que as questões têm somente o
carácter científico e visam a melhoria da qualidade d e ensino.
Dados do Inquirido:
Escola Primária do 1ș e 2ș Grau 17 de Setembro
Disciplina que lecciona__________________________ Classe_______
Turma_____ Idade______ Anos de experiência ______
Nível de formação ____________________
I Parte: sobre a norma padrão
1) Tem discutido nas suas aulas as diferenças entre língua falada e língua escrita? Caso sim, o
que costuma salientar?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________ __________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
2) Na sua concepção, que habilidades são necessárias para o aluno tornar -se um bom produtor
de textos orais e escritos?
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________ _________
___________________________________________________________________________
52
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
3) No seu ponto de vis ta qual é a finalidade do ensino da norma culta?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________ __________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
4) Como a escola deve ensinar a variedade de maior prestígio (a norma Culta)?
__________ _________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________ __________________________________
__________________________________________________________________________
II Parte: sobre o ensino da gramática
1) Como tem concebido o ensino de gramática nas escolas nos dias actuais? É diferente do
ensino ocorrido anti gamente? Comente.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________ _____________________________________________________________
2) Na sua opinião, em que circunstâncias o aluno aplica a gramática que lhe é ensinada?
___________________________________________________________________________
_______________________________ ____________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
3) Como trabalha a gramática em sala de aula?
53
________________ ___________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________________________ ___________________________
4) Que reacção os alunos demonstram em relação ao ensino da gramática?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______ ____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5) Que recursos didácticos tem utilizado para ensinar?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________ ___________________________________________
6) Com que frequência utiliza os livros didácticos? Comente.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Obrigado pela atenção dispensada
Copyright Notice
© Licențiada.org respectă drepturile de proprietate intelectuală și așteaptă ca toți utilizatorii să facă același lucru. Dacă consideri că un conținut de pe site încalcă drepturile tale de autor, te rugăm să trimiți o notificare DMCA.
Acest articol: A gramática desempenha um papel muito importante na vida dos homens, visto que é através [600688] (ID: 600688)
Dacă considerați că acest conținut vă încalcă drepturile de autor, vă rugăm să depuneți o cerere pe pagina noastră Copyright Takedown.
